quinta-feira, 19 de março de 2020

Volte-Face

mudei.
já não sou aquele
palerma do mundo
novo.
agora cheio de receio
sou um bolo de chocolate
e hopocrisia transbordante.
digo aqui
diante de toda esta
gente
que de ti é tão diferente
que afinal sou igual.
o mesmo mas
borrado de medo
de não ter visto
em ti a salvação
deste mundo
meu.
sou um bem
perecível como
chocolate nas bocas
do povo...
nada de novo
e o açúcar era o nosso
êxtase.
o nosso novo-riquismo
como o dos senhores
por cima dos polos,
dos fogos ou
dos sismos.
tocam os sinos
em rebate
bate
tão profundamente
que agora preciso de ti.
a mulher,
o meu feminino espiritual
a minha mãe
a filha.
o abraço que definha
na esperança residual.
sou chocolate negro
perto do deserto
duma fé.
quaresma
e quarentena,
morremos todos com
pena de não termos
nos detido no peito
certo
que para nós se ofereceu
a céu aberto.
dói-me o peito
e sei que não é mais do
teu desamor.
é a dor de acreditar
merecer o fim
desta vida,
desta inquinada pista
perdida.
até à vista
é vasta.
quem não acredita
não lhe basta.
bastardos uns dos
outros e das próprias
escolhas.
sacamos rolhas e bebemos
o fim do sangue
dum ressuscitador.
uma mãe
um filho, uma filha
um pai,
um neto, uma neta
avós
e a voz da frente de combate.
enfermeiro, médico,
luva, máscara, bata
ninguém se abate
mas caem.
e levantam-se da má sorte
ou da gente
da alma fraca
ou distraída
ou da inconsequência
que mata.
o amor é de quem
nunca saiu dessa frente.
e eu fui fraco
e passei para trás
da tua alma que arrebata
a vida na cara da morte.
amo-te e não posso,
não posso mais
escondê-lo,
seja da falta de sorte
da falta de excesso
ou da falta de nós.
espero que o teu
novo mundo volte.
que da tua face
volte
o sorriso que era
também nosso.

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