sábado, 9 de junho de 2018

Somos Segundos


Inventamos encontros
Como se alguma vez
Nos tivéssemos conhecido.
Imaginámo-nos
A falar banalidades
E a trocar abraços
Com a certeza de sermos
Familiares.
Familiares um ao outro
E até na estranheza
Ficarmos calados sem jeito.
E até com algum jeito.
Inflamados
Somos desconhecidos
Que nos cruzamos
No barulho dos outros.
No ruído das pistas
Onde os outros dançam
Sempre mais compassados
Do que nós.
Sorrimos com devaneios
De felicidade
E na ilusão das conversas
Dos outros.
Somos sós
Masturbando-nos
Na esperança doutros
Como nós.
Orgasmos perdidos
E mãos despojadas
De amor.
Só esperanças
E aconchegos emprestados.
Olhares perdidos
E vagos,
Pedem o dia de amanhã
Chorando com razão
De não saberem fazer
Melhor.
Eles merecem amor
Porque saberão perdê-lo
Para depois reaverem-no.
Eles são os donos
Do futuro e de nada.
Eles somos nós agora
Que o presente passou.
Somos as mãos
E a voz
E o pé de dança
Das melodias que agora
Apenas ecoam.
Nós somos o trautear
Na esperança dos novos
Perdidos.
Somos o amor como pode
Ser
Sem o narcisismo
E despojados da foto
Elegante.
Do evento
E do instante.
Somos como se pode
E não como se quer
Porque não dá sempre...
Nem mais ou menos.
Somos os medíocres
E da lotaria
De acertar.
Acertámos ponteiros
Com o tempo que nos
Deixou.
E a cafeína
E a privação do sono.
Somos os menos
Belos e os bonitos
Por dentro.
As segundas escolhas
Desses magnatas
Da ocasião.
Os relógios de plástico.
Os fios de ouro
E a dieta.
Somos aqueles que menos
Acertam.
Somos o que podemos
Ser.
Somos os segundos
Que sempre apertam.
Somos segundos.

VAz Dias
#palavradejorge

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