quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Bom dia de purpurina

...e a manhã de forma terna lhe puxava 

os lençóis. 


soprava-lhe ao ouvido, em raio de sol 


quente, um 


"bom dia". o brilho nos seus olhos 


acordava do 


sonho. era o dia que a esperava em 


luzes de 


purpurina.




V.D.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Chama velada

Saberás dele
mais do que a palavra.
No seu olhar
reside o teu.
Nunca te dirá o que ama.
Por quem se desarma.

Mas tê-lo-ás a espaços.
Em todos os seus silêncios.
Em todos os pequenos
futuros desaparecidos.

Terás a verdade inteira.
E a chama
que em vela, cêra derrama,
como o tempo
que ao fim se chama.

Tu és quem em silêncio
e no arder duma chama
ele verdadeiramente ama.

Vaz Dias

Bailarina de Grafonola

Se te acercas,
logo me detenho.
Não quero que percas
o que para ti tenho.
É imaterial,
feito em papel
de sonho.
Pintado em luz de pirilampo.
É uma dança
de caixa de pandora.
Abre e rodopia.
Música de ontem e de agora.
Tão antiga como eterna.
Rodopia neste meu convite
e dancemos
como duas crianças
em intervalo de escola.
És a bailarina que dança,
rodopia e que balança 
ao som desta grafonola.

Mas porque me esperas
se não danço 
de métrica?
Não vês que "canto"
com o som 
como minha estética?
Também sou eu
que te liberto
dessa tão engenhosa
e esculturada caixa.
O que não aguardava
e caiu-me o queixo
que de tão 
rodopiada conveniência
mostraste-me mais do que
a vista alcança.
És pandora.
Libertaste-te!
E és agora a mulher
que ao dono de grafonola
se fez libertar e que agora,
também ele,

harmoniosamente dança.

Vaz Dias



terça-feira, 28 de outubro de 2014

A sombra que descobriu

E de sombra ele se aconchegou por entre lençóis junto à sua respiração.
Arrepiou-lhe a nuca e ela, suspirou.
O sonho humedeceu.
A sombra desvaneceu...

Vaz Dias

Encarnado beijo

Acho que se te encontrasse agora
te beijaria encarnadamente.
Só porque te pintas
nessa fogosidade
voluptuosamente.

Acho que se te encarnasse agora
te beijaria incessantemente.
Porque me rasgas
de lábio encarnado
e desavergonhadamente.

Engoles-me a carne
de encarnado vivo.
Alimentas-te vorazmente
e de forma felina
sem receio de qualquer perigo,
apenas devaneio.

Encarnada me deleitas
de rubro. No pescoço curvo.
Sugas-me o sangue
que de branco me enjeitas
e me largas em canto escuro.

Sopra-me vida de novo.
Com o teu beijo contínuo.
Beija-me escarlate.
Beija-me vida nesse sopro.
Encarno-me contigo
Antes que o tempo se mate...ou se esgote.

Vaz Dias




segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Manobras de inversão

Sabes que não te quero.

Só sabes o quanto te desejo.

Digo-te que não espero,

como forma de cortejo.


Porque quem nada espera

di-lo de boca cheia.

Secretamente desespera,

recupera, mas de novo receia.


Receia-se a desatenção.

Perde-se o tempo certo

para a pequena declaração.

Não estás por perto.


Espera-se de novo

a melhor ocasião.

Mas porventura já houve!

Como lido contigo coração?


E contigo com quem

nada e reafirmo, quero!

Como lido com o teu desdém?

A tua frieza abaixo de zero.


Mas sou eu que não te ligo.

Pois apenas escrevo disto

porque sou o meu melhor amigo.

E de ti finjo que desisto.


Estou feliz de mim.

Sim, porque não preciso

de quem me trate assim.

Ficas melhor com tudo isto?


Desistamos juntos!

Façamos algo que admita

que afinal estamos prontos

e tu de mim convicta.


Seja porque neste cruzamento

nos apartemos,

ou por tanto distanciamento,

afinal nos acerquemos.


VAz Dias




Viagens do fim ao começo

Desembarco de mim.
Deixo para trás
essas viagens
em que me encontrei
e perdi.
Que de ponto
em porto lá do navio
colhia um conto
e doutros o extravio.
Das diferentes cores
aprendia novas tonalidades.
Pintava os meus
próximos itinerários,
de novos tons exprimidos.
Saboreei nas marés
os cheiros escondidos
do palato surpreendido.
Engoli o mundo
e expirei cidades.
Me encontrei
e me perdi.
E agora desembarco de mim.
Deixo esse barco
seguir.
Paro,
para agora reflectir
enquanto mudo
permaneço
nesta viagem ao fim
de todo e meu inexplorado,
universo.
Por fim,
mudo, reconheço!


Vaz Dias

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

E se voltássemos a não ser?

E se por instante,
voltássemos a não ser?
Em não nos conhecermos?
Só pelo simples
prazer de um "déjà vu".
Pelo sublime encantamento
de um novo encontro.
Mas de que serve
experimentá-lo,
se a viagem se faz
num só sentido?
Se o gosto é conhecer
o que de melhor
foi do primeiro "rendez-vous".
E daí descobrir-te
em cada segundo.
Em cada suspiro.
Um pouco mais do teu mundo.
Um pouco mais te admiro.

Vas Dias

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Elementar água

Imagino a água

que do teu corpo

escorre,

que do calor

húmido, suor

nas curvas percorre.

Desejo ardente

de líquido

sou vapor,

para gentilmente

do fogo, te acariciar

                                                    a tez e a alma com fulgor.



Vaz Dias

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Lobos esganados

Cravo a mão dura
em tão saudável glúteo.
Como mandíbula cerrada
de lobo esfomeado,
lá me detenho
em tão provocadora
formosura.
Mas lentamente desaperto
a mandíbula
para a fome 
se abandonar
à sede. É o que a vontade
de momento
pede.
Estou sequioso,
sedento de ti.
"Sedentas-me"
néctar embriagante.
Quero beber-te
neste mesmo instante!
Embriagar-me de ti
liquidamente!

Vaz Dias

Chuva delas

Mandei encomendar para si.
Não era só uma estrela.
Era aquele cometa
que em pequeno vi.
Um dia disse que a ela
daria.
Um dia.
E quem seria?
Encontrei-a.
Sorria!
Porque esta noite a veremos juntos.
Tão distantemente juntos.
Mas à luz das coisas boas.
De repente. Como se sente.
Consigo tão somente.

Vaz Dias

Calma guardada




Que guarda a expressão de tão expressiva composição?

Mulher que se completa com altiva comissão. 

Que resguarda "entremuros" o que de bom lhe vai da alma. 

Para na rua exercer a impulsiva manifestação. 

Onde fica o sorriso e a calma?


Vaz Dias


Passo de talco

A menina dança?
Este poeta mal amanhado,
de palavras inventadas
vai calcorreando
umas vezes atropelado
de emoções velozes,
outras deslizando,
os sentimentos 
com as linhas capazes.
Como de chão de madeira seca
que de pó de talco
necessite 
para que a dança de salão
ao verso se permita.
"Boca de salsa",
pé de valsa,
encontra em mim,
o que ao tema
em cada momento,
melhor se realça.
Deixa-me segurar-te 
esse olhar.
Que de fascínio e segredo,
rodopiam as minhas letras.
Como de desígnio
me fazem dançarino
do que ao teu passo
algum erro eu cometa.

A menina dança?
Se de melhor dança
passo a passo,
verso a verso,
algum dia consigo
me comprometa.

Vaz Dias

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Uma prece a um anjo

"Que não te atrapalhes,
por estes mundos!
Que vivas onde quiseres,
se fores este segundos universais,
ou um bocadinho mais,
o eterno de todos os mundos.

Que vivas!
Mesmo que essa vida não a vejamos.
Que vivas!
Se Deus nos der o que achamos.
Mas que vivas
em nós, como nasceste.
Como em nós nasceste,
e que para sempre
assim permaneceste.
Nós fomos dados
à tua luz Débora!

Fica! Se é essa é a tua escolha.
Fica para sempre
Se Deus para junto dele te recolha.
Mas em nós ficas,
porque é assim que escolheste
e nós,
assim eternamente te devolvemos
à vida! À tua! À tua para sempre alegria!"

V.D.

(uma prece a uma amiga que a este dia ainda se encontra lutando pela sua vida)

É o que se guarda contra vontade.

Não foi aflição.
Nem muito menos drama
de papelão.
Também não me admito
à opereta da emoção
de plástico ou borracha.
Digamos que foi
ardor,
que de leve acha
para a tua fogueira
de mim,
atirei para saber de ti.
Não sou assim tão bom
a saber coisas dos outros.
Tento ir sabendo de mim,
e quando estou mais afoito.
Vou andando.
Sentindo e reflectindo
do que sinto,
para melhor ir avançando.
Não foi aflição,
nem drama.
Foi cuidado.
Foi daquele tipo de emoção
que aos que se quer,
se chama,
qualquer coisa como,
saudade.
E porque não sentir
de ti,
o que se guarda contra
a vontade?

Vaz Dias

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Arranhas-me por dentro

"Estás a arranhar-me por dentro.
As tuas garras
de cereja de gata quente
me aprisionam,
me deixam impotente.
Alvitras-me a ponderação
e eu de loucura
já não me aguento.
Torno-me vulgar
à bestialidade.
Dou lugar
à minha mais básica humanidade.
Estás a arranhar-me por dentro
gata quente
de cereja na garra.
Como esse teu ser
me liberta e depois me amarra!
Me aperta, me arranha
e depois me afaga.
Passeia vaidosa
e secretamente lânguida
côr de cereja!
Humano me torno de novo,
menos de carne
e mais de espírito
como o ser almeja.
Passeia quente, gata de
garra de cereja ardente!"

Vaz Dias

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Infinito espelhado

E no infinito

reside o caminho.

Poema,

arte em uníssuno.

Para lá da memória,

para cá da história,

do sempre

ao milésimo de segundo.

Ínfimo e eterno

micro-tempo

que no inverso

é o mesmo.

Do tamanho se acerca

o infinito poético.

Pois é tão infinitamente grande

essa micro passagem

como eternamente pequena

essa universal viagem.


Vaz Dias

Somos

Não sei de onde chegaste.
Se foste tu sequer
que comigo
te cruzaste.
Talvez tenha sido eu
a precipitar-me
na tua direcção.
Vontade,
Espontaneidade,
Razão?
Que interessa?
Foi da tua terra
que este fogo se consumiu.
Ardi no teu solo
e a distância sumiu.
Não fomos.
Somos.
Somos a terra ardente.
Somos o fogo desterrado.
Não estamos,
não vamos e
nem "quandos".
Somos. Apenas assim.
Somos.


Vaz Dias

Deixo-te Um beijo

Se distantes os nossos corpos
se encontrem.
Se longe as nossas vidas
se interceptem.
Se da quase improbabilidade
os nossos destinos se façam um.
Deixo-te Um beijo.
Em pequenas linhas
te passem pelos sentidos
como uma carícia do meu desejo.
Mas não te detenhas!
Desfruta, e deixa
que desça.
Não ao peito.
Não às entranhas.
Nem ao sexo!
Que desça ao âmago.
À profunda e despida alma.
A nossa cama e leito.
Que de prazer o corpo se prende
mas da cama alma
teu ser à nossa fortuna,
eternamente se deleite.


Vaz Dias

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Desacelerei

Fui decidindo parar.
Desacelerei.
Minha juventude me roubava
o intento, constantemente.
Me enganava com a vontade.
Com essa "eternidade".
E lá me enganava
eu, com essa ideia intemporal
que tudo estava bem.
Que ser para sempre novo
era o mesmo
que ser de coração,
juvenil. Jovial.
Desacelerei.
Precepitava-me para a imortalidade.
Apenas possível quando temos
vinte.
E uns poucos e tal.
Depois um tipo sente,
o que tem por diante.
Mortalidade.
Por consequência,
vida.
Efémera e de repente,
já a encontramos a meio.
Ou um pouco mais.
Ou menos, se de sorte
nos valermos.
Ou de vontade e saúde
desistirmos.
Desacelerei.
Porque agora começo a viver.
Pude brincar mais que
terceiros.
Veremos se a saúde
engana os meus receios.
Mas que se lixe!
Vivi de espontaneidade,
e agora quero a maturidade.
Descobrir ali no sorriso um universo.
No silêncio uma conversa.
No olhar um abraço.
Viver.
No sorriso dos outros.
No silêncio do descanso.
E no teu olhar,
o meu abraço.
Amigo, irmão.
Filha coração.
Desacelerei.
Porque vos quero por mais tempo.
Nem que seja
pelo lento.
Vaz Dias

De nada...

Aproximava-me. 
Confiante avancei.
Era este o tempo,
era este o momento.
Carregava num bolso
confiança,
no outro
um montão de nadas.
Dividi-os assim,
para ainda ter moral
e andar de cabeça levantada.
Mas pesavam tanto
esses nadas.
De tal forma
que se multiplicavam
a cada passo
em tua direcção.
Desconjunturava-me.
Passo torto e
cambaleante.
Aproximava-me.
Mais lento a cada instante.
Mas ergui-me não obstante.
Foi determinante!
Não eras tu.
E calada me foste pertinente.
Desviaste-te
para eu seguir em frente.
Obrigado senhora gente.
De nada...

Vaz Dias

Escaleras

Subirei uma vez mais a esse alto
que me desconfias.
Julgas-me pelo degrau,
e o próximo que falto.
Sabes se desço
enquanto subias?
Julgas-me pelo degrau.
Não vês o cenário geral.
Sobes pela primeira vez.
Mas lá das alturas
ainda não vês nem prevês
o que cá debaixo
careces.
Pois cá estou eu descendo.
Para te acompanhar.
Para te honrar.
Careço de ti.
Humildemente de mim.
Descer é renascer.
E subir?
Bem, aventuremos-nos.


Vaz Dias

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

"Encontramo-nos" "Perdidos"

"Encontramo-nos" perdidos.
Encontramo-nos "perdidos".
O desejo que temos de nos perder.
A felicidade dúbia
de noutros nos perdermos de amor
e de encontrar a felicidade.
O sofrimento "ôco"
de encontrarmos o amor
e sacrificar a liberdade.
Como nos encontramos?
Como nos perdemos?
A dicotomia é parceira afinal.
A dúvida acerta e a certeza
contesta.
Herói é vilão
e o bandido, 
campeão!
Como ficamos então?
Encontro-me meio perdido.
E não há meio
de resolver a questão.
Objectividade.
Bom senso.
Seriedade.
Razão.
Palavras que indicam
a direcção.
Mas o sentido?
Os sentidos encontrados
e perdidos?

Vaz Dias

Pelo pecado

E as asas que te emprestei
voaram-te do nosso calor.
Anjo fugido
do pecado,
voaste
às alturas térreas.
Nem de felicidade,
nem de amor.
Voaste com as asas
que te dei.
Deixaste. Deixaste-me
com o gelo do nosso ardor.


Vaz Dias


Aventuras-me

Aventuras-me.
Viajo na lentidão da distância. Desfruto do fruto proibido enquanto nada espero de ti aventura. Mas se me empertigaste, então viajarei no teu silêncio, gritando vigorosamente os meus sentidos.
Já te disse, aventuras-me.


Vaz Dias