terça-feira, 24 de março de 2020
segunda-feira, 23 de março de 2020
olho-os.
compasso
que se faz
arrastado
amarrado
ao regaço
do disparo.
mato-me de conexões
intra-nomininais
intra-anónimas
intra-nossa-parodoxais.
rechaço
traço uma meta.
cabelo cometa
que deixa a porta
ligeiramente entreaberta
à nossa intra-descoberta
e a ela
se fazer mais.
bebo um chá de gengibre
para o pleonasmo.
arritmia
já não sentia o sono assim
tão sonho-musculado/mascavado.
baixo-me e oiço tudo
do que os teus olhos dizem.
eu não estou contemplado
sou um cidadão acoplado
à certidão do nosso
desconhecimento.
ardem-me os olhos
do cloro
que decoro nos
versos que deixaste em
meu nome
na minha mão
na minha cabeceira/cabeça
a mais.
se fosse cego não
te tocava.
deixava as luzes
do teu momento
fazerem-se talento.
linguagem gestual
como braços no lago
ressoando ondas
como as sonoras
e as nossas horas
fora de tempo.
toco-te com pestanas
postiças
por me fazerem verdadeiro
em ti.
tocas-me com mãos delicadas
de um presente
a 1000 pés de profundidade.
lá não se ouve nada.
peixe-espada corta-alga
e algo para nós
sorvermos
antes dum beijo alva
na palma da mão
lavada.
sou teu se me quiseres
mariposa nadar.
concha.
beijo.
macho.
salga e mar-mulher
filtrar.
beija-me os olhos
invisualmente belos
ao teu olhar.
Binómio
quinta-feira, 19 de março de 2020
Volte-Face
mudei.
já não sou aquele
palerma do mundo
novo.
agora cheio de receio
sou um bolo de chocolate
e hopocrisia transbordante.
digo aqui
diante de toda esta
gente
que de ti é tão diferente
que afinal sou igual.
o mesmo mas
borrado de medo
de não ter visto
em ti a salvação
deste mundo
meu.
sou um bem
perecível como
chocolate nas bocas
do povo...
nada de novo
e o açúcar era o nosso
êxtase.
o nosso novo-riquismo
como o dos senhores
por cima dos polos,
dos fogos ou
dos sismos.
tocam os sinos
em rebate
bate
tão profundamente
que agora preciso de ti.
a mulher,
o meu feminino espiritual
a minha mãe
a filha.
o abraço que definha
na esperança residual.
sou chocolate negro
perto do deserto
duma fé.
quaresma
e quarentena,
morremos todos com
pena de não termos
nos detido no peito
certo
que para nós se ofereceu
a céu aberto.
dói-me o peito
e sei que não é mais do
teu desamor.
é a dor de acreditar
merecer o fim
desta vida,
desta inquinada pista
perdida.
até à vista
é vasta.
quem não acredita
não lhe basta.
bastardos uns dos
outros e das próprias
escolhas.
sacamos rolhas e bebemos
o fim do sangue
dum ressuscitador.
uma mãe
um filho, uma filha
um pai,
um neto, uma neta
avós
e a voz da frente de combate.
enfermeiro, médico,
luva, máscara, bata
ninguém se abate
mas caem.
e levantam-se da má sorte
ou da gente
da alma fraca
ou distraída
ou da inconsequência
que mata.
o amor é de quem
nunca saiu dessa frente.
e eu fui fraco
e passei para trás
da tua alma que arrebata
a vida na cara da morte.
amo-te e não posso,
não posso mais
escondê-lo,
seja da falta de sorte
da falta de excesso
ou da falta de nós.
espero que o teu
novo mundo volte.
que da tua face
volte
o sorriso que era
também nosso.
sexta-feira, 13 de março de 2020
Quarente Ama
Tirei o som,
desliguei o mundo
lá fora
e guardei-me cá dentro.
Admiro quem sai
quem sai pelos outros.
Heróis de guerra
na terra onde os afectos
ficaram de quarentena.
Não há abraço
não há beijo
não há sexo
não há jeito
de fazer sem deixá-lo
lá fora.
Fechamo-nos
porque nos fomos bloqueando.
Há ódio no laboratório
do medo.
Há desprezo pelo medo.
Há morte.
Há noite solitária.
Há nada lá fora.
Só o medo real
de não voltarmos.
Que seja por voltarmos
diferentes.
Melhores.
Maiores na compaixão
das palavras
e dos gritos ao preto
ao traveca
à puta
ao chinoca
ao rabeta.
Afinal somos todos
os mesmos na
palma da mão
no espirro
na cara com comichão.
Onde poderemos
pôr uma mão de amor
no futuro
se não deixarmos
de nos lembrar
da nossa humana condição?
Hoje durmo no chão
ou na cama.
Faço do mundo
a minha casa pequena
e cheia de amor ao longe.
Sempre fui bom nisso
mas falta-me o vosso
abraço
o beijo
o sexo
a mão que é a minha
também.
Lavo as mãos passando
tempo
sem que ele note que passou
o tormento.
"Já passou?" pergunto indolente.
domingo, 8 de março de 2020
Tigre de Bengala
debitamos lugares comuns.
desencontramo-nos
em tempos póstumos.
trepidamos cosmos
em velocidade warp
e estendemos anos
em luz
pelas sombras do contentamento
torpe.
não somos comuns
nem temos eventualmente
lugares para pintar
o céu da boca
com sabor a chá de gengibre.
sou um tigre
e tu Bengala.
um animal e outro
terra,
e por isso comuns
nos golfos dos incomuns.
cravo um incisivo
no peito da estratoesfera
e uma pata
no chão da terra
que {és tu}.
eu visceral
e tu viciante.
e perante isto
vale titubeante
apenas a seiva natural
do que é felino
no reino da luz ausente
e eu em ti presente,
encandeando {por oposição}
brilho.
cambiemos
e agora sê meu
céu da boca
e tudo o que quiseres
de mim extrair.
ou luz
ou cantão tigre.
escolhe antes
que este mar
nos colha
e o calor
e nos transforme
a palavra em calão
e gostemos
mais do que as maneiras
à mesa.
agora sou tua presa.
crava uma dor-boa-surpresa
do céu
ao eterno
limbo daquela terça
de madrugada quarta
onde eu era
menos metade
de homem
menos de um quarto
animal
menos de uma vida
teu.
domingo, 1 de março de 2020
O que Cesariny me ensinou
o que Cesariny me ensinou
que as palavras
para além de ti
só fazem sentido
se sorrires.
se me olhares
daquela forma
de olhos
se atirarem ao mar
com os marinheiros
na sua volta-não-volta
ao mundo.
que as palavras
mesmo escritas
ao contrário
- de frente para
trás-
não me trazem
o teu corpo
e os olhos
quando me atiraste
ao mar.
mas voltei
dos cabos tormentos
e das ilhas dos amores
e venho mais
velho. venho mais
desarmado
e mesmo de palavras.
porque o mundo
fez-me ver novas
como árvores
em jardins tropicais
que visito
lhes leio latim
e cheiro
o mesmo.
mas o teu cheiro
é mais do que
a salitra
que me arde os
olhos
lá de onde não
vi mais
do que vi nos teus.
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