domingo, 8 de março de 2020

Tigre de Bengala

debitamos lugares comuns.
desencontramo-nos
em tempos póstumos.
trepidamos cosmos
em velocidade warp
e estendemos anos
em luz
pelas sombras do contentamento
torpe.

não somos comuns
nem temos eventualmente
lugares para pintar
o céu da boca
com sabor a chá de gengibre.
sou um tigre
e tu Bengala.
um animal e outro
terra,
e por isso comuns
nos golfos dos incomuns.

cravo um incisivo
no peito da estratoesfera
e uma pata
no chão da terra
que {és tu}.
eu visceral
e tu viciante.
e perante isto
vale titubeante
apenas a seiva natural
do que é felino
no reino da luz ausente
e eu em ti presente,
encandeando {por oposição}
brilho.

cambiemos
e agora sê meu
céu da boca
e tudo o que quiseres
de mim extrair.
ou luz
ou cantão tigre.
escolhe antes
que este mar
nos colha
e o calor
e nos transforme
a palavra em calão
e gostemos
mais do que as maneiras
à mesa.

agora sou tua presa.

crava uma dor-boa-surpresa
do céu
ao eterno
limbo daquela terça
de madrugada quarta
onde eu era
menos metade
de homem
menos de um quarto
animal
menos de uma vida
teu.

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