quarta-feira, 15 de julho de 2015

Amores afluentes

Esta brisa
que de luva aveludada
me serpenteia.
Que por entre árvores, vagens
e flores traz da suas viagens
ecos dos amores.
No rio vê-se esse eco.
As curvas aos milhares
que umas e outras se seguem
evidenciam da voz esse tremor.
Deslizam em sentido nascente.
Como se lá tivesse
de voltar o sentimento.
A brisa trouxe ecos
de amor afluente.
Ou afluentes.
Afunilam para o primeiro instante.
Um único amor.
Uma brisa calmante
dum rio que vinha de rios,
de rios do mar.
Era voz trémula
que um dia se deixara
amar.
A voz que em brisas
busca no rio se deixa levar.
Que à partida passa por mim
para lá, onde tudo começa,
dar-me voz
para a ressuscitar.


VAz Dias

Tela real verdade

Na minha tela
sobressai a verdade
em arte.
Sou menos do que
O grande plano
e maior do que o tempo
de antena.
Vivo tranquilo com pouco,
sob pena
de não representar
fielmente a minha parte.
Algo que alguns
de nós chamam
realidade.


VAz Dias

Contudo...

Andamos aos apalpões.
Seduzindo o tempo
para ganhar tempo.
No sorriso presente
uma vontade distante.
Se é que distância possa
ser tempo.
Se é que distância possa ser
Um presente.
Sorrir de lembrança.
Sorrir de reencontro.
E seguir em frente.
Independente e com futuro.
Com sorriso,
consequente.
Convicto.
Confiante.
Contudo…


VAz Dias

Bela Bondade

A bondade era o seu mais
belo atributo.
A sua beleza, a da pele,
e de como revestia
tal atributo,
pouco ou nada
prenunciava essa
magnificiência toda.
Ainda assim era adorada
pelas linhas que pintavam
o olhar de todos.
Eu perdera essa capacidade…

VAz Dias

Não foi...

Não foi o menosprezo.
Não foi o esquecimento.
Não foi o desprezo.
Não foi o teu arrefecimento.
Não foi o sorriso disfarçado de ti.
Não foi o que enfim desejaste.
Não foi.
Foi isso sim, o fim.
Não foi... de mim.

VAz Dias

Verde Verão

Onde me sento
tudo é esverdeado.
Na sombra da árvore
o sol pinta-me os olhos.
Vista esverdeante
o rio de azul se
cobriu de verde berrante.
Assim prefere
de envolto cenário.
Até o vento sopra
o azul e o amarelo primário.
E no ar se confunde de verde
e das cores frias ausente
para o meu agrado.
Este é o verão do verdadeiro verde.
Verdão da minha sede.
De todas as cores se pinta o meu verão de verde.


VAz Dias

Ardor Mitigado

Hoje declaro
que se mitigue o sol.
Como o amor.
Que tudo o que viole
a saúde da pele.
Como o sol
queimaste-me!
Mas atenta,
que por muito que pele
nunca à alma me derretas.
Nem no sonho me derrotes.
Sou meu.
Os sonhos são meus.
E o sol?
Venham dias mais fortes
e creme de protecção,
que de chama e ardor
já não me queimas
nem ardes.


VAz Dias

Ardo de loucura

Há fogos que se reacendem.
Há loucos que nunca se curam.
Eu sou um louco por me deixares arder!


VAz Dias

Mudo!

Tudo se acinzentou. 
Tudo tem um valor relativo. 
As relações. Os afectos. A magia das coisas.
Uma paz que é aparente. Uma guerra que é latente. Mas tudo cinzento.
Nada é verdadeiramente belo. Nem tão pouco asqueroso.
É tudo tão meio termo que me confunde. Menos o preto. O branco. E o cinzento. 
Uma paleta muito básica para desfrutar.
Não me importa sequer procurar. É tal a neutralidade às coisas que as deixo passar. 
Não me morrem mas também não me excitam. É uma relação morta com dois membros vivos. Sobrevivendo aos tempos. Definhando. Sem argumento nem convicção.
O propósito das coisas é tão relativo.
A busca é igualmente desnecessária.
Vivemos histórias em imagens. 
Mas depois trocamos. 
Geração zapping até à exaustão. Ou não. Cansamo-nos antes. 
Buscamos agarrar a oportunidade por exclusão de partes.
Eu sou parte de exclusão. E parte de inclusão. Sou isto e aquilo. Tanto faz. Vou indo. 
Vou descobrindo como não me chatear. 
Ansiolítico para acordar. Cafeína para acalmar. Tanto faz. 
Até errar. Não tem mal. É tudo tão relativo que nem isso agita a espuma.
Vou dormir. 
Talvez amanhã mude alguma coisa. 
Talvez. 
Talvez o mundo mude e eu com ele. 
Mudo!

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Sonhar a Saudade

Sonho em te tocar
a pele.
-assim não te toco,
assim não morro de saudades-.

Sonho em te tocar as pálpebras
-assim sonhas comigo e não morro de saudades de me olhares-.

Sonho em te ter tido uma vida
-assim não morro de ter tido saudades por te ter sonhado uma vida inteira-.

Sonho.


VAz Dias

Escrevo. Ponto.

Como de um bom
sonho se trate.
Ele chega sem aparato,
sente-se,
e logo me apronto.
Páro! A mão ferve.
Estou pronto.
O poema se escreve.
Ponto.

VAz Dias

Frenesim de liquidação

Corropio de gente.
Movimentos organizados
de caos comercial.
Batalhões que investem
em liquidações.
E tantos são os
bravos,
e tanto são os
saldos,
que um a um
como insetos são eliminados.
Desapareceram os bravos,
os batalhões organizados,
nos saldos e nas
liquidações.
Amanhã a luta dos bandos
continua.
O frenisim de mais uma
luta
e da labuta da nossa manada
consumista
que elimina tudo
e o que ainda não consta
da lista.

VAz Dias

Por entre luzes

Por entre as luzes que por entre as pessoas se barricavam,
assim via a impertinência com que nos anos
elogios te fitavam de longe.
Ou era de mim e as luzes me distraíam
ou as pessoas foram todas as outras que fomos conhecendo e assim estava bem. E assim o deleite se mantém,
como as luzes por entre as pessoas.
Como essa luz que de ti se faz arte
E eu ali detrás delas,
entre luzes,
uma só de contemplar-te.

VAz Dias

Penso Rápido

Deixamo-nos em suspenso.
Suspense do último encontro.
Congelada fica no tempo
a comunicação.
Voltaremos se não houver
muita razão.
Ou compromisso.
Volátil é a emoção.
Fazer amor de chat.
Vir ao encontro
ou não.
Tanto faz.
Há mais.
Comida rápida em hormonas.
Cresce rápido,
engorda rápido,
desvanece rápido.
Num ápice se foi feliz.
Num ápice se espera feliz.
Animais com cabeça.
Amor sem pertença.
Fazemos uma presença
como figura de capa
aceitamos quem mais
nos idolatra.
E depois acaba.
Para de novo sentirmos.
Retomamos o suspenso.
Se lá estiveres.
Lá estarás... convenço-me.
E se não?
Penso rápido...penso...

VAz Dias

Perdi-me quando a encontrei

Perdi-me quando
a encontrei.
Rua de sentido único
augurava um fim.
Ou isso ou voltar atrás.
Também nunca fui de
ficar quieto.

VAz Dias

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Tenho fome. Está na hora!

tenho fome.
a minha barriga ronca
pede que a calem.
mas a fome
é maior e que em mim
habita.
ela grita
porque não a podem calar.
ela exercita e expurga
o alimento veneno
que de fora
e à mesa se apresenta.
"senta-te!
não tenhas pressa!
come!"
come tudo o que te mandam.
e cala-te!
a tua fome é de silêncio.
porque comes o que te mandam
e não passas a verdadeira.
consome farta-bruto!
faz-te um homem
para a sociedade!
sacia-te para meteres na mesa
o que te ensinaram.
"assim não passas fome"
dizem essas porcas inchadas
e fazes do próximo
mais uma presa.
sua besta.
eu quero a fome que não me cala.
a que grita por mais palavra.
que de sopa de letra
se arregala.
quanto mais grito
mais emagreço.
dou da minha gordura
ao pior preço e se não for
de borla.
levem para se alimentarem
e levarem embora.
mas voltem com fome
"está na hora!"

VAz Dias

Inverdades

Penso muito no que digo.
Não digo tudo o que penso.
Mas o que digo é verdade.
Na verdade nem tudo.
Remeto para os silêncios
gritados.
E penso que há quem também
não lide bem com ela, na verdade.
É mentira que se diga tudo
pela boca.
Pode ser mais tarde,
Mas pela boca, os olhos ou o silêncio
virá mais de metade.
A outra, menos de metade,
fica para aprenderem por si,
e se tiverem vontade.

VAz Dias

Mãe Poesia

Escrever por escrever.
Manter o registo
dos silêncios.
Precaver a perda de memória
do espírito.
São do tamanho dos
compêndios
esses silêncios.
Não que seja saudosista.
Quero só saber de mim
antes de partir.
Poder ser velho
por contar anos
e não deixar de saber
contar.
Escrevo por escrever
para te lembrar.
Tu que o fizeste antes.
Foste desaparecendo.
Definhando.
A letra tremeu
mas a caneta nas tuas
mãos de pé,
vertical,
escreveu como que
a própria morte desafiando.
Escrevo porque me ensinaste
A escrever.
Mais!
Ensinaste-me a escrever
para além da vida.
Escrevo por escrever
por ser a minha mão
uma oração
onde a graça me deste
o Saber.
Sou a extensão de te escrever.
A mão do braço
Que um dia me segurou
Noutro me ensinou
E a sua vida pela minha trocou.
Voou
Mas como garça
Nos meus poemas
A sua alma planou.
Há poetisa
Nestes versos.
Há tristeza e ainda
Mais alegria de regresso!
Foi a sua alma
Que a minha
Para a escrita convocou!


VAz Dias

Aperto de mim

Falta-me ar
nesta imensidão
azul de oxigénio.
No peito acabou-se-me
o espaço para tanto
respirar.
Corro o mundo
e canso-me no segundo
imediatamente seguinte.
É gritante o tanto
de tão pouco que agora
inspiro e depois desisto.
Desaprendi a ter ar
que na caixa se confortasse.
Que me visitasse sempre
com a mesma vontade.
Talvez seja dele
e não de mim.
Darei tempo para que voe
e volte.
Talvez o queira eu mais
para este peito,
cada vez menor
(a cada aperto),
e convidá-lo a permanecer
mais vezes
e a ficar por perto.
Talvez quando
(por conforto)
encontrar meu coração,
de novo,
aberto.


VAz Dias

Ficar sem ti

E no ar subsistia
a ideia de ficares.
Eu queria,
mais até do que apenas
o ar que me ofereceste
para só respirar...

VAz Dias

Saber perder é a vitória mais dura

Que derrota
nos derrota mais?
Que nos mata
mais?
Se mata devia
ser a vitória sobre a morte
e reviver.
A vitória sobre o fim
deve ser ainda maior
do que a vitória em si.
Viver de novo
é o prémio de quem sabe
perder.
Perder e morrer
e à vitória renascer.

VAz Dias

E então?

Eu não escrevo.
Deduzo palavras que
outros toquem.
Simples ou simplistas,
que interessa?
Seja desta aberrante
preguiça de ler.
Seja desta pouca
capacidade intelectual.
Seja da própria ignorância
assumida e alimentada.
Escrevo porque ninguém pediu.
Porque fui mal-criado
e fui entrando. Com a escrita
e mal-palavreando.
Palavrão.
Parvalhão.
Maldita mão
que se "desunha"
para falar das coisas
distantes da razão.
Ser prosaico é a minha tendência.
Como em tantas coisas.
Mas não sou moderno.
Pelo menos todos os dias.
Talvez nas noites.
Sou um humano
que escreve de rodeio
ao centro.
Uma ogiva que depois se sente.
Quem for filho de boa gente
ou um filho da mãe qualquer,
como eu
em certos momentos.
Alguns invento-os outros com os escritos
Da realidade comento.
Tipo moralista sem chão
Nem base moral
Para tal ostentação.
Mas não consigo travar
A mão.
Masturbação alheada da razão.
Livre, voo no vento das palavras
Até que se me acabem.
Que se esbatam no tempo.
Contanto que tenham
por momentos aos outros
Chegado.
Mesmo sem o brilho dos predestinados
Ou a importância dos bem-aventurados.
Fica o testemunho prosaico
De quem às letras não foi visto nem desmanchado.
As palavras foram o crime
Que à vida foi condenado.
E então?

VAz Dias

Quem sabe?

Deixo-te longe.
Por um tempo.
Por uma pequena eternidade.
Espero que ela não
saiba.
Quem sabe?
Pode ser que acabe
antes daquela tarde.
Ou na manhã seguinte.
Quem sabe?
Sei que nada sinto
quando tudo parte.
Quando nada parte.
Parte o tempo mais
que o coração.
Quem sabe se ele é de
cristal?
Que brilhe e que estale,
mas não deixe o tempo
cristalizar
o que sabe.
Amanhã quem sabe,
de manhã ou à tarde volte.
Quem sabe?

VAz Dias