seguro o telefone
diante de mim.
resumo
o dia desgraçadamente
enquanto definho
na lentidão da mudança.
uma santa aliança
corrupta
e que faz de todos nós
alvo de chacota.
prefiro gritar em vez
de rebentar em lágrimas.
não há amor.
não há horas
de sono
que acalmem
o espírito.
um corropio de emoções
hermeticamente
guardadas
para não matar
o tempo
e a possibilidade
de voltarmos a
ser.
pauso.
faço-me ansiolítico
e droga recreativa.
faço dos outros
tema de conversa
e do mundo
com eles
e com o resto do mundo.
e com o resto
que ainda existe dele.
os valores caralho?
não em numerário
nem em pressuposto
de poder.
os valores
que não nos deixam
morrer nos olhos
do mal?
os valores caralho?
nem amor
nem o caralho.
nem ninguém para foder.
nem presépio
nem mulher.
nem mãe nem
pátria.
só párias
e o "salve-se
quem puder!"
não tenho mão
para isto nem
vontade.
queria dormir
e nem sonhar.
e os nossos filhos
que precisam
mais do que
só se sustentar.
e os valores
caralho?
o que vão eles
fazer com os que
lhes demos?
isto está a acabar
e ninguém se importa.
vamos
escorregando
em tapete rolante
para o engano.
para o último
ano
dos nossos dias.
tenho as mãos frias
e o corpo quente.
febre.
peste.
fere.
agreste.
fim.
ponto.
(batemos no fundo
com estrondo)
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