Tirei o som,
desliguei o mundo
lá fora
e guardei-me cá dentro.
Admiro quem sai
quem sai pelos outros.
Heróis de guerra
na terra onde os afectos
ficaram de quarentena.
Não há abraço
não há beijo
não há sexo
não há jeito
de fazer sem deixá-lo
lá fora.
Fechamo-nos
porque nos fomos bloqueando.
Há ódio no laboratório
do medo.
Há desprezo pelo medo.
Há morte.
Há noite solitária.
Há nada lá fora.
Só o medo real
de não voltarmos.
Que seja por voltarmos
diferentes.
Melhores.
Maiores na compaixão
das palavras
e dos gritos ao preto
ao traveca
à puta
ao chinoca
ao rabeta.
Afinal somos todos
os mesmos na
palma da mão
no espirro
na cara com comichão.
Onde poderemos
pôr uma mão de amor
no futuro
se não deixarmos
de nos lembrar
da nossa humana condição?
Hoje durmo no chão
ou na cama.
Faço do mundo
a minha casa pequena
e cheia de amor ao longe.
Sempre fui bom nisso
mas falta-me o vosso
abraço
o beijo
o sexo
a mão que é a minha
também.
Lavo as mãos passando
tempo
sem que ele note que passou
o tormento.
"Já passou?" pergunto indolente.
sexta-feira, 13 de março de 2020
Quarente Ama
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