acabou-se!
terminou tudo
isto.
não há virtude
nem virtuosismo.
nem existe
vontade de iniciar.
acabou-se o que dá
lugar à poesia.
o que a poesia
pode fazer
por mim.
por eles.
acabou-se o placebo
e o cancro.
estávamos
nos paleativos
e todos franziam
a testa.
"É o que resta!
É desta..."
acabou-se
e não posso pôr um
fim.
tenho uma dívida
com a vida.
com a esperança.
com o amor
(que não conheço)
- só conheço o amor
do fim -
e o da outra vida.
acabou a minha
veia poética
da vida deste lado.
vou escrever
para a beira dos mortos.
dissecar o que perderam
e o que ganharam.
perguntar se o amor
lhes valeu
a vida.
e no canto da cama
deitada
ainda com vida
vives ali em mim
despida.
sem um beijo
de despedida
e um filho.
um filho da mãe
um filho de mim
e uma morte
assistida.
vale uma vida.
fim
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