sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Cinza Viva

Tantos são os que vejo
Sem amor.
Caminhando no deserto.
Andando às voltas
De si e duma nova noção
De felicidade.
A comiseração
A debilidade
A tristeza que escorre
Por tudo e por nada
Pela cara
Directamente
Para um coração sem fundo.
Que já teve tudo
E agora sobrevive
De verticalidade
Quando o corpo só
Quer estar deitado.
Sozinho a tentar saber
De quem é.
Se é.
Se algum dia será
De si próprio
E de alguém...
Ou ninguém.
Choro que fica no meio
Dos papéis do trabalho
Do soluço calado
A meio da noite
[Ou da tarde].
A fogueira que arde
Mas não acalenta
Nem esfria.
Está ali como um tipo
De companhia
Que se esvai
Como o sangue
Que é de um coração
E se engole em si
Infinitamente
Como a dor que não passa.
Um túnel que não acaba.
Um amor
Que trespassa o tempo
Para trás e mata
Mais para a frente.
Carcaça.
Pão que diabo amassou
E ainda faz graça.
O único
Que se conhece
Para além
Da fogueira que se acende,
E vivo,
Lembra-nos que morremos
E somos a cinza
Do fim
E suspiro
Da única luz que ainda
Nos faz acreditar.
Que não morremos
Em vão
E que podemos aspirar
Subir por aí acima
Desse coração.
Desse fim
Que tudo pode
Trazer de novo.
Renascer das cinzas
Da fogueira de um diabo
E da fome
Que um dia se engoliu
Desse mesmo coração.

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