quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Cassete Tirada


É pungente
Esta tormenta
De ser escrivão
Da minha insuficiente
Mão
De tanto acontecimento.
Tu aí não estás
E eu não sei o que
Faço.
Traço linhas ao calhas
E a cada arrependimento
Escrevo mais
Para surgires.
Peço que fiques
Ao nada
Enquanto pela calada
Vou sendo feliz.
É quase triste
Mas não posso viver
Com a fita esticada
Sem que ela toque
Ou me toque rebobinada.
Escrevo na cassete
Aquele nome
Que o tempo
Em cada de repente
Esconde.
Para aonde fomos?
Chegámos a ser
Destino?

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Gracioso


Por vezes embrenho-me
Na indecisão
De tudo tomar
E nada conquistar.
Tudo vai perdendo
Brilho
Enquanto o resto
Vai passando a fazer
Sentido.
A carne deixa à
Excitação menos
Do que o amor
Pede ao futuro.
Tudo para trás ficou
Turvo
Por tudo o que se provou.
Bebo a água
Que agora agrada
À liquida descoberta
Do novo.
Mesmo velho de saber
Que nada muda muito.
Mas se há mais do que
Isto
O corpo já não pede
Porque é a alma
Que desfere a vontade.
A pele descai
O músculo cede
E o amor demanda
Mais do que é táctil.

Corremos o risco
De querer sempre
O verão
E sol
E calor
Se sentirmos privação.
Sem a estimulação
Do que é fantasioso,
Do velho que se torna
Novo.
Preciso de nascer
Para este velho
E ser gracioso.
Preciso de novo!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Morte e os Começos do Amor


Meu amor,
Onde nos encontramos?
Onde nos dedicamos
A perder tempo
Um para o outro
Sabendo que
Já não morremos?
Viver-te é razão suficiente
Para o tempo
Acabar.
Destemidos
Sorrimos ao fim
Sem ainda termos matado
As saudades.
São estórias de metades
Que se cicatrizaram
Pelo andamento
Da idade.
Metade de nós morrerá
E a outra já venceu
Na vida.
E se nesta nos desencontrarmos,
Encontramo-nos
Noutra.
Vejo-te decidida
De mim
E eu tenho asas
De voltar a rever
Quem me dá vida.
Mesmo amando
Sou metade morte
E outra metade de ti.
Por isso cada vez que morrer
Estarei a seguir em ti.
Não perdi
Ganhei a tua vida
Para além de mim.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Encontros Desmarcados de Nós

Somos a perda
Do sabor
Pela necessidade
De sermos outros.
Uns novos
Descobertos por acaso
E pelo atraso
Que os outros
De nós esperavam.
Ia-me perdendo deste
Por querer.
Porque assim merecia
Pelas ramificações
Que brotavam da raíz
Do meu infortúnio.
Queria engolir o mundo
Mas um juíz cósmico
Ou o meu desacerto
Mantiveram-me na senda de
Ti.
E eu não sei onde nos
Perdemos dos outros
Apesar de lhes perguntar
Recorrentemente.
Porquê?
Porque nos perdemos de uns
E nos perdemos noutros?

Há quanto tempo
Perdeste o ocidente em mim
E tudo se tornou
Insosso?

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Fugimos das Luzes para a Manhã

Subíamos a rua
Entre a noite e a manhã
Que chegava
Despida de luz.
Cinza era a cor promonitória
Daquilo que nunca chegaria
A ser.
Caminhámos entre
Luta dos corpos
E da paixão que
Incendiava as ruelas adjacentes
E essa manhã que chegava
Esperava tudo menos
Que a decente
Vontade da gente
Ser algo.
Ficou para logo
Logo que pudéssemos.
Nunca.
Cinza é a memória
Do fogo que por ali
Ficou.
Uma rua que nunca soube
Que ardera
Ou das duas almas
Que incendiou.

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Canto por Direito

Sento-me aqui no meu
Canto.
Ou qualquer canto
Enquanto os outros
Se desdobram
Em conversas enquanto
O tempo passa para
Que o ruído seja
Só artifício.
Só um edifício de chegar
Lá ao cimo e nada mais escutar.
Lá num canto
De tudo acabar.
Esperar as coisas
Permanecerem estáticas.
Guardadas no passado
E tudo não doer.
Não ser mais
Do que um silêncio sereno.
Não vou morrer
Por voar até ao silêncio
Dos outros.
Vou morrer por não querer
Construir mais
O edifício mais alto
Ou ouvir o ruído mais
Lento.
Só desaparecer por direito.
Um dia nesse canto
A preceito.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

As Luzes que se Apagavam de Cores dos Teus Olhos

Girando em nosso
Torno.
Tudo parecia estático
Por seu turno.
Uma mescla de cores
Com sombras
E suores.
Tudo mas tudo
Parecia ser a nosso
Favor.
A música entoava
Sons e tambores
E cores
Dos teus olhos.
Sim, os teus olhos
Olhavam de reflexo
Aos meus.
Meu Deus!
Se não era a mulher
Mais bela
De deixar qualquer um
Preplexo.
Um transtorno
De universo paralelo
Para exaltar as explosões
Do corpo.
Do coração que rebenta
Para fora do tronco.
Tudo rodava
Em nosso torno
E assim se mantém.
Sem que as forças
Gravitacionais
Cessem o seu comando.
De vez em quando
As luzes apagam-se
Dessas cores
Girando em nosso
Favor
Parando tudo
Para esse retorno.

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

Trilho de Cinza em Terra das Almas Perdidas

Não sei se te quero
Mais por não existires.
Se te quero mais
Por teres existido.
Por nunca teres querido
Mais do que alguma vez
Teres desistido.
Olhaste.
Perdeste-te
Em mim
E por isso percebo
O fim.
Eu sou perdido
Em mim.
Isso desencontra
As almas
Mas deveria escolhê-las
Para ficarem juntas.
Meias defuntas
No deserto do querer.
Nas cinzas do ardor.
No desamor.
A paixão de querer
Tudo perdido.
Olhaste e fiquei perdido.
Partido em vários
Dando menos
Às várias almas
Que por aqui se perdem.
Árida
É a terra onde pisaste.
Onde andas agora?
Paraste?

VAz Dias
#palaveadejorge

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Histórias Perdidas dos Amores Desencontrados

E há outras histórias
Que não sabes
De ti.
Se soubesses que já
Viajei em terras
Que voarás
Sentirias a brisa
De lá.
Sopro-te lento
Ventos quentes
De lá.
Há poemas feitos
No futuro
Para amares.
Teras asas tuas
E palavras de outros.
Mas estas são as
Tuas de lá.
Do futuro
E de quem
Te as soprará.
Voam palavras
Como brisas...
Sei lá!
Um beijo num
Sopro.
Vem para cá!

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

No Fogo que Agora Cega

Dragão.
Usurpaste a minha intenção.
Logo após a tua.
Onde está a tua voz
E a noção do que
Seríamos nós?
Doze anos passados
E uma eternidade
De retorno ao futuro.
Sermos feitos
De estrelas
Como de nada.
Escalada
Para o abismo
E um voo
Com fogo nas
Asas.
Oriente.
Desconcertante
Perda do nada.
Ou das estrelas.
Ou das translacções
Passadas.
Morreram os nossos
Olhos.
Morreram
Mesmo antes de nos
Vermos.
Cegueira
Desgovernada.
Morremos
Sem fim à vista.
Verdes foram os
Olhos meus
Embora.
No fogo
Que arde agora.

No fogo que agora cega.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Um-Sem-Jeito

Nunca tive jeito
Para o argumento
Desta ou daquela.
Nunca estive à
Altura do jogo
Feminino da incerteza.
Entro em incompreensão
E querela,
Entre fugir
Ou ainda mais querê-la.
Sento-me à mesa
Com dois pratos
E uma panela.
Um manjar para dois
Onde só eu saboreio
A companhia
De ninguém.
A culinária é uma falta de jeito
Onde o palato
E o paleio
Ficam à janela.
Canta uma cotovia
Tão mais sozinha do que
Eu.
Deixei-lhe um manjar
No parapeito
Com a mesma falta de jeito
Que tenho para cantar
Ou cozinhar.
Foi um um jeito
A que este personagem
Nunca se deu.
A mesma falta
Para convidá-la
A entrar
Em casa e no meu peito.
Ficou uma cotovia
Cantando e repenicando
Num catraio
Sem jeito
Que nunca cresceu.
E elas voaram
Sem nunca perceberem
O canto
E o alimento
Que um-sem-jeito
Lhes ofereceu.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Respiro lentamente

Respiro lentamente
Enquanto o mundo
Tende a um certo
Desabamento.
Respiro pausado
E penso se olhar
Diferente,
Se não é só erro
De percepeção.
E se for certo?
E se eu não conseguir
Segurar
As coisas com mão
De ferro?
Respiro lentamente
Enquanto caio
No meu devido lugar.
Atesto o que deve ser
E limitar-me a não
Julgar.
Venha o que vier
Estou mais eu
E a saber respirar.

Respiro lentamente
Até me retirar.

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 3 de fevereiro de 2018

E se for só isto?

E se for só isto?

A imutabilidade
Da metamorfose.
As mudanças ínfimas
Que pruduzem pouco.
Porque tudo acaba
No mesmo.
Uma passagem
De nada para nada
Pelo meio, pouco.
Cheio de palpitações
E agruras.
Buscas de nós para só sermos
Isto.
Passagens.
Multiplicação.
Desistência.
Persistência em lutas
Para ganhar um mundo
E acabar tudo.
Quem morre vezes
Sem conta na vida
Apercebe-se disso.
Sobrevive e leva com
Isso do ânimo até à proxima
Perda.
Augúrio do que se vai
Perder por aí.
Amar é uma invenção
Pós-perda.
Amar é prenúncio
De dor.
E se for só isto
Que somos
Só isto tudo que temos
Para perder?
Devemos morrer mais
Vezes do que amar?
Validar com perda
O amor?
Ser mais próximos
Pela inevitabilidade
Da distância
Que um dia destes
Se aproxima
Poema que não rima
E amor
Que não termina...
Enquanto não definha
A vida que chega.
E não chega?

E se for só isto?


VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Outorno Primavera

Encosta.
Assume um abraço
Como a minha ausência.
Só temos agora
E tu és Sempre.
E eu sou só Agora.
Serei o que a inconstância
Namora.
Um caixeiro-viajante
Que demora
Na volta dos dias
E na presença
De lado algum.
Não me procures.
Não me deixes ficar
Por ti.
Deixa-te ir
Enquanto não volto.
Não vejo amor maior.
Não te vejo
Tanto.
Não me vês
E no entanto
É a ti que volto.
Mesmo quando não me vês.

VAz Dias
#palavradejorge