quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Dádiva

Receio que todos
Os meus receios
Em relação ao amor
Se tenham desvanecido.
Ensinaram-me as pessoas
Que me deixaram
Pelo meu próprio caminho.
De agarrar
Todo aquele amor de pulmão
Que me enchia
E soprava em querer,
Em tanto amor
Lhes querer,
E encher de novo o peito.
Mas ensinaram-me que amor
Não era nada daquilo.
Não é acertar com o que nos
Parece mais bonito...
Mais aprazível.
Não é ficarmos uns com os outros
Por exclusão de partes
Ou porque se criam
Naturais enlaces.
Não é nada disto
Se percorremos livres o caminho.
Se formos nossos.
Se formos poema
De oferecer a qualquer um,
Indiscriminadamente.
Sem nada preparado
Antecipadamente.
É dar.
Oferecer o melhor da gente.
E fica o mundo contente.
E se isso for bom
Tem de ser suficiente.
Amar é indiferente.
É de todos.
Nosso para
Todos.
Não receio.
Só dádiva!

VAz Dias

#palavradejorge

Livro de cabeceira

Queria ler.
Queria ter tempo
Para de outros
Reter o que mais preciso
Para à lembrança
Te trazer.
Desperto.
Assalta-me o dia
E as tarefas.
E no meio deste turbilhão
Travo-me de ir.
Quero que apareças
E te juntes por este tempo
Que congelei.
Uma eternidade de silêncios.
Olhares.
O teu jeito de me convidares,
Voltando a te ler.
Página após página
Seres o meu desejo
De desfolhar.
Não te deixar a meio
Ou se sim
Por vontade a ti
Voltar.
Parei o tempo.
Somos os donos do tempo
E tu livro
Como lençol
De me encadernar.
Despertas-me as palavras
Enquanto fazes amor comigo.
Me fazes ler os livros
Que contigo consigo.
És alma.
És corpo.
És livro.
E eu contigo
Livre sou!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Miúdos graúdos de meia-idade

Sentei-me na beira dele.
Juntos encostados na portada
De tantos anos
De luta
E erros.
E vivências.
E desmazelos.
Mas havia bons corações
Apesar da conduta.
Ele crescera.
Eu também.
Revia-me na grandeza dele.
Tornara-se um sábio
Das coisas simples.
Das sérias.
E das experiências.
Como eu, aprendera com os erros.
Cansara-se de ser miúdo,
Mas nunca de amar o mundo
Com a curiosidade
De quem há pouco chegou.
E ali à minha beira também se sentou.
Mais velhos mas ainda vigorosos.
Falávamos
E eu aprendera a escutar.
A escutá-lo pela falta
Que sentia dele.
Como quem perde os seus
E com o tempo
Urge a saudade.
Urgente era tarde
Mas homens de meia-idade
Ali se sentavam
Como miúdos que ficavam
Brincando até ao fim
Da tarde.
Cresceramos
Para miúdos graúdos
De meia-idade.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Ela merecia

Sempre a tratara
Como desejara
Que as outras
Não o tivessem tratado.
Via nela pureza
E pouco fado desgarrado.
Não se defendia
Atacando
Como as outras
Que um dia atacadas,
Se defendiam.
Um paradigma de comportamentos
Treinados.
Uma moda de desilusão.
Uma confusão de sentimentos
E de esperas de perfeição.
O corpo duns
Na inteligência dos outros.
A bondade como
Extra de boa vontade.
Ela merecia que não lhe
Impregnasse com tanta
Deseducação.
Ela merecia alguém como ela.
Ou alguém como ele.
Ela merecia.

VAz Dias

#palavradejorge

...uns aos outros.

É perda deixarmos pele noutra pessoa?
É ganho termos tido alguém e o seu tempo?
Não há perda nem ganho.
Partilha.
Até um estranho
Se entranha debaixo
Da escama,
Quando nos toca.
Seja palavra
Ou no leito de uma cama.
Fragilidade é conversa
De almofada
Que se guarda
No meio da fricção dos corpos.
É partilha
E matar o medo aos poucos.
Uns com os outros...
Uns nos outros.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Adiantados Emocionais

Há um cais que espera
A sua passagem.
Vem a corrente
E da nascente nada.
Seria previsível
Que essa seria a normal
Abordagem.
Olhando para a foz
Se fez a nova esperança
E nada.
Não chegava a hora
Tão aguardada.
Passara da hora até.
Mas espera-se sempre
Porque tudo pode
Atrasar-se.
Pecamos por ser adiantados
Na hora.
Por sermos amantes
De quem retorna.
De quem chegue
Pela primeira vez.
Mesmo com demora.
Somos adiantados emocionais
E ninguém na nossa orla.
Não faz mal.
Venha maré e tempo.
A espera não demora.
Voltamos amanhã.
Ou rumaremos a outro cais.
Onde existam adiantados emocionais
Como nós.
Ou alguns a mais.
Sem demora!

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 20 de novembro de 2016

Amor menor

Negligência.
Amor menor
E profundo arrependimento
Do passado.
Ter a natureza do ser
E o tempo a prazo.
Zeloso era o fado
E o bem
Era padrasto.
Não veio
Nem aprendeu
A ser melhor.
Foi a pena que cumpriu
Que agora viu revogada.
É para cumprir
No futuro
Com a cara lavada.
Mas atente-se
Oh gente tão bem apessoada!
Em cada minuto
Pensou-se na consciência
E na sua liberdade?
Entregou-se o amor
Todo que se tem
De verdade?
Em toda a idade?
Somos filhos
Dos pais que podemos ser.
Somos família da voz
Que também nos faz,
A cada palavra atirada,
Morrer.
Mas existe já pena mais dura
Do que a consciência
De alguém que tenta sobreviver.
Vamos vivendo a prazo
Com a consciência
De melhor perecer.
O resto do mundo
Que grite os laivos de rectidão
E da perfeição que há-de ser.
Morre-se também pela boca,
Quando se engole em seco
E a palavra é pedra
Em telhado de vidro
Chover...

VAz Dias

#palavradejorge


No leito duma mesa

Somam-se solidões
E sobre a mesa alimentam-se
Os corpos.
Alimenta-se o tempo que aí vem.
Mas há fome.
A vontade é aguada
E insaciável.
Sobre a mesa arranha-se
A toalha que a cobre.
Há corpo que a fome descobre!
Há vontade que o corpo
Não acompanha.
Há poemas para serem
Escritos no corpo
Que se deita,
D'outro corpo que se cobre.
É a fome
Que só outra fome mate
E pode!

VAz Dias

#palavradejorge

Breu

Chove lá fora.
Cai o outono na janela
Pingando
A tortura à qual
Me detenho.
Beijo-te as costas
E a nuca como se cá
Te deitasses.
És leito do passado
E o outono sou eu.
Perco-me em saudades
Neste escuro de breu.
Perco-me de ti num futuro meu.
Nunca será nosso
Porque não existes.
Nunca exististe.
Sou louco
E tu és "eu".

VAz Dias

#palabradejorge

sábado, 19 de novembro de 2016

MatarAmar-te!

Recordar-te por vezes
Desanima-me.
Torna aguda a solidão
E aguça o engenho
De te ter perdido
Em todas elas.
Fui eu que inventei um amor
Ou não soube fazer melhor.
Mas perder-te
É um quinhão
De soma das perdas todas.
Sobrevivo cantando-te.
Gastando-me em pele
De serpente.
Troco e mordo
O que vem em frente.
Mas morro sempre eu
Do veneno
Que é não ter-te.
Receio deixar de te querer
Em cada uma que chega em teu
Lugar.
Já sei que morrerei
Por ti.
A culpa é minha de tanto
Amar-te.
A culpa é minha de não saber
Fazer um sonho.
Fecho os olhos
E morro
Na memória
Ao matar-te.
Morro devagar
Em tua memória.
Devagar...

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Mais de meio

Fito de perto
Tu tão distante.
Meia porta...
Meio instante...
Meia farta...
Meio periclitante.
Preto e branco é um passado
Que vejo em frente.
É um fim anunciado.
Dois mais de meio
Mas cada um para seu lado.
Mas há loucuras
Que nos fazem
Imortais.
Por um período.
Morramos depois.
Morramos pois!
A cada pouco mais de meio
De cada
Para nos desamarmos
Mais.
Um dia...
Antes de termos um passado.
Um dia e mais de meio.

VAz Dias

#palavradejorge

Relatos de um futuro perdido

E fecho os olhos.
Guardo na esperança
Os encontros de derivar
Contigo.
Abro os olhos e tu não estás.
Ficaste no desejo.
Na voz soberba que me deixaste
Ecoando pelo inverno
Ao outono.
De ano em ano.
Retorno.
Retorno ao desejo de te olhar.
Não é no olhar
Que se escuta melhor?
Olho para dentro agora
Onde tu te encontras.
Onde te escuto.
Onde te oiço melhor.

VAz Dias

#palavradejorge

Prometeu

Escrevo
Escrevinho
Rabisco
No ecrán
Da digital escrita.
As ideias apesentam-se
Rasuradas
Em camadas
Sobre camadas.
Escrevo com o que o tempo
Me deu.
E o que não deu.
Escrevinhadas foram as promessas
Em parede
De pedra e cimento
Que cedeu.
Fica livre neste papel virtual
Dos papéis
Feitos livro
Onde um poeta morreu.
Ficou o homem
Só com mãos
E terreno aberto.
Céu aberto
E um amor que nunca chegou.
Prometeu.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Fome Fria

É frio na barriga
Que fome alvitra?
E se sim,
Como se aquece
O que tudo come
E nada obedece?
Sua Excelência permita-me,
Mas a ética não lhe prevalece
Porque não é ostentando
No peito que a medalha
Lhe pertence.
É a verticalidade de até na fome
O homem respeitar o próximo
E sempre se saciar
Com obediência
Aos mais intentos do universo.
Não é frio na barriga de fome,
É não passar fome
Por não comer
O que outro deu com prazer.
E bondade.
E sem mal lhe querer.
Feche a boca
Antes de comer!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

Reza a palavra

E antes que me deite,
Encoste os ossos
Junto ao leito onde, calmo,
Palpita o coração,
Declaro o meu amor
Às letras.
À palavra que tantas noites
De dias me salvou.
Agora rezo-as
Enquanto vo-las dou.
Não como minhas
(Somos tão mais que
Pequenos neste universo
De tempo redondo)
Mas como a dos que me
Ensinaram.
Dos generosos.
Dos antepassados.
Da arte.
Da morte.
Dos que amamos.
Dos que nos querem bem.
Rezo tudo de bom
Que a vida tem.
Simples.
Vosso.
E à minha mãe.
Amém!

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Somos sempre novos nos sonhos de quem cá fica a nos amar

Os compromissos.
O fumo no espelho
De inglês ver.
A luta do velho
De espírito
A idade reaver.
Vamos sempre a tempo.
Sempre temos algumas
Oportunidades
Que se vão esgotando.
O compromisso connosco.
O espelho de nos
Reaver.
Aceitar o que é novo
E aceitar amadurecer.
Elegantemente envelhecer.
E o amor
É uma distância tão curta
Como distante.
É aventura de viajante
E de quem não espera.
É ir e ver o que nos espera.
E no final
Há uma história
De tantas estórias por contar.
Os que se cativaram
De nós
Passam a ser testemunho
E nós intemporais,
Até dos nossos,
Histórias novas
Se contarem.
Compromisso de vida.
Os outros espelhados em nós
E infinito a transbordar.
Somos sempre novos
Nos sonhos
De quem cá fica
A nos amar.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Gula

É a fome de comer o mundo,
De procurar
O absoluto prazer
De engolir o fruto,
O sumo do saber...
De nos saber.
Alimentas-me sem saber.
És o meu sabor,
De mergulhar o corpo
Onde a mente
Por toda de ti concorre
E saciar-me.
Até que não haja fome
Neste bocado de tempo.
Até que morda
Um bocado do tempo
Que aí vem.
Até que voltes
E me engulas também.
E o tempo
E o que ainda aí vem.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 13 de novembro de 2016

Corpo Dia

Vou descaradamente dizer
Que quero o teu corpo.
Que não me importo
Se tens ou não
Um feitio.
Apenas quero e desejo
O teu grito.
Repetido ao expoente
De um longo gemido.
Que sejas várias.
Com vontades várias.
Que sejamos uma orgia
Das mais ocupadas,
Das mais ordinárias.
Sejamos o que quisermos
E tenhamos apenas em mente
Que a tenhamos vazia.
Corpos que lutam
Entre si
Até que o êxtase perdure,
Seja ou não, dia.
Seja noite onde de novo
No teu corpo me perdia.
Seja corpo o teu.
E o meu
O teu dia.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 12 de novembro de 2016

Andam confusos...

Na casa ao lado levam bens.
Materializa-se o desespero
Que antes era da comodidade.
As pessoas andam confusas,
O bem que tomaram para si,
Sintético,
Simplesmente enevoou
Os dias de luz eléctrica.
A luz do dia
E das verdades
Faz fugir para o escuro.
Relações que respiram pó
Como reanimação
Boca-a-boca e outras
Que no canto dum prédio
Gritam barbaridades
Surdas na manhã mouca.
Vai de boca em boca.
Gritam-se atrocidades
Que se espera no sono
Enterrar.
Nasce o dia
E a verdade vem de novo
Atrapalhar.
Antes disso roubaram
A casa de quem nada tem
Para a aquela luz os acomodar.
Levam pechisbeque.
Vivem de pechisbeque.
É o risco da facilidade.
Da fácil amizade.
Dos gritos
"And the bad blood".
Andam confusos
Esses que desligaram a luz.
Andam confusos...

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Até já...

Morrem os heróis da terra.
Aqueles que nós os pecadores
Sabemos conhecer.
Aqueles palpáveis
Que nos fazem sentir espírito.
Se já tive mais fé?
Nunca tive tanta!
Porque se existe perfeição
Ela morre fisicamente
E perdura numa canção,
Num poema,
Ou no assobio da cotovia.
Porque é lá que o poeta
Resolve a dor e cria.
Talvez foi Deus que o fez.
Que nos fez.
Que fez a dor prevalecer
E para se ir assim
Como o poeta que canta
E o herói entre heróis imperfeitos.
Os nossos.
Os que deixam as coisas imortais.
E nós choramos,
Sobrevivendo à sua passagem
E morrendo aos poucos
Em paz.

Até já Cohen.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Abraços de nós

Não são os monstros da terra
Que me assustam.
Nem o futuro
Por muito sombrio que pareça.
Não são as dores do passado
Que me fizeram tão
Cansado.
Sou descrente das pessoas
Em tempos e nas circunstâncias
Delas.
Mas acredito nelas
Desde que acredite em mim.
Nesta história que escolhi
Ser bela.
Nesta guerra
Que é passar o bem aos filhos
Em tempos de cólera.
Choram os olhos do mundo
E eu só te quero bem.
Só vos quero bem.
Porque escolhi ver o bem.
Encho o peito
E tu estás aqui guardada.
Estão aqui guardados.
E eu com braços do mundo
E um apelo à paz
E ao amor que por vós tenho.
Não sou dos monstros da terra
Ameaçado,
Sou por vós
A solução e o engenho
De fazer um melhor futuro.
Mesmo que tudo esteja
Falindo em nosso redor.
Mesmo que tudo pareça dor.
Abracemo-nos e olhemos
Para dentro de nós.
Ali o mundo é bom
E belo
E o que podemos fazer
Depois disto, após.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Hiperventilava amor

Acho que hiperventilei o amor.
Afinal ele é tão simples
Nos braços dos outros.
No buquê arremessado
E suspirado nas outras.
Das pessoas que se contentam
Com pouco.
Que se exigem pouco.
Eles beijam-se com a suavidade
Dos inocentes.
Não há amantes
Nem segredos por revelar.
E se os há
Alguém os guarda
Porque deseja guardar
O príncipe e a princesa
Que jamais deverão encontrar.
Hiperventilei todos aqueles
Momentos
Em que o peito
Se enchia de ar.
Que sobrava para o coração
Que falia de ar.
É completamente absurdo
Um desses tipos
De respiração.
Remeti-me a declarar
Esse desejo
Para o domínio da paixão.
Reconhecer que o amor
É para quem nada percebe
Da razão,
E se percebe
Desenhou uma relação matematicamente.
Sem paixão e o amor
É um visitante em casa
Hermeticamente arquitetada.
E eu vivo da paixão impensada
Mas com a razão
Dos que nada sabem de amor.
Para quê se ele não existe?
E se existe é tão mais belo
No encontro.
No desencontro que descobre
Em novo encontro.
Hiperventilei e pronto!
E estou bem assim.
Respirando.
Acelerando o ritmo cardíaco
De quem por agora
Quero tanto!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A falácia de amizade

A amizade entre homem e mulher é sempre sonegada por uma das partes no futuro. Ainda que nesse, provável distante futuro se encontrem, ele terá sido por uma necessidade duma dessas partes por outro amor que já tenha partido. Há poucos os que mantêm amizades durante a passagem pelo amor. Fica para a ocasião, a necessidade ou o "olá" de passagem.
Amizade que teve sempre por base uma impossibilidade física de se concretizar. Uma dessas partes nunca devolveu à outra o desejo do amor. É um quase-amor que resiste ao tempo quando o amor parte da relação dos outros dois.
Ela ficou mesmo quando a outra voltou, porque foi preenchida com só um amor e o contexto da outra parte.
A amizade é uma falácia entre duas pessoas de sexo oposto e heterosexuais. Só é menos porque também houve uma energia sexual que foi utilizada. Ou porque foi experimentada ou reprimida. É uma invenção da inteligência à qual um outro animal nem sequer compreende. Ele actuou mediante o instinto. Sem subterfúgios nem razões secundárias.
A amizade é secundária quando o amor chega, e as amizades do mesmo sexo ficam como substituição. Como moeda de troca. Como alimento secreto do que é o passado e provável futuro no imediato.
Apenas somos amigos porque as pessoas vão voltando. Sempre cá estivemos.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 6 de novembro de 2016

Os olhos que pintavam

O que nos faz mais felizes?
O que queremos
ou o que podemos?
O que faz de nós reféns duma procura
incessante
perante o que não nos quer
ou a aceitação do que naturalmente
nos busca pelo que somos?
A beleza é de quem nos olha
como sonhámos ser vistos
no sonho desta noite passada.
Toda a outra busca
apesar de não ser errada
é tempo de aprendizagem
para onde não se vai.
Somos tão pueris
acreditando nas cores que vemos
não percebendo
que somos nós que escolhemos
vê-las como desejamos.
Se soubéssemos fazer as cores
Todos se encantariam de nós.
Então façamos luz
para quem tem olhos
de sonhar!
De quem fecha os olhos
e sonha como nós.

VAz Dias

#palavradejorge

Rrrrrrrrocha!

Rocha ríspida que raspa
Nas rochas alheias.
Quem nunca atirou a primeira?
Dentes que rangem
De inconformismo
E desdém.
Quem é o primeiro a odiar
Quem?
Não há santos
Mas não há demónios
Também.
Mas do céu ao inferno
Descem ou sobem
Os que queríamos bem.
Estoira um vidro
De calhau arremessado.
Partiu tudo.
Partem-se pratos.
Há gente que não nos faz bem
E nós a elas.
Mas sejamos sólidos
E rocha de água assentar.
Passe o tempo
E quem do nosso lado
Queira repousar.
Sejamos velas
E tempo de queimar.
Compassivamente
Até um ódio se dissipar.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 5 de novembro de 2016

O ego que chafurda

O ego sustém-nos
Acima das nossas tragédias.
Renasce-nos das cinzas
E descobre-nos das perdas.
Mas pedras
São as de atirar
Para o charco
Onde esses se bamboleiam
Dos que lhes sustêm
A respiração acima
Da linha de água.
Aquela turva
Que a sua alma abarca.
Afunda a pessoa
E a boca que mentiras
Lavra.
Esse ego é âncora
Para gente de merda
E de água choca...
E de alma estagnada.
Parabéns por nada.

VAz Dias

#palavradejorge

Sonha descansado

Se não há mundo à volta
E se o cérebro não descansa
Vertem-se os dias
Em pesadelo.
Escolhemos acordar
E andar de sonos trocados.
Correndo dormindo e
Descansando sem ter sonhado.
Falta alguém ao lado
Se corrêssemos por aí.
Fico descansado
Quando o mundo
É apenas do tamanho
Do meu quarto.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 3 de novembro de 2016

Um poema para ti poesia

Começo a desnecessitar
De ti.
Começo a sentir-me
Rodeado das coisas
Por bem.
De te poupar de mim
Também.
Mas amo-te.
E como tudo que amo
Que tenho desapagadamente.
Deixar-te-ei pelos momentos
Certos.
Pelos livros abertos
E que outros
Tão bem te escrevem.
Começo a desapegar-me
De ti
Porque me és assim
Tão preciosa.
Tão tua.
E de muitos de nós
Que te conheceram.
Que se viram perdidos
De amores.
Eu andava perdido
E encontrei-me contigo.
Mas tu não és de ninguém.
És de todos meu amor.
Até o próximo dia
Ou oportunidade.
Até sempre
Poesia.
Sou da felicidade!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

As palavras ocasionais

É apenas amar-te o traço.
A beleza com que de longe
Te fito
(E parvo)
Te amarro.
Tudo no meu mais puro
Jeito plástico.
Como tu que olhas
Para outro lado.
Peço um espelho
Para nos vermos
Na culpa de sermos
Superficiais
E por dentro
De querermos outros
E mais.
Eu a ti e tu
Àqueles
E os dois refletidos
De longe.
Parvos e sem conteúdo
Explorando conversas
Intelectuais
De raíz e de merecimento
Perfeitamente banais.
Somos feitos um para o outro
Mesmo que não queiras
E eu as demais.
Ridículas espécies somos
Do reino dos animais.
Ai o teu corpo,
O teu jeito...
O teu traço
E as palavras ocasionais...

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Desterrei um mundo

Sabias que esse pedra
Um dia te arrasaria
O externo que respirava
Amor por ela.
Perdes agora o ar
E definhas o passo
Enquanto um mundo
Se abate nas pedras
Da estrada
E tu árido
Te transformas em terra
De desaparecer.
Um murro em ti próprio.
Um muro de lamentações
Passarão a ser as palavras
Que articulas
Até seres pés para seguir
E cara levantada
Para seres o que o destino
Te apontou
Em todas aquelas
Bifurcações.
És um furacão
Que te levanta mas em dor.
Dorido do temor
Que é ser um mundo
Do peito
De quem te esperava.
Desterrei há muito...
Desterrei um mundo de mim.

VAz Dias

#palavradejorge

A porta do lado

É coração que se assusta
E uma alma inteira
Que se precipita para ti
Num abraço.
Um medo por ti,
Por tudo com que debates
Nos recantos da mente
Até aos sustos teus
Dantes
Dessa alma carente.
Aqueles em que infante
Te fecharam
E de repente quase te perco
A cada um destes instantes.
Clausura.
Tortura
A que oiço por trás
De portas do passado.
Desculpa não ter mais do que
Um abraço.
Todo um espaço
Que te peço
Para com o teu
Sintas que estou aqui.
E ali dentro
E entre ti e a revolta
E a incompreensão do teu
Estado.
A minha incompreensão
Do teu estado.
Mas estou.
Deste jeito desapegado
Dizendo-te,
Reafirmando-te de pés juntos
Que não vou para
Mais nenhum lado.

VAz Dias

#palavradejorge