domingo, 30 de setembro de 2018

Uma Janela de Todas as Cores

Ficou uma janela
Aberta sobre
A memória.
Lá onde passam
As correntes
De ar
Que levam e trazem
Os sonhos.
Os que sonhei
Antes
E os locais por onde
Acabas por parar.
Eu sonhei
Isso tudo com as mesmas
Cores que trazes por essa
Janela.
E só é suportável
Porque tenho
O dom de sonhar.
De sair fora e chegar
Ao mundo
E a qualquer parte de ti
Sem me perder
De mim.
De me perder do meu
Mundo
E do meu amor por ti.
Sou a viagem por entre
A janela
Como o ar que não se vê.
Não me importa
Se não me vês.
Sonha-me quando não estou
Porque estou
A descobrir as cores
Todas
Para as teres.
Um dia.
Uma janela
De correntes
Desacorrentadas
De nunca.

sábado, 29 de setembro de 2018

Hoje!

Hoje não é o dia!
Nem todos aqueles
Em que há contrariedades.
Nem que seja
Um erro de perspectiva.
Ou até o ego
Ou a puta que pariu
Esta merda toda.
A vida é injusta
E essa santa aceitação
É história para a paz
Quando temos dias
Melhores.
Assim é fácil
E hoje não é o dia!
A compreensão para com
O próximo
Ou a sensatez
É coisa de acomodado
Ao pouco.
Aos preguiçosos
Da aventura.
Aos que arriscaram
Apenas a sair de casa
Para trabalhar
E voltar com um salário mísero
E vão até onde dá.
Viajam até ali.
Preenchem os dias
Com banalidades.
Mas hoje não é o dia!
Aqueles que desconfiam
De tudo e de todos
E que me fazem quase
Cair na mesma armadilha.
Só quem caiu e saiu
E caiu
E saiu à exaustão
Teve mão e pulso
Para esgravatar as entranhas
Do impossível.
E onde andam os diferentes
Iguais desta luta?
São poucos
E assusta.
Temos de andar aqui
A navegar neste mar
De tranquilidade
E um copo cheio
De tempestades.
Mas hoje não é o dia!
Esse dia do desprazer,
Do argumento para inglês ver,
Da falta de nervo,
Dos amansados no sofá.
Hoje é o dia
Para ir cometer o erro.
De voltar ao miúdo espontâneo.
À genuidade de tragar
O mundo numa só dentada.
De amar o corpo
A cara
E a alma toda.
Do desconhecido.
Da noite que vai para
O dia.
Da perda
E da conquista.
Da música alta e um pé de dança.
De fazer da doença
Uma risada
E morrer de seguida.
Porque a vida não é
Um emaranhado de coincidências.
É uma passagem
Onde nasces,
Vives o máximo
E desapareces.
Desapareces entendes!
Por isso
Hoje não é o dia
Para morrer
Nem ir morrendo.
Amanhã talvez,
Mas só sabes disso
Depois de fazer
A merda toda hoje.
Hoje é o dia!

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

Ver é ter-te!

Olhar-te é ter a certeza.
É ter a consciência
Que esta leveza
Vem de mim.
Pois aprendi a ver
Por mim quando
Não enxergava.
Não sabia ver a beleza.
Quando passei a ver
Vi tanto do mundo
Quanto se pode aprender
Das cores.
Depois olhei-te
E percebi mais do que
De beleza.
Tive a certeza que contigo
Aprendi
Como não deixar de ver.
Sei que se cegar
Terei visto
Tudo para sempre!

Palavras a Mais

Como eu gosto
De me perder
Nas palavras banais
Dos outros.
Aposto que não ouço
Mais do que
A beleza em que te
Reencontro.
Aposto que hoje
Te encontro nos meus
Silêncios propalados.
Aposto que não sei
Melhor do que
As histórias
Dos grandes poetas.
Mas o que interessa
A minha experiência
Ser mais pequena
Do que a sua
E as minhas palavras
Menores
Se para ti
Estes meus silêncios
Te chegam?

[Queria fazer quadras mas tenho palavras a mais. Estes são os silêncios que se expandem por demais. Lamento mas não me lamento.]

quinta-feira, 27 de setembro de 2018

Trago-te no Olhar

Bebo o meu café
Com duas mãos.
Seguro de um lado
A pega
No outro afago com
Dois dedos
Como que resguardando
O calor entre mãos.
Tu mordes o lábio inferior.
[É como olhas.]
Mesmo que não estejas,
Perdura assim
Pelo tempo
Até este calor que busco
Quando aqui não estás.
Não me esqueço de ti
Pois trago-te comigo
Como saboreio
O café.
Quente e com sabor
Mesmo sem estares presente.

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Espelho Espelhado de Mim

Vagarosamente
Os dias precipitam-se
Em direcção a ti.
Olhas-te ao espelho
Com as mãos segurando
O que é real,
Mantendo-te vertical,
Direito,
E as rugas a cavarem-se
De erosão
Como pediste.
As de expressão.
As de desilusão.
As do coração.
Em todas elas agora
Sabes que as pediste.
A luz fluorescente
Adensa mais a felicidade
Do que és e não foste
E o que querias ser.
Tudo atrás de ti
É plateia que não se vê.
Como nos sonhos
Em que sais à rua nu
E onde ninguém se importa
Senão tu
Que não tens pejo
De te expores
Em qualquer situação.
Mas tens um armário
De higiene
Onde guardas todo o material
De te limpares,
De te tratares
E de te redimires.
Penso rápido.
E logo se passaram 20
Anos.
Perdi menos do que ganhei.
Caminho a passos largos
Para o fim
E ainda não vou a meio
Da caminhada.
Aqui onde faço rugas
Porque ali onde sou
Espelhos
Espelhados sou infinito
Para desaparecer
Na infinitude de mim.
Nas rugas que se estendem
Numa luz tão
Dissidente de mim
E da escuridão que me envolve.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

A Túlipa do Sol

É só de mim
Ou o sol brilha
Cada vez que
Outra pessoa
Para ela também
Mira?
A beleza que se evidência
Num olhar
Atento,
Mas equidistante
Dos dois tempos?

Há beleza em
Quem tem palavras
Para descrever
Em verso
O que traz de berço.
A poesia é feita
Para jardineiro
Que afaga a túlipa
E que por si
Tem sol aceso.

Mas há beleza
Em quem
Perfuma de pétala
O brilho do sol
Aos que,
Poetas se achando,
Colhem o aroma
Como quem traga
E engole
O manjar de quem
Se vê no mesmo tempo.

domingo, 23 de setembro de 2018

Um gosto em desconhecer-me

Inconformismo.
Terapia da palavra
Como obscuro
Exercício
De me conhecer
A mim mesmo.
Os outros em mim.
O corpo,
Torpe,
Sabe mais do que isto.
Exalta-se de querer
Tudo.
Fome de tudo
E de engolir ainda mais.
Refreia-se.
A mente
E o bem seguram-no
E eu só já não
Quero ser o mesmo
De ontem.
Do que já tinha conhecido
De mim próprio.
Lanço impropérios
E divago na minha
Humanidade.
No destemor
De ser fraco.
No passado
Ao qual já não volto.
E lanço-me para lá
De mim
Sabendo que de lá
Voltarei
Alguém que queria ser.
Da minha qualidade
Em desconhecer
Os que sou.
Todos eles
E a aventura de viajar
Nessa minha incógnita.
Um gosto em desconhecer-me.

Cores quentes e verdejantes

Cai a tarde no rosto
E no esquecimento
Do cansaço.
O sol avista-se ao longe
Pintando copas
E soprando em
Brisas
Os beijos que me deixas.
Sinto-me fim de verão
Na paz de ti.
Sem invernos de descontentamento
Nem sol que se esconda.
Porque é em cada
Fim
O início dos tempos.
E um só dá lugar
Ao outro.
Como tu,
Que me deixas em mim,
Poeta
Dos teus inícios.
E ainda temos
Esse grandioso verão
Para os nossos serões.
Cais-me bem
Em tarde
E no amor
Que me descança.
Nas cores quentes
E verdejantes
Em que nos reencontramos.

sábado, 22 de setembro de 2018

A beleza dos fortes

A beleza que esta terra
Filma.
As histórias que se apagam
Da memória
De "um dia".
Fala-se em sedução
Enquanto os ponteiros
Avançam.
A urgência que pede
Pele.
As mulheres que ainda
Não sabem da sua maternidade.
A maturidade a escapar
Como areia entre dedos
Para se voltar
A verões passados.
O amor à flor
Da pele.
A paixão que se vem
E desaparece
No chuveiro.
Lava-se a humanidade
E a animalidade.
O desejo de replicar
Perdido na sobrevivência
Do ego.
O desespero.
O exagero.
A depressão.
Há cada vez mais beleza
À vista
E cada vez menos para ficar.
Todos a correrem
Atrás de todos
E a terra é ainda uma selva.
Não é o mais belo
Que sobrevive.
É a mais forte.
E todos se vêem
Em documentário
Replicados uns nos
Outros.
Menos dos fortes.
Dos desenganados.
Dos realizadores.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Fazer Amor de Sonhos

Não te encontrei
Quando os olhos
Tombaram sobre
O dia.
Não quis que ele
Começasse como
Poesia.
Deixei de te fazer
Musa e celestial
-Quando me pareces
Mais do que real
E tão vívida-.

Sei rimar
De noite.
Quando a carne,
Voluptuosa, busca
Conforto na escuridão
Que se aloja atrás
Da luz que descansas.
Guardo-me.
E da distância
A que me alcanças.
Quero ser mais do
Que escrivão de ti.
Ser real
Que agarra na caneta
Ou no teclado
E te canta de respiração.
Sem esforço
Nem presunção.
Só serenidade
De te ser parceiro.

Armei o corpo
Que se espreguiça
Para além de mim,
Na ideia de ti.
Na ausência
Que presenteias
As horas
Que ocupas os dias
E as noites em mim.

Acordei de ti
Porque a pele ainda respirava
A tua pele.
O sabor
Era de doçura
De açúcar tomado
Na pequena
Mas enorme
Presença tua.
As papilas são gustativas
Porque passaram
A degustar
Sabores
Como o amor pela
Primeira vez.

Despertei de mim
Num dia
Que não se queria
Mais poesia
Do que de ti.

A poesia que limpa

Escolho a poesia
Para me ocupar
A terrível passagem
Do tempo.
O intervalo entre nadas
A que estamos destinados.
Viver
Como se de um propósito
Isso se fizesse parecer
Para crermos.
A poesia
É o que alguns
Têm como fé.
É para onde eu vou
Depois de morrer...
Quer me porte bem
Ou não.
Já vou para o "nada"
E de lá vim.
Se calhar vim
Da poesia
E para lá volto.
Ou vou por uma nova
Que inventei
Para mim
Na sublimação
Desta sujidade
A que nos sujeitamos.
Como uma criança
Que brinca e se suja.
Brincamos
E sujamo-nos.
Inventa-se algo digno
Como a poesia
Para se desaperecer
Com dignidade.
Um asseio
Que depois não vemos.
Uma higiene
Para os outros.
Ficarmos
Com a folha limpa.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

Viagem no Tempo

O tempo que foge do tempo
por não ter idade de compreender
e por saber que se escoa.
E tudo o que o acompanha
pelo meio.
E eu como ele
sou engano de mim próprio
E o próprio caminho
De descoberta.

E pelo meio os outros
- tudo e todos que nos acompanham -
Que nos fazem distanciar
Do tempo
Ou de a ele voltar.

Tal como o tempo
sou eu também percepção
de mim
e da equidistância dos outros.
da felicidade
e da ruptura,
da rotina
e da aventura.

Será que o tempo
Tem a noção da sua
Infinitude
E da criança em nós?

sábado, 8 de setembro de 2018

Sem freio

Sei que é
Não ter-me no todo.
Sei que não é
Querer-me todo.
Sei que não
Me conheço
Tão pouco.
No todo.
E cai-te uma lágrima
E o meu mundo
Cava uma tempestade.
O teu queixo
Que treme
Porque arde.
Porque há-de
O teu mundo
Todo doer assim?
De perder ou
Não ter de mim?
É tão pouco
Acredita em mim.
É a parte do meu mundo
Que corre sem freio.
Sem medo do fim.
Não é ter medo
Nem receio.
É ir.
Ir com tudo
O que se tem
Nesse pequenino
Mundo dum
Universo sem fim.
Sem medo.
Sem receio.
Indo!
Acredita em mim.

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Um só peito

Somos gente
Que se cruza
Com ânimo
Que se vai perdendo.
Os sorrisos
Que vão escondendo
Não sermos
Para sempre.
De sermos diferentes
E bons e maus.
De sermos expoentes
Máximos
Da experiência da
Nossa humanidade.
Se perdemos
Ou se ganhámos
Do que perdemos
Ou só ganhámos
Agora aprendemos
Coisas novas.
Cruzamo-nos
Com pessoas.
Silêncios.
Poemas
E esperanças.
Sorrimos
Do que nos lembramos
Sorrir.
Sorriem-nos
E nós levamos
O que podemos.
Se pudermos.
Se quisermos.
Deitamo-nos de mãos
No peito.
Guardando
Um coração
E a vida que ainda queremos.
Cruzamo-nos.

Apneia

Só me apetece
Adormecer de mim.
Tentar calar os
Musculados detratores
Que tenho nos outros "eus".
Os ateus das religiões
Que fui criando para mim.
Os descrentes
Que deixaram de amar
Como eu
E que me tentam
Ruidosamente acordar.
Este sonho é meu
Mesmo que dormindo
Aos cochichos.
Se tiver de amar assim
Contra mim
E contra os meus "eus".
Sou um nicho de mim
Mesmo ficando a sós.
E todos nós
Lançaremos fogo
De artifício
Dos nossos sonhos
Frustrados.
Uma festa de final
De sonho.
E no final era só sonho.
Era só ser dono
De sonhos de mim.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Desavergonhada Poesia

Por hoje
Desenvergonho-me
Da poesia que corre
Em mim.
Que se esconde
Nas pessoas
E nas pessoas
Que me são estranhas.

- No que não conheço -

Mesmo naquelas
A quem fui dado
A conhecer.
Na heresia de ser
Tão imperfeitamente
Eu.

No desastre
E na glória das minhas
Perdas.
Faltam-me metáforas
Que tão bem outros
Desenlaçam.
Foi a vontade de ser puramente
Original
Que me arruinou
O projecto.
Ou então o subterfúgio
Da ignorância
Casada com a preguiça
Dos nossos tempos.
Sou demasiado impressionável
Às coisas
Mais pequenas.

Vivo fora dos livros
Mas preciso das palavras
Para fazerem sentido.
Mesmo não percebendo.

Onde ficou tanta
Vergonha por crescer?

A poesia escondeu
Isso de mim.
E foi o melhor que fez.

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Salga em mim

É salgada a tua pele.
É mais do que
De mar
E salga dela.
É mais do que terra
E de areia nela.
Ela é das mãos
Que puseste
Na labuta.
É da pele 
Que sua
O que dás de
Coração.
Se hoje chove
Chove o sal
Que a tua pele
Transpirou.
É a terra que
Volta ao céu.
É a beleza
Do teu tom de pele
Que arde
Dos dias quentes
Que desaparecem.
Que se guardam
Nas rugas
Que expressaram
O que a vontade
Impele.
Pelares
É mudares de estação.
É apeadeiro
De mim
Esperando por ti.
Em cada dia
De ti.
Em cada
Mão de amor
E trabalho
E luta
E conquista
E perda
Da pele que salga
Em mim.