Vim ao mundo
aparentemente
inteiro.
Talvez o mundo
e eu durante uns
tempos
nos tenhamos convencido,
inteiro.
Mas também devo
ter finado
a meio da outra
vida
e assim, meio
me consegui aperceber
a meio da vida
que levo agora.
Sou meio
de tudo o que os outro
dão por inteiro.
Sou meio para
chegar aos outros
inteiros
de outros inteiros.
Sou tantos meios
para me convencer
inteiro
e vejo
que entre os bocados
todos
a vida que ficou
do outro lado
nunca será recuperada.
E olho e vejo
todos celebrando as suas
inteiradas sortes
e agradeço
como quem vê
um filme de si
e das limitações
com que veio a este
mundo.
Sou fragmentos
de uma vida que conheço
e somados
sou ainda assim metade.
Julguei-me culpado
mas a pena de morte
jamais me levaria
à outra vida
que apenas desconfiara.
Resolvi ficar por aqui
feliz pelos incólumes
meus,
aos quais completo,
ainda não sou bastante.
E só consigo ser
feliz assim
ou meio triste
para não desistir.
Para não perder
a única metade
que apenas
e ainda conheço.
Talvez me reste uma meia
vida.
Talvez viva para ver-me
inteiro como os outros
ou nos outros
inteiro.
Ou já sou neles
inteiro
e a culpa
de ter morrido
ainda não a ter
cumprido por inteiro.
domingo, 30 de dezembro de 2018
Meio Mundo Inteiro
sexta-feira, 28 de dezembro de 2018
Fim. De Tarde.
Aceitar
fechando um capítulo.
Capitular e deixar
o tempo correr
até estagnar
sem que nós
estejamos presentes.
Sem que possamos
ser os pretendentes
de mais.
Lutar é um gesto
nobre se sobrevivermos.
Não podemos.
Não posso
e tu és imensa.
E eu tão pouco
de ti
e demasiado
para mim.
Tenho de me dividir
multiplicando-me
em vidas
e noutros tantos
em que me desconheço.
Não peço.
Não espero.
Não quero.
Só desaguo.
Corro lento
por dentro
para o mar de um
mundo de lamento
e no entanto
também em contentamento.
Bipolar ao quadrado
infinitamente
fora do quadrado
libertado no espaço.
Estou livre
mas agarrado
à impossibilidade.
É tarde
e sempre serei
sol de fim de tarde
que aquece mais
a esperança
do que o dia
seguinte.
Pedinte
de finais
felizes
e de locais para
definhar.
Acordar caindo
como orvalho
que seca
de repente.
A maior felicidade
é conseguir
chorar
e no entanto
sou foz
e voz
dos contrários.
Estreito os ovários
e dou à luz
de novo
a esses fins de tarde.
domingo, 23 de dezembro de 2018
contas de natal
deixei de ver magia no natal. sobretudo pela hipocrisia e o consumismo. as fotos de instagram a propalarmos a nossa gula pela fome no mundo. guardei na inocência das crianças alguma utilidade da época. jamais lhes diria que não existe o natal mas dir-lhes-ia que a Coca Cola faz mal e um dia saberiam que desejar feliz natal seria um aviso para o absurdo da época, sobretudo representada por adultos. um dia saberiam por si dar de comer a quem tem fome. e aí as luzes brilhariam no sítio certo. não nas árvores mas nos olhos alimentados de quem não sabe acender uma luz.
não nas árvores porque assim elas não no-las pediram.
e jamais nos olhos de quem tem demais para ver. fartura de pobres de espírito e a reserva de que um dia nada disto nos serve. aproveita-se o momento para desejar aos que mais se ama esperança e a inocência duma criança.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2018
Ponto sem retorno
seguro o telefone
diante de mim.
resumo
o dia desgraçadamente
enquanto definho
na lentidão da mudança.
uma santa aliança
corrupta
e que faz de todos nós
alvo de chacota.
prefiro gritar em vez
de rebentar em lágrimas.
não há amor.
não há horas
de sono
que acalmem
o espírito.
um corropio de emoções
hermeticamente
guardadas
para não matar
o tempo
e a possibilidade
de voltarmos a
ser.
pauso.
faço-me ansiolítico
e droga recreativa.
faço dos outros
tema de conversa
e do mundo
com eles
e com o resto do mundo.
e com o resto
que ainda existe dele.
os valores caralho?
não em numerário
nem em pressuposto
de poder.
os valores
que não nos deixam
morrer nos olhos
do mal?
os valores caralho?
nem amor
nem o caralho.
nem ninguém para foder.
nem presépio
nem mulher.
nem mãe nem
pátria.
só párias
e o "salve-se
quem puder!"
não tenho mão
para isto nem
vontade.
queria dormir
e nem sonhar.
e os nossos filhos
que precisam
mais do que
só se sustentar.
e os valores
caralho?
o que vão eles
fazer com os que
lhes demos?
isto está a acabar
e ninguém se importa.
vamos
escorregando
em tapete rolante
para o engano.
para o último
ano
dos nossos dias.
tenho as mãos frias
e o corpo quente.
febre.
peste.
fere.
agreste.
fim.
ponto.
(batemos no fundo
com estrondo)
quinta-feira, 20 de dezembro de 2018
casa
preciso de acalmar
os meus fantasmas.
tranquilizá-los
após tentativas
vãs de os deixar
debaixo da cama.
habituaram-se a viver
cá em casa.
deixei de lhes dar
importância
(como as alcunhas
que nos querem colar
e não chegam
a ganhar pé).
deixei de dormir
tudo
para lhes fazer companhia.
eram os cá de casa
e que desfeita
seria não lhes
dar atenção.
apoderaram-se
disto
ignorando que eu
deixava.
no amor passa-se
o mesmo
e a casa
é um abrigo,
para qualquer um
de nós fantasmas.
terça-feira, 18 de dezembro de 2018
Sou o amor de todos
não são essas
caras todas
nem esses corpos
mais ou menos
lascivos.
nem tão pouco
a variedade
que este mundo
oferece em espécies
à nossa animalidade.
é a humanidade
que me resta
desse amor
contínuo
por tudo
o que mexe
com vida
e beleza mundana.
mesmo
as coisas
inertes
que me fazem movimento
na letra
e na palavra.
que forma cantilena
e me agarra
à aventura
de continuamente
me perder
na rua
dos outros.
eu sou rua
e movimento
a rodos
e no silêncio
sou todos.
e amo o mundo
que me ama tão
pouco num(a) só.
somente
tudo em todos
até ficar só
e morrer de novo.
(antes morrer de novo
do que morrer
de velho)
domingo, 16 de dezembro de 2018
bondade ou bondage?
sofremos.
todos temos contos
e contas a desajustar
a história
que nos foi contada.
a minha experiência
é tão inútil
quanto à do próximo.
tão irredutivelmente
desnecessária
e anónima.
chora-se agora
e daqui a pouco
de orgulho.
desenquadrei-me dessas
histórias tão certas
para os outros.
ousei ser eu
e acabei comigo.
para mal dos meus pecados
e por amor a eles.
deus os livre de serem
livres.
sejam a história
dessa glória
e penitenciem-se por
nós!
por já não termos voz
para agradar o além.
e a ninguém melhor
do que a nós
como gente menor.
sois melhores!
haja gente límpida
para preencher
os céus
que dos pecados
sei bem dos meus.
o dos outros?
pois bem,
não sou deus
nem merecedor
dos seus louvores.
fico-me com os meus
horrores
e a sua tão afirmativa
certeza.
a beleza da sapiência
suprema.
cá me aguento
pequeno e terreno
na mesma.
as pessoas
e os seus temores.
os passados
e os tremores.
sem futuro
e os amores.
sexta-feira, 14 de dezembro de 2018
Jogar Dominou
querendo ou não
demonstro aqui
quanto folgo e desejo
que o arrojo
tenha trazido tão pouco.
esses poucos
que em tantos
se dividem.
multiplicar horas
de sono
e sonhos
são pratos servidos
de cozedura lenta.
fome de tudo
e engolir-te em seco.
peço-te que não sei
quem és mais do
que a mim próprio
possa tentar saber.
mesmo tu que sempre
aqui estiveste
desde antes
ter conhecimento
de em mim sentir.
sei lá o que sou e o que
sinto
se ninguém que eu veja
se assemelha a mim.
e ainda bem.
e ainda mal
porque eu só sei
imitar de muitos
para ser um pouco
de mim.
eras capaz de amar
alguém que não conheces?
e eu que ainda
sei tão pouco assim.
quinta-feira, 13 de dezembro de 2018
pássaros livres
no céu passeava
a ave pelo dia a noite.
eu adormecia
sem saber
quais as minhas horas
de descanso.
nas asas estrelas
e nas penas
a negritude
de quem se assume
na luz.
e eu sem saber desligar
tanta luz
na negritude
dos outros.
revirei os olhos ao pecado
e fitei a morte.
tudo por atacado
comprei
um pássaro
para o soltar.
amor é isso.
segunda-feira, 10 de dezembro de 2018
Além Sempre
Recebo-te agora e para
sempre.
Todo o tempo
de um mundo
e mais além,
além do que realmente
vemos.
Além de ti e de mim.
Mas sobretudo
além de ti.
Eu não peço nada
senão o que quiseres
de mim.
Ama-me com todas
as tuas forças
para esse "sempre"
ser aquele que imaginas
e para além
do que conheces
em ti.
Sempre te irei amar
senão o que conheço
do além
(que não conheço bem)
mas que me fazes
ver. crer. me perder.
E se te foste embora
amando-me
mais fui eu
amando-te.
Apostando nesse além
que ganharia ao sempre.
E foram os dois além
do que sempre
não sabendo onde acaba
e onde começou.
Este amor
nunca foi mais do que
além
mas foi mais do que sempre
e eu não se idar menos
do que a vida
mesmo que tenhas ficado
com a tua.
Sobreviverias a mim
por teres a tua vida.
Muito mais de sempre.
Além.
Além Sempre.
sexta-feira, 7 de dezembro de 2018
Suspensos rápidos
ficámos a meio.
separados um pelo
o outro
do outro lado
um do outro.
ficar seria pior.
ficar seria melhor.
errar seria certo.
é certo que voltaria
assim ser.
ser o amor separado
pela mesma pessoa
multiplicada
em dois.
foi.
será.
não parece ter fim
mesmo do outro lado
que definha
mas que é melhor
não ver.
que definha deste
lado
mas é melhor não dar
a perceber.
será tudo.
será nada.
mais do que alguém
foi mais do que é.
será.
será sempre até
que alguém
faça melhor com menos.
e que passe o tempo
e esse menos seja
mais.
é um desejo.
um enviado
cortejo
ao destino
para se fazer valer.
ou eu para
descrer de tudo
e desaparecer de mim.
voltar apenas
quando estivermos
noutra vida.
quando a vir feliz
sem mim.
melhor.
imensa
como sempre a
conheci.
quarta-feira, 5 de dezembro de 2018
Na sombra da luz
fui dar uma volta
em mim.
dizia-se ser
uma época especial
e fui ver como
era esse lugar
luminoso.
já não sei o que é
essa luz.
esse imenso sabor
que a luz traz aos demais.
havera um tempo em que
encantado
e infantil
apreciava essas sensações.
mas perdi isso
ou talvez tenha
me resguardado da plasticidade
do artifício
que vem do mundo
para pintar-nos
uma ideia de felicidade.
virei para dentro
e até na penumbra
podemos encontrar conforto.
fazer das penas
descanso
e recobro.
mudei.
deixei para as crianças
essa luz
e dando-lhes um pouco
de luz natural.
deixei a criança de mim
brincando com elas
e presente
ser o da esperança,
deles num futuro
real.
fui dar uma volta
em mim
e lá encontrei as urnas
onde enterrámos
as luzes que desligaram.
ou fugiram para o céu,
para lhes inventarmos
brilho nas estrelas
e não desligarmos
logo também.
desliguei do artifício.
da correria
e de cortar árvores
e de inventar as de plástico.
desliguei a luz
para ver pela que existe.
seja mais feliz
ou triste.
vi pela noite
e dos dias solitários.
onde nos encontramos
e perdemos.
onde o amor só vale
se se não se vir...
mais do que lhe
prender entre mãos
com luzinhas intermitentes
criando sensação.
fui afastar-me de tudo
para ver as luzes
ao longe e vê-los
contentes.
descrentes quanto
presentes desta minha
inibição.
projectei para bem
fundo o que poderia
ser desilusão.
mas não!
escolhi ser assim
porque desliguei
[intermitentemente]
quando se ligaram
as luzes do artifício,
do alheamento,
das compras
e da televisão.
quando essas luzes
enfim,
também se desligaram
de mim.
terça-feira, 4 de dezembro de 2018
da boca as palavras voaram
um dia levo-te ao céu.
ao céu da boca
onde as palavras do futuro
vivem. onde para te encontrares
basta voares
com as tuas asas. onde para
seres beijada os lábios
são o dono das tuas palavras.
o teu único dono. ou dom. ou voo.
domingo, 2 de dezembro de 2018
Insípida
Vem um mal da alma
e um sabor a nada.
Bebo como se tudo
fosse água.
Como se nada
valesse a preocupação.
(Afinal vamos morrer).
Mas viver se calhar
é para sentir e sofrer.
Fazer bem e
sermos tomados como
água,
insípidos e vastos.
Fazermos mal
e sermos lembrados
de ressaca.
É da parca presença
espiritual
de se ter tomado tudo
e isso ser reprovável
ou como ensinamento
de perdão.
"Perdão? Não cortaste
tu a linha de comunicação?"
E o mal dos outros
é aceitável.
Como água que vai
e na estória do karma
voltará.
Mas o quê?
"Querer-te mal pelo
bem que não me fizeste.
Pelo vendaval que
engolirás em chuva
que aí vem?"
Não existe justiça divina
nem a humana
vem a tempo
ou tu da minha.
Que falta de estima.
Que falta de gosto
a minha.
Dores de alma
como quem bebe água
é um fim a que
ela se destina.
Bem e o Belo
A beleza não vem de dentro.
Ela cultiva-se pelo que vimos de fora.
Ela vem do bem dos que nos querem bem.
Ela reencontra-se no bem
Que o coração tem para ser belo.
O bem e o belo encontram-se.
Tens bem e belo.
Para mim, meu bem, esse é o mais belo.