sexta-feira, 30 de junho de 2017

Senhoria dos Sonhos

Sei que sonhar
Contigo não é proibido.
Nem seria minha intenção
Reprimir-te
Se fosse esse o teu desejo.
Julgo mesmo
Que te fizeste passar
Por mim
E me chamaste.
Essa tua malícia
Que faz de nós gente.
Essa perícia
De fazer no outro
Um pretendente.
Não sou eu de mim
Quando te afiguras
Sultana nesse meu
Império.
É só descanso
E sonho é mistério.
Mas urges em te fazeres
De mim.
De tomares os meus sonhos
E fazê-los teus.
Sonho-te
Quando me deixas.
Raptaste o meu descanso
E agora onde durmo?
Deixa-me sonhar
Os meus sonhos...
Deixas?

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 29 de junho de 2017

Hoje vi-te noutra pessoa

Hoje vi-te noutra pessoa.
Terias sido tu
E a diferença
Era teres mudado.
Mas não.
Eras tu no corpo
De outra pessoa.
O olhar era o teu.
O andar era o teu.
A falha de percepção era
A minha.
Mas eras tu
Porque era eu que te
Olhava.
Passavas
Sem mim na tua
Presença.
Era eu
Mas não era
No meu corpo.
Era na invenção.
No teatro de te ver
Minha.
Fomos um poema
E um livro
Por ser escrito.
Um último verso
Caído
Que passa
No corpo de alguém
Parecido.

VAz Dias

#palavradejorge

Caídos do Céu

Lá fora chovem
Pingos de felicidade.
Eles despertam-me
Como beijos teus
Pela manhã.
Suaves
Acariciam lentamente
A frente
A têmpora
E o tempo
De te adocicar de volta.
Oiço o aguaceiro
Do teu desejo
Em mim se fazer.
Amor dos corpos
Que suam manhãs
E noites do corpo
Se transcender.
Acordo de não te ter
Mas de em mim
Te fazeres crescer.
De seres a minha manhã
De chuva
Ou luz
Ou amanhã.
De seres água
De viver.
Beijos de te ter.
Beijos.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 26 de junho de 2017

Sal desterra

Banhei-me tantas vezes
Desse mar de solidão
Que o sal
Em mim se fez terra.
O mar que invade
E se despede do chão
Que nos dá pé
Não nos quer
Mas deixa marca.
Corro desenfreado
Para tudo o que de mim
É tempo
E de mim abarca
Sem perder pé.
Banho-me uma vez mais.
Mais as vezes
Que darei braços
Às marés.
Volto do sal
Que o tempo de mim
Fez.
Não é culpa de ninguém.
É de vivermos
Sem terra
E fazermos barca
De todos os reveses.
Sou mais braços
Do que pernas
Mas confesso
Que me ergo vertical
Em terra molhada.
Sal da terra
De mulher banhada.
É tudo quanto um homem
Se pode prometer
E ser sal
Do mar em terra firme
Que tem de percorrer.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 25 de junho de 2017

Movimento e Beleza

A naturalidade
Oferece-se aos meus
Movimentos.
Foi a tua presença que
Me fez vivo.
Me fez ser.
Abundância
E terra fértil
És a Mulher.

Somos vida porque
Nos fazem seres.
Meninos nas mães
Homens nas mulheres.
Pais nas mães
Que se desdobram
Na natureza
E nos papeis.
Somos porque nos
Fazem mais
Por demais
Papeis
E afazeres.
Somos seus prazeres
Seus senhores
Se lhes formos
Prestadores de cuidados
E afecto.
Estarmos por perto
E ser braço armado
De força
E defesa.
Defende-se da erosão dos
Dias
Do cansaço que só elas
Suportam
Da beleza com que
Se apresentam
Como sendo as
Mães Natureza.
Beleza
E encantamento.
Contentamento.
Certeza.

Beleza!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 23 de junho de 2017

Por todos os desarranjos que teças

Estou esperando-te
Nos intervalos.
Do tempo.
Da expectativa.
Dos raios de sol.
Dos olhares que se cruzam.
Dos olhares que se disfarçam.
Do mar que nunca foi nosso.
Da água que trago
E só com poemas
Que te trago.
Apago da memória
Para que apareças.
Mesmo que me peças
Por todos os desarranjos
Que teças
Vou fazer-te viver aqui.
Mesmo que não seja assim.
Mesmo que não sejas
Assim.
Vou inventar um intervalo
Onde o sol
Não queime tanto quanto tu.
Onde a memória é água
De transpirar-te
Até que escorregues em nós.
Vou fazer-te viva voz.
É a minha vez.
Foi o intervalo que assim quis.
Fazer-te foz
Das águas e da memória.
Fazer uma história.
E lavar as impurezas.
Levar-te daqui embora.
Mesmo que assim não peças
Por todos os desarranjos
Que teças.
Vou fazer-te aqui vir
Embora.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Ar(de) passado

Acalma-se o vento.
Ar com que tudo
Se rebente.
Fogo intermitente
Que nos queima a memória
E o futuro presente.
Quem é de amor
Não se sente
Quando puxa esse vento
Que arde
Descontentamento.
Reza a impaciência.
Sorri a conveniência.
Mas ar é boca calada
No ouvido
Dormente.
Demente vem aquele
Gritar para a rua
Sem voz.
Grita que ama
E ninguém o ouve.
Tempo houve que era escutado.
Arderam os amores
Que no ar se esgotaram
De tanto os ter respirado.
Ah! e o fogo
Que ardeu com a terra
Desse desafortunado.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Teu

Chegou o sono.
O cansaço
Que descarrega
O transtorno
De nos encontrarmos
Longe.
Chego logo
E tu partes entretanto.
Viagem de te
Encontrar
A meio caminho.
Meio da noite
Meio do dia.
Não somos iguais
Mas somos parecidos.
Cada um do seu lado.
Um que o outro convida.
Venho agora eu
E tu de saída.
Quando chegas?
Já cá estás.
Simplificas
E eu sou eu.
Fazes-me isto
Amor meu.
Fazes-me isto
Parecer tão simples.
Como o destino
Prometeu.

Teu!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 20 de junho de 2017

Predestinados

Os desencontros
Dos predestinados.

O sorriso cúmplice
Com que passam
Ao lado da cúmplice
Morada.

Da vida partilhada.

A vida é de tantos
Futuros
Trocados pelo presente
De nos termos
Com quem se encontrou.

Paralelas e encruzilhadas
Vidas.
Sorrisos.
Passam pelo tempo
E piscam para outro tempo.
Outra vida.

Sorrisos que só o que
"Poderia ter sido"
Pode contemplar.
Fica a consciência
Que podemos ser
Várias vidas
Mas somos esta.

A das nossas escolhas.
Esse amor.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 19 de junho de 2017

Quase todos falam

Somos a verborreia
Alheia.
A teimosia de quem
Insiste em criticar
Ao infinito.
Todos os outros estão
Errados
Nós sempre
Certos.
E assim nos vamos
Levando
E poucos
- calados -
Ajudando.
Actuando.
Não se interessando
Da câmera lenta
Em que se movimentam
As cabeças falantes.
Tudo como dantes
E agora com mais visibilidade.
Caixa de comentários
Para se despejar
Na escrita todo o tipo
De atrocidades.
Morrem pessoas
E a culpa é de todos.
Ou só dos que falam.
Ou só do tempo.
Ou só...

Só...

Cada vez mais sós.

Quase todos falam.

VAz Dias

#palavradejorge

Palavras por Terra

Não te escrevi
Os poemas que te dei.
Tinham sido
Palavras que me tinhas deixado
Perdidas nos silêncios
A que me devotaste.
Cartas largadas
Ao vento e apanhadas
Por transeuntes em busca de amor.
Outros, desafortunadamente
Distraídos,
Assumiram o desamor.
Outros porém,
Seguiam com as suas próprias
Palavras.
O seu próprio amor
- reconheciam sobretudo o amor
Espalhado pelo chão.
Pelo ar.
Pelas mãos desses que buscam
O amor em toda a parte.
Eu guardei as minhas
Para mim.
Enchi-me de amor.
Sempre tive.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 18 de junho de 2017

Calor Doente

Estas nuvens
Não são das chuvas
De verão.
Mas há calor doente
De ainda não ser
Verão.
É primavera decadente.
E cinza num sol
Presente
Cuspindo cinza
Da terra.
Da morte que encerra
Vida no ar.
Há pesar.
Há perda.
Há nada
Senão nuvens quentes
Doentes
Cinzentas
Num sol descontente
Que toca aquela serra.
Merda, sabes?
Merda!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 17 de junho de 2017

Céu do Inferno

Caem cinzas do céu.
Caem os bocados
Da nossa pintura natural.
Deus é queimado
No seu desenho.
As gentes são cinzas
Que caem do céu.
Pensávamos que o céu
Era bom.
E dele caem os bons.
Este é o céu
E a boca do inferno
Dos homens de pouca fé.
De pouco engenho.
De pouco tamanho.
Caem pessoas do céu
E eu não me detenho
De lhes chorar a vida.
Choro cinza
Choro estranho.
Choro as minhas gentes
Que desapareceram
Do desenho.
Deus tem um céu muito
Estranho
E a terra um inferno
Queimando
Ceifando
Vidas
Dos irmãos ao alheio.
É triste!
É feio!
É inferno do céu
Em cinzas caindo
Lá no meio.

quarta-feira, 14 de junho de 2017

Atração dos Corpos

Cheguei.
Uma vez mais
Provaste a teoria
Da atração dos
Corpos.
A minha massa
E a tua
Em órbita
Descendente
Ao mais profundo
De nós.
Alinharam-se os astros.
Gritamos de viva
Voz
O murmúrio
Dos amantes secretos.
Entrei em ti
Já aberto
Com um universo
Rasgado
Para o teu em
Regresso.
Já éramos
Num retorno infinito
Onde a matéria
Deu lugar ao corpo.
A dois corpos
E ao nosso
Desejo e acerto.
Ao nosso primeiro
Regresso.
Voltas e mais voltas
Dum infinito e apenas
Nosso universo.

VAz Dias

#palavradejorge

Canção

Surges-me ao longo
Dos anos.
A esperança renovada
E a crença no mundo.
Nem os abalos
Nem os atropelos.
Muito menos
Os meu próprios erros.
Advogo a minha pessoa
Com o que disso
Tenha de bom
E de mau.
Sou isto apenas
E tu isso tudo
Que me surges
A tempos.
És aquela canção
E a minha irascível
Diferença.
E indiferença.
Por isso nos vemos
De longe a longe.
És a canção
Que espelha tudo.
Me deixa mudo.
Tudo é tu
E essa canção que és
Em mim.
De tempos a tempos.
Contudo...

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 13 de junho de 2017

Fogo dos Dias

Comprometo-me a cada instante
Te perder.
Como não deixar
De ser eu
Se é de mim
Que te deixas ser?
Sou vulcão activo
Pronto a arder com
A banalidade.
Com os dias seguros.
Ainda que venham
Calmos
Os dias são a nossa parte
De fazermos
Tempo
Para mais tempo perder.
Perde-te em mim
Com o fogo
Em que já te querias
Queimar.
Ou em lume brando
De se arder.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 12 de junho de 2017

Poema Meu

Não tenho tido
Tempo para te trazer
As palavras que sei
Sobre ti.
Existem poemas
Por te escrever
E não quero o tempo
Se depois perco
As palavras de nós.
Do poeta
E da perdição de nós
Por fim.
Amar é coisa séria
E eu quero-te um poema
Leve.
Que te transformes
Em odes
E intemporalidade.
Não será tarde amor.
Não perderei
A oportunidade
De me deleitar com o teu
Sorriso.
Como sorris com os
Olhos.
Escrevo para que saibas
Que em mim havia
Já um poeta esperando-te.
Um simples homem
Que ama também as palavras
E o poema que me és
Agora.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 9 de junho de 2017

A tua curva

Não quis te oferecer
Um poema normal.
Sabendo que ainda
Assim
És simples e de poucos
Rodeios.
Mas tudo em ti
Já é natural
Para te oferecer
As palavras que não se
Esperam fáceis.
Acolhes no seio
O poema que te alcança
Sem freio
As palavras que se deixassem
Ser
Seriam as do epíteto
Da mulher.
Da glorificação desse teu
Ser.
São as palavras que se
Amassem
Seria poema
De te enaltecer.
Apenas é uma lembrança
Do que tu me fazes
Perceber.
A complexidade das voltas
De um mundo
Que para ti é redondo
E sem muito mais
Do que isso
Para perceber.
Sou as voltas
E os retornos
Ao que tu mantiveste
Sereno e passageiro.
Sou passageiro
Em finais de entardecer.
És o horizonte
Onde a volta
Que te busco
Volta sempre a ti.
À curva de ti.
À volta de te
Ter.
Simples são as voltas
Quando tu me
Voltas
Para um mundo perceber.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Fecho de emissão

Somos a publicidade
De nós mesmos.
Cartazes ambulantes
Das nossas experiências.
Venham mais audiências
Até que se esgote
A paciência.
Assim que mais ninguém
Nos ligue
E menos lhes liguemos.
Programinha de moda
Plástica.
Pastilha elástica que se masca
Enche
E se rebente.
De repente
Somos normais de novo
Sem precisar da atenção.
Fecho de emissão...
De repente!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 7 de junho de 2017

Bonança

Terás de ser
O meu reencontro
Permanente.
A dúvida que se dissipa
Quando se submerge
Profundamente
Na razão.
O meu porto de abrigo
E postigo
Do forte que alumia
O caminho perdido
Da minha
Inquinada convicção.
Perde-se o amor
Da sua iniciada aventura.
Nem tudo muda.
Vai a barca
Em maré obscura
Buscando os dias
Da bonança.
Há esperança
Nos homens de coração
Largo!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 3 de junho de 2017

Quatro Invernos

Receio parar de te
Escrever.
De seres a âncora
Que foste em mar
Bravio
E eu parar
De ter que escrever.
Escrever à escrita.
Escrever à poesia
Como devia ter
Sido dita.
Veio o tempo
Pacífico
E o vento seguiu.
Se calhar nunca ficarei
No frio
Mas este poema
É chama que vento
Derreteu no pavio.
Ficou calor
Do verão do meu
Contentamento.
Quatro invernos
Para o quinto verão.
Veio o tempo
Que seguiu
No vento
Do sopro
Deste coração.
Contentamento
E este senão...
Receio parar de te escrever
Para sempre
Minha acompanhada
Solidão.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 1 de junho de 2017

Os Últimos Dias

Se fosse o teu último
Dia neste mundo,
Terias abraçado
Todos os que amas?
Terias pedido desculpas
Aos que não conseguiste
Ser melhor?
Saberias aceitar
Esse facto e sorrir
Deixando para trás
Também todo o bem?

Eles passaram por ti
Acenando,
Felizes pela tua vida.
Não sabiam também
Que seria o último,
Mas também o primeiro
De tudo o que deixaste
Por diante.
Nunca se morre justamente.
Só no momento certo,
Porque não há nenhum mais
Certo do que aquele momento.
Abraça-os.
Afaga-lhes a vista
Com o teu olhar
Orgulhoso.
Despoja-te do teu querer.
Deixa a plenitude
Do sempre
Em ti se fazer.

Abre os olhos
E se sobreviveste
Pode ser que estejas
Na eternidade
Ou nos dias
Que faltam
Do fim.
Virá um dia.
Já te perguntaste
O que falta fazer
Até lá?

VAz Dias

#palavradejorge