terça-feira, 10 de dezembro de 2019

PRESO-ARBÍTRIO

pulmão de acordeão... velho
semi-roto mas abafado.
a música é um momento
desalinhado e o amor
não vive ali.
já não há folclore
da infância.
já não há beijo atrás
da igreja.
deus também não foi
à festa
nem veio tocar ao absurdo.
deixou-nos escolher.
"preso-arbítrio"
de soltar cacofonia
desmazelada na rua
deslavada.

deus não asfalta nada
nem o homem sabe
para onde vai.
e eu sigo no mesmo
caminho
com o pulmão
encarcerado como
acordeão sem ar.
dissonância
de num homem viver
criança ingénua
na terra dos crescidos.
desterrado
e para lá de nós
ser um tom errado.

caminho lado a lado
com a ideia do futuro
e eu ligeiramente
atrasado.
um dia tocarei no teu
casamento.
talvez ao teu lado
talvez ausente.
depende se deus
veio pavimentar
o chão onde o meu
pulmão se sentiu
incoerente
e tocou tantas vezes
quantas as vezes
te silenciaste.

era eu do outro lado da
porta
tendo saudades do futuro.
acordei assim
no peito
com um susto
querendo dar-te tudo.
nem que fosse caminho
para onde o homem
não sabe deslocar-se.
e o peito
pesado
é um acordeão arfando
de desejo. toca o desejo
de madrugada.

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