sexta-feira, 17 de janeiro de 2020

Mesmo Chão

resoluções
para colmatar a inutilidade
dos dias.
caminhar para o fim
com a firme convicção
que disto no Ser,
no seu próprio Ego
e finita existência,
de nada serve.
ter consciência
serve para sofrer
antes de lá chegar.
todos os que
se abstaíram sabiam
disso.
e sofremos ainda mais
pelo que de bom
vive na parca existência
e que vai e vem
como astronauta
demasiado absorvido
para nos olhar
de frente.

Ai amor que flutuas
e desvaneces a dor!
Ai o destemor
que é viver rendido
à distracção!

vai e vem
e o fim chega
no corpo e no coração.
e reproduzimo-nos
para multiplicar a probabilidade
de mais de nós
chegarmos à mesma conclusão.
e ao mesmo fim.

mas o amor e
multiplicação da espécie
dividem os males.
podemos morrer
descansados
dos amores imperfeitos
e desculpados
dos amores
multiplicados.
somos os nossos deuses
da finitude
para que o céu
pareça mais estrelado
e alguém ao nosso
lado
menos só.
menos do que nós.
morremos
e voltamos
à terra e ao mesmo
pó.

amarei o chão
que piso
como o amor
espacial.
friso,
morrerei só
e só com
os que amei
na minha última saudade.
esses herdarão
o chão
que é tudo o que tenho
e tudo o que conheço.

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