quarta-feira, 29 de março de 2017

Fruta Fora de Época

Terrível desfecho.
Todas elas desapareceram.
Encontraram-se noutros.
Argumentos
De tempo escasso
Só até vir
O melhor negócio.
Fazer valer o tempo
E o espaço que
Aqui se passa.
Ficaram entre si
Mentindo-se de realidades
Da época.
Como a fruta
Congelada que não sabe a nada.
Deita-me fora.
Antes que te saiba a tudo.
Sumo de viver.
Mas fica nesse negócio
Deste tempinho
Resolver.
Eu vou morrer
De ser tragado
E cuspido.
Mas de mim.
De me gastar nos
Vossos rodeios
De nada valer.
Água de beber
Sem coração.
Nojo.
Que nojo de emoção!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 28 de março de 2017

Capas de Marfim

Não li o livro
Que me apresentavas
Vazio.
A capa era em marfim
E luzia da polidez
Com que te tratavas.
Não sei se tanta
Beleza seria
Para esconder
O que lá dentro nada
Trazias
Ou se por outro lado
Desejavas alguém
Que te escrevesse
Poemas.

Encher-te de vida
E eloquência.

Não tenho a cultura artificial
Nem a viagem
Que não chega lá dentro.
Sei que escrevo
Como quem vê na vida
Um livro para ler
E lá pelo meio
Inventarmos poesia.
Se não eras o livro
Aberto que eu pretendia
Escrevo mais palavras
Do que apenas entretenimento.
Escrevo para que venhas
Cá dentro
Onde a verdadeira viagem
Começa,
Onde a beleza das capas
Fica perdida no tempo.
São viagens entre folhas
Que se perdem
No meio dos versos.
E não ao contrário.
Sou um livro aberto
Para que façamos
Poemas a dois
Lá dentro.

Somos um livro por escrever,
Rasgar páginas
E fazê-las voar.
Deixemos as capas de marfim
No lugar.
Deixemos as palavras no vento
Outros destinos
Encontrar.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 27 de março de 2017

Mar das estrelas da gente

... E voltas.

E és tudo!

Somos as estrelas
De um mar que reflecte
Esse céu imenso.
Navego na tua
Liquidez
Que vem sempre
E sempre se ausenta.
E é quando te ausentas
Que se faz dia
E o céu é claro
E as estrelas voltam
A não ser nossas.
Desapareces
Mar meu da Noite
E céu de breu
Com estrelas.
E fico esperando
Nos dias seguintes
A Noite do teu regresso.
Onde tudo é nosso
Mesmo amor
De inventar os dias.

Fica sempre
Sabor a corrente
E maré da gente.
Somos estrelas
De um mar diferente.
E mesmo assim,

Eu noite,
E tu dia...
(Diferentes).

Voltamos sempre
Àquele primeiro instante.
Confortável...
Estranhamente.
(Tão diferentes!)

Mar das estrelas
Da gente.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 26 de março de 2017

Tudo o que não foi

Tenho de te encontrar
E dizer-te
Tudo aquilo que ficou
Por dizer.
Tudo o que em que
Me transformei
Através de ti.
Talvez saibas.
(Tu sempre deste
Aquele ar de sabida
Sem fazeres
Alarido. A pinta!)
Pois as circunstâncias
Fizeram de ti
Talvez a minha maior
Amiga.
Uma aventura perdida
Por uma viagem sem corpo.
Apenas preciso
Que os físicos se encontrem
Para te agradecer.
É pouco eu sei.
E para mim,
No entanto,
Tudo!
Um abraço que deixarei
Em ti
Crescendo pouco a pouco
Até que eu possa um dia
Seguir.
É tudo!
Uma amizade é tanto
Com tão pouco.

VAz Dias

#palavradejorge

Beijo-Hora

Em tudo ficámos
Por tudo fazer.
Em tudo
Tivemos tudo
A condizer.
O olhar.
O sorriso conivente
De quem faz merda.
O afastamento
De quem sofre
Pela mesma perda.
O suspiro
Nosso
Que saiu de dentro
Do outro
E o seu era o nosso.
Em tudo se sentia
Que nunca seríamos
Um do outro
Mas que era o fim
Mais apetecido.
Vem tempo
E outro,
E fomos nos encontrando.
Toda uma construção
E adjudicado
Tamanho.
Em cada partida
Aproximando-nos.
Cada vez mais estranho
E estranhamente
Parecidos.
Faltou um quarto.
Um quarto de hora.
Um quarto de tempo
Para essa desejada
Demora.
Foi mais curto
E foi em má hora.
Com um beijo
Que tudo augura.
O fim duma partida
E a partir de agora?
Fica o sabor
De ela se ausentar
De nós.
Mais uma ida
Duma vinda
Que tanto demora.
Vai chegando
Com um beijo
Que se foi embora.
Uma vez mais
Em tão má hora!

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 25 de março de 2017

A Poesia que Chama

Quanto mais vos
Escrevo,
Vos proclamo,
Vos ofereço poemas,
Mais desapareço.
Pareço um ser
Sem chama
Quanto mais vos
Chamo.
A morte é um sofrimento
Menor
Quando somos devotados
Ao esquecimento.
Parece que amo
Mais o poema
Do que o amor
Que vos tenho.
É puro engano.
A poesia nunca se esquece.
Ela é quem me
Chama.
Na verdade,
É ela quem me
Ama!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 23 de março de 2017

Infamiliares Perdidos

Não sei o que me aconteceu.
Não sei se quando
Os que amava
Me morreram
E com eles foi vida
Ou intenção desmedida
De viver todos os
Segundos
Com a paixão
Que hoje alongo
Por cada dia.
Penso que amo
(Ou lá o que isso é!)
Na extensão desse tempo.
Mas não amo
Tanto alguém
(Que não me seja familiar)
Nem vejo como esse ser
Possa vir a ser familiar.
(Corrijo!)
"Esses seres."
Desembaracei-me de sonhos
Antigos.
Desiludi esse amor
Vezes sem fim.
E ele a mim ensinou-me
A afastar-me dele próprio
Como de pessoas infamiliares.
E eu, aventureiro
E tolo,
Desobedeço.
Escarneço o amor
E esse abutre
Que é o destino
E sou quem mordo
Antes da morte.
Não na pele
Ou na carne.
Na alma desses outros.
Não há suco...
Há socos.
"Andam todos loucos
E eu sou o mais
Insano!"
Afasto-me aos poucos
E talvez seja eu
Advogado do profano.
(Bem, queria eu ser
Mas não tenho para isso
Alma - ou falta dela, penso!)
Perdi-me!
Perdi-me de amores
E não sei onde os deixei.
Perdi-me do amor
Porque o deixei.
Sim esse que aprendi
Quando era miúdo.
Este de adulto aceita
O que vier
E o de tonto
O que quiser.
Meio miúdo meio louco.
Mas tem de voltar
Pelo menos a ser familiar.
Mas anda tudo
Noutro lugar
E os meus segundos
Tornaram-se preciosos,
Senão perniciosos,
Alongados no tempo
Sem alma que se aviste
Eterna.
Loucos são os que amam
O Nada,
Lá estará uma Alma
Com tudo.
Morrerei devagar.
Alongado na calma.
Amando Nada.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 22 de março de 2017

Lamento dos Tempos

Critico estes tempos.
Perdi a noção
De quantas vezes
Enveredei em lamentos.
(Se estas linhas
Não preenchem,
Elas mesmas,
Esses requisitos.)
Mas não sei.
Perdemo-nos pelo caminho.
Aceitamos a facilidade
Com que as coisas
Nos são vendidas.
Cores para os olhos.
Promessas levianas.
Coisas sem sal
Com tanta vida.

Gostaria de ter sido
Um "sem-sal"
Onde nada se abate
Nem se excita.
Tudo muito morno
Morrendo à medida
Do que vamos
Vivendo.
Tudo tranquilo
E com resposta
Aprazível às circunstâncias.

Gostava de ser melhor.
Fechar os olhos
A tudo o que me perturbasse.
Ter mulher e filhos.
Acenar que sim a tudo.
Fazer tudo muito igual
Até à morte.

Mas critico tudo
Com vida a mais
Nestes gestos.
Nestes abjectos
Tempos
De tudo ser tão fácil.
Basta não ter opinião.
Estar morto
E fingir estar-se vivo.
Dizer sim quando se pensa
Não.
Dar um grito
E mudar o que morre
Confortavelmente.
Não é um lamento.
É apenas ter atenção.

VAz Dias

#palavradejorge

Cartas Perdidas de Carteiro sem Mãos

Passam-se as estações.
Ainda não sei quem sou.
Passam as pessoas
E ainda não sei quem são.
Passam-se amores
De mão em mão
E eu, carteiro de cartas
Perdidas,
Já não sei quem são.
Algumas delas
Por mim escritas.
Onde estão essas pessoas
Que um dia me
Foram tão queridas?
Passam-se os anos
E eu nem sei mais
Quem são os destinatários
Das palavras.
Quantos mais lhes
Confiro o peso
Mais me parece
Que não devia ter escrito
Tais cartas.
Passam-se mãos pelas cartas
Que um dia tinham
As outras mãos
Nas suas.
Quem segura agora
Tais palavras
Como quem segura
Um coração?

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 21 de março de 2017

Poema de um pequeno poema lá dentro

Dia mundial da Poesia

Parei num canto de rua.
Parei para te escrever
E te buscar.
A razão,
A estrada aberta
Que faço ao contrário,
O tempo para o coração
Respirar.
Vi um poema lindo.
Vi um amigo lindo.
Todos eles são ar
Como sangue
Nas artérias da cidade.
Busco-vos no coração
Como se poeta fosse
Condutor de destinos.
Busco-vos num canto
Do encanto profundo
Que tenho por vós.

Escrevo poesia para
Vos encontrar
E retornar a este canto
Onde sei
Que nos havemos
De encontrar.

Escrevi um poema.
Encontrei um amigo.
Abri caminho
Para a palavra
Respirar.

21.03.2017

segunda-feira, 20 de março de 2017

Abraço e Amizade

Não preciso que aqui estejas.
Podes viver no outro
Lado do mundo.
O espaço entre nós
Não existe.
Ficaste,
E com tudo que nunca
Prometemos.
Aconteceu e ficaste.
Somos para sempre juntos
Neste sem tempo
De amizade.
Volta para te dar um abraço,
Uma conversa,
Um ouvido no regaço.
Um amigo,
Uma amiga
E tudo o que nos é familiar.
Abraço!

VAz Dias

#palavradejorge

Pequeno Poema

Sou um poema pequeno
Sem ambição de ser
Mais do que isso.
Falta-me mais engenho,
Mais tamanho,
Para ser um poema
Maior e convicto.
Vou sendo escrito
E rasurado
Sem a vaidade
De ser bonito.
Apenas um poema
Para qualquer um
E poder ser lido.
Tenho alma.
Ah isso sim!
Isso tenho!
E é assim que quero
Ser.
Um pequeno poema
Para ser facilmente lido.
Apenas isso.

VAz Dias

#palavradejorge

Não-Tempo

É impossível querer-te
Tanto bem.
Ele é tão a tua cara!
Nunca baixei os braços
Mas por ti
Tenho de elevá-los
E agradecer aos céus
O amor prevalecer.
Mas um dia encantámo-nos
E isso ficou para sempre
Num Não-tempo.
Preciso abraçar-te
E sentir que lá ficou
E dizer-te que fomos
Outra vida.
Que nunca aconteceu
Mas que é nosso.
Fizeste-me ser mais vivo.
Preciso agradecer-te.
Abraçar essa intemporalidade
E ver-te seguir
Para a tua vida tão
Bela.
Tão bela!
Beijo-flor.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 19 de março de 2017

Dia do Sempre

Podia viver neste lugar
Para sempre.
Onde a minha vida respira
De mim
Por si.
De si.
De fechar os olhos
Saber que é vida
De mim
E abri-los
E ver tudo de novo.
Tudo novo que me
Oferece.
Tudo o que ela vê,
Tudo o que ela viu,
Fazer visão em mim.
A paz de saber
Que existo multiplicado
E se um dia partir
Ficar a melhor
Parte.
E que não, para sempre.
Porque um dia havemos
De ser Sempre
E se ela assim quiser
Poderemos ser
"Sempres" vezes
Qualquer potência.
Mas Sempre!
O tempo parou
Quando ela
Me olhou com os olhos
Em que a vi ser.
O tempo passará
E a minha outra vida
Ficará.
Um futuro presente.
Meu amor
E a minha visão
Em frente.

Quando nos multiplicamos
Não desaparecemos.
Ficamos nos olhos
E na vida que escolhemos,
Aceitámos,
Como antes o fizeram
Todos os nossos
Antecedentes.

Dia do Sempre

VAz Dias

#palavradejorge


sexta-feira, 17 de março de 2017

Incompreendo

O que é ser bom
Se a bondade
Se torna subjectiva?
Assertivamente
Vejo em ti
Confundida.
E agora?
Queixo-me aos deuses
Do nada
E aos anjos dos desabafos
Com escrita desgarrada.
Estaria melhor calado.
Não falo só por mim.
Falo pelos que como eu
Se vêem afastados
Desse campeonato
Onde outros por vezes
Se sentem imbatíveis.
Todos ganhámos
E todos havemos
Perdido
A dada altura.
Cultura do campeão
E da negação.
Grito
Com despudor
No pulmão.
Afio a faca
Com a língua
Que tenha mais à mão.
Uma chapada
De beijo de compreensão.
Perdes tão mais...
Por te achares agora
Demais!
Incompreendo
Essa tua opção.
És a triste parte
Do meu coração.
Apenas isso...
Triste.

VAz Dias

#palavradejorge

Pela Calada

Se soubesses a energia
Inesgotável que produzo
Perceberias o quão
Encantador sou
Para além das tuas recusas.
Samaritana de silêncios, és,
Por achares
Lhes fazer algum obséquio.
Imagina-te muda
E eu sorridente.
Um quadro conivente
Ao absurdo desses momentos.
Sabias que não és única?
Não sabia eu
Que o molde multiplicava
Ruidosamente.
Tanta energia
Para boca calada.
Desperdício é fechá-la
E um dia a querer
Mecanizar.
Não é a mandíbula.
É a vontade.
E eu fiquei com a vossa
Por toda a parte.
Vou bradar aos céus
Só pela metade
Do dobro do que se
Reservam em silêncio.
Eu falo o que penso.
Não penso
Como me calo.
Ou falo.
Falo grande e grosso.
Um prazer desse sentido.
Convicto!
Alto e doce.
Alvoroço!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 16 de março de 2017

Sinal de Espera

Podia telefonar-te.
Ouvir e tomar
Uma decisão.
Deixar de ser
Galanteador.
Impor a minha vontade.
Farto de cantar
E ver o tempo a passar
A favor de ninguém.
Quero-te mas não por nada.
Tem de valer.
Tens de ser mulher
À altura do melhor homem
Que eu sei ser.
Mas andas distraída.
São todos magníficos.
Todos saídos de um molde
Que poderia efectivamente
Engraçar qualquer uma.
Desculpa se te vejo melhor
Do que isso.
(O meu defeito:
Ver o melhor nas pessoas)
Sabes onde estou.
Basta um sinal.
Se estiveres para mudar
De ares.
Se estiveres para atender.
Se estiveres
Para ser tomada
Como queres.
Eu não vou a lado nenhum
Se fores comigo
Para qualquer lado.

VAz Dias

#palavradejorge

Gente Atempada

Vai-se dissipando
O tempo.
Deixamos correr
As pessoas
Ao seu destino.
Choramos a possibilidade
Velada
E seguimos também
O nosso próprio caminho.
Muitas vezes
Detendo-nos no mesmo
Lugar.
Fitando o tempo
Desaguar
Os seus intentos
E a lavar a alma.
Amámos
E amamos tudo
Mas não desejamos nada.
Morremos
E renascemos.
Acima
Fica a poesia.
Arte da solidão
E oferta à pessoa
Amada.
Mesmo que já cá
Não esteja
Mesmo que nunca fique.
Segue o tempo
Levemente
O seu destino
E o nosso que a arte
Melhor destino
Nos indique.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 15 de março de 2017

Calcanhar de Aquiles

Nunca quis ser
Apanhado desprevenido.
Ser alto (como em
Grande)
E cair lá do alto
Por detalhe
E assim ter-me
Perdido.
Prevenido,
Que remediado
Já me encontrava.
Quando era mais pequeno.
Porque me reduzia.
Ser maior implica
Responsabilidade.
Assumir o passo
Largo
E longo de quem se tem
Resguardado.
É tempo.
É a oportunidade de dar
Um avanço.
Assumo a grandeza
Dos humildes
Com o salto
Dos impelidos.
Foi o destino
E o destino que fiz.
Salto.
Salto mais do que um triz.
Do que um triste.
Feliz!
Salto.

VAz Dias

#palavradejorge

Ínfima Líbido

Caríssima mulher
Que inventou o erotismo:
Sou-lhe porventura
Novo.
Um garoto quando se
Imagina por doçura
A bondade.
Compreensível por tal prisma.
Mas atente
Que o meu corpo
Já dança os corpos
E se afunda nos mais
Cavernosos abismos
Há tanto tempo
Quanto por estes dias
Também dançava.
Deixou um eco no tempo
A sua melodia
E o prazer é multiplicidade
De gemidos
Tornados gémeos
Do seu querer.
É imortal
Tal qual
A vontade de tragar
O tempo.
Sim! Aí há um rapaz
Revigorado.
Um homem que não vive
Resignado com o tempo.
Quando desaparecer
Serei prazer.
Tal qual a mulher
Que inventou
O erotismo
E me fez ouvir
Depois de dançar,
Aprender.
Afinal já dançávamos
Antes mesmo
Um do outro conhecer.
Não somos crianças
Mas somos almas
Recentes
Do universo a se devolver.
"Erótica,
Dança?"

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 12 de março de 2017

Moldura

O encanto foi
Ser sempre meio ingénuo.
Como uma criança
Que fita pelo primeiro
Olhar
As cores.
Uma paleta de cores
Que foste mesclando
No meu meio.
Misturavas os tons
Como tinta
Que dança na água.
Acredito.
Entusiasmo-me.
Por seres uma pintora
E dona das cores.
Eu sei que não queres
Ser
Mas para quem
É tão ávido de cor,
Pintas com destreza.
Fazes de mim
Procurar de novo
A leveza das coisas.
Existes.
Eu sei e acredito.
Vives na arte
E no meu desejo.
Ainda não desbotou
De todas as outras pinturas
Que risquei
E que pintei pelo caminho.
Tens cor para mim
Ainda que não te veja,
Pela cor te beijo.
Pintei outro quadro.
Mas guardei-o
Para mais tarde
Nele soprares os desejos.
Os teus.
E os teus beijos.

VAz Dias

#palavradejorge

A Beleza é o Bem e a Bondade

Não está errado
Amar-vos a beleza.
A vontade surge
Do que compreendi
(Dentro de mim)
E do que vejo
Aí de beleza.
Amar-me não foi
Um acto de vaidade.
Foi acto reflexo
De vos encontrar
A maior beleza.
O Bem. A Bondade.
Pinta-se uma face
E um corpo
Que dança um traço.
Mas falta muito o Bem
Por embaraço
Ou vontade de crescer
Nesse tão íntimo espaço.
Enquanto isso
Vamos todos crescendo,
Uns cultivando
Jardins no seu interior
E outros com flores
Se enfeitando.
Não morro de amores
Mas vivo
Para esse Bem,
Essa Bondade,
Que embeleza a vida.
Fico só
Acompanhando toda
Essa vida que "pode ser"
E de mim também
Como observador.
Vem o tempo
E se quiser com ele
Outro amor,
Mas no meu jardim
Existe cuidado às coisas
Que me querem.
Tenho tudo
Mesmo que não tenha as
Pessoas.
Não são coisas.
Tenho tempo.
Tenho a vossa beleza
Se a quiserem.
Escrevi um poema
Porque aqui está ela
Não se contendo
E vão colhendo
Como flores
As que dentro de mim,
Viram verdade.
As que amo
Têm campos infindáveis
De Bem
E de Bondade.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 11 de março de 2017

Vinte dias de Ti!

Queiram saber que é
O meu corpo
Que abusa da minha paz.
O orgasmo que com todos
Os males do mundo
Acaba.
Por agora.
Menos uma acha
Na fogueira.
Menos exaltação
Por tanta preocupação alheia.
Venham-se!
Um frenesim de prazeres.
Cardápio
De sorver
Todos os sabores
E depois digerir.
Corpo
E desfazer.
Ah prazer de morder
E cuspir fora!
Monge de romper
A redoma
Do recato.
Foi pelo aparato
Que te tive.
Vamos dar ao desbarato
Mais vinte.
Ainda me lembro
Da última vez que me vim.
Contigo, sim!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 10 de março de 2017

Sou meio desvitalizado

Acho que foi naquele momento.
Quando a morte nos leva
Vida.
Parte da nossa
E que nos foi concedida.
São os nossos que partem
E que nos levam
Sem culpa
A vida que deles
Nos foi emprestada.
Não tenho a força
Que me exigem.
O amor que posso dar
É meio desvitalizado.
Elegante no trato
E embelezando
O retrato
De com quem me cruzo.
Não tenho força
Para o abuso de confiança
E o instinto animal
De que de mim
Reclamassem.
Essa vida perdi-a.
Só tenho bem
E paz para oferecer.
Não ultrapasso esses "nãos"
Todos
Que aproveito para não insistir.
Se fôssemos
Estaríamos.
Cruzamo-nos
E sempre fui melhor
Como amigo.
Deixem-me ser homem
Por mim.
Quando morreu alguma vida
Também perdi medo
À morte.
Solidão está longe da morte
Porque estou perto
De ser o que devo
Ser para mim.
Falta-me vida.
E essa culpa
Só pode ser vivida assim...

VAz Dias

#palavradejorge

Chegou o Sol

Vem um raio de sol,
Um sorriso de primavera
E logo os sentidos
Se adensam
Para a beleza.
Tanta!
Seja ela mais menina
E fresca como as manhãs
Ou mulher de valia
E sabedoria
Com a beleza
Do sol a se pôr.
Mais magra e fininha
Ou redonda nas formas
De um homem
Se despistar.
Vem a primavera
E somos todos uns tolos.
Fica a elegância
Encasacada no armário.
Bolas de naftalina
Para se guardar para lá
Do verão.
Vem sol e as mulheres
Matam o nosso bom senso
Com meia cajadada.
Mostra-se a pele
A forma
E o homem já não pensa
Nada.
É só instinto
E na razão mais uma
Bordoada.
Mas é tão bom
Mesmo que se esteja
Só de olho
No tempo a passar.
Ainda é inverno
E o sol,
O prenúncio de tudo
O que é bom
Começa a alvitrar.
Mulher é inverno
De um homem se
Desencontrar.

VAz Dias

#palavradejorge

Distancia-se a Gente

Já não sei porque
Escrevo.
Fizeram-me fraco.
Da escrita fiz-me forte
Para depois ir fraquejando
De novo.
Repudiam-me graciosamente.
Sou uma princesa
Numa redoma de vidro,
Intocável
E sem calor.
Branca.
Azulada
Se torna a pele
Do nervo.
O erro da experiência constante.
O desaparecimento
Humano
Traduzido em palavras
Infinitas entre eu
E tu.
E todos.
Estagnado
E perdido no céu.
Estrela de centelha
Na imensidão de estrelas.
Ar parado.
Poemas são poeira cósmica
Que enchem livros
Das nossas memórias.
Fizemos o tempo.
Longo ou curto
E eu fiquei para aqui
Agarrado às palavras
E à velhice do ser.
Já era e enchi-me
De juventude com a alegria
Dessa maioridade.
Mas foram-me envelhecendo.
Talvez fossem as palavras.
Ou as pessoas.
Ou os amores
E as desventuras.
Peito cheio
De cansaço.
Esvazia.
Enche.
"Que cansaço!"
Era tudo mais simples
Se não soubesse.
Era tudo melhor
Se soubesse fazer melhor.
Só sei talvez escrever.
Por desabafo.
Ou nem isso.
Já não sei
Por que
Escrever.
Se ao menos amasse...

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 8 de março de 2017

Meninos de sonhos

Eu sou um rapazito
Que por ti
Ganhou esse epíteto.
A bondade
Que vem da ingenuidade
Faz-nos intemporais
Mas em meninos.
Menina linda
Das linhas harmoniosas
E do jeito
Desajeitado
Com tanto jeito.
Vou vendo o tempo
Fazendo-nos iguais
Mas no intervalo.
Não posso conquistá-lo.
Nem esperar seria de
Homem.
É aquele momento
Em que um beijo fica
No anseio
E nos pensamentos.
Todas as tuas palavras
Foram beijos
Que guardei.
Leva o vento
Do sonho.
Sonhei, não foi?
E que belo!
E que perfeito!
Éramos miúdos
Do mesmo tempo
E tu beijaste-me
Como eu
Sonhei.
Assim mesmo
Sem ser...
Foi perfeito!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 7 de março de 2017

Natureza Nossa

És a busca constante
Do meu querer.
Fui oferecido ao mundo por
Ti.
Dás vida.
És natureza
E consciência até que
Eu encontrasse outras
Que se aproximassem
Da vida que por mim deste.
São as outras que
Me foram prolongando
Vida.
Das mais importantes
A que a prolongou
Em carne
E sangue de nós
E de si.
A filha.
A que cresceu
E iguala
A vida da que me deu
Vida.
A mãe.
A mãe dela.
E todas as que pude
Amar.
As que pude beber
Das suas vidas
E lhes entregar um pouco
De tanto
Da minha.
Todas as que por bem
Vieram e ficaram.
Sou mais eu
Porque existem.
Sou mais vida
Porque vivem.

Natureza profícua.
Feminina.
Vida.

Mulher,
Feliz Dia dos Dias!

Deixa-me ter saudades só de ti

Deixa-me ter saudades só de ti.
Para que todos os outros
Encontros,
Todas as outras paixões
E todos os outros amores
Tenham feito sentido.
Deixa-me ficar aqui
Por instantes
A ti recolhido.
Ouvindo a tua
Voz
Que ficou aqui alojada
No meu ouvido.
Não foge e não quer
Mais
Sair.
Falei da falta
De ti sentir.
Uma falácia
Sem nunca termos
Estado juntos.
Falácia?
É estar sem que
A outra seja
O que de nós teve.
Tiveste tudo de mim
E ainda mais
O que de lá desencantaste.
És especial
E isso talvez baste
Para o que devia ser.
Tenho sempre saudades
Tuas.
Está a entardecer.
Saudades
Até da vista
Se perder
E no peito se recolher.
Beijo
Com saudades
Nesta distância
De te querer ver.
Vou ouvir a tua voz
Para que volte
A acontecer.
Vou perder-me de saudade
Pelo anoitecer.
Brindar com outras...
Alhear-me
E voltar aqui
Sozinho.
Já sei que é o que
Vai acontecer.
Não sei de outra maneira
Fazer.
Vou ter saudades.
Tu sabes...

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 6 de março de 2017

Se tivermos sorte

Se tivermos
Sorte
Descobrirás
A riqueza que tenho.
Um fundo sem tamanho
E de tanto para dar.
Se tivermos sorte
Descobrirei
Que o teu é infinitamente
Do mesmo género.
Se tivermos sorte
Terei feito com que
Descobrisses isso em ti,
E todo espólio mundano
Terá tido relativo valor.
Não sou abastado
De bens
Mas tenho este bem
Tão pouco quantificável.
Sou amável
E assim está bem
Se também preferires.
Sou só rico
No invisível.
É o que para ti tenho
Sem que tenhas
De pedir.
Sou o mais rico
Dos poetas
Se quiseres pelo menos
Descobrir.
E se tivermos sorte
De o decobrir um no outro
Terá sido amor.

VAz Dias

#palavradejorge

Poesia de Risco

Não resisto a isto.
Poesia de risco
De fazer desaparecer
Ou encontrar um tesouro.
Nem tudo o que reluz
É ouro
É certo.
Mas há brilho que me leva
A escrever,
Pintar
E ser o maior
Aventureiro
A fundo perdido.
Vou lá
Com tudo o que
Um poeta pode fazer.
Tonto e destemido.
E será com tudo
Ganho ou perdido.
Ser poeta é a viagem
E não o sucesso.
Traz-me de ti
É tudo o que peço!

VAz Dias

#palavradejorge

Colhi uma flor dos tempos perdidos

Primeiro perdi a visão.
Ela tinha já visto a beleza
Que precisava.
Tinha-la alimentado para sempre.
Depois perdi o olfacto.
Sem alguma vez nos
Termos cruzado senti-me
Num campo aberto
Com cheiro a verde natureza.
Perdi a audição
Porque escutavas a mesma
Canção.
Não preciso de saber mais
Nada senão isso.
O sabor foi sempre
Aquele que insistiu
Em fugir
Porque esse seria
Sempre na próxima
Que nos encontrássemos.
A fala por
Não te poder ouvir
E por me roubares
As palavras mais belas.
Guardei-as em poemas
E tenho o tacto
Para me manter agarrado
À possibilidade
De um dia sermos
Um todo.
Em todos os sentidos!
Colhi uma flor
Dos tempos perdidos.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 5 de março de 2017

Solidão desperta

Sabes que não me importo
De aqui estar só.
Tenho a força
De cem leões
E o tempo que aceito.
Mas caí hoje
Num intervalo do sono.
Despertei para uma solidão.
Toda de todos
E de um mundo
Nestes minutos.
Infindáveis segundos!
Cruéis!
Sinto a solidão de todos
E a tua acompanhada.
E aqui longe
Não posso fazer nada.
E eu aqui longe de mim
Sem a força de um leão
Por esta dor
Arrebatada.
Estou só, com o meu
Corpo.
Só, com o meu desamor.
Só, sem sequer, o meu mundo.
Morto em cada segundo
Que em diante se perde
Sem nos aproveitarmos.
Sem juntos nos deitarmos
E calarmos os corpos.
Estamos mortos
E não nos tratamos.
Estamos longe
E absortos.
O teu silêncio
E a minha boca
Amordaçada.
O teu amor
E o meu corpo morto.
O teu corpo
E a minha emoção
Inacabada.
Não adormeço...
Não sonho nada.

VAz Dias

#palavradejorge

Fogo Desnudado

Cada vez que te desnudas
Arriscas uma desventura
No traço em que te imagino.
Deixas-me o queixo
Caído
E o homem em mim
Perdido ao seu destino.
Queres ser mais do que
As que te circundam
E não tens de o fazer.
A beleza não vem
Do traço natural.
Vem de como
Te desnudas
E como nos alinhamos.
Mesmo que não me
Queiras provocar
Somos seres humanos
Dotados de vontades.
Eu apenas riscava
Corpos imaginários
E tu desnudaste-me.
Essa foi uma das tuas
Imensas qualidades.
E agora como fazemos
Para apagar
Este fogo?

VAz Dias

#palavradejorge

Ignorante é o Amor

Quando te tocava
O cabelo
A imaginação chegava
Lá primeiro.
Quando te beijava
Os olhos
Engoliam primeiro
O suco da tua boca.
O tempo foi de pouca monta
E nós nem pudemos fazer
Tudo a que um amor estava
Destinado.
Nem sei bem o que isso
Significava.
Nem hoje.
Porque ninguém
Me convence do que de nós
Seria
Nem o amor quer
Saber disso.
Reproduzimo-nos
E perdemos amor
Para dar aos garotos.
Depois não temos tempo
E passamos na relação
A ter mais momentos
Mortos.
Desamamos
E fazemos
Sacrifícios.
Acho que é isto.
Mas queria saber de ti
Primeiro.
E de mim.
Mas não temos vidas
Que cheguem.
Eu ainda me ando
A descobrir.
Sei lá o que é isso
Do amor
E se alguém não souber
Comigo
Pelo menos somos dois.

VAz Dias

#palavradejorde

Desagregados

Desagregámo-nos.
Poucas foram as vezes
Que de facto
Nos vimos.
Terei sido eu
De novo a acreditar
Por demais.
(Como sempre aliás.)
Não te lembras?
Eras tu nas outras.
Amor, estou farto
De me apaixonar por ti
E me repudiares.
Tomaste a decisão
Sobre mãos
E desagregaste-nos.
Mas porque ainda me culpo
Se a culpa não é de nenhum
Dos dois?
A culpa é querer-te tão somente.
Desagregado
Do tempo
Antes de ti.
Quando é que acabámos?

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 4 de março de 2017

Solidão dessa cidade

Corres esse teu mundo
De um lado a outro
Com tanto de ti
E pouco do outro.
Alimentas desencanto
Com toda a beleza
Que existe nesse canto.
Nesse sol
Que se faz propriedade
Dessa terra.
Um pacto contigo
Certamente.
Mas tem sol apagado.
Alguém não se acalenta
Do que ofereces
Desse lado.
Que triste fado
Saber disso e nada fazer.
Sei que me tens
Como demagogo
Da tua infelicidade.
Ela para ti não existe.
Vives na mais bela cidade.
Vives o sonho
Atingido.
Mas ultrapassado.
Estagnado
Como um sol
Eternizado em fim de tarde.
É belo de se olhar
Mas não acalenta.
Não pode.
Não é saboreado.
E tu tens tanto de sabor
Como de vontade.
(...tanta vontade!)

VAz Dias

#palavradejorge

Egoísmo de Ti

Eu sei que quando
Deixares de ser tu
Eu continuarei
A amar a esperança.
A tua beleza
Salta d'ela
Em ela
E noutra.
Amo a beleza
Que não envelhece
Mesmo que a pele
Alise
E perca a frescura
(Ou mesmo que não).
Amo a solidão
De reencontrar-te.
Mesmo que noutra.
Aprendi este egoísmo
Com a arte de amar
O que aí vem.
Devolvo o amor
De novo aos que o querem
Envelhecendo
(Apenas isso)
E a que têm direito.
Se algum dia me suicidasse
Seria
Por não encontrar
Amor em mim.
Como vou viver para sempre
Pode ser que queiras
Amar-me
E ser a mesma.
A mesma que eu ame
De tantas formas diferentes.
Senão amar-te-ei
Na esperança.
Em ti,
Esperança minha.
Amor em mim.
Egoísticamente
Em ti.

VAz Dias

#palavradejorge

Primavera Nossa

Não interessa se na primavera
Não me quiseres.
Canto com desabafo
Do que perco
Para a frente.
Sou um dramático
Com alma para aguentar
As partidas
Das investidas
Da minha paixão.
Morrer de paixão
É fácil.
Morrer dela
Antes de alguma
Ainda mais.
Ser poeta é ser
Ladrão de momentos
E actor coleccionador
De sangrias.
Bebemo-las pelo fim
Dos dias
E com o optimismo
Dos tontos
Rindo-nos sem a menor ideia
Do que nos faça feliz.
Mas há a esperança também.
Há aquele fiozinho condutor.
Aquela chama
Que acalenta a calma
De nos deixarmos ir
Em viagem tão nossa.
Tão segura quanto
"Perigosa" de aventura
Até que em alguma primavera
A nossa história
Com outra pessoa
Se faça.
E se não fizer
O tempo passa a nosso favor.
Sem temor
Nem com pressa.
Não há temor de solidão
Nem pressa de chegar
Ao que não é nosso.
Fica um poeta cantando
O que nos dias
A possibilidade adoça.
Venha a esperança
Se esta primavera
Fôr nossa!

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 3 de março de 2017

Poema escondido em Ti

São as palavras todas que deito
Fora
Em poemas que ficam de
Fora
Para que não saibas
Que ainda não está na nossa
Hora.
Poemas escondidos
Para que não te levem
Embora.
Porque ser poeta
É ser amaldiçoado com o fim
Do início e da palavra que fica.
Embora
Seja a forma mais sublime
De te chamar à minha
Orla
Mas de te dar mar de te afastares
E seguires viagem com outra
Pessoa.
Vou esconder o que por ti sinto
Neste poema
Porque é a única forma com que
Finto
O desejo que em mim se adensa
Do que de ti vem,
Mar de vir e lançar
Tudo o que sente o meu instinto
E tudo o que me falha à atenção
Também.
Vou esconder-nos neste poema
Tapando com mar
Este sentimento com a distância
Entre ti e mim
Que vai e
Vem...
vai
e
Vem...

vai

e



Vem!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 2 de março de 2017

Sol Inclinado

Bem sei que nesses
Teus silêncios
Se guardam amargos
De boca.
Solidão pintada de sol.
São os dias de inverno
Que se prolongaram
Em verões
E primaveras.
Anos de esperanças.
Não tas quero.
Acomodo-te apenas
A confiança para em mim
Te veres longe
Do lamento.
Disfarçadamente
Entretenho-te
Com os desenhos
Que o teu sorriso
Em mim
Sugerem.
Aceitemos a mentira
Da tua felicidade
Para que não se acabe
Esse teu futuro pintado.
Serei teu sol
Inclinado
Quando nos teus dias
Ele te parecer
Levado para outro
Lado do mundo.
De novo.
Eu serei um sorriso
Disfarçado
E inóquo.
Vem rápido.
Sou sol inclinado...
Vem rápido!

VAz Dias

#palavradejorge

Frequência

E adensa-se a vontade.
E a frequência
Com que se apresenta
Aumenta progressivamente
A cardíaca.
E não sei quem és
Se é que vens.
Queria muito,
Queria.
Mas não tanto
Para perder a minha razão.
Ela vai sempre ter
Com quem ama
De coração.
Verdadeiramente.
Por isso vou esperar
Com a vontade de correr.
Corro com esta
Velocidade
Que me bate no peito
(Restituído depois
De desfeito)
Se vieres...
Perfeito!
Senão
Corro com um coração
Para frente...
Inteiro!

VAz Dias

#palavradejorge

De volta ao Amor!

Despertei dessa doença.
Sofri o embate
Da indiferença
E a ignorância alheia.
Não culpei ninguém
Pois carrego uma pena
De vida.
Um desejo de corrigir-me
A ser melhor.
Sim,
Também no amor.
Amei-a
E perdi-o.
Agora quando me quedo
Enfermo
Relembro
O que também não quero.
Repetição de dor
E saudar o tempo novo.
Aventura de renascer.
Não morro.
Ao amor me devolvo.
Sim,
Ao amor!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 1 de março de 2017

Debaixo de um sol de candeeiro

Passava guiando
Tranquilamente a caminho
De casa.
(Sentir o conforto
E o descanso).
A noite era de Março
Convidando ao passeio
Na rua.
Mesmo que fosse tarde.
Mas para amores
De Março
Nunca se deve impôr
O retiro.
E aquele casal
Não o cumpriria.
Sentados debaixo
Daquele sol
De candeeiro
(Onde se corre
Junto ao rio que corre)
E onde o dia
Ainda dorme,
Sentavam-se ali.
Era amor recente.
De idade indiferente
Ao que o tempo
Desgasta.
Só ao tempo
Que dos dois se afasta.
O rio ia correndo.
Eu ia passando.
E o tempo deles ali
Estagnado.
O amor "intemporalizou-se"!
E acreditei por eles
Com o sorriso
Naquela curva.
Era amor
Que eu perdera
E naquele quadro
Que pintaram a quente
De um coração
Que a felicidade ignora.
Foram belos
E ainda acredito por eles.
Ainda agora.

VAz Dias

#palavradejorge