terça-feira, 31 de maio de 2016

Molhada Boca

Perco-me da inebriada tentação
de cometer a loucura
de voltar ao que aparentemente
me adoça a boca.
Foram os amargos nesta boca
de bela ocasião
a que a vontade de ser feliz convoca.
Escrevo para o meu melhor amigo.
O poema.
Aquele que nem belo
à aparência
deixa de tocar
beleza às entranhas.
Doçura e beleza estranha
que me faz
pessoa às outras,
também ela estranha.
Não me importo.
Não tenho medo.
Vejo beleza cega.
Deixei o que era pueril,
ainda que feche os olhos
e eles sonhem banalidades.
Vim-me vezes suficiente
de linhas belas
e de sexualidade oca.
Quero orgasmos de espiritualidade
enquanto o meu corpo
a banalidade derrota.
Quero a boca molhada
de cantar as palavras certas
para quem as ouve concretas.
Molhada de palavras
e de quem se excita
com a cumplicidade secreta.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 29 de maio de 2016

Cinzento Escuro

Às vezes deixo de gostar
de me apaixonar.
Quedo
aqui dentro,
me deixo ao mundo
lá fora se desenrolar.
Sem medo
fico aqui descontando tempo.
Narrando-me histórias
de passado
e amores diluídos.
Choros pesados
em pratos de lento esquecimento
e de risos perdidos.
Ficaram lá fora...
destituídos do agora cinzento
(o novo colorido).
Pinto com dedos
e sem impressões digitais
uma balança entre passado
e futuro.
Lá fora desuso por agora.
Cinzento escuro!

VAz Dias

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Auto ajuda?

Auto ajuda?
Fui ali viver.
Falhei. Não me ajudei.
Mantive a humanidade
E em mim
Produzi estes erros
Que me fazem.
Auto ajuda
É o reino universal
De extorção da alma.
Humanizei-me.
Falho.
Continuo.


VAz Dias

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quinta-feira, 26 de maio de 2016

Noutro Lado

Não te vou escrever um poema
de amor.
Tu sabes menos do que eu
de amor,
mas cinicamente te revestes do vasto
conhecimento da poesia.
Cínica!
Poesia é amor calado.
Cala-te!
Porque amor está noutro
lado.
Aí beijei-te!
E tu falaste disparates.
E eu fiquei calado.
Amo-te noutro lado,
onde falar é amor
e poesia é deitar-me
na cama a teu lado.
Sussurrar-te palavras novas
e calar o já inventado.
Cala-te agora!
Estou cansado!

VAz Dias

Para Que Valha A Pena!

Cada momento que passa
me afasto dessa crença.
Afasto-me para mim,
para a minha imperfeição
mas natureza.
Nasci assim
e cresci
buscando-me.
Fé?
Em mim se faz o caminho
da pequenez universal.
Da quase inexistência
em alongamento eterno temporal.
Quantos mais nascem
menos importamos,
mais pequenos nos vemos e
mais importantes no processo.
Isso sim é divinal.
Sou arte,
porque sou animal,
poeira
que se sopra
de pedra terrena.
Merecemos a pena
mesmo que a passagem seja pequena
mas a alma que morre
ser eterna!
Sou arte velha moderna.
Sou morte e vida plena.
Sou criatura de uma vida,
de tantas vidas.
Sou só isto,
para que valha a pena!

VAz Dias

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quarta-feira, 25 de maio de 2016

Sou parvamente feliz. Enveredo em monólogos assistidos por aquela. Ou esta. Ou uma qualquer observação mais ou menos atenta. Fazem-me feliz por tostão de atenção. Não se perde nada. Enche-se o peito também de pequenos nadas e cheios de ar. Expira-se em sorrisos de nos acompanhar. Ainda que loucos a sós rasguem orgulhosos esgares. Sou desses até prazar.

VAz Dias

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Pedaço de destino

Vagueava estóica e nua
Na vestida rua.
O sizo fechava-se ao
Ponto preciso
Onde tinha deixado
Esse último sorriso.
A culpa foi dele
Que seguiu caminho
E com ele lhe levou
Essa curva que na face
Lhe adocicava o beiço.
Um pedaço de mau caminho.
Essa curva
Que afigurava um destino.


VAz Dias

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Lascivo era o olhar e a escuridão de se remeter

Enquanto se perde tempo
Entre olhares lascivos
E a assunção
Do que de alma
Nos desfalece,
Aparece o bom-senso.
Como prece
E o bom usufruto do tempo.
Como faz o corpo
Para se oferecer
À perdição
Sem a alma se perder?
Reza-se um corpo
Na solidão.
Na escuridão de se
Remeter.

VAz Dias


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Agreste

Agreste.
Duro como se fora
Da era rupestre.
Inflexível até quebrar.
De aprender e às
Entranhas do mundo
Como do entendimento
Escavar.
Parto a pedra em mim
Da dureza erosiva
Que foram os anos.
Perdão se não sou
Água.
Ou o aprazível sonho
Que não resolve nada.
Resolvo-me e aos outros
Deixo a terra.
Vou ao céu
De pedra atirada.
Atira-me tu
E que caia em charco
De penas
E águas mal paradas.


VAz Dias

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segunda-feira, 23 de maio de 2016

Amor de ir

Se não fomos pelas melhores razões
Que sejas tua!
Se for uma razão ainda melhor.
Se para ti fores melhor.
E se nos revermos
Talvez seja amor.
Ou reencontro.
Ou um olhar.
Mas sempre melhor!

VAz Dias

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domingo, 22 de maio de 2016

Dez Segundos

Sustém o ar!
Dez segundos
Enquanto pensas
Na reduzida granulada
Pedra de areia.
Um milhão delas.
Cada uma um universo.
Cada universo um mar.
Lança areia ao mar
E pensa,
As vezes que ela foi
E veio
E o tempo que é de nos amar.
Leva o tamanho de um amor.
Um infinito que possamos
Dispensar.
Precioso.
Sou desse tamanho granulado
Mas de tempo a definhar.
Para o infinito.
Sustém por dez segundos
O nosso ar.
E pensa.
Sê o teu universo!


VAz Dias

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Custa-me muito que não me vejam a beleza interior.
Ou talvez não.
Sempre preferi os atentos. Os que num olhar me tinham despido.
Que bons olhos os vejam!


VAz Dias
E nos murais escarpam-se
as imagens.
Escapam-se as palavras
para o imaginário da liberdade.
Na verdade,
todas as palavras lá estão,
bem como as imagens...
Livres!


VAz Dias
Se calhar alguns de nós foram feitos para desamar. Apaixonados. Histéricos. Desamando.
"-Desamando-te tanto!"

VAz Dias


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Escrever uma prece

Pedi uma prece
À fé e ela assim
Me concedeu.
Fui abençoado, julgava,
Por tudo o que se perdeu.
Melhorava
E depois acabava.
Pedi outras preces
Enquanto a fé em mim
Mudava.
Perdera por via de...
Para crescer em mim.
Não como um deus
Mas como um mero
Homem que aceita
O infortúnio
Como uma oportunidade.
Doía. Mais lutava.
Mais em mim acreditava.
Agora quando perco
Nunca é a fé.
Em todo o seu esplendor.
Redimi-me por agora.
Se cair levanto-me
Por esses dias futuros.
Escrevo uma prece nova
Para que estejamos perto.
Todos os que nos encontramos
E os que perdemos
A dada hora.
Faço o silêncio ser nosso.
Sou um pecador
Que escreve porque ora.
Porque acredita.
Porque desacreditou.
Porque é o que tem de fazer
Agora.
Silêncio.
É hora!


VAz Dias

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Convite lúbrico do coração

Chama-me se precisares.
Seja um abraço
ou para chorares prazer.
Para fazer o tempo andar enquanto se trava à intempérie.
Chama-me como te chamasses
Pela primeira vez.
[Quando te viste bela
num espelho qualquer
Da alma.]
Chama-me se o beijo te aclama
Te acalma
Ou se deita ao teu lado
Na tua cama.
Fecha os olhos.
Olha de novo
E aquece-te nesse braseiro
Que vem lá de frente
Dos dias de inverno,
Onde já nem o frio te apoquente
E onde quem te chama
Sou eu.
Chamo-te à paz presente
E ao beijo de vida
Diferente
Do teu mais igual
Do que ao teu espelho interior,
À tua alma sente!
Chama!


VAz Dias

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Diferentes no mesmo lugar

Encontrávamo-nos por vezes
Nas sobras dos nossos afazeres.
Ela era convencional.
Eu ainda mais para o mundo que me acolhia.
Ela estranhava e eu ainda mais a sua loucura dessas sobras.
De alguma forma tocávamo-nos pela diferença de nos encontrarmos no mesmo lugar.
Mas sabíamos que o fim estaria sempre por perto.
A loucura era tentar a morte. A sanidade era sermos loucos um pelo outro.
E morrer seria sempre amanhã...ou depois. Desde que não pensássemos muito nisso.
Desde que estivessemos juntos naquelas sobras.


VAz Dias

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Deste(a)mor!

És amor.
E eu só saberei disso
quando estiveres
no regaço
e na boca de outro sabor.
Será o que for,
porque nos perdemos
antes de nos encontrarmos.

Geração da dor
por amor ao próximo
(o que virá depois).
Amar a solidão
e a masturbação de emoções.
Amar depois
e depois amar a sério.
A sério?
Somos amor de brinquedo
que se parte e troca.
Amor para a troca
e sem dor de cabeça.
Que desvaneça
e desapareça.
Enquanto se brinca ao amor.
Ou à dor.
Ou ao destemor
da solidão.
Deste(a)mor!

VAz Dias

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Eras já viagem quando esta terra atravessaste!

Vou escrever-te um poema
de viagem.
Considera-me uma das
imensas paragens.
Apeadeiro onde trocas
a passagem
de antes com o entretanto.
Conheceste na planta
do pé rapidamente
a terra que sou eu.
Pé-ante-pé sentiste
o chão que posso ser.
Mas não sou chão de promessa
nem tu viagem de desembarcar.
És viagem que atravessa,
que troca na terra,
toca na terra.
e se apressa à próxima desembarcar.
Por isso calça-te de novo
e agarra a linha que traçaste.
Eras já viagem
quando esta terra atravessaste!


VAz Dias

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Indiferente

Deixaste-me sozinho
na minha diferença.
Assusta-me nada.
Apenas a tua indiferença.
E pior...
A que tens por ti.
Desencontramo-nos de novo
e a vida é feita de oportunidades.
Aproveitei a minha.
As outras esgotaram-se
por indiferença.


VAz Dias

Morre um poeta

Esta paz desconfia de si própria.
O poema esvazia
buscando razões do coração
para voltar a escrever-se.
Não há dor nem exultação.
Apenas um exercício lúdico
de tempo que se esgota
na neutralidade dos outros.
A paixão ou a dor deixaram
o lirismo sem amante.
O que é um poeta sem paixão,
nem dor?
Um alto-comissário da paz
mas sem ardor.
Sem nada para dar
aos que morrem de amor
e dos que ressuscitam
de prazer latente.
Morre um poeta
Sem nada disto presente.

VAz Dias

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Suturado Coração

É do drama, da clivagem do conforto e da incerteza do amanhã que se apura o virtuosismo.
O poema escreve-se enquanto o coração quase pára ou quase explode em lágrimas que se traduzem em palavras.
Alegrias perdidas e suturadas nas costas desse coração.
Escreve-se como se fosse a última coisa que nos restasse antes de padecer. Ou de sobreviver. Porque ou nos salva por mais um suspiro de dias ou testamenta a passagem de um louco que acha na coragem o seu maior feito.
O poeta quase morre a cada dia.
Por isso tento ser apenas um homem feliz com desejos pequenos.
Para enganar o destino.
Para saborear a neutralidade como da felicidade alheia.
Ir morrendo sem dar conta.
Sem precalços.
Até surgirem. Se surgirem. Se não nos matarem na hora o suturado coração.


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Os olhos vivem no interior

Não quero desaprender com as pessoas a beleza que não se vê.
Reduzo o belo lá de fora a escombros. São todos belos e impecáveis. Sem nódoa ou demérito. Mas não consigo suster este amor que tenho pelo defeito interior, da casa simples. Dos desejos simples. Com a janela para o exterior. A graça dança aos nossos olhos mas é cinza de medo no seu interior.
Morri um dia lá dentro. E depois noutros. Cada vez que voltava à vida descobria o bem que de belo lavava a alma das paredes do meu ser. Há beleza interior na imperfeição da fachada e sobretudo do interior. A alma cavada de mortes e ressurreições. Beleza semi-feia de natureza descampada, mas viva. Germinada de intempéries consecutivas. Esculturas da erosão a que os verdadeiros belos se deixaram sofrer para não se ver aos olhos dos ainda vivos, a caminho dos últimos dias.
Morrer é um acto de purificação. Só morre para sempre quem se agarra à máscara bela da vida.
Só vê quem já morreu e se levantou. Os olhos vivem no interior.
Belo. Imperfeitamente belo.


VAz Dias

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O amor era infinito

O amor era infinito
e depois acabou.
O amor era entre eles os dois
Mas acabou.
O amor era doutros dois
E também ele acabou.
O amor encontrou-se tantas vezes
E também acabou.
O que nunca acabou
Era mesmo o amor.
Todos, sabendo que era finito,
Acreditavam na sua infinitude
E por isso ele prevalece.
Nas mãos dos crentes
E no coração dos descrentes.
Haja amor
Para histórias,
Para infinitos...
Mesmo que acabem
Nas mãos dum generoso futuro.
Enquanto também o formos.
Enquanto, humildes, o aceitarmos.
De mãos vazias
E de coração cheio.
Uma e após outra partida.
Repletos.
Inteiros!


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Ardeu. Arde. Morreu...

Não me apetece.
Arrefece.
Desvanece.
Desapareceu.
Doeu.
Se pudesse...
(Quem perdeu?)
Se pudesses...
Mudou.
Não voou.
Pereceu.
Apetece
no meio deste
Ruído que me aborrece.
Dá-me o que é meu!
Depressa!
Beijo.
Estalo.
Ardeu. Arde. Morreu...


VAz Dias

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Entusiasmo é despertador

Entre dias e oportunidades
Dos corredores
Da nossa descoberta
Vive a desconstrução
Do poder
Ao nosso querer.
Aceitamos lentamente
(Se é que aceitamos sequer)
Essa intransigente
Vontade do universo.
Esse eterno regresso
Do tamanho do que
Devemos ser.
A luta entre o possível
E o exequível
E em paz com isso viver.
Que se salve o fruto
Da casta da espera!
Que se salve
O sumo que se tragará
Como descanso da luta!
Vergo-me cerrando dentes,
Ergo-me como dantes,
Para o que me quer o destino
E o que eu quero dele!
Desperto e inspiro
Este dia.
Sopro quem deste ar
Partilha.
Bom dia!


VAz Dias

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Poros Abertos

E se sinto
Tudo o que sinto
Com os poros
Mais abertos
Que outros que não,
Ou que não
O transpiram tanto
Como o que sinto
É porque quero devolver.
E não guardo para mim.
E partilho se alguém quiser.
E serei meretriz
Dos meus mais obscuros
E vergonhosos pensamentos
E da grandiosidade
Das minha pequenas
Idissiosincrasias.
Como o idiota que sou
Sou também o que
Mais quer transpirar.
É água gente!
De sentir
E de se pensar.
Reflectir e voltar a dar.
Com todos os poros abertos
Segregando e devolvendo
Tudo ao mundo.
É ar gente.
De respirar
E de dar ao pensamento.
É o que sinto,
Pronto!


VAz Dias

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Distendido numa folha de papel

Suscitou-me.
A cada cor
Respondo com uma semelhante.
A cada um
Um diferente tom
Ainda que semelhante
Com a semelhança
Do outro.
Levanto-me mas a cabeça
Fica para trás.
Pensei que tinha me alavancado...
Agora não
Enquanto me lembro
Que suscitou.
Estou.
Parado.
Imobilizado
À frenética
Movimentação
Que a mente dá
Ao meu corpo
Descolorido
Pela manhã.
A minha manhã.
Talvez amanhã
Me suscite mais.
Ou menos.
Ou mais lhe suscitei.
Ou menos.
Não me importei.
Já me importei mais.
Menos agora
Que a mente pinta
O que suscita
Vagarosamente.
Estou diferente.
Estou velho.
Estou de cor cinzenta
Suscitado pelo o que
O corpo inventa.
Não me levantei.
Fiquei distendido numa
Folha de papel
De alguém
Com mil caras.
Pára!
Mente que me escapas!
Medo que me escarpas!
Menos se me chamas.


VAz Dias

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Apetece e desapeteces-me

Apetece.
Desapateces-me.
Aparece!
Pareces-me desaparecida.
Desenho as letras
Novas
Em mim.
Faço rabiscos
Do que fazes de mim
Risco.
Rabisco.
Robusto
Respeito.
Respeito-me.
Mesmo que te pareça
que não.
Respeito o meu primeiro.
Porque os vossos
Primeiros
Fundamentaram
Os meus receios.
Receio que desta vez não.
Sou eu.
Mesmo que te pareça
Sem razão.
Razoável, não?


VAz Dias

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Crime é não ser justo com o que sente

Cometi um crime.
Nem sempre fui justo
para o que sentia.
Esse era o verdadeiro crime.
O que eu me acometia,
por sentir que não
era de convenção ser.
Que desperdício!
Que crime!
Que tempo de cativeiro
para tomar sabor
à liberdade de poder ser eu.
Sinto como sinto
e vivo em harmonia
com as pessoas,
o mundo
e o amor.
Crime é achar que
não se pode amar
todo o mundo.
Crime é minimizar
o amor.
Crime é inventar
ao amor a clausura
que todos defendem
como livre.
Crime é não querer-te
tempo,
sentimento
ou outros que te queiram bem!


VAZ Dias

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Se não vens, fujamos!

É de dia e não vens.
É de perto que me tens
E longe te levas.
Atreves-te à dissolução
Da oportunidade
E ao que de mim desejas.
Se desejas?
Perder-nos seria perfeito
Se não te quisesses
Perder primeiro.
Ganhemos jeito
E fujamos.
Sem destino
Mas a preceito.
Fujamos!

VAz Dias

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Troca-me por uma melhor de ti

Vejo-te mas não me tocas.
Beijo-te mas não me invocas.
Mentes-me e eu fecho os olhos.
Voltas e eu sonho
que voltes para a verdade
em que te queiras bem.
Quem é quem
se o outro não se conhece,
não se despede
das amarras
duma ilusão que não se toca?
Provoca.
Leva-te à força
de quem mais te queira bem.
Ou pára!
Despede-te desse "teu" d'agora
e reformula.
Deita fora.
O que não precisas.
O que não gostas.
E fica só contigo em base.
Despacha-te!
Não te atrases!
Sai da toca
e a oportunidade
ao lado não a passes.
Fora!
Lá fora estás tu de dentro.
Lança-te ao invento.
E toca-me.
Como sopro.
Como brisa.
Como vento.
Troca-me por uma melhor de ti.
Desafio-te.
Troca-me!


VAz Dias

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Água é vida e lavar as dores do coração

Cala-se a razão.
Não havia universo
Que nos quisesse.
Cala-se o garoto de mim
Vertendo vida
E fé em água
Da nossa passagem.
Liquidamente,
Fomos a mais perfeita
Desilusão.
Água é vida
De lavar as dores
Do coração.


VAz Dias

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Canções de letras

Foge-me a palavra.
Aquela que se inventou
Para nós.
Corramos à frente
E numa frincha de sorrisos
Trauteemos em pequenas
Canções de letras
Até aparecer a nossa.
Sempre gostei de correr
À frente.
Ainda mais sabendo
Que adoras cantar.


VAz Dias

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Cinza Verão

Cinza de tantos tons.
Cores que estão lá
como em fotografia
a preto e branco.
Estão lá!
Como chuva em primavera.
As cores bebem
de sede de verão
e dos amantes
que com pingos no parapeito
se abraçam.
Foto a preto e branco
que pára o tempo
e pinta a imaginação.


VAz Dias

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Lucidamente desperta para insanidades

"...o acaso tinha-os trazido ao encontro. Ela de tez alva e olhos azuis de mar, vestia a bata branca com saúde, enquanto o inquiria acerca do seu passado recente clínico. Entre cuidados a profissional ao buscar o seu ficheiro ter-se-ia confundido na data por ele dada, aumentando-lhe a idade numa década e pouco, mais para os anos de ouro. Ele prontamente ripostou reafirmando a sua idade. Elegantemente, sorriu resolvendo a questão com o orgulho de ostentar a dita. A surpresa e a resposta foram imediatas "não lhos dava!". O sorriso acompanhava a assertividade com que laborava não mostrando quaisquer desvios à função.
Mantinha o diálogo vivo e interessante. Não fosse o assunto ser de ordem clínica dir-se-ia que eles já se tinham cruzado noutras aventuras e olhares.
Sim porque ela tinha na subtileza o olhar (ele nunca a poria em causa na conduta da função ou lhe desmascararia o "flare" que oferecia para uma observação mais íntima). Facilmente se desenvolvia o diálogo por entre subtilezas e a ligeireza do momento. A sensação de bem-estar era transmitida profissionalmente e cativada da mesma forma com o respeito devido.
Tratatados todos os processos ele agora despedia-se estendendo a mão e em tom agradecido - Obrigado! Foi um gosto. -
Ela amavelmente com olhar que inundava a sua vista - Um prazer! -
Uma vez mais sentiu o prazer de socialmente ter feito uma pequena história a dois com a mesma improbabilidade do encontro.
Ele era louco e ela lucidamente desperta para esse tipo de insanidades."


VAz Dias

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Rolo Compressor de Fim

Rolo compressor
Que me aperta a alma.
Que rola tornando
O ar insuportavelmente
Pesado de respirar.
Escolhi a alta pressão
Quando nos abandonei.
As vezes todas em que
O fiz...
Não quero imaginar
O peso que de borla
Não te quis
Mas te dei.
Quem sabe melhor
Fazer disto?
Abandonamo-nos para
Melhor e depois...
Rolo compressor
Que espremas a dor
Dela em mim.
Da ideia de dor dela
Em mim.
Da dor nossa
Que parece não ter fim.
Rolo compressa
Tão depressa
Quanto se possa
Pôr fim.
Fim.


VAz Dias

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Que distância Perder-te!

Perdemo-nos um do outro.
Ainda antes um pelo outro.
Fomos nos encontrado
nas distâncias.
As proximidades com que nos
perdíamos!
E a distância que nos quis
perder.
E perdeu-nos para uma proximidade.
Aproximou-nos de uma distância
inevitável,
"apenas se perde quem por proximidade
o quer
e cúmplice se se
quisesse perder em comum."


Distanciamo-nos.
Perdemo-nos.
Sozinhos.
Cada um.
Um só.
Um.

VAz Dias

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Agitação do vazio.
Busco em mim tudo
para fazer.
Deixar o resto de fazer.
Agitação se tudo houvesse
para fazer.
Vazio de nada querer fazer.
Corre-se para nadas.
Preenchem-se os dias
de desventuras malfadadas.
Sou eu e os outros
de conversas indesejadas.
Eu tenho mais o que fazer
do que ter deste tempo a perder.
Vou inventar
da invenção dos outros
algo para fazer.
Já tinha!
Não queria dizer.
Escrevo do nada
e do tudo
destes nadas que estou
para aqui a dizer.
Complexidade das almas
em busca de algo para fazer
e a felicidade pura reaver.
Felicidade reencontrada...
perdida e achada
do nosso ser.


VAz Dias

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Amar de Vida

Depois de morrer
E de renascer pela enésima vez
Voltei a sentir aquela
Agitação.
Aquela que antes
Me aconselhava resguardo
À desgraça.
O tremor do limite
De precipício.
Acordo menos forte,
Agitado de solidão...
E penso nessa mortes.
Ressuscitei a cada uma delas.
Morri de sono.
Morri de desgosto.
Morri de amores.
Mas não morri
De pele,
De carne
Ou de vontade.
Da puta da vontade
Não se abate em mim
A morte
E o assassínio
Dos outros.
Porque não deixo!
Porque lhes acredito
Vida!
Porque de face atordoada
Lhes ofereço de novo.
Estou vivo
E amo!
Todos os seus pecados
E medo de morte
Eu os amo!
E a fome que em mim
Se engole
Alimenta-me a vontade
De me levantar
E bofetear um destino
De morte
Lembrando-me que há vida!
Amo-vos a todos
De vida!


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

Atiro a terra à parede!

Atiro a terra à parede!
Grito sujidade
e impurezas
que me secam por dentro.
Tusso e cuspo
o veneno de mel
que me encomendaram.
Sou terra engolida
em crença.
Germinada em diferença
foi a confiança.
Esperança empoeirada.
Sufoco em lama.
Cuspo muros e atiro
a terra à parede.
Só a barreira que me impede
do que em mim implode.
À cinza se resolve
e se morre.
Arda a terra
e a sujidade se limpe
com o que lá de cima chove.


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬
Revolta-se o sonho
E atira-me para
O meio da noite escura.
Tenho fome
E como o que há.
Busco a paz (que pouco dura)
Na luz da vida dos outros.
Distraio-me por momentos.
Mas é o eco das músicas
Antigas e a saudade de um
Futuro
Que me prendem
À insónia.
Sonhar de olhos abertos
Foi das noites
De ontens e da memória.
Quero acalmar o coração
Para a mente adormecer.
Mas lá ao fundo
Ainda ecoa
A lembrança daquela
Canção...
Preciso de adormecer...
Preciso.


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

Desvane...céu!

Lá atrás do monte
grande, arredondada
e iluminada de sol ardente
descansa a Lua.
A mesma que me fazia
acreditar.
Mas a luz nem sequer é sua
e eu puxo do manto,
escuro de breu
atrás de si,
(que julgava ser seu)
esse céu bom de sonhar
para agora tapar o pranto
do que já não é meu.
Fica o céu de breu
e silêncio brando
debaixo deste manto.
Matando-me.
Desfalecendo.
Desvaneceu...


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬
Que me estranhes!
E se me quiseres
Compreender
Deixa-te ficar.
Cativo-me das pessoas
Também assim.
Não sou o bem em pessoa.
Sou mais um
Por aqui a remar
Em direcção a uma foz.
Fiquem os da aventura
De descobrir.
Iremos juntos
Mares descobrir.
Um batalhão de estranhos
À terra.
A corrente não pára
Só porque o batel
Por hora se atraca.
À margem encontramo-nos
E na viagem descobrimo-nos.
Seja de riacho,
Rio,
Ou mar-alto,
Vamos.
Um batalhão
De irmãos e seres humanos.
Braços e vontade
De remar.
De ir
Mais do que ficar.


VAz Dias

Sonhador Matutino

Vou me desculpar com as circunstâncias.
Com o azar.
Com a vontade que definhava.
Sempre fui de acreditar.
E numa madrugada
Acreditei como o miúdo.
Nada que me abalasse a fé.
Nem mesmo o velho
Que cresceu em mim.
Nem mesmo a realidade
Pugilista
Das outras batalhas
De crença estóica.
Fui sabendo que a manhã
Seria uma besta.
Por isso nelas durmo.
As manhãs são a besta
Dos amantes e dos crentes.
Quem acorda de manhã
Já não sonha.
Tem a felicidade toda controladinha.
Toda planificada.
Quem ama como sonha
Perde e ganha.
É igual.
Esses matutinos não sabem
Perder.
Amam com regras.
São hermeticamente felizes.
Eu também.
Como o sou na infelicidade.
Sei não controlar o amor.
Durmo de manhã
E sonho
Como choro.
Por dentro.
Para que esses não vejam.
Não quero atrapalhar
Esses seus controlados
Sonhos nocturnos.
Bestas (tenho de vos culpar
Por hoje não ser feliz!)
Bestas!


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

Rabiscador de Versos

Dexei de rimar
Frequentemente
Nos versos.
Descobri que gostava
De me sentir
Surpreendido
Por ideias rimantes.
Rimo com cores novas
Que elas,
As poesias de outros,
Pintam na minha tela
Aberta para a rua.
Tudo muda
E eu errante
Rimo a sofisticação
Do nada
Com o amor por tudo.
Sou amante
Das palavras que ainda
Não pintei.
Por não saber o seu
Nome.
Por ser um curioso
Rabiscador.
Rabisco com versos.
Escrevo com vontade.
E pinto sem métrica.
Não sou mais esse poeta
Da forçosa letra
Que rima com outra.
Rimantes somos
Todos
Os que temos ideias
Para a troca
Com a palavra nua
Na rua que está
Na minha tela aberta.
Com cores e ideias
Que de lá me mostram.
A minha tela escreve
Como se deixa pintar.
Tem rimas da imaginação
Das pessoas que lá passam
Com algumas cores
Que ainda tenho em mão.


Poeta é quem rima
Coração com as outras pessoas.

VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

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Sou o viajante de mim

Perdi as palavras
entre pessoas
daqui e dali,
deste tempo
e das que dali
se precipitam.
Nelas, todo um mundo
de mim
e mais mundos
dos que ainda não descobri.
Sou o viajante de mim
em terras
e chãos de si.
Calcorreio sem pisar.
Deslizo no seu amor
e generosidade
de me dar a conhecer
em mundo e belezas
que desconfiava.
Surpresa da aventura:
"Sinceramente?
Nem desconfiava!"
Amor?
É terra de mim
em céus de universo
com fim.
As terras essas sim...
os mundos por onde passo...
é que se perdem
pelo tempo fora.
As que verdadeiramente
não têm fim!
E deixo-me viajar.
O agrado de também
passarem por mim.


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬

Arame farpado

Ar escarpado
que se suaviza
em arame farpado
passando.
Não arranha
nem estala.
Apenas o diafragma
se sinta fora do seu lugar.
Em queda livre
se projectando para
mal-estar. De amor.
De mal-estar. De amor.
De se desconjuntar.
De sentir uma quase dor.
Sexto sentido
apocalíptico
dos fins aos começos.
Em eterno regresso
e a paz em alvoroço.
Pontapé é na barriga
e salto no tempo.
Recomeço!


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬
Busco na intempérie
Em que me revolto
Ser mar calmo
E disperso.
Converso com o céu
Que me esfaqueia
Com lâminas de água.
Acolho bravo.
Engulo a cada trago.
Impaciência de ser céu
E aceitar o transtorno
De ser eu.
Haja demasiado de mim
Para sobrar também
De bom.
Tempestade em reverso.
Ser acalmia em mar
Que se estende
Em calado universo.


VAz Dias

‪#‎palavradejorge‬