Lembras-te dos gestos
ardilosos com que
enganávamos
os preceitos de bem
e fazíamos tremer
a intemporalidade?
Vilões duma tragicomédia
que insistia em se
precipitar na separação
dos corpos
mais cedo ou mais tarde.
E fomos corpo.
Foi de tão pouco tempo.
Do tempo certo
para não cair em monotonia.
Fazíamos amor
como quem vai a um museu
e desenha um buço
na dama do quadro.
Beijávamos como
se ninguém passasse na
rua.
Invadíamos os cantos
recônditos
com se a rua fosse
só nossa.
Não tínhamos entraves
para sermos para além
das nossas fraquezas.
Deixávamos as defesas
para quando voltássemos
da loucura.
Da físico-química
do nosso descontrolo.
Lembras-te de perdermos
horas em viagem
tocando o outro?
Do martírio de
nunca mais chegarmos
e de não podermos parar?
Adorava não parar!
Desse tempo perdurar
e o corpo dar lugar
a um êxtase
de não vir.
De não chegar
e estarmos sempre a partir.
Lembras-te quando já
não éramos o mesmo
corpo de corares
violentamente
como se eu ainda te tocasse?
Fiz de conta que não
notei...
estavas noutra vida
e para mim guardei
que a viagem não tem
corpo.
Tem presunção
e segredo.
E é mais forte
para lá das nossas
fraquezas.
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