sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Poesia Rezada

Venerar a solidão
é bênção suficiente
de nos encontrarmos
com os que queremos
amar.
Com os que nos amam.
Passo este meu
tempo a sós.
Contemplo tudo no
nada.
Vejo o tempo a passar
desfiando-se do novelo
que nasceu farto e enleado.
E passam os amores
e as dores
e a morte distante
vive em cada segundo
respirando
sobre o pescoço.
Avisa-nos que acabará
um dia destes
e que os que amamos
que fiquem nos nossos
corações.
Rezo à poesia
porque me perdi de Deus.
Desconheço-o e a Sua
vontade.
E no entanto,
respeito a Sua não existência
tal como a minha ignorância.
Resumo-me à fatalidade
de o fim
como ao amor que tenho
pelas horas que passam
junto e longe
dos que amo,
ou daquilo que sinto ser
amor.
Amo menos
e Amo mais
e tudo pelo meio
que nos possa dizer
que nos cruzámos
e nos fomos importantes.
Este é o meu manifesto
de felicidade perante
esta doença que é
existirmos no  mundo
e a nossa falta de respeito
para com o lugar
que nos deu à vista.
Talvez esteja certo
sermos errados
e a improbabilidade
de termos Sido
se mantenha nessa continuidade.
E amar é um suspiro
que cuidamos
nos pequenos,
nos velhos
e na beira-morte.
Que morramos tão felizes
como a vida
suave que nos compromete
com dores
e sensações.
Orgasmos para renascer
e filhos para nascer.
Vidas que venham
e que fiquem quietas
antes da vida.
Isto é o que somos.
Esta é a fraca matéria
de que somos feitos
e um deus é uma invenção
para não morrermos
tão rapidamente.
A energia é pura
mas nós não.
Alguns um dia prevalecerão
mas nós não.
Nós não.

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