quarta-feira, 27 de junho de 2018

Poesia Amante


Venho a correr para ti poesia.
A minha musa
Mais que querida
E mulher de tantos
Amores.
Os tremores
E a paixão que em mim
Agitam vida.
Numa noite perdida
De dias desencontrados
Vejo nos meus
Amores
A vontade escondida.
Desnudados
Seremos co-habitantes
E amantes.
Corri para ti
Porque me adoras
Imperfeito.
Aqui me deito
E no deleite
Do silêncio
Não penso.
Não dispenso
O teu aconchego.
Somos enjeitados,
Imperfeitos
Em comum.
Um e outro
Sem fim senão
Adormecendo
No sonho de cada.
Acorda no meu
Enquanto acordamos
Não despertar.

VAz Dias
#palavradejorge

Cabelos brancos


Conto um cabelo
Branco
E outro
E mais outro.
Onde envelheci
Os meus costumes?
Com quem
Deixaste de contar?
Parei tudo
Porque do outro lado
Não havia tempo.
A labuta
E o intento não permitem
Parar.
Vou nas costas
Do bem público
E traço a luta
Enquanto crítico
O mundo continua
A rodar.
Desde o sangue
Até à morte.
E pelo meio o tempo
Que o tempo
Deixa.
Para além de ti
Só o tempo
De que a minha
Vontade se queixa.
Mas deixa,
Tudo há-de voltar.
Tu também.
Eu também.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 25 de junho de 2018

Privo-me de ti enquanto amo o futuro


Podia eu privar-me
De te fazer o devido
Elogio?
Sentir-me perdido
De tanto de ti
Em simples tantos?
E volto para aqui
Onde me recrio
E tu nos porquantos
Da minha descoberta.
Mulher, perde-se em mim
A caminhada
Do deserto
E a página
Do livro que ficou em aberto.
Aquele onde os poemas
Todos de mim
Couberam no universo
Teu que não finda.
E eu ainda buscando
O que mais
Senão não te ter
Para ser sempre
Teu na descoberta.
Cada dia apaixona-se
Em mim uma parte
Desconexa
Que não conhecera.
Chegas e deixas-me
Ir.
Hoje não me deito
Ao teu lado
Porque não tenho corpo
Para ti.
Não tenho espírito
Enorme
Que em ti caiba.
Porque sempre serei
De me acercar
À nova descoberta.
À aventura
De te desconhecer
E amar para trás
Para correr atrás.
Como incauto
E arauto do amor.
Ser novo
A cada segundo
De me interpor
E te fazer vénia.
Que venha
O que quiseres de mim
Mesmo que seja perdição.
Mesmo que não.
Mesmo que seja
Um suspiro de ficar
Com o coração
Numa mão
E a caneta
De traçar um poema
Na outra.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 20 de junho de 2018

Nata


És a nata
Do prazer.
O creme do creme
Que faz a gula
Sorver.
Engolir é pecado
Mas comer
É alimento e amor.
Traga-me o destino
Vezes inúmeras
De ti sobre a mesa.
Sobretudo
A palavra
Que fica na garganta
Presa.
Por mais que do linho
Se teça
Borda um destino
O pano que nos desnuda.
Sobre a mesa
Fique apenas
A vontade
E a falta de pressa.
Desnuda-te depressa!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 19 de junho de 2018

Esbato-me


Começo a desaparecer
De mim.
Lentamente esbato-me
De esquecimento.
Nunca fui tão bom
Quanto isso.
Nunca percebi os
Outros em lhes
Oferecer migalhas.
Engoli em seco
Uma e outra palavra
Ao calhas
Até que a hipocrisia
Fugisse de mim.
Não sou social
E odeio esse trâmites
Cada vez mais.
Amizades de se perderem
Com o tempo.
Resumir-nos à insignificância.
À subtracção de nós
Nesses grupinhos.
Sermos ninguenzinho.
É assim que a sociedade
Nos tolera. Arrumadinhos
E juntinhos.
Convencemo-nos de coisas
Combinadas
Que dão em sacos
De grandes nadas.
Falo da sombra do ser.
Do holocausto
De desaperecer
E na penumbra
De me esbater.
Desapareci
E ninguém veio ver.
Perdão!
Ninguém queria
mesmo saber...

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 18 de junho de 2018

Por entre estes corredores


Por entre estes
Corredores
Que se calam
Em sombras
E em abotoados
Lábios,
Perco-me no que dizer.
O desencantamento
Serve o amor
E o que a fidelidade
Deseja perder com o tempo.
Guardo em cada
Bolso um membro
Com o mesmo
Assombro
De não saber de ti.
Um dia quando fores
Liberdade
E eu Saudade
Talvez abramos portas...
Escancaremos
As nossas mais
Profundas escadas
De encontrar o Ser.
As apostas no amor
Vêm da paixão
E o sabor que ficou
No travo.
Travo-me de te
Dizer algo mais.
Só sei fazer poemas
Para me calar
E de te deixar ir.
De te amar.

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 9 de junho de 2018

Somos Segundos


Inventamos encontros
Como se alguma vez
Nos tivéssemos conhecido.
Imaginámo-nos
A falar banalidades
E a trocar abraços
Com a certeza de sermos
Familiares.
Familiares um ao outro
E até na estranheza
Ficarmos calados sem jeito.
E até com algum jeito.
Inflamados
Somos desconhecidos
Que nos cruzamos
No barulho dos outros.
No ruído das pistas
Onde os outros dançam
Sempre mais compassados
Do que nós.
Sorrimos com devaneios
De felicidade
E na ilusão das conversas
Dos outros.
Somos sós
Masturbando-nos
Na esperança doutros
Como nós.
Orgasmos perdidos
E mãos despojadas
De amor.
Só esperanças
E aconchegos emprestados.
Olhares perdidos
E vagos,
Pedem o dia de amanhã
Chorando com razão
De não saberem fazer
Melhor.
Eles merecem amor
Porque saberão perdê-lo
Para depois reaverem-no.
Eles são os donos
Do futuro e de nada.
Eles somos nós agora
Que o presente passou.
Somos as mãos
E a voz
E o pé de dança
Das melodias que agora
Apenas ecoam.
Nós somos o trautear
Na esperança dos novos
Perdidos.
Somos o amor como pode
Ser
Sem o narcisismo
E despojados da foto
Elegante.
Do evento
E do instante.
Somos como se pode
E não como se quer
Porque não dá sempre...
Nem mais ou menos.
Somos os medíocres
E da lotaria
De acertar.
Acertámos ponteiros
Com o tempo que nos
Deixou.
E a cafeína
E a privação do sono.
Somos os menos
Belos e os bonitos
Por dentro.
As segundas escolhas
Desses magnatas
Da ocasião.
Os relógios de plástico.
Os fios de ouro
E a dieta.
Somos aqueles que menos
Acertam.
Somos o que podemos
Ser.
Somos os segundos
Que sempre apertam.
Somos segundos.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 5 de junho de 2018

Do meu alpendre


É lá no limiar
Do dia
Onde a noite tropeça
Que há lá
Algo nosso.
Um pouco do teu sorriso
Rasgado
E o fogo lá daquele
Lado guardado.
Quando lá passares
Nas tuas aventuras
Talvez o encontres.
A boca de quem engole
A vida
E fogo de quem
Não arde a pele.
Impele a vontade
Porém
De arder um céu
De dentro.
De intento.
De um só teu
Sol.
Somente isso.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 4 de junho de 2018

A Subjectiva

Ah a sorte, essa subjectiva.
Essa senhora
Que se coloca altiva
E dona do tempo
Que os outros
Lhe concedem.
A que é azarada
Se for mulher
Doutro ou doutra.
Nunca é neutra
Ou assim assim.
Ou é ou não é.
Pão sem sal
Não é azar ou
Sorte.
É fome que se engana.
Mas sorte é não ter
Sal... emagrece.
Mas o pão é azar
De tão amassado
P'lo diabo.
- Oh diabo!
Aqui há prato
De mão mal amanhada
Ou sorte
De lá uma pobre boca
Se fazer alimentada! -
O lado da sorte
Que azar esconde
Com o infortúnio
Que a lotaria
Trouxe ao pobre.
Prémio de arregalar
Os olhos
E perdê-lo em tantos
Nadas.
E a meretriz é a que
Nos olhos
Era nossa companheira
Ou uma interesseira
Que afinal,
Afinal por azar
Era amada
E a sorte, essa subjectiva
De novo era recuperada.
VAz Dias
#palavradejorge

Figura de Estio


A carga assola
A carne.
A paixão acorda
O alarme.
Os sentidos
Transformam-se
Em caudal
E derrame.
À espera que
Alguém chame.
Que alguém
Também de si
Se inflame.
Nem há sol
E nem há lume.
Há ardor
Como de costume.
Há-de chamar-se
O estio
Para dar vazão
A todo esse fastio.
Há-de arder.
Há-de acalorar
Este tempo infame.
Aquele tipo infame.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 3 de junho de 2018

Poemas Soltos

Se me deixo ir
Perco-te.
Perco tudo
Para a qual me preparei.
E ao mesmo tempo
Não posso tratar-te
Como um vício.
Como uma utilidade.
Como um engate.
Mas se não me deixo
Ir
Quem sou eu
Sem a minha aventura?
Sem a vida que antecipa
A morte?

É o amor assim tão forte
Que me abandona
À vida?
Ou a utilidade
Que me alonga à morte?

O resto no meio disto
São as palavras
Com que me banho
E nos lavamos
Das impurezas.
Das tristezas
E dos dias da vida
Onde o fim era cada
Um deles.

VAz Dias
#palavradejorge