segunda-feira, 27 de abril de 2015

Cheirava a desamor...

Despreocupada, deixava um perfume de perdição no seu encalço.
Havia quem, adiante lhe ofertado tinha, esse camuflado veneno.
Cheirava a desamor...
Vaz Dias 

Fotografo-te prazeres

Vem segura a minha mão.
Vamos fazer viagens
ao profundo dos nossos seres.
Lá no fundo do coração.
Seguro-te a mão para me veres.
Fotografo-te prazeres.
"São os nossos momentos são!"
Subamos ao cume mais alto
e vejamos o mundo um do outro.
Toquemos as estrelas que brilham no nosso horizonte.
Fechemos a noite assim,
segurando a alma e fazendo amor.
Fiquemos acordados
e não deixemos que o tempo conte.
Foi lá dentro que fizemos os dias
e as estrelas do nosso horizonte.

Vaz Dias

Estranha era a indiferença.

Ela estranhava-me. Mas voltava sempre. Seria desta diferença porventura.
Um dia o sempre findou e estranhamente quando o "para sempre" se afigurava.
Estranha era a indiferença.
Vaz Dias 

Precipitava-se em cinza

A sua indiferença às coisas do mundo impertigava-me. Sabia-lhe o cinzento esbatido do passado mas o rúbio para o qual se precipitava, esmagava-me.
Como se oferecia côr a uma pessoa que apenas cinza conhecera?
Vaz Dias 

Aventurados por aí.

Deixei-lhe lábios marcados pelas costas. Indicavam erraticamente o sentido da minha paixão. Não havia caminho melhor. As suas costas escondiam o prazer que trincava no horizonte. Mordíamos as horas e tragávamos suspiros. Sem destino. Aventurados por aí.
Vaz Dias 

Perdidamente Achados

Éramos um contratempo.
Perfeitos numa outra vida.
Mas foi nesta que nos convencemos a encontrar.
Atirámos os dados ao ar.
Deixando destino rolar.
"Que se lixe o destino! Vamos tentar...
Cometamos o erro. Rendamo-nos a ele.
Que importa se falhar?"
"Foste tu que aqui chegaste não o desejando?
E no entanto, ambos aqui nos encontrávamos, 
perdidos e achados. 
Prontos a perder. 
Desconfiando algo ganhar no meio daquilo em que seríamos perfeitos...errar.
Vamo-nos perder e esperar algo encontrar?


Vaz Dias

A plasticidade em mim

Entusiasmei-me com o teu conteúdo.
Tu com as formas dos outros.
Descobri a plasticidade que me provocas.

Vaz Dias

Irracionalidade complexa

Emoções ou a vasta complexidade da irracionalidade.
Como se controla e se disciplina
Um cavalo selvagem que em nós irrompe?
Como se pede para que cavalgue quando a terra é infértil e a razão dormente?
Há em mim complexidade cavalgante...

Vaz Dias

Céu traído

Perguntaram se estávamos juntos. Na realidade não. O tempo encarregar-se-ia de contar outra história. Ainda assim experimentávamos nos relacionar. Éramos "a match made in heaven". O tempo viria a enganar o céu...

Vaz Dias 

Suave Trago

Por vezes a beleza
chega do anonimato.
Da assunção da naturalidade.
És suave
como um vinho frutado
em final de tarde de verão tragado.
Lentamente.
Para com tempo se apreciar.
Recolhida na natureza das coisas
surges familiar
e suave.
Nada se complica nem se agrava.
Néctar que nos sentidos se trave
e permaneça.
Sejas no amor mãe natureza.


Vaz Dias

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Por de dentro...

Eu dava por mim perdendo-a de vista.
Fechando os olhos encontrava-a sempre dentro de mim.
Não era amor, apenas busca.

Vaz Dias

terça-feira, 21 de abril de 2015

Escrevamos em texto livre!

Escrevo-te livros,
se assim fôr preciso.
Somarei nas palavras
e nos textos
e nas parábolas
tudo o que te tenha dito.
Mas trocaria de bom grado
todas elas
para até em silêncio
contigo a meu lado
fazermos um novo livro.
Com todas as novas palavras
que tenhamos inventado
e as que me tatuaste,
a cêra e a pecado,
por teu amor
no meu espírito.
Faço um livro de uma edição
e de uma cópia.
Eu fico com ela
e tu com a própria.
Depois rasguemos
as folhas
e escrevamos em texto livre!

Vaz Dias

Desnuda-me!

Gosto de ti vestida. 
Nua meu corpo convida. 
Gosto de meu corpo nu em teu revestir. 
Assim mesmo gosto do teu vestido. 
Sou eu. 
Teu têxtil preferido. 
Gosto de ti despida. 
Com meu corpo nu te revestir. 
Aqueces-me por dentro 
enquanto cai a roupa do espírito. 
Despes-me o que tenho vestido, 
para te cobrir de manto 
o que me tinhas vestido.
Gosto de te despir comigo em ti vestido.

Vaz Dias

sábado, 18 de abril de 2015

Ela sorria como loucos anos vinte.

Ela sorria
como loucos anos
vinte.
Ela corria e dispunha-se
como Beatriz,
actriz que gosta
chegar a agulha
e mostra
uma inquietude do mundo.
Um olhar de cinema
mudo,
ou colorido,
como em parisiense
azáfama perscruta.
O olhar profundo,
ingenuamente louco,
loucamente apaixonado,
por tudo quanto
o engenho aguça
e o sentimento convide.
Ela sorri,
nos seus loucos vinte anos
e pouco.
Como em loucos anos vinte
ou em azáfama de
quadros de Paris
que um realizador pinte.

Vaz Dias








Dente-de-leão

Repito a imagem na memória.
Rebobino e faço uma estória.
Avivo-te para aqui
me olhares.
Contemplo-te.
És bela!
O teu ser no acto mais simples
carrega elegância.
A predominância de me fazeres
vivo.
E repito.
Rebobino.
Revivo.
Como em planeta perdido
imagem viva de máquina
antiga a imagem emito.
Dente-de-leão que sopras
e fazes voar.
Rebobino e a flôr
algodão altiva,
recomeçar.
Sorriso de gata
e dente-de-leão desejo
contigo recomeçar.

Vaz Dias

terça-feira, 14 de abril de 2015

Para além dele

O tempo não foi feito para nós.
É demasiado compassado e numérico.
Existimos para além dele.
O espaço foi feito
Para que apenas lhe rendêssemos etéreos
E existíssemos para além dele.
Eu fui feito para me deixar seduzir
Pelo teu encanto. Pela tua existência.
E o amor? Quero-te para além dele!


Vaz Dias

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Anos-Lua

Da lua em anos-luz 
Se abeirou a resposta. 
Ela chegaria antes do sempre. 
Ela chegaria mais célere 
Do que a vontade 
Das marés. 
Ela era satélite do que 
No meu mar se agitava. 
A resposta era ela 
No meu mar se reflectia 
E na minha profundeza 
Desaperecia. 
No meu céu 
Secreta e liquidamente existia. 
Era luz. 
A minha lua. 
No céu. 
No meu mar. 
Maré sua. 
Mesmo não estando 
Anos-lua. 
No meu céu 
Mar desnuda.

Vaz Dias

Obscura Lua

Obscura lua 
De caras várias. 
De duas uma. 
Luz companheira. 
Ou obscura amante. 
Quero-te minha concubina. 
Tu me prendes meliniante. 
Lua luz confidente, 
Leva o segredo 
Ao lado sombrio que se esconde. 
Sei que há lá luz 
Que à noite acalente. 
Que à minha inquietude 
Alente. 
Lua luz ausente. 
Minha perdição conivente. 
Minha cegueira conduz 
À iluminação que se pressente. 
Lua luz. 
Luz ausente. 
Lua produz 
O que o poeta sente 
E o amante desmente.

Vaz Dias

De cinzento breu...

Despedia-me dela.
De lenço escarlate
Muito bem posto
Ostentando a lapela.
Nela
Repousava uma tira
De luz.
A cor que do cinzento
Que pintava a época
E aquela estação.
Apitava a despedida
O comboio que de breu
Cinzento
Escurecia o céu.
O sol que desaparecera
Escondera-se em olhar seu.
Seguiria consigo
E eu,
Despedia-me desta película.
Deste sonho meu.
Ficaria apenas o olhar.
Os olhos mais escuros que o
Cinzento breu
Ficariam por mais estações
E cores
Do que realmente aconteceu.
Um filme de despedida
Mas de presente.
O que ela me ofereceu.

Vaz Dias

quarta-feira, 1 de abril de 2015

Vem do silêncio matar a saudade

Silêncio que me afugentas.
Tão mudo que quase me afugentas. 
Tenho saudade 
de nunca termos criado saudade. 
Que te pudesse cativar de verdade. 
Vem de silêncio matar a saudade. 
A que não temos, 
apenas a minha metade. 
Nasci, morri e renasci musa. 
Que as palavras de mim 
teu calado lado usa. 
Não são minhas as palavras 
que de minha pessoa se cruzam. 
São do silêncio que o poeta se abusa...

Vaz Dias