segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Corre um rio indiferente

Esse muro de silêncio.
Essas pontes implodidas.
Essas dores sepultadas
Em horas de sono perdidas.
Essa falta de vontade
De ver alguém,
Todas elas destituídas.

Esse telefone sem toque,
Notificação
Ou alheio ao choque
Da nossa hiper-ventilação.
O desespero que vive
No fim da crença.
Um fim da criança
E a porta na adultez.
Cresceu ao invés.

Inveja de quem
Um dia chegar
No tempo certo.
Que decerto te tomará
De vez.
Porque é nisso que crês
E a isso afiança
Essa ínfima esperança
Que reside num outro lado
Do rio.
Que sem ponte
Se atravessa de barca.

Que de um muro
Ao outro lado
Um salto que alcança.
Que acalenta um residente frio.
Que cicatriza
O coração ferido.

Se fosse eu?
Se fosse eu?
Mas obrigas-me a ser contido.
Longe,
Noutra margem remetido.
Grito.
De longe em uníssono
Com todos os hinos
De esperança e de te chamar.
Contigo sinto-me perdido.
E a vontade?
Mais um barco largado
Mais uma esperança
Ao largo
Do destempo da oportunidade.
Vai um rio passando,
Impávido,
Chorando a mando da nascente,
Quem para ele atira pedras
Como mudo e demente.

Choramos,
Cada um no seu presente,
Na sua margem.
No seu destempo,
As lágrimas que de um rio
Corre indiferente.

VAz Dias

#palavradejorge

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