quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Desacelerei

Fui decidindo parar.
Desacelerei.
Minha juventude me roubava
o intento, constantemente.
Me enganava com a vontade.
Com essa "eternidade".
E lá me enganava
eu, com essa ideia intemporal
que tudo estava bem.
Que ser para sempre novo
era o mesmo
que ser de coração,
juvenil. Jovial.
Desacelerei.
Precepitava-me para a imortalidade.
Apenas possível quando temos
vinte.
E uns poucos e tal.
Depois um tipo sente,
o que tem por diante.
Mortalidade.
Por consequência,
vida.
Efémera e de repente,
já a encontramos a meio.
Ou um pouco mais.
Ou menos, se de sorte
nos valermos.
Ou de vontade e saúde
desistirmos.
Desacelerei.
Porque agora começo a viver.
Pude brincar mais que
terceiros.
Veremos se a saúde
engana os meus receios.
Mas que se lixe!
Vivi de espontaneidade,
e agora quero a maturidade.
Descobrir ali no sorriso um universo.
No silêncio uma conversa.
No olhar um abraço.
Viver.
No sorriso dos outros.
No silêncio do descanso.
E no teu olhar,
o meu abraço.
Amigo, irmão.
Filha coração.
Desacelerei.
Porque vos quero por mais tempo.
Nem que seja
pelo lento.
Vaz Dias

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