quarta-feira, 22 de março de 2017

Lamento dos Tempos

Critico estes tempos.
Perdi a noção
De quantas vezes
Enveredei em lamentos.
(Se estas linhas
Não preenchem,
Elas mesmas,
Esses requisitos.)
Mas não sei.
Perdemo-nos pelo caminho.
Aceitamos a facilidade
Com que as coisas
Nos são vendidas.
Cores para os olhos.
Promessas levianas.
Coisas sem sal
Com tanta vida.

Gostaria de ter sido
Um "sem-sal"
Onde nada se abate
Nem se excita.
Tudo muito morno
Morrendo à medida
Do que vamos
Vivendo.
Tudo tranquilo
E com resposta
Aprazível às circunstâncias.

Gostava de ser melhor.
Fechar os olhos
A tudo o que me perturbasse.
Ter mulher e filhos.
Acenar que sim a tudo.
Fazer tudo muito igual
Até à morte.

Mas critico tudo
Com vida a mais
Nestes gestos.
Nestes abjectos
Tempos
De tudo ser tão fácil.
Basta não ter opinião.
Estar morto
E fingir estar-se vivo.
Dizer sim quando se pensa
Não.
Dar um grito
E mudar o que morre
Confortavelmente.
Não é um lamento.
É apenas ter atenção.

VAz Dias

#palavradejorge

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