segunda-feira, 30 de julho de 2018

Um olhar que havera perdido

E de todos os corpos
Eles não chegam.
E de todos os olhos
Eles não se perdem.
E foi assim que quis
Nos primórdios
E perdi
E ganhei depois
Por ti.
Por não querer saber
E o saber querer a mim
Quase tanto como tu.
Quase tanto como
Eu de ti.
Sou só olhos
E corpo
E poemas de ti.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 29 de julho de 2018

O corpo do teu vestido

Quando envergaste
Esse tecido sobre o teu
Corpo igual
Não me satisfizeste só
A mim.

Tinhas-te esquecido
Dele
Um pouco depois
De quando te sentias
Mulher.

Voltámos a ver a
Mulher em ti.

VAz Dias

Oh dores da terra!

Quais serão
As dores que mais
Apoquentam
Os homens da terra?
As dos sonhos
Que não propiciam
As vontades?
As do corpo
Que lembram
Que nunca é tarde?
Ou serão as
De que nunca
Cicatrizam lá dentro?
Um invento de nós
Em plano maior.
Um esquecimento
Onde ficámos tão
Torpes.
Uma lembrança
De nos tratarmos
Bem.
De quem nos
Quer também.
Oh dores da terra!
E de todos os homens
Que se perdem
Pelas mesmas
Razões.
De encontrarem
Nas mesmas
Convicções
Razões mais
Do que suficientes
Para se encontrarem
Na saúde.
Saúde a todas
As dores da terra!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 24 de julho de 2018

Sol de meia-lua

Espalmo-me num
Metro quadrado
De areia e
De ondas revolvendo
O imaginário.
Encomendo sol
A espaços
Com a inoportunidade
Deste verão.
Há gente que se perde
Na memória
E sóis acalentados
Pelas histórias
Que queimaram
Na pele dos passados.
Fardos e fados.
Tez de peles
Emprestadas que caíram
Na serpente
De sermos.
Revestimo-nos
Da pele que necessitamos.
Não somos
Sempre o que queremos
E por vezes somos.
Nos dias quentes
Que sobramos
Dos ventos
E das intempéries.
Ser sol em céu
De pouco verão.
Ser um sermão dos
Deuses à inconsciência
Como os deuses
Da inconsistência.
Paciência!
Há mais invernos
Por vir e ardores
Desavindos
Do que aventura
E paixão.
Fique o sol
De meia-lua
E um vento
Feito brisa
Como melhor opção.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 17 de julho de 2018

Fi-lo Indiano

Expurgar esta vontade.
Transformar em letras
Que se perdem em
Versos
Ou pensamentos dispersos
Muito tarde.
Rimar ou deixar
No acaso a harmonia.
Dessintonia do merecimento.
Do que se quer
Com o que se queria
Do que mudou
E do que pendia.
Do que pedia.
Do que queria.
E mereci.
Desmereci.
Num ou outro dia.
Conto novenas
Em pensamentos
Mas não como aprendi.
Deus não esta ali
Nem no perdão.
A convicção de ser
Humano
É ser errado
E experimentar.
Errar
Até acertar ao lado.
Perto.
Certo.
Um aperto no coração
E um desaperto
No fecho.
Abro.
Fecho.
Acho que não acho
Senão depois
Com melhor sofisticação.
Hálito fresco
E o louco dança no meio
Dos universos
Dos outros.
A beleza pintada no chão
Dançando
Facilmente como
O sorriso de quem acabou
De chegar.
De ser o centro das atenções.
Ficaram as intenções
E os olhares dançaram
Para longe.
Foge!
O hálito faz-se de monge
E a boca está podre.
Já ninguém morde
Por prazer
De se deixar morder.
De se perder
No meio dos loucos
A tripar de viver.
Longe!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 16 de julho de 2018

Fado no teu peito

Quem sabe
Se um dia saberei
Expressar-me tão
Eloquentemente
Como os demais.
Sobra-me a poesia
Dos desiguais.
A falta de jeito
Que tropeça na língua
E na boca.
A palavra ganha trejeitos
Dos enjeitados
E dos devotos
Imperfeitos crescidos.
Somos belos
Assim.
E chegou-me a tua
Beleza do fado
Que canta suave
Na minha língua.
Do torpor que mingua
A cada beijo teu.
Tu não esperas...
Vais andando mostrando-me
O caminho.
E se tropeço
Sorrio
E se faço um poema
Escuta-lo.
Porque a suavidade
Do teu fado
É o meu lado
Familiar.
Canto em tom falado
E na língua
Do teu amor.
A desgarrar
De falta de jeito
Junto do teu peito,
Do teu peito
Meu amor.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Ideia de Amor

Se a ideia fluísse
Como o amor
Que de si vive
Áureo,
Se a verve
Fosse irmã
Do saber do coração
Escreveria
Poemas de amor
E contradição.
Algo incorpóreo
E sem histórico
Para se delinear
Novos versos
E imaginação.
Tenho amor
À mulher.
Ao traço que dela
Plasma no meu
Anseio.
Planeio
Um serão
Com o vigor
Duma viagem.
Pasmo com a coragem
De me amarem.
Quem tem tanto
De aventura
Tem de bagagem.
Se a ideia fluísse
Era amor
Nessa viagem
Da poesia
Ao interior
Do que queremos
Ser.
Do que nos podemos
Comprometer.
Ah se a ideia
Subsistisse!

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 8 de julho de 2018

Acidental

Cinzentei.
Acidentada colina
De mar a descolorar.
Leves estocadas
De azul desmaiado
E verde queimado
Pelo tempo.
E perde-se na memória
A lavagem
Ao cérebro
Do impossível.
Da beleza com que se perdem
Sonhos
E os estranhos
Retornos
Como a maré
Do contentamento
D'agora.
Vou para fora tenho frio
Entro
Um calor
Sem ninguém lá
Dentro... nem eu.
Acidentei a cor
Porque no peito
Revolve o passado
Com espasmos
De sonhos.
Espuma para amaciar
A rudeza do cabo.
Deu-se cabo
Disto tudo.
A culpa é do fogo
No peito.
No fundo.
Em tudo!
Cinzentei...

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 5 de julho de 2018

A nossa Paz

Há amor nas fileiras
Da guerra interior.
Solta-se a paz entre
Os homens em mim.
Os dos devaneios,
Os dos senhores da
Vertical rectidão
E da outra.
Da mulher em nós.
Das mães e avós
E a voz da consiência
E da tesão.
Da vontade que grita
E a outra calada.
Mas não sinto nada.
A culpa é da paz
E um amor
Que junta todos esses
Homens
E das mulheres
Que nos fazem capazes
De sermos irmãos
E pais
E maridos
E amantes.
Como dantes
E talvez de nunca.
Nunca mais nos vi no mesmo
Lugar
E a passar a ser
Menos mau.
Humano
Mas melhor.
E eu sou do erro.
Falta-me falhar tudo
O resto.
Será que mereço
Tudo isto a que me presto?
Só porque presto?
E de resto,
A paixão ainda me quererá?
Como o fogo
Que todos queremos
Do inferno que não existe
E da vontade que persiste?

Assinalei as tréguas
E deixei a minha humanidade
Devotada a todos vós
Que sou eu
E os outros tantos
Que me fazem tantos.

Fomo-nos amando
E na guerra
Pacificámos.

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Não há terra para Velhos

Saber estar na solidão
É um recato
Que tem tanto
De pouco aparato
Como de pouca compreensão.
Os garotos deitam-se
Contando as dores.
Culpam o mundo
Menos a sua reputação.
Nós os velhos somos
Incómodos.
Um estorvo
Quando comparados
Com a sua razão de existirem
E se fazerem brilhar.
Fecundo foi
O chão
E os pais que deram
A esta geração.
Somos todos mal-entendidos
Ou mal-educados?

Quando éramos novos
Respeitávamos mais
Os velhos e os seus cuidados.
Sapientes
Deram-nos razões
Para silenciar as nossas.

Agora há para aí
Dos nossos
Que lhes dá a razão
Sem serem razoáveis.
E nós, os mais estáveis,
Passamos pela provação
De parecermos
Energúmenos.

Cavámos um fosso
E faço disso
Uma passagem.
Uma ponte de madeira
Suspensa no ar.
Mas não vêm do outro
Lado.
Temos de ser nós
A perfazer o caminho
Acham eles.
Sabem tudo
E nós ficámos
Velhos de saber.

O amor ficou-lhes
Na arrogância de mandar
E nós arrogantes
Não sabemos nada.
Nem da própria arrogância.
Não tem importância.
Morremos sós
E a espécie que se cuide
E o planeta
Continue.

Esta terra não é para velhos.
Trapos que nem se
Vêem ao espelho.
Mortos vivendo
De favor da razão
Informada
E desistente dos outros
Como nós.

Há recato
Quando nos deixam sós...

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 1 de julho de 2018

Desfolhada

Desfolho um a um
Elementos do passado.
Roda num imaginário
Um dado para cair
De pé.
Caí sempre ao pé de ti.
Caí em graça
Dum passado que
Resolvi.
E sorriste com os olhos
Que olhavam perdidos
Para todo o lado.
A beleza, estéril,
Passeava instigadora,
Doutros olhos
Vagueantes.
Vagueámos e caímos
Longe uns dos outros.
Dados que nem contam
Para estatísticas.
Para a auto-crítica
De fazer melhor.
Aprumamo-nos com teorias
E espiritualidade
E depois morremos
Todos os dias
Com pouco para sentir.
Ou demasiado
Drama por pouco.
Troco mais uma fotografia
Deste rolo.
Perco o fôlego
E penso que deveria
Dar um murro na mesa.
E mordo o maxilar
E ranjo os dentes
Que querem vida.
Carne ou amor.
Falta poesia.
Falta esteria por bem.
Falta muito de nós
Em tão pouco
Tempo
Para sempre.
Sempre será assim
E relato
O facto
De me ter sobrado
Esta falta de jeito
Para não escrever.
Desfolho folhas
De papel
Como rolos de imagens
Que se sentiam
Nas impressões digitais.
Sente-se na epiderme
E geme o prazer
De não estarmos
No mesmo espaço.
Faço mais uma
Fotografia
Do banco de memória
Que só eu conheci
Por ter escrito
Essa estória.
Agarrei-me a tudo
E a poesia é não ter
Nada.
Nem no futuro
Nem no Sempre.
Entre isso tudo
Prefiro isto
A que me devotaste.
Amar.

VAz Dias
#palavradejorge