segunda-feira, 28 de maio de 2018

Sentado, busco nada!


O tempo está a acabar
Para mim.
Desfiam-se os minutos
Enquanto o compasso
Alvitra o fim.
Sou de desaparecer
Como de renascer
E mesmo
Surgir como outro.
Camaleão,
Leão
Ou doente preso
Na cama.
Das mortes todas
O menos morto
Ou o torto
Que vai sobrevivendo
Ou o miúdo
Das festas
E da inocência
Ou da malandrice.
Quem disse que
Ainda havia tempo
Para ser o mesmo?
Não temos tempo
Para essas aventuras
E envelhecer
Graciosamente.
E se não morrer
Deixar-me-ei
Envelhecer de repente.
Venha a vida e a morte
De frente
Que eu logo busco
Engolir o que melhor
Se sente.
Sento-me aqui
De frente para o nada.
E o tempo passa
E logo se vê
O que sai
Na lotaria.
Nem eu acreditaria na sorte.
É mais uma para juntar
À vida ou à morte.
Sento-me de frente
E deixo que um destes
Minutos
Me conforte.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 27 de maio de 2018

Prende-se a memória


Porque precisamos
De nos perder
Se a perdição é tão
Dolorosamente bela?
Se despedirmo-nos
Da perdição
Em que nos encontrávamos
Na outra
Que como nós
Se perdia em nós?
E perdemo-nos
Para desejarmos
Amar.
E amar parece desistir
Tão enfaticamente
Dessa incerteza.
Dessa aventura
Que é nunca termos nada
Como nosso.
De sabermos que o
Céu não existe
Mas o paraíso
Fica tão longe
Como o amor
Fica perto de nos
Querer bem.
Mas não se perde.
Não se esgota.
É um pouco de Céu
E nunca estivemos lá.
Que placard de publicidade
Que vimos juntos
Sem sequer o desejarmos
Senão o tempo
Que vai acabar
E a perdição
Que de nós se vai
Perder!
Até ao amor ficar...
Ficar para sempre!

(E a Billie Holiday acaba de cantar com os violinos perdendo-se no meio da memória que se prende...)

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Nasceu a beleza!


Inspirei um mundo
Inteiro.
Inspirei os amantes
Com contos
E com beleza
Que aprendi
No desenho do teu traço.
Morrem senhores,
Escritores e dotados
Dessa beleza.
Copiei por decalque
O que eles viam
E o que vi de ti
Antes que desaparecessem.
Um mundo inteiro
Com cores que nunca conheci.
Nasceu a beleza
E a minha criação
Cresceu.
A paixão reinventa-se
E a beleza está
Nos olhos que se cerram
De sonho.
Nos teus olhos
E na beleza
De um mundo inteiro
Que desagua
No teu universo.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 18 de maio de 2018

No coração do mundo


Cai melancólica
A voz como
As lágrimas do céu.
De lá,
De bem longe
Soube-se do meu
Amor.
Gritei-o de voz
Absurdamente ruidosa
De Céu dentro do
Coração do mundo.
Era dor amada
Que ressoou
No céu da boca
Do Céu.
O teu nome veio-se
De mim
E o pecado
Foi original.
"Meu deus!"
Gritou o senhor
"O amor
No coração dos homens!".
Fumei um cigarro
E menti.
Menti que amava
E que fumava.
Menti em tudo
Menos
Na voz que ecoou
O teu nome
Na lava
Do inferno
Para onde vou.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 14 de maio de 2018

A cotovia do parapeito esquecido

É tarde.
Tarde vem do dia
Que repousa no
Parapeito.
Uma cotovia
Canta só
Enquanto as restantes
Sem rumo
Dançam a preceito.
Os minutos
São miúdos
Que chutam a bola
Sem se preocuparem
Com a tarde,
Ou os minutos,
Ou as cotovias.
Havias de ver
As viagens que faço
Lá dentro de ti
Sem me deixares
Entrar.
Sem me ouvires
Ou sequer teres
Interesse.
Mas esse mesmo
Desinteresse
Faz de mim presente.
Olhando-te em tudo.
E nem que não venhas.
E nem que me gostes
Ou ames,
Há tempo para o Nunca.
Cada vez mais
Te quero Nunca.
Talvez um dia
Me queiras Sempre
Mas Nunca esperarei
Isso.
Esse é o meu compromisso
Amar sem ter
Sem prometer
Sem expectar.
Sou imperecível à morte
E ao desdém.
À nulidade
Ou a alguém.
Um dia morri várias
Mortes
E amei viver.
Um dia fizeste-me viver
Também para sempre
Sem que soubesses
Sem que eu precisasse.
Um dia escrevi
Isto debaixo da tua língua.
Quando te esqueceres
Beija-me de novo.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 13 de maio de 2018

Hoje é Amor


Hoje devia ser
O dia mundial de
Qualquer coisa.
Do beijo no estacionamento,
Do crepe de chocolate
Dado à boca,
Do abraço que se enrola
Como brisa primaveril,
Do barulho que vem
Do parque
E que tu serenas
Com o teu sorriso
Que me toca.
Hoje devia ser o dia
Mundial
Do teu universo.
Do teu regresso.
Do teu jeito natural
De tudo parecer
Mundial.
Hoje é o dia
Que podia ser o ano.
O dia que podia ser
Convidado a ir ao cinema,
Ou ao jardim,
Ou ao campo.
É o dia de ir contigo
Na hora que se apaga.
É dia de deitar
A memória fora
E fazer a celebração
De o que cada dia traga.
Hoje é o dia mundial
De ontem
Que vai para amanhã.
Hoje é o dia
Sem uma promessa vã.
Sem um minuto
Que desvaneça.
Hoje é dia
De quem o peça
Como seu
E sua.
Hoje é dia
De o sol
Se deitar com a lua.
Hoje é noite
No teu leito
No universo onde me deito
E durmo descansado.
Hoje não é dia
De sonhar.
É dia mundial
De vir cantar-te
Para a rua!

VAz Dias
#palavradejorge

Nutro-me de silêncios


Nutro-me de silêncios.
O seguimento da festa
Que levo a dançar
Dos sorrisos do hoje
Que se acabaram pela manhã.
Os loucos deitaram-se
Enquanto eu sonhei.
Era de ti o silêncio
Da qual irrompi.
Um beijo.
Uma luta dos corpos.
O regresso.
Pela calada
Dança o olhar
Daquela noite.
Das horas que nunca
Mais se fizeram dia.
Não podia eu
Deixar de lá voltar.
Todas uma mesma
E nela tu
Diferente.
Constantemente
Em silêncios presente.
Em sonhos
Onde a gente
Mente
Saber dançar.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Soneto sem Razão

Desafiei-me a um pequeno soneto.
Busquei e não tinha outra opção
De como exprimir o que me vai no coração.
Tinha mais do que palavras, tinha este aperto.

Não sei se é tempo se é provavel desterro
Se é não perceber o que é humano.
É afinal sempre engano
Quando caminho erro ante erro.

É não ser bom da cabeça
Mas ser bom do coração.
E assim bem a quem lhe pareça.

É não ser de ninguém como opção
Mais do que de mim aconteça
Por ser esta a minha única convicção.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 8 de maio de 2018

Duas Terras


Abre-se um caminho na terra.
Uma fenda
Que desloca dois mundos.
Dois mudos
Pela inexistência
A surdez do outro.
Uns diriam que se
Separa
Outros, porém,
O único trajecto
De se perderem.
E olhos
E os beiços caídos.
As cotovias
Que cantam primavera
E os dias vencidos.
Deste lado a terra canta
E do outro
Nem o olhar se
Perde.
Que tal escuridão
Parece ser luz
Da luz que deste lado
Se apaga
Por não haver sede.
Nesta terra há fome
E as ninfas
Embriagam-se
Sem saber que a terra
Se despedaçou.
Há um erro
Um desterro
E um fim de tudo.
Uma vontade
Que rege
O instinto
Mais herege.
Quem perde?
A terra debaixo
Dos pés.
E a vontade de mudar
O mundo.
Abriu-se uma brecha.
Hoje e sempre
Pela mesma perda.
Pela mesma
Terra.
Perdeu-se tudo.

VAz Dias
#palavradejorge

Sem Tempo

Quantos dias tem um
Ano quando se ama?
Se é que se sabe
O valor inestimável
Do amor.
Ou do tempo.
A saudade pode fazer
O amor doer.
Estender o tempo.

E quando parámos
O tempo
E a eternidade
Parecia ao nosso alcance?

Não sei quanto
Te amo
Nem sei há quanto tempo
Fomos
Para ser.
Sei que estou aqui.
O que sou agora
Se nem isso vale
De muito
Se eu não sou
Tudo o que sei.
Sei de ti
Agora
Que não sei de nada.
E isso para mim
É tudo
Se tudo ainda está
Por ser conquistado.
Sei que estou
Vivo
E não sei mais
O que é morrer.
Isso é de ti
Se me quiseste
Vivaz.
Audaz
E quiça
Por vezes mordaz.
Gozando na cara
Da vida
Como quem é capaz
De despedir
A morte.
Se isso é amor
Já passou algum tempo.
Não prometo.
Não sei mais
O que é isso.
Sei que estou aqui
Passado estes anos todos
De um rapaz
Que se te apresenta
Homem.
Ontem já não vale
Se não quisermos
Ser Amanhã.
Isso eu sei,
Amanhã se vivermos
Teremos
Conquistado anos-luz
De nós.
Tanto!

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 5 de maio de 2018

À Mãe


E passado este tempo
Todo
Ainda és mãe.
Este ainda existe
Na verdade que foste.
Ou uma realidade
À parte
Como tu foste.
Fomos.
E seremos sempre.
Mesmo quando eu não fôr
Mais,
A tua existência
Terá comprovado a minha.
Tu terás sido
Para ainda ser
E eu uma bênção
De apenas ser isto.
Parte de um todo
Duma natureza
E de um conto.

Sou um poema
E tu o Ponto.
De partida
E do meu final.
Para sempre existires.
Obrigado
Por teres sido
A mãe menos
Normal
De um poeta
Menos poeta do que tu.
Cá em casa
Tudo normal!

Veste de novo a tua
Roupa espampanante
De cores
E flores
Do futuro.
Saíste muito cedo
À rua
E ainda mais cedo
De cena.
Os outros andavam
A fingir
No palco que era teu.
Saíste muito cedo
Para se dizer o teu nome
As vezes suficientes
Também
Como mãe.

Não tivemos tempo
Para eu ter perceber imortal.
Um dia quando eu já
Não fôr de mim
Terei sido sempre
Teu natal.
De ti.
Teu.
À Mãe!

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 3 de maio de 2018

Equidistante


Despoja-se a manta
De sol sobre a tua pele.
É de vontade tanta
Que voltes,
Que sejas sol
E o que o futuro mostrou.
E o sol veio
Do passado
E tu
A longitude daquele prado
Que se estende
Do verdejante
Que brilha nos teus olhos.
Ecoa a tua voz
Em silêncios meus.
Aos molhos.
E o que a sorte tolhe.
A luz do passado
E a voz no futuro.
É a nossa vez
Lá, Saturno
Ou Vénus se for
De ir encontro ao calor.

No futuro
Porque do passado só
Vem o calor.
E para lá, amor.
Para lá!

VAz Dias
#palavradejorge