quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Rimas Cansadas

Vou cansar-me
Até a vista
Se perder de vista
Do dia que passou.
Da noite em branco
Que mais uma vez
Vergou a mola.
O cansaço assola.
O fraco desgosta.
E um tipo corre só.
Escrevem-se umas palavras
Vaidosamente em poema.

Sei lá o que é isso!

Não comparo.
Não paro por aí
A ler o dos outros.
Fico orgulhosamente só
Na minha ignorância.
Inoperante o bastante
Para escrever
Mais do mesmo.

Nada é original.
As pessoas são pouco originais
E eu não me preocupo.
Ocupo o meu espaço
(Seja ele qual for...)
Para escrevet balelas.
As mais belas
E inócuas poesias
Dela à janela
Ou a panela no lume.
O cúmulo e fumo
Onde há fogo.

Pronto!
Cansado...

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Um Sem-Jeito

Estendi-te uma rosa.
Uma daquelas foleiras
Vendidas a preceito
Da tardia hora.
Era a mesma falta de jeito
Que dantes
Me levara à vergonha
De ser assim...
Um sem-jeito.
E cresci!
A preceito de te encontrar
Aqui.
Estendi-te uma rosa
Sem cheiro e com
Defeito.
Um exemplo de mim.
Mas foi com todo
O coração que empunhei
Essa rosa,
Esta falta de jeito
Ao motivo da tua glorificação.
És as rosas todas
E a falta de jeito
Que enjeita meu
Desastrado coração.
Somos unha e carne
Do tropeção
Mas do mau jeito
E do bom coração.
Estendi-te uma rosa
E tu guardaste-a
Até secar a página do livro
Que não acabaste
Naquele serão.
Guardaste para não acabar
Nem o livro
Nem a história
Nem o jeito
Que nos faz tropeçar
Com convicção.
Estendi-te uma rosa
Meu amor
E tu guardaste-a
Como se fora
O nosso coração.

VAz Dias

#palavradejorge

(Des)Apegados

Como se desapega
Do desapego
Que é de nós?
Cresceu em nós
E nos manteve à tona?
Um crescente
Que prova
Termo-nos safado
A sós.
Uma salvação
Duma morte atroz
Que é (sobre)viver
Agarrado aos outros.
De nos sucumbirmos
Das prisões
Em que nos entregámos.
Não se desapega
Porque este é o desapego
Que nunca nos abandona.
Poemas
Dependurados em lona
Para que todos
Os desapegados
Se agraciem.
Que se encontrem
E passem para o outro
Lado
Do que devem fazer.
Amar a liberdade
Dos outros,
Apegados e desapegados,
Todos que nos
Atestem a diferença,
A longitude
Da latitude com que
Os amamos.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Febre, Fome e Fogo

Acordei do ardor
Em que naquele leito
Deveria acalmar.
A carne.
A fecundidade.
O desejo
E a liberdade de se querer
Mundos.
O sono nunca é bom conselheiro
Da vontade
Que se tem de engolir
Pelo menos
Um mundo inteiro.
Fundo
Onde arde outro fogo.
Febre
E à carne rogo.
Fome
E à gula como.
Tudo
Tudo
Tudo!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Corrida

Correm-me nas veias
Anseios.
Descubro por meio
Das recorrências
Que tanto
Havia complicado.
Resoluções em cima
Do joelho
E inoportunas.
Eles, os anseios,
São castradores.
Redutores do sono.
E eu sou como
Posso ser.
Meio dono de mim
E o restante
O que há-de vir a ser.
Entretanto vai da opção
Pender.
Ganhar até perder.
Deixar acontecer.
Escrevo o jogo
E a aposta.
Faço o que ele gosta.
Trai o meio
E a razão.
Joga o dado desequilibrado.
Corre sangue quente
Nas veias.
Tudo a meias dos anseios.
E dele.
Esse outro tanto.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Sol Poente

Sol poente
é terra de nossa gente.
Quem se aventurou
para lá
do Índico
Pacífico
e terra oriente
sabe que palavras voam.
E voltam
e sopra um vento
de tempos a tempos.
Faz diferença
a cada momento
que se precipita o Nada.
Sempre calada
vem a voz
dessa palavra
que bate em tela desnudada.
Reveste-se com seda
e perfumes de chá.
Já não há nada de novo
a não ser
a palavra que voa de volta.
Ou para lá
ou para cá.
Volta!
Mais uma volta da Terra
e poente regresso.
Confesso
que sou terra de fogo.
Arde o ar
em cada regresso.
Arde possesso
Avesso a tudo
o que fica por lá.
Vem logo
regresso...
Vem logo!

VAz Dias

#palavradejorge


Leite derramado

Há anseios
E desejos
Que se encontram
No âmago dos silenciosos.
Guardam-se proféticas palavras
Para se sussurrar
Na voz dela.
Arde uma vela
E o tempo esgota-se.
A memória é cinzenta.
Os recantos negros.
E na mesa o leite
Derrama lentamente.
Ela segura as coxas
Por dentro,
Alfinetando a camisa de dormir
De cetim.
Camisa de despir
E eu despeço-me dos anseios.
Estou pelos cabelos.
Não aguento mais aquele tempo
Em que não me deixava ser.
Um filme que corre para trás.
Um desamor
Ao próprio
E ao chão onde jaz
O leite perdido.
A oportunidade perdida.
Ela é uma bailarina
De entorces.
Contorce-se da perda
E da promessa.
Regressa a cor dela
No meio daquela cena
Acinzentada.
Cetim cor de rosa
Esbatido.
Um tiro no escuro
E um silêncio ensurdecedor.

Beijo os meus lábios
Para saber a algo.
Ao perdido passado
Daquele momento
Amorfo de cor.
Só ela ali deitada
No chão e o leite derramado
Que os olhos vertem
De pena própria.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 20 de agosto de 2017

Imaginada

E sim.
Morreu.
Finou-se no meu
Imaginário.
A única coisa real
Que nos leva
A captar eternamente
As coisas.
E a devolvê-las à realidade.
Fomos nós que a imaginámos.

Fazia-se já tarde
E eu tinha de me apresentar
A uma nova vida.

Ela chegaria daí
A uns instantes.
Tão simplesmente
Como quando entrara
Na minha vida.

Imaginei o que viria acontecer.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 19 de agosto de 2017

Costa distendida

As costas distendidas.
O tempo que as massaja
De mansinho.
Vou escrever isto
Devagarinho.
Devagar
Com o vagar de quem
Queira ler.
De quem se cruze
Entre esta palavra
E a costa onde há
Mar
D'olhar se perder.
Descanso as dores.
Deixo o passado ir-se.
Maré que não volta a
Tocar a terra.
Finou-se daquele lado
Do limiar.
Caíu.
Tão lentamente
Como deve o tempo.
Passou de lamento
A poesia
Da alegria.
Da noite que se fez dia.
Do mar que agora
Banha
A costa torcida.
Levanto-me agora.
Amor, é o dia!

VAz Dias

#palavradejorge

Branco alva Acontece

Assim como te deitas
No leito alva
Transapareces a brancura
De uma foto a preto e branco.
Alongas-te nua
E eu por enquanto
Oiço dos silêncios em que
Despertas
"Sou tua!"
Que loucura
Que luz que se trespassa
Dessas persianas
Para te tocarem
Ao de leve.
É luz tua
Que se nos oferece.
Que acaricia a mão tua
Como se fora uma prece.
Um lascivo bamboleado
Que por agora acontece.
Mulher.
Feminina.
Ser que me desperta
E o nervo adormece.
Branca é a calma
Do amor que prevalece.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Simultâneos

E é nesta calma
Que o ser se desarma
Ao ímpeto de ti.
Chegámos ao mesmo
Tempo.
Simultâneos
Fomos mais do que um orgasmo
Um encontro de seres
Num.
Num caminho que por agora
Se apresente comum.
Leve
E a brisa e a respiração
De cada um de nós.
Do suspiro de cada um de nós.
Chegámos há pouco
E ao mesmo tempo.
Partamos
Com ar
Para as curvas dos dias
E do peito que já
Aloja
Amor.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 13 de agosto de 2017

Meia serra queimada

Meia serra.
Meia terra
Que cai do céu
Em cinza.
A brisa traz chama
E chama calor
De fogo.
Terror que aclama
À outra metade
De serra a outrora paz.
Zás!
A roupa cheira a fogo.
A meia terra a fogo.
A água a fogo.
A tristeza torpe
Que cospe cinza.
Saliva
Que quer beijar
E se amanha
Em se manter aguada.
Não há amor
Não ha nada.
Há calor
E gente endinheirada.
Morre verde
Para nota acinzentada.
Para costa acidentada.
Para gente que lá dentro
Não se aproveita
Nada.
Só cheiro de morte
Da sua alma queimada!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Vem d'Este o rio

No seu regaço
Caía em algodão
A cria.
Rio suave que se deixava
Escorregar
No sono alheio.
Desafinado descaía
O cantor a nota.

A noite cai de sono
E o amor enrosca-se
No olhar de quem
Parece que sonha.
O dia pede o cheiro cipreste
E a este o seu despertar.
A preguiça não a deixará
Dependurar-se nas estacas
De madeira e xisto
De sólida estrutura.

Verão é dia
Da noite se deixar adormecer
No seio de uma mãe.
Amor à manhã.
Amanhã
Amor...
Amanhã.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Este azul imenso

Desfolhava folhas
De óleos que pintara
Em tempos
De solidão
E de cólera.
Representação que nos
Acalma a arte.
Um certo tipo
De fé,
De religião.
Desfolho o passado
Para não esquecer
O caminho.
A arte de me perder
E reencontrar.
Tomo o caminho escarpado
Ao céu.
Ao cume da montanha
Onde nos sopra a brisa.
Não és segredo
És tesouro de se agradecer
Ao azul imenso.
Arte de te encontrar em mim.
Pintei quadros
Em papelinhos guia.
Pintei óleos de lágrimas
E de esperança
Até este dia.
Não me esquecerei
Do tempo mesmo que ele
Agora pareça não existir.
Não me esquecerei
Das lágrimas que me fizeram
Pintar futuros.
São sorrisos
Que se acautelam de céu
E no tempo
Esse que há-de vir.
Sonhei quadros pintados
Em óleo de carpir.
Carpi até aqui
Este azul imenso
De ti!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 8 de agosto de 2017

Voltarei

Não.
Não te esqueci.
És-me vital
Mas de ti.
E eu estou afagado
De bem.
De paz.
Só assim, como
Se busca
Desde que se descobre
As agruras
E as chatices da vida.
Estou novo
De novo,
Como um velho sábio
Que se perde na idade.
Lembro-me de ser
Criança.
Dela também ser.
Não te tenho feito
Justiça.
Tenho andado a viver
Para te cantar
Com viva voz.
Um dia estarei
De preceito
Às linhas que me queres
Bem.
Boa noite poesia!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 3 de agosto de 2017

Rugas na Expressão

Deixei cair a roupa.
Ela ganhou uns jeitos
Da tua pele.
Acomodou-se.
Depois desarrumou-se
E engelhou-se
Para fazer jus
Às tuas rugas de expressão.
Às minha rugas
Do coração.
A tua pele espalhada
Em mim
Cobrindo a vergonha
De não estarmos
Completamente
Desnudados...
Ainda.
Falta um beijo lânguido.
Aquele que falta
Sempre em seguida.
Quero-te despida
Com as rugas do teu
Coração.
Quero sorrir e ficar marcado.
Espalhado
Na tua nudez.
Espelhado
Nos teus "porquês".
Espantado mais uma vez.
São rugas de expressão
Amor.
É isso que vês.
Deixei cair a roupa
E a vergonha toda
A teus pés.
Amor, são rugas na expressão
Como vês!

VAz Dias

#palavradejorge

O que também somos

Somos esta camada
De vida
Debruçados uns sobre
Os outros.
Falamos uns dos
Outros.
Perdemos tempo
Do nosso tempo
Com o seu tempo.
Perda de tempo
E parte de vida.
Partimos para a vida
Já em seguida
Um pouco depois
De mais uma oportunidade
Perdida.
Perdemos mais uns filhos
Para a sua afirmação.
Para a sua saída.
Ficamos dubiamente
Consternados.
Abraçados apenas à sua
Memória
E uma história
Que possamos ter construído
Em conjunto.

| Afastei-te da dor.
Da dor de mim.
Da dor para não chegar
A ti.
Eu sei que preferias
Ainda assim,
Ainda assim,
Só a dor de imaginar
Inflingir-te
Gelou-me. Perdoa-me! |

E agora resta construir
Como todos os outros
A sorte depois do erro.
O amor para o desgelo
Que se fez em nós.
Há amor
Que torna leve o tempo
E tira as dores.
Há mais esperança
Por ver esses amores.
Os nossos erros
E os nossos amores.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Rodam os dias

Abandonei o local.
Nas mãos o sangue
Do passado.
Escarlate da paixão
Que lá tinha ficado.
Os murmúrios ficavam
Agora em mim calados.
Gritando às paredes
Do abdómen
Tinha matado o passado
Aos olhos.
Queimava calorias
De desejos.
Tudo não era senão
Uma lembrança de quem
Nada quis.
Passámos uns pelos outros
Procurando matar tempo.
Depois conhecemo-nos
Matando esse tempo
E o que lá se passou
P'ra frente.

Hábitos que mudam
Se não tiverem
De regressar.
Não há alma que aguente
Matar tantas vezes
Os tempos.
A exclusão
Para se ser livre
Diferente.
Deixamos tudo para trás
A oriente.
O futuro fica lá
Quando rodamos os dias
Intransigentemente
Em diante.
Não há remédio.
Há gente!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Mar Morto

Perco-me por entre
Armadilhas mentais.
Liberdade acumulada
De ter sido
Um bem aventurado.
Um bom malandro
Que chegou a este lado.
Cansado.
Feliz de navegar teu mar.
Mas não sei
Onde ficaram os outros.
Mares são mais que marés
E eu mais que marinheiros
Descobri
E perdi.
Contados os bocados
Resta-me um pouco mais de mim.
E desta velhice que me faz
Bem.
Se calhar estou cansado
De ser novo.
Aquele garoto.
Se calhar sou aquele
Que falou um dia
E deu para o torto.
Escrevo direito
Mesmo quando morto
Vivi.
Sobrevivi
Para aqui chegar.
Mar morto
De me fazer feliz.
Caminho sobre água
E perdi-te mar.
Mar de garoto
Nunca amar.
Cheguei a um mar.
Petiz de novo.

VAz Dias

#palavradejorge