segunda-feira, 25 de dezembro de 2017
N'Aquele Verão
De verão.
Da terra molhada
Que pisaste.
São os dias
Em que me largaste
Na mão
Uma centelha
De quase nada
E te eclipsaste.
Era tórrida a nossa não
Relação.
Era abrasiva para mim
Como no teu silêncio.
Como que "molhatolando"
Beijando-me na boca
Sem seres.
Sem estares.
Sem te fazeres veraneante.
Fizeste de mim
Figurante dos teus invernos
Achando-me quente.
E tinhas razão.
E tinhas-me.
E depois não.
VAz Dias
#palavradejorge
domingo, 24 de dezembro de 2017
Natais a mais
Rasgam-se os papeis.
Retiram-se os ouros
E os anéis,
Das árvores caem as pinhas
Na face as lágrimas
Dos que se sentiram
A mais.
Onde ficou o Natal
Ou isso que chamam família?
Fica o solitário
Sujeito à crítica.
Sem ouro ou anéis
Quem somos
Senão demais?
Bom Natal ou
Parabéns?
sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
Luzes da Época
Das luzes da época
Por esta viela.
Não sei se foi por causa
Dela e delas
Ou de mim
Privando com a normalidade
Dos dias
Ou da sequela
Que foi perder vida
Em cada uma das luzes
Que se foram apagando
De mim.
Não acredito que sejam
Estrelas.
Morreram no fim.
Foram-se embora
E sorrimos
Com o que podemos.
Por isso as crianças
E os filhos
Serem os acontecimentos
Do futuro.
Antes que morra
E antes de perder fé
Nesta porra toda.
Elas também
Fazem de mim melhor pessoa.
Uma pessoa de ver
Luzes de novo
Por esta viela.
Como se fossem estrelas.
VAz Dias
#palavradejorge
quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Completa!
Na saudade.
Não na do tempo
Mas apenas na lembrança de ti.
De seres tão naturalmente
Bela em mim.
De não te apressares
Em te colocares diante de mim
Fazendo-te do quadro completo.
Ele completa-se de ti.
Como tu me completas
Sem que eu saiba
O que é essa plenitude.
E no entanto a tua virtude
É ires dando-me
Noção do que me completei
Mais agora do que de ontem.
E pelo meio estendes-te
Pelos dias sendo tu própria.
Podias ter o mundo
E dás-me de barato
O teu universo.
E eu, controverso
Em mim,
Busco a plenitude do Ser.
E tu completando o quadro
Por te dares
Sem te subtraíres
Completas-te!
És tão imensamente maior
Por ti e no entanto
Ensinas-me
Que maior se é
Só com quem
Se quer estar.
A dar universos
Sem perder nada.
Sem te perderes.
Eu sou um solitário
Na busca das respostas
Às perguntas difíceis.
E tu, completa,
Vais deixando-me ir.
VAz Dias
#palavradejorge
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
De frente. De gente.
Que me deixou
Cada vez mais isolado.
Encontrei cada vez mais
Poucos como eu.
Perdidos do artifício
Das relações.
Das amizades do momento.
Andamos em matilhas
-todos juntinhos para
Não termos medo-
E dividirmos a experiência.
Desistimos de passar pelas coisas
Sozinhos.
Pequeninos que juntos
Passamos pelo o que
O diabo mordeu.
Um mais outro plebeu
Porque assim queremos ser.
Ter medo de ser únicos.
De com o diabo
Se debater.
E depois voltamos.
Sobrevivemos
Às mortes
E ao escárnio dele.
Do esquecimento de Deus
E de nós
Em sua importante obra.
Do destino
Que ele nos traçou
E que nós pequeninos
Insignificantes
Sem fé de aceitar
O que não sabemos
Ele reprova.
Depois fiquei a ver-me
Pelo retrovisor.
Com um Deus,
Com uma esperança
E a morder o pão
Que o diabo mordeu.
Plebeu entre iguais.
Esqueci-me de como era ser
Igual dos demais.
Lutei tantas batalhas
Do que alguma vez
Virais a sangrar.
Estou farto de sangrar.
Sôfrego em silêncio
Da injustiça dos outros.
Cambaleio torto.
Quase morto
E resiliente... vivo.
Olho apenas para a frente
Ainda que o retrovisor
Me assalte desse tipo de gente.
E eu com eles
Antes de ser diferente.
Antes de ter morrido
E de encontrar-me
Cada vez mais sozinho
Pela frente.
De frente
Vem menos gente.
Não sou gente.
Incompetente.
VAz Dias
#palaveadejorge
domingo, 10 de dezembro de 2017
A ausência do inverno
Ela sentava-se sozinha
Embrulhada no cinzentismo
Que chegava antes
Da própria época.
Ela abandonara a ideia
De amor
Como sendo
De companhia.
Ele viajara para fora
Dela.
Mandava-lhe cartas
De a querer
Mas à distância.
Era a pessoa que mais amara
À distância.
Lá fora o inverno tardava
Em chegar
Para ser mais triste
Que o inverno que vivia
Com ela naquela sala.
O cinzentismo era a companhia
Mais propalada,
Abraçado
À ausencia deles.
Ela amava a ausência
Por ser tudo o que tinha
Dele.
VAz Dias
#palavradejorge
Contemplo-te
Todos os dias
Um beijo em ti
Resume o que de novo
Me chega de ti.
O teu beijo
É a pessoa nova
Que em cada dia
Encontro.
A mesma mas diferente.
A outra
E mais contente.
Contemplo-te!
VAz Dias
#palavradejorge
quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Nosso
Longo vai o dia
Que se afasta de nós.
Mas aqui estou
Deitando-me em leito
Do teu sonhado peito.
Fecho os olhos
Acomodado
Pelo abraço
De ti sem nós.
Por aqui
E por enquanto.
Desato os nós
Das nossas minúcias.
Do detalhe que escapa.
Da palavra que martela.
Do olhar que se espera
Voltar a ser nosso.
Cansaço era não nos
Querer.
Era não ter amor
De onde ele brota
Constante.
Nunca fui a esse distante
Desencontro.
Tenho estado aqui
Sempre pronto.
Quanto mais não seja
Adormecendo,
Nosso,
Em sonho.
VAz Dias
#palavradejorge
Beijo Calado
Cada vez mais
Distante.
Despe-se a suspeita
Que cada vez mais
Te queira.
Apesar de presente
Não te posso ter
A cada hora.
Encontrei-me
E perco tempo
A tudo o que o mundo
Me convoca.
Mas quanto mais me afasto
Mais a saudade aperta.
Quanto mais disto
Mais de mim
A ti se se acerca.
Talvez não notaste
Mas nunca me fui
Embora,
Embora pareça.
Não te silencies
Porque se se cala
Uma alma inteira
Em mim
Um mundo inteiro
De ti careça
Mais do que de mim
Venha à fala.
Saudade
Não se cala!
VAz Dias
#palavradejorge
terça-feira, 5 de dezembro de 2017
Morte de Gelo
Em cima daquele monte
Onde o vento
Sopra de frente.
Onde o gelo
Se apodera do meu corpo.
Onde a solidão
De escolher
Faz-me ver tudo o que
Lá por baixo ficou,
Encerro o fim de mim
E dos outros
Que em nada me quiseram.
Subiríamos juntos
Se quisessem...
Ficaram nos braços
Uns dos outros
Contando anedotas
De trepadores.
Nem por um segundo
Se julgue
Que esta minha nudez
Se deva à pobreza
E ao desdém
De nem a um de vós
Ter pedido ajuda.
Subo descalço
E nu de aproveitamento.
Gelo e morro se tiver
De assim ser naquele monte.
Gelo e morro
Convosco no coração
Porque nunca vos trairia.
A minha pele é testemunha
E a minha voz húmida
Destemida.
Morro por nós!
VAz Dias
#palavradejorge
sábado, 2 de dezembro de 2017
Ballet Cego
Corro as tuas fotografias
E lá só me vejo
Perdido.
Tu desaparecida
E sem motivo
Para te mostrares.
Esbate-se a tua imagem
Da memória daqueles
Que tanto te quiseram.
Nunca os quiseste.
Não podias!
E na minha cegueira
Dançaste.
Aparecias
Quando te esquecia.
Aparecias
Quando te ausentavas
Do esquecimento
Dos outros.
Aparecias quando
Recuperava a visão.
Apoderaste-te do meu tórax.
Das mandíbulas
Que se cerravam
Da tua presença.
De um esqueleto inteiro
Impedido de dançar
Enquanto de luxúria
Te bamboleavas.
(Porque poderia um cego
Te querer
Se recuperava visão
À tua ausência?)
Há fotografias em minha
Posse
Ardendo as palmas
Das mãos
E eu sem impressão
Digital
De quem sou.
De quem foste.
VAz Dias
#palavradejorge
Cores Quentes
Tenho em mim
peito de soprar
um céu imenso cinzento
para lá do limiar das tristezas.
Sou céu de mim
e sol do mundo
para fazer desenhar
um arco-íris de cores quentes
nos dias que se aproximam.
E se ainda assim
prevavalecer a suspeita,
descansa
que o tempo
tem por norma
fazê-lo por nós.
VAz Dias
#palavradejorge