sábado, 30 de setembro de 2017

Escarlate Exótico

Ruborizou-se o momento.
Inflamado o movimento
Pelo cenário envolto.
As cores todas de um jardim
Exótico.
Escarlate acompanhava
As maçãs do teu rosto.
(Ou o meu... não me recordo).
Verde o couro
Que vestia os sofás.
O fumo do cigarro
Que queimava o ar
E o olhar que divagava
Na linha desse encosto
E na harmonia com a
Tua silhueta.
Sorrias como se fosses
De um quadro pintada.
Dependurado o sorriso
Os lábios vermelhos
Percorriam o meu desejo
De cima a baixo.
Sempre fui louco
Por circunstâncias
Inesperadas.
Tinhas esse jeito.

VAz Dias

#palavradejorge

Verte-se um Anseio

Corpo inerte.
Peito arrumado
Contra si próprio.
Tudo apertado
Junto ao estômago.
Um vazio
Que abre uma corrente
De ar
De surdez
Nessa planície.
Sente-se cada batimento
Cardíaco.
O corpo é espasmo
Em cada movimento
Resvalado pelo coração.

"Parece que vou rebentar!"

Prenúncio de agitação.
Sempre tive queda
Para a premonição.
Para o vento gelado
Que vem
Das discussões acaloradas.
Da cólera calada.
Da incongruência alcoólica.
Cólicas e anseios.
Desvios e receios.
Escreve a mão junto ao peito.
Os dedos sentem
Nas pontas os espasmos
Primeiro.
Pesada vai a respiração.
Escreve-se uma oração.
Uma escrita dessa condição.
Não há meio...
...
Não há meio.

VAz Dias

#palavradejorge

Fogo Posto

Estivemos quase para fazer um poema.

Usámos um tórrido pressuposto
Mas deixámo-nos ao gesto
Sob pena de se ganhar um solitário.

Mas...

O teu corpo...

A vontade

E o fogo

E o fogo?

O teu foi fogo posto.
E depois desarrumo-te o sonho.
Fogo todo!

Labaredas para as quais
Corro.

Chama-me!
Chama-me, fogo!

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Querer o Agora

É de um conforto
Estranho
Esta nossa familiaridade.
Este acerto constante
Em tudo o que nos
Toca.
Há um futuro que nos
Convoca
E apaixonei-me
Há muito pelo
Agora.
Amo-te agora
Porque daqui a dois
Minutos posso
Não estar.
Ou tu.
Ou nós.
Ou toda a coincidência
Que nos uniu
Outrora.

Um dia serei tão
Grande que saberei
Amar o nosso futuro.
Se sobreviver a este dois
Minutos
De cada vez.
O terceiro é sempre nosso
Quando acontecer.
Por enquanto apaixonei-me
Por ti
Agora...

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 28 de setembro de 2017

Há Cantos

Há cantos em que me encosto
Que se fizeram
Num momento particular
Meus e para a minha
Conveniência.
E no entanto esse sentimento
De pertença
É do canto.
E deste canto
Que me sai do espaço.
Do abraço ao local
Que já me queria.
Ou talvez por interesse
Me queira só para o canto.
Os cantos
Casados para os seus interesses
E eu ser um carteiro.
Sou o mensageiro
Do que queriam de mim.
Talvez como outros
Que escreviam.
Imagino as épocas
E os cantos deles
E leio os cantos
Com que foram
Bafejados a nos oferecer.
E agora há cantos
Diferentes que me chamam
Para lá estar para lhes
Acomodar a alma
Até seguir.
E esta almofada que aqui
Se debruça
Como mulher nua
E rendida ao prazer
Que desagua
Nas planícies do bem-estar.
Do canto que sussurra veludo
Nas canções
Que chegam agora novas
De novo.
Canto amor aos cantos
Que me "almofadam"
O fado de estar
Com o prazer de voltar.
Vou mas fico,
Tanto que fico.
Tanto!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Pele, Im(Pele)!

Foges-me.
Talvez porque andes à procura de ti mesma.
Talvez porque a distracção
seja própria
dos solitários
que andem de amor
às costas.
Possuem-na.
E vão vendo onde andam.
Para saber que são remetentes
dessa carta por escrever.
São as palavras que um dia
verás acariciadas na pele
e no gesto
de quem se endereçou
como destinatário.
Uma mochila carregada
de esperanças
e pernas para nos descobrirmos.
O corpo é sempre a carta
aberta
para fazer amor ao tempo
e nos espelharmos
nas palavras que se guardam
por debaixo daquela pele.
Impele-te!
Descama.
Anda.

VAz Dias

#palavradejorge

Memória da Gente

Castanho dourado.
Laranja esverdeado.
Sol na folha queimado.
Ela tostada de verão
passado.
Outono quente
de noite resfriada.
Deixámos lágrimas
da irónica tristeza
da estação passada.
Sorrimos com as cores
que esta tarde
auguram apenas isso...
felicidade das cores.
Que sejam esses os motivos
que matem as saudades
dos risos
que em criança largávamos
nos dias quentes.
Nas insolações
de fotografia registada
lá na memória.
Na criança da gente.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 26 de setembro de 2017

Química bastante

Era a minha condução
Precisamente
Que me levava
Ao pensamento de ti.

Não me levava a lugar
Algum em particular.
A um suposto futuro.
Ou a um suposto tu.

Levava-me sim a lado
Nenhum.
Como em tantas outras
De ti.
Do mesmo género e história.

A condução era por si
Queimar quilómetros
E passar pelas mesmas
Estradas.
Tantos anos caminhando
Para os mesmos
Sem-destinos.

Chapa ganha
Terra gasta.
E tu sem seres resultado.

Havia apenas uma coisa
Garantida.
Que no final
Teríamos sempre buscado
Um no outro
O desencontro.
E isso ja era química
Bastante.

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Abundância

Deitados
Levamo-nos pelos dias
E pelas noites frias.
Elas virão
E seguirão nos ciclos.
És tu que me convidas
A ser mais de mim.
A sermos mais ricos.
E não abundaremos
Em dinheiro por isso,
Abundaremos
De tudo o que já temos
E pelo compromisso
De sermos livres.
De ires para onde
O teu coração te mandar
E eu seguindo o meu.
Abundaremos
Juntos e em separado.
Porque sempre teremos
Sido
Excelsos de nós próprios.
De nos termos
Encontrado.
Abundância.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 24 de setembro de 2017

À excepção de uma janela

Desapareceste com a qualidade
Dos que sempre surgiram
Intensos.

Encandearam-se os olhos
E os restantes que por
Ali orbitavam.
E no entanto
Não ligavas.

Não eras de espectacularidades.
Exibias-te a despropósito
Porque nem sabias
Que era exibição
Ou para que valesse
Que era propósito.
Fizemos amor sem sabermos
Porque as luzes,
As vaidades
E as vontades
Ficaram na distracção alheia.
Ficaram nos outros
A quem amámos.
Ficaram no futuro.

Desapareceste com a qualidade
De um êxtase
A meio do sono.

Foste mas ficaste.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

Conforto

Vou escrever uma canção.
Uma com a forma
De um coração.
Coisa lamechas
Para se ler enrolado
Ao serão.
Aquecer com cavacas
E abraço apertado
Em labaredas.
Braço e antebraço
Enrolados na palma da mão.
Dedos rendilhados
Como que fazendo
De napron.
Poderia ser uma canção de mau
Gosto
Ou da pura ignorância.
Mas que importância
Tem isso quando já se
Sabe morrer?
E saber morrer por amor
E reencontrar o seu próprio
Coração?
Canta-se na saudade
E na saída
Duma autoestrada.
Duma viagem
Com vontade de chegar
E dar a alma toda
Que na bagagem
Vinha guardada.
Estive sempre aqui
Mas fui procurar-me
Em ti
Lá para os confins
Do Nada.
Voltei de mim
Para nos encontrarmos
De novo.
Novos
Como em cada nova
Ocasião.
Vim com esta vontade
De te cantar
Mesmo não tendo voz
Ou jeito.
Vim amar-te de novo
Com este poema
Agora tão tarde
Em forma de oração.
Vim encantar-me de ti
De novo minha
Voz
Minha
Amada
Minha
Canção.

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Irruptivo

Os minutos dos dias
Irruptivos.
O totalitarismo do tempo
Face à escravidão
Das metas.
O cansaço e a prossecução.
A locomotiva
Que trilha o cérebro
E o descanso que fica
No último vagão.
Tento morrer de amores
Por ti.
Sei que descansaria
Enfim.
Ou desdenharia dar paz
À minha mão.
Tento-te em poema de novo.
Um "não-poema" de novo.
Para parecer mais fácil.
Mais acessível ao mundo
Me conhecer ao teu amor.
Treino-o.
Linha a linha.
Mas aqui estou eu
Trilhando com roda de ferro,
O aço dos incautos
Da saúde.
Um horror.
E um coração.
Uma razão que não
De um poema que não.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Governo

Não sabemos o que fazer
Quando desejamos
Ter a resposta
Numa mão que não
A nossa.
E por mais que possa
Pensá-la
Tomar é do corajoso
A decisão.
Corajoso?
O que sabe morrer
A cada amargo de boca
Alheio.
Em cheio.
Acre!
Achaque
Do próximo que não pode.
Fico com meio
De tudo
E os outros
Só meio de me dar.
Menos humano
E mais justo.
Assume-se a grande custo.
Desistia
E o que se fazia disto?
Perco o que perco
E nas sobras
As grandes conquistas.
As pequenas grandes
De quem sabe ser só.
Pó!
E acabar.
Só meia dor
Para os amantes
E transeuntes
Que afinal ficaram
Na memória do pó
Que sei ser.
Desaparecer
De meia perda.
Apenas isso.
Só!

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Estrada

Onde vais tu
Senhor vertical?
Que caminhos
Escolhes no meio
Dessa recta
Que se estende
Nas curvas do desconhecido.
Ardeste a planta
Do pé.
Queimaste o papel
Das tuas bíblias.
Encontraste a humanidade
Que te traça os desvios.
E no entanto és mais coração
Por isso.
Mais do que o desconhecido
Que temias.
Segue sem medo homem
Vertical.
Os joelhos também são das pernas
E do caminho.
E vertical
O quanto puderes.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 16 de setembro de 2017

Perder-me em tantas de ti

Chegar pelas sombras
No calor quente
Que se esvai
E que guardas no leito.
É carne que delapida
O meu bom-senso.
É lento o meu raciocínio
E animal
O instinto.
Dormias ali tão sedutoramente
Indefesa.
Presa às minhas mais
Básicas necessidades.
És todas elas
E o expoente da repetição.
Cravar-te o maxilar
Com caninos e molares
E tudo o que é necessário
Sugar.
O teu peito,
O pescoço,
O cachaço que ignora
A terra que são as tuas costas
Atracar.
Sou vontade ébria
De te engolir.
Líquida e formosamente
Corpo.
Fico louco sem te ver.
Podes ser todas as outras
E a cegueira render.
Quero é corpo nesse momento
Para me perder.
Perdi-me em tantas de ti.
Tantas.
Tanto que pode um homem apenas
Perder.
Tudo
E de livre vontade.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 15 de setembro de 2017

Não fomos

E então?
Deixámo-nos ser assim
Pelo tempo.
Pelo desprendimento.
Por nunca termos "sido".
Deixámos não acontecer.
Deixei de te dizer algo.
Por amor.
Por culpa do finalmente...
Amor.
Não foste
Nem tinhas de ser.
Mesmo que por tantos
Silêncios
E vielas perdidas
Me desencontrasses
Nos teus planos.
No teu amor.
Não fomos...
Por amor.

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Sombras em debandada

Ainda me lembro
Das sombras
Por ali deixadas
Como migalhas
De te seguir.
Vieram pássaros
Como oportunistas
Da desatenção
E da gula dos amantes.
- Só esfomeados
Das paixões -.
Larápios da paz
Interior.
Havia oportunidade
E fome.
Havia ignorância
Conforme a vontade
Do desejo.
Mas o que é desejo
Senão voos picados
Às migalhas
Por outros deixados?
E nas sombras
Também te atenuaste.
Foste esmorecendo...

Para sul os bandos
Voaram.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 10 de setembro de 2017

Há corpo e brisas

Há corpo na mente.
Corpos que ressoam
Ao de leve
No pensamento.
Passado passa para a
Frente
Convidando o presente
A lhe prestar homenagem.
Um págem
Que lhe abana brisas
Dos prazeres.
Há corpo no prazer
Dos prazeres da gente.
Mente quem disser
Diferente.
Quem não passou
Por tanta gente
Quanto passado
Que beija os presentes.
Há corpo e prazer
E passado
No sereno presente.
Brisas delicadas
E prazer conivente.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

Sem Idade o Bastante!

Se o tempo me consumisse
a velhice
atirava-me para a infância
e ainda assim
deixo que não me leve
isso tudo.
De que vale ter
duas datas iguais?
Vamos mudando nas idades
o número que precisamos e
isso basta.
Não doendo tanto
mas sorrindo o bastante.
O bastante!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Multidão estagnada

Uns correm a pé
Outros correm apressados
Para chegar antes
Ou a tempo
Ou o menos atrasados
Possível.
Outros correm
Para no meio dos que correm
Resolverem a erosão do tempo.
Querem chegar antes do tempo.
Cidade que corre
E uns morrem lentamente
Nos cantos.
Há prantos calados
No encosto ao solo
Na tabuleta que goza
Com o infortúnio
Da sua sorte
Na arte que nada resolve.
Passa uma brisa
E ela se dissolve
De cor nesta correria
Desenfreada.
Ela é uma
No meio desta multidão
Que comigo pára.
Acalma a agitação
Descontrolada
Em meu redor.
Há tantos a correr
Para nada
E mais parecem estagnados.
Ela faz-me ir
Mesmo parada.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 3 de setembro de 2017

A Mulher no Cadeirão

São as várias mulheres
Que suportam
A beleza e a monstruosidade
Dos tempos.
A perfeição (que não há)
E as dores todas do mundo
(Que o Homem inflinge).
Todas sentadas no seu cadeirão
Da ostentação
E das unhas arranjadas.
Da prisão a que
Se devotam
Ou foram devotadas.
São os tempos da imagem guardada
E perdida em partículas
Desarranjadas.
Formam belezas novas nas formas.
Membros que as desarranjam
E se moldam aos tempos.
Assentos de vaidade
E ruas que se rebentam
De incompreensão
E insanidade.
Elas são mostruosas aos olhos
De quem não percebe
As mutações.
A mudança dos tempos
Na verdade.

Conheci-o no caminho
Para Guernica.
Nas partes de um todo
Onde a mãe
Se liberta da prisão
Para a morte.
Onde leva o filho
No regaço e da pouca sorte.
A imagem é forte
E a dor na realidade
Me assola.
Triste
(Tanto tempo depois
Como nos dias de hoje)
A minha alma chora.
A arte é a religião nova
(Deus avisa para os novos
Deuses)
- Mas qual é a espiritualidade
Do Ser que não encontra deus
Mas se revê no Homem igual?
Na dor igual,
Na resolução possível?-

Não é crível que me salve
E só sei o que choro.
E o que sorrio.
E o que amo.
E o tempo que aqui tenho.
Pinto o que posso
Com o que me escrevem
Por dentro.
O resto é tempo.
Convenço-me.

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 2 de setembro de 2017

Fome fora d'horas

Flutuo nas ruas
Do asfalto quente.
É de noite
E de repente
Os cheiros ficam
Impregnados nas memórias.
Gente que come fora
De horas.
Que corta o cabelo
E faz provas
Da vaidade em que corre.
A cidade corre também
Mas nas ruelas come-se.
Frita-se.
Cozinha-se.
Fala-se como se come.
Com muita fome.
Muita fome de tudo!
Não dorme a cidade.
Não arrefece.
Cresce a fome
Que às horas
Desobedece.
Flutuo ao que parece.
Tenho fome a toda a hora
E corre o tempo
Tão depressa
Que me desaparece.
Mordo-lhe as horas
Para que me reste
Algo mais do que
Apenas memórias.
Madrid fora d'horas.

VAz Dias

#palavradejorge