quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

Na Alma da Mão

nada é teu
nada te pertence
e a vida é efémera
como a areia
que se precipita
pelas mãos
pelos dedos
ou pelo deserto
em que te fizeste
caminho.
não se permanece
sozinho
quando a vida é
tomada com goles
lentos e sedentos
de amor. esse amor
que fica gravado para
sempre e te liberta
para sempre.

ama como o vento
que desenha
com tempo a arena
a céu aberto
desse caminho descoberto
e desconhecido.
as mãos trémulas
passam a ser guardiãs
do coração dos
outros até voltarem
a ter peito e pulmão
para socorrerem a
quem outros lhes falta
a mão
o abraço
o traço da terra
que começa o céu
e onde o fim
é esse começo.

não nosso
mas do senhor
da natureza
do acaso.
faço das palavras
alheias
as que escritas
nas goteiras
nas trincheiras
ou no sopro do ar
roto nas persianas
nos fazem pequenos
do tamanho da efemeridade
humana.
para sempre
nas palmas das mãos
onde um dia o
coração se albergou
para seguir viagem.

terra de ficar mais
do que o plano
do que um qualquer ano
ou qualquer outra
medida que cativa
a mais sentida permanência.
mais tremor no coração
e memorizado mapa
de voltar
das andorinhas
e do instinto.
sinto muito
tudo o que não cabe
nas mãos
no peito
e nos planos
que guardavam
outros
planos para mangas
leite de côco
e plantas medicinais
de outras
segundas núpcias
ou terceiras idades.

obrigado é agradecimento
de voltar
e respeito de cantar
com o sorriso
a cada reencontro.
parti
voltarei
para te lembrar como
é bom recordar
em cada
partida a permanência
nessa linha da vida
que levanta destinos
na palma da mão.
na calma do coração.
na alma da convicção.

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