quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Preciso te escrever

Preciso te escrever.
Passaram eternidades
De segundos
E os primeiros os mais difíceis.
Habituamo-nos a deixar
O tempo desvanecer
O que mais quer o ser.
Ele quer-te. Eu não.
Eu sou sub-comissário
Da razão
E uma eternidade,
Uma única,
Demasiado para o amor.
Mas preciso
Libertar-me deste turpor
De te ver livre
Para não escolher
Uma das eternidades
A que tens à escolha.
Escolhe aquele em que eu sou crente.
Onde de repente
Perco a patente
E fica patente a minha saudade
Do outrora descrente.
Preciso te escrever.
É urgente!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 27 de setembro de 2016

Fecha os olhos e ama!

Felizes são os que,
sem verem,
descortinam beleza.
Não espero ser tão bom quanto eles.
Sou sensível à plasticidade das formas.
Da forma como o teu cabelo solto
se solta na minha visão.
Como se fechasse os olhos
e a tua voz chamasse.
És uma visão
e eu chama.

Ser poeta é fazer fotografias
da alma e como se olhar se calasse.
É ver o que se ama.
Mesmo que cego
de ver quem não arde.
É arder a imagem
e ainda assim
deixar-te ver
o que um poeta ama.
É dar-te visão,
amor e alma.
Como se o poeta se calasse
e a tua visão
se tornasse eterna.
Fechas os olhos
e ama!

VAz Dias

#palavradejorge


Somos de quem de nós gosta

Após tanta gente
Que nos passa na vista
Que se guarda na memória,
Existe aquela que fica.
Podia eu ser um traste,
O grão-mestre da escória,
Um bom malandro
Que passasse na vida delas
E ficasse perdido na história.
Somos guardados
Dos que de nós se cativaram.
Esses são os que levamos
Connosco.
Tudo o resto
É rosto
Por arrasto dos conhecimentos
E das tentativas de felicidade.
Há esta verdade
E das poucas a que um ser humano
De facto guarde.
Limitar-me-ia a menos pessoas?
Contentar-me com poucas?
Sou do mundo
E alma vasta.
Não se gasta.
Apenas há este, ou aquele,
Ou aquela que não gosta.
Não há morte.
Há mostra
De quem devemos levar.
Guardar.
Ter uma vida nova.
Somos de quem de nós gosta!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Alma Lava

É tão fácil saltar
Lá desse fundo.
Desse medo de amparar
queda
quando não sabes
se vais para a direita
ou para esquerda.
Desorientaste-te.
O mundo fez-te agora
saltar baixo.
Um vulcão adormece
e tu nesse fundo
onde o ruído esquece
faz-te olvidar
lá de cima os tumultos.
Cá deste cimo
vemos a horizontal linha
que separa vida
de ar.
Água de mais vida.
Caímos por vezes,
mas o salto
é a escarpa que elevamos
o esforço para chegarmos
ao nosso lugar.
E cá me encontro para te
abraçar.
Modesto de me levantar,
reerguer,
do silêncio vulcânico,
aos outros entender.
Mas grita tudo.
Ecoa a dor até desaparecer.
Mas não te esqueças
que aí escondidos
temos todos a tendência
de desaparecer.
Grita!
Expulsa!
Expurga!
Que lava a alma
e acorda quem quer mesmo viver.

VAz Dias

#palavradejorge

Corre um rio indiferente

Esse muro de silêncio.
Essas pontes implodidas.
Essas dores sepultadas
Em horas de sono perdidas.
Essa falta de vontade
De ver alguém,
Todas elas destituídas.

Esse telefone sem toque,
Notificação
Ou alheio ao choque
Da nossa hiper-ventilação.
O desespero que vive
No fim da crença.
Um fim da criança
E a porta na adultez.
Cresceu ao invés.

Inveja de quem
Um dia chegar
No tempo certo.
Que decerto te tomará
De vez.
Porque é nisso que crês
E a isso afiança
Essa ínfima esperança
Que reside num outro lado
Do rio.
Que sem ponte
Se atravessa de barca.

Que de um muro
Ao outro lado
Um salto que alcança.
Que acalenta um residente frio.
Que cicatriza
O coração ferido.

Se fosse eu?
Se fosse eu?
Mas obrigas-me a ser contido.
Longe,
Noutra margem remetido.
Grito.
De longe em uníssono
Com todos os hinos
De esperança e de te chamar.
Contigo sinto-me perdido.
E a vontade?
Mais um barco largado
Mais uma esperança
Ao largo
Do destempo da oportunidade.
Vai um rio passando,
Impávido,
Chorando a mando da nascente,
Quem para ele atira pedras
Como mudo e demente.

Choramos,
Cada um no seu presente,
Na sua margem.
No seu destempo,
As lágrimas que de um rio
Corre indiferente.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 25 de setembro de 2016

Desculpa de bom pagador

Desculpa.
Desculpa não ser melhor.
Desculpa não caber nos teus
Epítetos de beleza.
Desculpa não compreender
Esse argumento da química.
Desculpa eu não acreditar
Nesse teu argumento
Por achar que eu
Não me enquadro nos teus
Epítetos de beleza.
Desculpa eu gostar
De pessoas como tu.
Desculpa eu ser assim
Tão plástico quanto tu.
Desculpa encher-te a paciência
Com tão pouco
Ou por ser demais.
Desculpa por haver pessoas
Como eu que não sabem
O que fazer com o teu tipo
De rejeição
Mesmo que já tenhas sido
Rejeitada.
Desculpa em nome de todos
Os homens
Por esse tipo que te rejeitou.
Peço desculpa mesmo
Que ele tenha tido razão.
Peço desculpa por existir
E por me ter cruzado contigo.
Nunca quis ser um problema.
Desculpa,
Mas vou sentir-me tão pequeno
Quanto te sentiste quando te reduziram.
Só assim vou perceber
O que é rejeição para ti.
À minha não te preocupes.
Já me desculpei.

VAz Dias

#palavradejorge

Este amor que não é meu

Por mim
Tenho inconstância.
Por ti se revela
Com ainda mais
Preponderância.
São os sentidos
E tudo resto
Que se agitam
Como se um tornado
Se afundasse
No meu bom senso.
Como se tu
Descobrisses
Tudo o que penso.
Perco-me por ti
Tornado demasiado
Pouco tempo.
Tornado um pouco mais
Te perco
(Se alguma vez te ganhei)
E pergunto-me
"Porque o repito
Em várias de ti?"
Não consigo aceitar
Que dando tudo de nós
Não estejamos a cumprir
Os desígnios do amor.
Aquele que todos defendem
E depois desaparecem
Por turpor.
O mundo quer-me
Dormente e eu não tenho tempo
Para não amar.
Não sei se serei
Assim tão diferente
Só porque comprometo
O muito tempo
Do resto da gente.
De ti
Que julgava seres
Assim tão diferente
Mas igual do amor
Que se quer como torrente
Dos hinos,
Arautos
E manifestações
Do ficar para sempre.
Mesmo que não.
Mesmo que apenas se queira
Tentar.
O coração muscular
Para nunca mais se magoar.
Um poeta é quem mais
Exercita a perda
E busca o novo amor.
Como se fora o primeiro.
Como se isso fora possível.
Como se desse à vida
Novas vidas.
O poeta morre tantas as vezes
Como renasce
Antes de morrer
Do último amor.
Vem se quiseres viver!
Vem que antes de chegar
Já tinha vida
Para te entregar amor.
Amor vem!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Disfarçada Poesia

Sei que o melhor poeta de mim
O melhor poeta de ti
Ou o melhor poeta de sempre
Te daria um mundo novo agora.
Porque um poema
É uma porta ao amor
E tu fechaste.
Porque um poema
É uma janela para amanhã
Mas ainda tens
O perfume de ontem
Nas cortinas entranhado.
Isto não é um poema.
É um poeta que sabe
O que é passado
E não pode viver no futuro.
Isto é um atestado
De morte com prazo de vida.
Uma bóia que flutua
E espera o tempo
E a corrente para ir
Para onde tiver de ir.
Isto é um poeta
Disfarçando poesias.
E tu mereces
Estas secretas melodias.
Chhhh
Já não são minhas.

VAz Dias

Amor ao Contrário

Escrever poesia
É o divórcio necessário
Da expectativa
E do amor alheio.
Quanto mais aprofundo
Mais longe
Te empresto
Ao fim do início.
O amor é a poesia ao contrário
E estou cansado.
Ou do amor
Ou de escrever, demissionando-me.
Prefiro ser poeta de longe
Do que não te ter por perto...
Mesmo que a culpa
Seja a de ser poeta.
Fica a solidão
A que o lirismo me remeta
E nunca o sabor a estragado
Dum beijo
Que ficou por ser dado.
Poesia é solidão
Do desamor e do amor
Ao contrário.

VAz Dias

#palavradejorge

O passado carece

Há mar na tua vista 
e luar no passado. 
Desvaneceu no lado mais escuro da lua 
o passado. 
Fica de frente o dia 
que também na lua te resplandece. 
A natureza é tua e obedece, 
ao futuro tomar o que o passado carece...
a beleza de sempre, 
da noite para o dia 
e que o teu coração merece! 
Venha o mar calmo 
e a luz que aos justos pertence. 
Por isso, 
resplandece!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Fim do teu verão

Desceu o manto
De incêndios no céu.
Do azul mar
Que por ali também
Se deu.
Havia uma energia
De fim de verão
Com coros de todo mundo.
Cantavam-te.
O manto era o que te cobria
A pele,
Tão desnudada e quente
Desse teu verão.
Eu cantava-te.
O teu ardor queimava-me
A calma.
À medida que o sol desmaiava
Mais era o ardor de ti
Que em mim ficava.
Deste-me sorte
E eu a ti uma canção.
Esta.
De prender aquele momento
Antes do serão.
Fazê-lo perdurar
Até o outro e mais outro
Verão.
Todos de quem
Arde assim...
Dessa imensa intensidade,
Ou minha intenção.
Ardo enfim do fim
Do teu verão.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Espelhada vida

Morremos tantas vezes
Quanto precisamos.
Morremos por quem nos morreu.
Morremos por quem nos viveu.
Morremos para nos habituarmos
À morte.
Sim nós os que vivemos
Padecemos em cada perda
Do que era nosso
De coração.
Morremos até não precisarmos
Disto aqui.
Vivemos até onde queremos
Porque a morte
É a nossa aliada.
Mesmo vil,
Injusta e improvável,
Que nos leva quem era nosso,
É a nossa testemunha de vida.
Amei e morri.
Renasci a amar a morte
E a não ter medo
De viver a tua.
Amo-te!
Amo-te de morte!

(Sacudi com água o espelho que me fitava. Segui vivendo. Era o que restava de mim)

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Horizontal fado

Este é o sonho.
Horizontal caminho
Da latitude
Com que te deito
A meu lado.
Adormece agora
Enquanto te amo.
Mesmo que do outro lado
De um longitudinal
Mundo,
Esteja o meu desejado fado.
Sono profundo
E sonho de por ti
Mais perto
Fosse amado.

VAz Dias

Amor por desamor se paga

Chegámos ao tempo
Das partidas.
Todos escondemos de nós
As piores.
As mortes.
Mas adiávamos as tristes
De vidas.
Afagávamos esperanças
De para sempre
E de sacrifícios
Por um bem maior.
Não morreríamos sós.
Fecharíamos os olhos
Com alguém de nosso lado.
Morremos sós
E caminhamos sós.
Podemos nos fazer acompanhados
Aqui e ali,
Aos bocados,
Mas nós à vida convidados
De inventar amor após.
Nascemos de amor
Ou conveniência
De solidão acompanhada.
Quando morremos não há nada.
Viver é amar
Após a esperança acabada.
É reviver
E não ter nada,
(Mas nada!)
Antecipadamente afiançada.
Amamos e pronto!
É melhor que nada...

VAz Dias

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Suspiros

O mundo é teu desde que os horizontes sejam livres.
E livre vai quem te quer, mostrando os seus. 
Há luz em frente. 
Emana-se de ti, 
e ele, 
vai por aí fora, 
aprendendo a traçar com as tuas mãos. 
São desejos o que tocas. 
Beleza de ir. 
Querer de ti.

VAz Dias

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segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Água de beber, coração!

Escolher entre quem tem
Coração sofrido
Mas resolvido
E quem tem
Uma eternidade para resover,
Merece o seu tempo,
Seu coração pacificar.
Sou coração
De corrente d'ar.
Sopra a brisa
Ou a ventania de tempestade,
Mas tudo por mim passa
E não dobra.
Venha o dobro
E não dobra.
Não há sopro de coração
Para quem
Qualquer coração
Adora.
Sopra e não pára!
Haja ar
E vida...
E água!

VAz Dias

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domingo, 18 de setembro de 2016

Foto Maxilar

Sou fotograma de te
Admirar.
Eu passo a ser imagem
Estagnada,
Dependurado maxilar,
De te fitar.
Sou imagem parada
E a tua imagem
Vivificada
Corre em estrada aberta
De meu pensamento.
Auto-estrada para o sonho.
Vivo lá contigo
As imagens em
Rapid eye movement.
Curva do meu pensamento
Até chegares.
As vidas interceptam-se
Antes de se cruzarem.
Sou imagem parada
Da tua câmera lenta
No meu imaginário.
Vem te libertar.
Da minha prisão de movimentos
Fotografar.
Click.
Clock.
Tique.
Taque.
Tá a contar.

VAz Dias

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Aprendizagem

O que existe após as conquistas?
O que vem após o sucesso?
Onde nos situamos
Se ultrapassámos a nós próprios?
Crescer para a bondade.
Baixar à grandeza da simplicidade.
Compaixão àquilo que outros não entendem da dura caminhada volvida
E para connosco de não nos desmerecermos.
Amar desapegadamente e perdoar.
Perdoar-nos.
Refutar o brilhantismo passado
E ter a benção de estar vivo
E ainda ter quem nos queira bem.
A excelência solta-se no mar
E deixar-nos na corrente
Balançar.
O mundo somos nós em conjunto.
Desprender.
Deixar errar.
Aprender.
Reaprender.
Maturar.
Envelhecer e agradecer.
Morrer antes de falecer
E dar vida
Aos que nos amam.

sábado, 17 de setembro de 2016

Quando deixar

E quando deixar de sentir
Tão profundamente
Saberei que um fim
Terá chegado.
E quando me desagarrar
Do que para os outros
É pueril
Em mim uma nova
Vontade nascerá.
Morrerei apenas
Para renascer...
As vezes necessárias
Antes de à terra me entregar.
Quando souber amar
Mais a alma ao céu se elevará
Pois a carne cá
Já terá amado a intensidade.
Recolherei aos meus aposentos,
Aos vossos intentos
E todas as palavras ao vento
Ainda antes de me dissipar.
Mas amem-me pelo menos
Com a força de um sopro
Que me faça cair
No esquecimento das nossas
Desavenças
E no leito da vossa lembrança.
Essa é a minha esperança.
Pequena
Mas com a força
De quem sabe morrer.

VAz Dias

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Um coração encarnado de teu

O coração desaparece
Por entre epiderme
Osso e carne.
Guarda-se do tempo
E lá dentro treme
Quando outro
Guardado em si
Pelo seu geme.
Passou tanto tempo
Que a carne tomou conta
E o amor
É um coração escondido
Que se descarne.
Amor de carne.
Lá dentro
Que se ame.
Que se amem
Até que o êxtase se acabe.
Seja amor
Se a carne desabe.

VAz Dias

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Se me danças

Expressa-se o olhar
Em silêncios.
O amor alheio
Repousa num imaginário
Propenso à crença.
Ela dança
Descomprometida
E airosamente.
É amada.
Sorri porque a dança
É de um traço,
De uma ponta
A outra.
Em pontas lança-se
Neste olhar alheio.
Inveja e delícia.
O sorriso não é um fim
É sim um meio
De a ver dançar assim.
Tão longe quanto
O olhar alcance
E o sonho repouse
Em mim.

VAz Dias

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quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Falta-nos amor por isto tudo

A serenidade ao contrário
Da calma
Instala-se.
Penso que se treinar
Com afinco a serenidade
Que a calma virá.
Quando vier a calma
Serei sinal de harmonia
Para o mundo.
Que os meus movimentos
Serão em favor
Do bem.
Que eu deixe de ser eu
E nós seremos o mundo.
Esta é a minha reza.
O meu desejo.
A minha emancipação.
E assim
Saberei o que é amor.
Falta-nos amor por isto tudo.

VAz Dias

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quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Maduro é o chão

Fruto maduro
De chão não tem medo,
Enquanto no alto
Da copa
O fruto verde
Enamora o tempo.
Não tem medo
Nem compreende
O que é chão ou queda.
Nem sabe o que
O eleva.
Lá fica verde,
De cor brilhando,
Achando que não
Há nada senão
Ar
E altura
E tempo que se perde.
Cai o fruto ao chão
De tempo que não se perde
E que lhe espera
A amaduecida doçura.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 13 de setembro de 2016

Comboios. Piano. Sonhar.

Sonhei que me queria
A ti prender. Por um pouco.
Desisti de abdicar
Da liberdade
Que me faz um mundo
Inteiro
De oportunidades
Calcorrear.
Mas em ti,
Na viagem por ti,
Um comboio atravessa
Os campos e os tempos
Com um piano a tocar.
Notas soltas
Que se interceptam.
Harmonia é a liberdade
De prendermos
Os sons
E as asas
Que me fazes
Prender.
Sonhei que a viagem
Não acaba
Até despertar.
Toca ainda um piano
Mas aqui não estás
Para comigo o escutar.
Sonhei
Uma viagem de comboio
Nunca parar.

VAz Dias

#palavradejorge

Esquartejado Perder

Quarto escuro.
Esquartejado murmúrio e
Grito guardado em armário.
Esconde-se o que te quero dizer.
Demasiado ordinário...
Sinto o amor a desfalecer.
Não vejo.
Não sinto.
E calo-me por aqui
De tudo o que tenho para te dizer.
Quarto escuro
De nos esconder
Em janelas escancaradas
De luz nos envolver.
Foi há um quarto de tempo
Que se produziu o invento
De nos fazer perder.
Perdemo-nos frequentemente
Até um do outro
Isso fatalmente,
Finalmente
E finitamente
Assim se resolver.
Quarto escuro
Esquartejado perder.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

Promessas são de levianos

Lembras-te em como
Nos encontramos?
De como esse momento
Mudou tudo?
Mesmo depois de não ter sido
Nosso o futuro
Aprendi uma grande parte
Do todo,
Do que de nós foi perdido
E por cada um
Num futuro seu reconvertido.
Lembras-te das promessas?
Eu também não.
Nunca mais quis prometer
Daquilo que nunca pode ser.
Infinito é morrer
E viver são os momentos
Em que amámos.
O que perdemos
Noutro lado recuperamos.
E promessas
...
Deixemos de ser levianos.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 11 de setembro de 2016

A alma vai nua

Pode alguém culpar o poeta da alma exposta? Foi a sua à das outras em resposta.
A alma vai nua, e o que isso muda ou mata?
A alma vai nua e altiva,
Não muda nem deriva.
Vai nua e convicta
Que as outras
Se revestem de nada.
Apenas o poeta isso canta,
Porque nua é a sua alma
Das almas que se calam
E aos poucos se matam.
Ama e vai nua!
Anda minha alma,
Anda
E vem nua!

VAz Dias

#palavradejorge

Imortalizada

Rodo incessantemente
As tuas histórias passadas.
Fotografias de vidas
Lá tiradas. Eras a mesma
Mas diferente.
Bela
E presente.
Hoje apareces
De repente
E de repente
Ausente te guardas.
Hoje sou só um transeunte
(Diferente do que estavas habituada)
Que observa cada vez mais de longe
A tua história fotografada.
Sou apenas parte interessada
Do que um dia queiras diferente.
Senão,
Testemunho como ninguém
Alguém que te deixou
Para sempre
Desse tempo em que eras feliz,
Imortalizada.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 10 de setembro de 2016

Destituída dor

A tristeza apodera-se da alma.
A pena toma conta do nervo
E vê-se quem se quer bem
Cometendo os seus próprios erros
De forma sofrível.
Dói saber que se vai magoar mais
E nós (veteranos do erro)
Cansados da dor,
Destituímo-nos da nossa
Para cada dia que passa
Os querermos mais em segurança
E livres de dor.
Vem a nossa.
Não devia!
A dor é de cada um.
Como se faz para não doer
Ou precaver a sua dor?
Inércia?
Compaixão?

VAz Dias

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sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Ficaste

Fundamental mesmo é serenar.
Sair de fora
Em latitude
Estender o olhar
E o senso.
Agora compreendo-te
Um pouco mais longitudinal.
É na sequência
Do tempo
Que me deste espaço.
Abraço-te
A diferença.
Cada vez te amo mais
Diferença!
Mesmo na ausência
Ou talvez por sua consequência
Agora não passo.
A compasso
E a arrebate
Do tic tac
Que é um tempo
Espaçado para nós.
Devolveste-me viva voz.
Devolveste-te
Sem te dares.
Liberdade de ires
E ficares.
Comprometeste-te
Com nada
E nada de mim.
Ficaste.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Brisa Imaginação

Oiço a brisa
Que arrebata os sons
Que dentro de mim
Se querem fazer ouvir.
Escrevo-os pobremente.
-Nunca fazemos jus
Ao que lá fora existe-.
Sem filtro a realidade
Espera o meu apreço.
A imaginação
Que o meu ponto de vista
Merece.
Partilho ao mundo
E parte não se interessa,
Não deu conta,
E uma pequena parte
Agradece.
Esta é a realidade
Que também cada um
Comprova.
Temos poucos
Que como nós vêem
A realidade lá fora.
Sejam loucos como nós
E até diferentes
Pintem cores
Desfiguradas.
Os outros
(Diferentes de visão)
São os nossos limites,
Mas juntos
(Estes inquietos das cores)
Somos filhos da imaginação.
Sopra lá fora uma brisa
Em contínua permanência
Da minha libertação.
Sopra aqui dentro
Comigo
A tua brisa
Da nossa convicção.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Retrato a preto e branco

És figura central
Na fotografia
A preto e branco
Que pinta o meu imaginário.
Se calhar sonhamos
A preto e branco
Porque assim perduram
As imagens
Que não queremos
Ver definhar.
Tu és um sonho
A preto branco.
Eu sou aquele
Que capta cada momento
Como se de um último
Se tratasse.
Somos um enlace
De filme de época
Que se precipita
Para futuro incerto.
Certo é que a tua imagem perdura
Para lá do meu intelecto.
A preto e branco
Me vejo repleto
Do teu traço
Cor
E da saudade, objecto.
Fotografo-te
Como quem faz amor.
Capto-te
E de ti me vejo cativo.
De ti me vejo
Repleto
Infinitamente
Em preto e branco
Retrato.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 6 de setembro de 2016

Carta aberta ao ouvido

Escrevo-te porque não tenho
Outra maneira
De te chegar.
Nem directamente
A coragem me chega.
Não sei se foi dos encontros
E das suas perdas.
Se foram as demais perdas.
Se o respeito pelas tuas
Supostas perdas.
Não sei se a força me falta.
Se tenho audácia em demasia.
Se a minha loucura
É constrangedora à tua.
(Se é que és louca...)
Se algum dia podias ser minha
Se não tenho ninguém por posse.
De encontrar no teu semblante
Algo que num futuro "fosse".
Não sei te convidar para algo normal
Se esgotei tudo o que tenho
De normal em mim.
Não sei manter essa auto-confiança
De livro de auto-ajuda.
Esgotei as palavras nele
E dele cheguei aqui.
A ti.
Ao agora.
Mas isto nada muda.
É apenas um café normal
Onde tudo se perpetua
Em conversa simples.
Isto foi o normal
Sem requintes.
(Complexo sem requintes).
Simples quando também somos ouvintes.
Sei que gostarias de mim
Apesar do exagero da normalidade
E da loucura o eufemismo.
Venho do futuro.
Não sei se do nosso
Porque não me lembro da tua voz.
Fecho os olhos em silêncio nosso
E sei que mesmo não vendo
Me ouves longe.
Peço-te que oiças,
Que me permitas...
Se posso.

VAz Dias

#palavradejorge

Fome? Tenho é sede!

Deixo-me à fome.
Permito que a fraqueza
Me tome.
É lá na extremidade
Dos desejos
Que se deseje nada.
Apenas o suficiente
Para definir
O que a vida come.
Instinto básico
Do que é fundamental.
Reavaliar
O que é a fome.
Tenho fome de vida,
Mas sede de ti.
Amor,
Só preciso de ti
Como água de sustento
Porque a vida
Passa bem sem a fome.
É a sede de ti
Que espero que
Me tome.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Parte! De mim.

É parte do teu olhar
Que parte do meu.
A outra, parte um coração.
O teu por não saberes
O que do meu partiu.
Viajei em mim
E em toda a parte
Te encontrei.
És parte de ti
Em meio olhar
De todos.
Vi-te com os olhos
De toda a parte.
Parte!
E encontra-me
Dentro de ti.
Estarei por toda a parte
E contigo em mim.
Parte!
Estou aqui.

VAz Dias

#palavradejorge

Espera-nos um futuro

És exactamente
O que esperava.
Procurei
Procurei
E quase que encontrava.
Esperei
Mas tu não estás.
Não estás por aqui
Não estás interessada
Não era como esperava.

Afinal o que espero
É futuro.
Busco e procuro
Perceber o que muda
Enquanto mudo.
E o mundo
Rende-se ao cosmos
E naquele segundo
Tudo muda.
Esperadas buscas
Mudam-nos.

Se não vieres
Perdi.
Mas ganho o tempo
À frente.
Só?
Nunca!
Meu, com um mundo
Que me espera
Conivente.
Futuro!

VAz Dias

#palavradejorge

São as palavras que não te digo

São as palavras
Que não te digo
E que guardo para um dia,
As que prefiro.
Estas são as de te chegar
Num afago.
Pouco conhecimento
De ti trago.
O pouco chama-me
Para o recato
E a contenção.
São tantas as palavras...
Mas não!
Vou descobrindo-te
À medida
Da tua permissão.
Sei que pouco sei
De ficar mais calado,
Mas é aquele momento
Que guardo.
A beleza de quem
Com espontâneo agrado
Sabe receber.
(Quis repetir).
Para não te perder
Do meu encanto.
Do teu traço ser
Delineado antes que enevoado.
Da memória apagado.
Tudo urge em mim.
Poucas foram as que me
Urgenciaram assim.
Travo-me!
Refreio-me!
Mas a busca vem até mim.
A tua imagem
Desenha-se de novo.
É de ti.
De ti
Que me quero deixar
À poesia.
Que as palavras te dancem
Se delas quiseres
Emparelhar.
Um passo de dança
E desliza.
Desenha
Em mim outro passo de dança
E fica.
Tenho palavras para ti.
Dá-lhes guarida.
Vamos dançar.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 4 de setembro de 2016

O que preenche a alma

Escolho o que a alma
Preenche.
Sei que de ti
Nada mente.
E de mim
Nada mente
"Per si".
Achamos sempre
Que aquilo ou isto
Nos compete
Para preencher
A alma.
Vem a canção certa
E é ela que se ama.
E a que se ama
Tem uma canção
Para si.
E fico-me por aqui.
Que pode ser mais belo
Do que a canção
Que na alma
O coração acalma
E leva tempo
Para quem se ama?
Escolho o que
Preenche a alma.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 3 de setembro de 2016

Loucos com o mesmo tipo de coração

A poesia define-me
Por quem sou
Na diferença do outro.
Aceito que ela
Não assente
De tal modo
Como a projectei.
Sonhei
E deixo-me ser um pouco
De louco.
Sei que se vão embora
A rodos.
Todas e todos
Dos que ao meu tipo
De insanidade não são.
Ou não reconheçam.
Às poucas e poucos
Fica a safra
E minha redenção.
Somos todos loucos
Do mesmo tipo
De coração.

VAz Dias

#palavradejorge

Luz!

Sereno.
Desacelero.
Quero-me maduro
Mais do que velho.
Espero.
Sei esperar.
Mesmo com esta
Impetuosidade
De garoto.
Estou pronto.
De alma aberta.
Se não vieres
Aceito.
Fico satisfeito
De ver um mundo inteiro
À minha volta girar.
Parado por agora
Resolvo a alma acalmar.
Tudo é câmera lenta.
Observo-te em contra-luz.
Filme de longa duração
Se produz.
É o traço que uma sombra
Delineia no meu olhar.
Ver outra alma
Lentamente
A se acalmar.
Luz!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Abraços de cristal

-Amor, porque não me quiseste?
-Não sou o teu amor!
-...porque não me quiseste?
-Porque se passou o nosso tempo.
-Se era nosso, porque se perdeu?
-Porque assim o quiseste.
-Sempre te quis...
-Mas não o nosso tempo.

(Silêncio constrangedor. Vazio.)

-Pensava ser livre contigo e o tempo é demasiado ditador. Sou livre do tempo agora mas sem o teu amor.

(Respiração trémula dela. Engole a saliva que preparava para falar)

-...terás sempre o amor quando deixares o tempo te convidar e tu o aceitares. Mesmo que caminhes no vento. Mesmo que eu já não te seja tempo.
-E amor?
-Dá tempo ao tempo...

VAz Dias

#palavradejorge

Sem jeito, livre amor!

E se não tenho jeito?
Sou tão falhado
Como outro qualquer
Bem sucedido.
E mesmo que
Pouco guarnecido
De propósito
E comunicação,
Levo jeito da tua intenção.
Como não.
Livres são
Os que com asas
Voam na mesma direcção.
Soprou o vento
E cada um foi,
A favor do seu coração.
Até a um vento
A nosso favor.
Voa livre amor!
Livre.

VAz Dias

#palavradejorge

Há eternidade num supiro

Tenho saudades de te escrever.
Fazer um poema
E absorver
O teu encanto.
Revitalizar-me de cada
Momento.
Alimentar-me
E produzir-te novos suspiros.
És!
Sempre serás
Um suspiro em mim!
Quando morrermos
Morremos num suspiro.
Há algo mais eterno
Que um suspiro de vida?
Há algo mais eterno
Do que o teu encanto
Quando me inspira?

VAz Dias

#palavradejorge

Parede de imaginação

Era uma parede.
Colorida e esculpida
De tradição
E das diferenças
Em que cada um de nós
Repousava a interpretação.
Uma barreira que nos colocava
Do mesmo lado
Mas diferentes.
Aprendia contigo
A cor com que vias o mundo
Apenas naquela sobreposição.
Era uma parede apenas
E onde nos encontrávamos
Do mesmo lado.
Diferentes
E em tempos diferentes
De maturação.
Mas as cores,
As desalinhadas cores
Da nossa diferença
Viam neste muro,
Não uma separação,
Mas a lamentação apenas
De ainda não nos encontrarmos.
Perdemo-nos nas separações.
Colocámos divisórias.
Fizemos novas estórias.
Mas isso foi passado.
Somos outros agora
No mesmo lado da divisão.
Pintamos cores diferentes
De igual.
Parede pintada por dois
Com olhos de mais.
Mais passado
E muros
E divisórias
Para trás das costas.
Pintemos de olhos e cores
As novas apostas.
Somos verticais.
Ergamo-nos bilaterais.
Façamos uma parede aberta
Da nossa imaginação.

VAz Dias

#palavradejorge