segunda-feira, 4 de agosto de 2014

esse último adeus

Em cada palavra,
uma lágrima que desapareceu
nas profundezas da alma.
Em cada poema
um lago lamacento
preencheu o peito.
Em cada dia
de dor e de reprovação
um dia a menos na vida.
Perder é o tempo 
ganho para compreender.
Perdoar.
Perdoar-me
Perdoar-nos.
Perdão por tanto tempo
perdido em ter-te quase ganho.
Perdido em te ter perdido.
Ganho por teres seguido
para o teu ganho.
O teu sonho...
o vosso.
E qual o meu ganho?
O perdão deste
em que ainda me estranho.
O lago que transparece
as lágrimas de quem amou
com todo o peito 
e todo o tamanho.
A dor que musculou a alma
e cicatrizou a minha falta de jeito.
Há alguém que te ama na mesma
medida,
na medida como te amei.
Na medida que nunca te achei
e que agora sei,
era à medida dele.
À vossa medida.
À vossa vida.

VD

sábado, 2 de agosto de 2014

...brisa...

E como uma brisa, suavemente pelos meus lábios sopraste, me fizeste estremecer e seguiste, deixando-me apenas suficiente ar para sobreviver.


Vaz Dias

Young at heart

Quero voltar a sonhar como quando era pequenino. Lá não te sonhava. Não tinhas as caras todas que por mim passaram. Não me beijavas a fel. Tinhas lábios de princesa menina e eu o coração inteiro para te crescer. E cresci. E todos os bocados foram para ti em todas as tuas caras. Em todas as minhas juras. Mas agora juro que não tenho mais coração, para corações de papel e caras muitas. Juro que fico com o meu e os meus sonhos. Não me roubes também isso...

Vaz Dias

Na vasta planície...

Há quem, que por ser excelso, se encontre numa das várias colinas que escalou. Uma vez mais, vê desse alto o que sempre acreditou dos seus pares, a simplicidade e a beleza das coisas. Na verdade, o que ele vê é tanto, que as várias coisas boas são pequenas. E os pares que lá nas planícies ficaram, a elas se prenderam. Esses serão porventura mais felizes assim. Mas aprender na solidão do alto apenas preenche pelo acto sublime da felicidade geral. Não é solidão. É visão e altruísmo.

Vaz Dias

Puto de Rua

E reage o puto
parco de partidas.
Partida primeira!
Agora é como segunda feira.
Ou qualquer outra feira.
Ou sábado
ou domingo.
Não interessa.
Desde que se queira.
O puto parte
p'rá guerra.
Pede para partir
em primeiro.
Nem pede.
Porque pode.
Porque corre
por fora.
Aí a regra é sua.
Guerra suja.
Parte na frente
destemido e indiferente
à realidade.
A sua é dura.
Parte puto
na corrida de rua.
Puto parte primeiro
porque a luta é sua.
Este puto só acaba
em último
porque é o último
de pé,
vertical
e que ainda perdura!
Sou o puto que parte
em primeiro.
Sou o primeiro da minha rua.
Permaneço de pé
nesta luta crua.


Vaz Dias