domingo, 30 de dezembro de 2018

Meio Mundo Inteiro

Vim ao mundo
aparentemente
inteiro.
Talvez o mundo
e eu durante uns
tempos
nos tenhamos convencido,
inteiro.
Mas também devo
ter finado
a meio da outra
vida
e assim, meio
me consegui aperceber
a meio da vida
que levo agora.
Sou meio
de tudo o que os outro
dão por inteiro.
Sou meio para
chegar aos outros
inteiros
de outros inteiros.
Sou tantos meios
para me convencer
inteiro
e vejo
que entre os bocados
todos
a vida que ficou
do outro lado
nunca será recuperada.
E olho e vejo
todos celebrando as suas
inteiradas sortes
e agradeço
como quem vê
um filme de si
e das limitações
com que veio a este
mundo.
Sou fragmentos
de uma vida que conheço
e somados
sou ainda assim metade.
Julguei-me culpado
mas a pena de morte
jamais me levaria
à outra vida
que apenas desconfiara.
Resolvi ficar por aqui
feliz pelos incólumes
meus,
aos quais completo,
ainda não sou bastante.
E só consigo ser
feliz assim
ou meio triste
para não desistir.
Para não perder
a única metade
que apenas
e ainda conheço.
Talvez me reste uma meia
vida.
Talvez viva para ver-me
inteiro como os outros
ou nos outros
inteiro.
Ou já sou neles
inteiro
e a culpa
de ter morrido
ainda não a ter
cumprido por inteiro.

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