segunda-feira, 30 de abril de 2018

Voz Pimenta


Voz Pimenta
Que arde no espaço.
Na infinitude
Da que se propaga
Entre nós.
Apaga-se a memória
E cria-se uma nova
Estória.
Mensagem de Voz.
Recorrente
Na corrente
De impulsos
Electro-magnéticos.
Já existia antes da vida.
Das ruelas e ermidas
Para as ruas e avenidas.
É ali que estás
De viva Voz
Não estagnando.
São proféticos
Do sempre e do
Descontinuado.
Desnudado
Fico com o coração
Nas mãos
Falando-me
Na tua língua.
E não desacelera.
E não mingua.
A minha Voz
Também é tua.

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 28 de abril de 2018

Mulher-Voo


Incrédulo
Vi a mulher
Real voando.
Voava num bailado
E no prazer.
Não havia nada a
Esconder.
Nem marcas
Nem estrias
Nem cicatrizes
Nem a passagem
Dos dias pela pele.
Voava altiva com a
Força do ventre
E dos braços
Onde as crianças
Cresceram.
Que belo
Era o voo
E eu sucumbia
À força e sensibilidade.
Todo eu era
Tremor do coração
Aos olhos.
Enxaguavam-se de admiração.
A representação de tudo
O que é uma mulher.
Um pássaro solto
Rasgando os céus
E voltando
Bailando na nossa memória para
Sempre.
Mulher-Voo,
Mulher como
Se faz tudo
E com o sorriso
De um choro?
Bailando em voo?

VAz Dias
#palavradejorge

Lá dentro o céu chora


Chove
E o que a tua voz
Pode.
O que a minha chuva
Pede
E o sonho
De uma lágrima
Desagua em mar.
Verde, azul esperança
Da bonança
Em minha paz desaguar.
Acordo e a chuva
Cinzenta, escura emenda
A insanidade
Da sub-consciência.
A paciência de ver
Uma vida inteira
Jorrar noutra que já passou,
Que é,
Ou que virá.
Chove lá fora
E dentro de mim
Há um ínfimo
Ser que chora
A intempérie que nunca
Dará à costa.
Um cabo estende-se
Pela garganta
Que aperta tudo
O que seria um dilúvio
De comiseração.
De tudo o que é
E o que não.
E a vida alheia parece a
Chuva lá de fora.
Triste e cinzenta
E cai
E talvez...
Talvez se vá embora.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 25 de abril de 2018

Blasfémia e jejum

Jejum de barriga cheia.
Fome de ti
E do que nunca
Saciaste.
Engolir ar
E esperanças.
Inventar palavras novas.
Partir cordas
Nas unhas
E morder a blasfémia.
Macho
E fêmea
Falar sem tema
E manter a teima
De que existes.
Na inexistência de reinados
Há raínhas
Que se afeiçoam
À plebe.
Quem mais bebe
Desta corrente
É quem cresceu
Como tu
Em núvens.
Cabeça perdida
E nevoeiro.
Partitura
E travesseiro.
Cai mais uma cadência
Maledicência
De quem nem sequer
Sabe o que é inventar
Estórias.
Inventei-te e fazes
Questão de nada ser.
Vou acabar comigo
Nesta invenção.
Degola-se a imaginação
E por consequência
A aparição do nada,
Do nunca,
De ti.
Quando perguntarem
Nunca estive aqui
Porque nem sequer
Existi.
Adeus poeta!

terça-feira, 24 de abril de 2018

Pequeno poema do Amor


A simplicidade
Faz parte de mim
Apesar da complexidade.
Sou uma aldeia
Dentro da cidade
E tu um jardim
Pulmão da urbe.
Surge-me um pássaro
Na mão.
Um sermão
De cantoria simples.
Amar a quem
Te encanta com
A beleza das coisas
Simples.
Apesar das cores
O jardim é o ar
Que respiro
E à complexidade retiro
A paleta
Que despoleta
A explosão.
É amor
Apesar da paixão.
É a presença
Apesar da solidão.
É a terra
Apesar do cimento.
E aqui neste canto me sento
Cantando
A cotovia,
O amor
E a sua Canção.

VAz Dias
#palavradejorge

Senhor Erro!

Erro!
Sou esposo do erro.
Um desterro
A que fui devotado
Com um jeito
Mal-amado de Deus.
Cada um com o seu
E outros
Que porventura terá
Desencontrado.
Uma pedra no sapato
E a planta do pé
Em semente transformada.
Sou árvore que
Dá filhos do erro.
Balançando na suave
Brisa do descontentamento
Alheio.
E veio
O tempo. E o vento.
E um silêncio
Do primeiro descontente.
Da necessidade abrupta
Do sucesso
E do materialismo
Daquele presente.
Dou flores senhor!
Sou primavera em flor
Senhor!

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 15 de abril de 2018

Sofria de Memória

Passou
E a rajada ficou.
Janelas de queixo
À banda
Bandeiras
A meia haste
E tanta,
Mas tanta hora
Perdida.
Fechou-se uma janela
E a persiana
Deixa a luz entrar.
Só entra porque os olhos
Sabem ver
O que a memória
Queimou
Na fita.
Bonita estória
De inventar.
Cruzou-se a fatalidade
Com a vontade
De comer.
Cuspir no prato
Do manjar
Dos adeuses.
E a luz queima
O som que anda para trás
Em prato
De degustar o silêncio
Do som.
Frequentemente
Pensei nas gentes
Que não foram
Convidadas.
E o vento amainava
Pelas bandas dos
Atrevidamente acautelados.
Atrevido.
Acautelada.
Ferido
De nada.
E as palavras rezam
Ao contrário
Como feitiçaria
Dos crentes.
Descrentes
Ficam sempre
Os indiferentes
Da hora marcada.
Beijou a mão
Na palma chapada.
Dor não é opção
É natureza velada.
É terra angustiante
De novela inacabada.
Mais um final
De um início.
Elevação e precipício.
Só sabe disso
Quem não sabe
Da luz intervalada
Na perciana a meia haste
Desenrolada.
E olhos choram
Uma estória qualquer
Num qualquer dia
De debandada.
Secaram nas janelas
Da luz espartilhada.
E era de noite.
E de novo
Velhos hábitos.
"Não habitas
Na minha memória,
Não sei quem foste
Com tantas palavras.
Já paravas."
Já paravas...

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Distante

Estímulo é coisa
De pessoas vivas.
Encarnadas em coisas
Que lhes parece
Dar alento.
E no entanto,
Se pudéssemos
Retirar qualquer empatia
E sensibildade
Amaríamos convenientemente.
Sem altercações
Nem paixões
Que desmedidas
Merecessem
A nossa perda.
Viver até morrer
Com carne
E deixar o mundo
Ou a sorte
Ou os apaixonados
Resolverem o assunto.
Se Deus
Quisesse
Seríamos desapaixonados
Ao ponto de não nos
Prendermos ao ódio.
Serenos antipáticos.
Passageiros apáticos
Com espasmos de alegria.
Orgasmos
E sem propósito.
O que seriam os filhos
E a herança?
Pois não sei distinguir
Desta mesma espécie
Que se mata
E se ama.
Desapeguem-se.
Desapareçam entre si.
Deixem de ser o que
São
E ser o que não são
Para se reverem.
Para se perderem
Com outros
Que também não são.
Até se reverem em algo
Que ainda não existe.
Isto está triste
E pouco
Vívido.
Insípido.
Não existe.
Disto disto.
Disto!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 10 de abril de 2018

Tece ou Acontece

Desculpa esta falta de jeito.
Esta imperfeição inata
De tentar levar-me ao extremo.
Este ermo
Onde me acabo em tanto
De quase nada.
E depois se tudo
Acaba
Foi de passagem
Para outra vida.
Mais a despedida
De mim
E do que nunca fui.
Sempre a desconhecer-me.
Como se pode sequer
Conhecer os outros?
Vamos assim andando
Meios certos
Meios tortos.
Meios tolos
Mais de perto.
Desculpas evitam-se
Partem-se num espelho
De doentes escaravelhos
Que fazem
O asseio do grotesco.
E eu sem parentesco
De ninguém.
Estou bem
E recomendo-me
Ao meu novo desconhecido.
Querido
E desaparecido.
Rendo-me
Nunca tendo o jeito
Da imperfeição
Bem resolvida.
Merda.
Bem-vinda!
Ama-te?
Mas quem és tu
Se nem sequer
Te conheces.
Adormece
E desaparece!
Aí ainda?
Esquece...

VAz Dias
#palavredejorge

sábado, 7 de abril de 2018

Uma ou outra rua

Nunca serei um escritor.
Nunca serei um condutor
Dos meus destinos.
Deixo as palavras
Perderem em mim
Sentido
E eu governar-me
Com o que me restar.
Voltar sempre aos mesmos
Sítios onde não estás.
Repito
Como uma rima fácil
E reescrevo
Poemas
De forma diferente.
Que me pareçam diferentes.
Como as pessoas
Em relação a ti.
Estás nas mesmas
Ruas onde não apareces.
Vezes sem conta
E em luas minguantes.
Novas.
Cheias.
Quarto crescentes.
Carentes são as pessoas
Pela falta de poesia.
Tal como tu,
Que não existes.
E no entanto
Sobra a rua
E uma ou outra lua.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 4 de abril de 2018

Destino, Amanhã

Hoje saí de mim.
Daqui.
Desta rotina.
Disto tudo
O que me prende
A mim.
Sair fora
Para me ver de fora.
Fui nas luzes
Que aceleravam
Para trás.
Retrivisor de contar
Outras histórias.
Marcas tracejadas
Como de filme passando.
Tu ou quem quer
Que fosse o destino
Seriam sempre me encontrar.
Egoísmo de nos
Encontrarmos nos outros.
E ficar?
E fazer o mesmo?
E ir padecendo.
É aventura perdida.
É a tenacidade esbanjada.
É a carne putrefacta.
O espírito obrigou-me
A cem datas
Todas infinitas
E em erratas.
Muda agora.
Volta de novo.
Ser feliz é ficar
Onde quisermos.
Mesmo se formos
Apenas ficando.
Fui-me chegando
E no entanto
Não me encontrei.
Nem mais além
Nem em mim
D'outrém.
Viajei
Com palavras
Que passavam
Fugindo para trás.
Um baque na alma
A cada vez.
Tento não ter tento.
Chego lento
Ou amanhã.
Ah... há sempre o
Amanhã!
Tento.

VAz Dias
#palavradejorge

A Beleza da Sorte

A sorte de ter
Uma mulher bela,
Que um mundo
Inteiro se renda por
Ela,
É ela amar
Um homem
Que sabe a sorte
De lhe ver a beleza
De dentro.
No rebento vem sempre
A primeira beleza
Mas no tempo
Fica a alma
E a vida
Que se vai desgastando.
Mas Ela é
Mais bela do que isso.
Porque humana,
Vai sendo o que é,
Levando a beleza
De dentro
A amarmo-la.
Assim
Sem que a beleza
De fora importe.
Só sei
Que dela
Vem um amor
E a sorte.
A beleza é essa.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 1 de abril de 2018

Extravio de ti

Do teu extravio.
Da perda de memória
Que se escoa
Pela história fora.
Foste canções por
Se escreveram
E os poemas
Mudos
Que nasceram.
Nados-mortos,
Extravio de cartas
Em branco
Só com poemas
Brancos
Esbatidos
Em transparências.
Uma janela que rebate
O sol
E a luz que chegou
Atrasado ao concerto.
Ao mini-espectáculo
Inocente
Das histórias
Que nos faziam
Crianças no tapete
Escutando.
Fazendo futuro
Como palavras
Desarticuladas
Saltando no recreio.
Fomos crianças
Por não termos
Sido sérios.
E arrumou-se tudo
Numa sacola
Que ninguém viu.
Ninguém.

Do teu sempre...
Extravio.

VAz Dias
#palavradejorge