terça-feira, 30 de outubro de 2018

As crianças com mãos de revólver

Não me abstenho
Da diferença.
Abstenho-me do ridículo
Dos factos
Acertados para encaixarem
No argumento
Do prolífero
Entretenimento
Daqueles que não querem
A nossa fala.
Dirão que é a razão
E não a falha.
Tentarão falar por
Nós.
A gralha!
Mais palha
E uma acendalha.
Inferno
De argumentos
E horrores nos aposentos
Dessa gentalha.
Não os calaremos
Porque o seu ruído
Os ensurdecerá.
É ralé de pouco
Se ralar com o bem
E o mal dos outros.
Aceitam o horror
Por ser dito de verdade.
Saber com o que contar
E contar as mortes.
As crianças com mãos
De revólver
E a saúde de ter
Segurança em casa.
Morreram em casa.
Mas nada se põe em causa.
Gente louca
Mas não falsa.
São o horror
E nem se disfarça.
Bem-vindos ao dia
Antes do dia dos mortos.
Preparem-se para morrer
Com barulho
E a boca amarrada.
Gritos engolidos
Para a canalha desta terra.
Canalhas!

domingo, 28 de outubro de 2018

A Terra do Mar que Abraçamos

Onde te deixei
Perder de vista
Quando apenas um mar
Nos separava?
Um olhar que ficou
Longe
E um abraço
Que teve de ser resgatado
Ao passado recente.
Repete-se a história
E caem lágrimas
Iguais às
Dos nossos
Pais
Dos nossos avós
E da terrível empatia
Que sentimos pelo
Mal feito entre nós.
Ficou um olhar perdido
De um abraço
Que tinha mar
E a nossa terra por debaixo
Dela.
Somos dessa mesma
Terra
E dos homens que se
Assustaram com a profundidade.
Choramos
Mares.
Choramos passados
Mas prendemos
A respiração
- como num abraço -
Para nos vermos
Livres no futuro.

Para nos vermos.

Para não termos
Perdido lágrimas
Por desuso.
Perdemos as diferenças
Num olhar
E o tempo passou
E a história
Que os usou.
E a descrença.
E o desespero.
E parece que nada mudou.
Só a empatia
De quem não esqueceu.
Um abraço
De cá para lá
Com a profundidade
Do mar à nossa terra.
À que nos faz os mesmos
Mas diferentes.
Resistentes.
Sempre!

Velocidade dos Astros

A velocidade dos astros
Que nos regem.
A lentidão com que
Embato nos outros.
Depende. Depende
Do contexto,
Do bem...
Do mal-entendido
Perdido nos olhares
Que se esperam
Iguais.
Com a fragilidade deles.
Com a dança
Das pernas que reaprendem
A caminhar.
Os que tiram proveito
Das nossa inequidades.
Que abusam de nós.
E nós pelo bem
Perdemos.
E se ganhamos
É na velocidade que
Nos fugiu para longe.
O retorno espera para
Outro embate.
Embate de alma
Ou desistência
De sermos iguais.
E no entanto
Agradecidos pela
Diferença que nos faz
Iguais.

sábado, 27 de outubro de 2018

Narciso no lago

Narciso caiu no lago do seu reflexo
Afundou-se em si de tanto
Admirar o seu traço.
Traçou o destino
E uma vida de beleza
Fútil e sem nexo.
Convenço-me que um espelho
É acessório,
A fotografia uma memória
E o ego
Nada de se deitar fora.
Apenas de se esbater
Pelo tempo.
Convenço-me.
Tento.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Zero Tudo

Estou tão perto
E tu tão longe.
Um sonho
Que nos separa
As vezes todas
A que nos desejaríamos.
Quebra-se um beijo
Metade na testa
E a outra
Nas vezes que se perdeu
Nos olhos desligados.
Liga.
Desliga.
Não estou.
Estou.
Pela calada faço
Todo o barulho
Que desarrume os lençóis.
Sabes que mais
Vou acordar-te
Vou saltar fora deste sonho.
Quero-te!
Em silêncio
Zero Tudo.
Quero-te gritando
Mudo.
Gritando-te um mundo
De mim
E desnudo-te.
Só assim...
Para cairmos
No mesmo sonho.
Juntos.
No mesmo segundo.

quinta-feira, 25 de outubro de 2018

O Gosto pela Inquietude

A inquietude a que me deixo
Devotar
Mais não é
Do que espremer
O fruto do sabor que lhe
Conheço.
Onde fica a surpresa
Do primeiro trago?
Onde fica o sumo
Que percorre
O corpo e remexe
Os sentidos?
Inquietar-me com o que
Já não faz surpresa
É pedir ao mundo
Para não me decrepitar.
É voluntariamente
Fazer-me parecer
Arrogante.
Distante disso.
É ser infante
E tomar o gosto
Primeiro sempre.
Inquietude mais do que
Um prazer
É um gosto.

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

Sem Rascunho

Deixo-te em rascunho.
Dificilmente arranjo
As palavras certas.
As melhores.
As que escondem
As piores
Do que também podemos
Ser.
Somos elementos
Agitados no meio
Do "sempre"
Acabando por ficarmos
No "nunca"
E nos "entretantos".
Agradecemos aquilo
Com que estamos.
Estou com rascunhos
E alguns destes poemas.

Rimar alfazema
Para lavar os pecados
E para levar
A bom-porto
Os barcos atracados
Da nossa perda.
Da nossa perdição.
Águas profundas
Da nossa
Condição.
Mas só eu desci
À légua.
Desenrolei a língua
E a espera.
E escrevi-nos
Rascunhos
Deitados na corrente.
Alguns chegaram
A ti e outros
Serão nossos
Como o nosso para
Sempre.
Vai numa centena.
Sempre sem tema
E sem ti.
Pena de morte
E dobrado o cabo
Rebentamos com o saldo
Negativo
Do desencontro.
Torrente contínua
E forte.
Para além do globo,
Da possibilidade de nós
E da nossa sorte.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

Convicções da Terra a Céu Aberto

Apaga-se uma pálpebra.
A outra escorrega
Com um cansaço
De velho.
Estrias que se alongam
Ao teto
- um céu aberto -
Que ecoa o silêncio
Da penumbra Sempre.
Fere a gengiva
Que sente rasgar
O solo
O manto
E o caroço
Duma terra que é peito
E na outra metade
É querer.
É não saber
Para mudar
E mudar
Sem saber se não estava
Melhor quieto.
E o céu
Atento
Não quer saber de mim.
E eu dele
Que lhe adormeço aos
Pés mais perto
Do osso
E disso
Que me fere
O jeito
Como o peito se
Oferece ao Nada.
Escrevi embriagado
De "ontens"
Sucedendo
À atenção dos "amanhãs".
Dói-me quase nada
Mas mais
A velhice que vai chegando
Nesta miudeza de mim.

segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Tanto de Mim

É mais do que
A carne
E eu sou tão
Físico.
É mais do que futuro
E eu sou tão
Do agora.
É mais do que a
Viagem
E eu sou tanto destas
Ao profundo de mim.
É mais do que a emoção
E eu que me tornei
Resiliente.
É a simplicidade de tudo
O que fazes.
De tudo o que és
E do que ainda
Não somos.
É essa pessoa que tu és
Que me deixa ser
Quem eu sou.
Mais de mim do que
De nós.
E nunca alguém me teve
Tanto
Porque eu nunca fui
Esse tanto de mim.

domingo, 14 de outubro de 2018

Núvens de Algodão

Mas as palavras que se propagam deixam sempre um vazio
no papel branco,
que guloso,
pede tanto quanto tu,
de mel,
de pele e da alma que se perde por tanto que impele.
Chama-me se no leite que te deita no leito falta o mel,
o poema,
o homem que a mulher deseja.
Fecha a porta atrás de mim.
Deixa que a corrente seja a sanguínea que rectilínea se desfere ao coração. Fecha a porta atrás de nós.
Deixa a voz lá atrás.
Ou no mel.
Ou no leito.
Mas grita no peito a viva voz.
Coração!

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Entardece

Às vezes basta uma rua
Inclinada.
Um algo que fuja à
Normalidade.
Um pensamento que te deixe
Nua
Um poema que incite à
Proximidade.
Mulher que te passeias nessa
Calçada
Que trazes nesse peito uma beleza
Abraçada
Uma brisa que deslize por ele
Convidada,
Porque te dás ao condão da minha
Imaginação?
Porque és sem seres
O passeio que faço nos versos
Duma canção?
Nem sequer sei
Cantar
Nem sequer tenho voz desse
Artesão.
Mas a beleza é mais do que se

É a arte de passar sem
Passar
De provocar a
Invenção
De ser corpo que se
Apaga
E surge no tempo de um
Poeta.
(Pelo menos este assim crê).
E quando o poeta
Desaparece
Ficaste a ser beleza
Eterna
Dum poema que nunca
Desvanece.
É chama que se

É vida para além da morte que
Acontece.
É invenção.
É imaginação
É de ti esta canção.

É por ti
Que a beleza
Entardece.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Morte ao Ódio!

Dos que te são próximos.
Dos que se afastam
De tão próximos.
Dos que longe
Se querem aproximar.
Dos que tão distantes
Do teu Ser
Se aproximam de te
Serem.

Essa desigualdade
Que nos comunga.
Esse igualdade
Que nos desnuda
E o amor que salta
E desbarata
Por entre estes todos
Que nós Somos.
Temos de Ser juntos.
Aproximar-nos
A partir das diferenças
Até às nossas mais
Ínfimas similitudes.
Mas romper com o mal
Que está a tomar conta
Da nossa avarenta sabedoria.
Está a fazer-nos ignorantes
Do coração.
Sem compaixão
Nem empatia.
A matar-nos como
Seres.
A ironia perante
O absurdo da nossa
Elevada existência.
Somos uma praga de nós
Sem dó de nós mesmos.
Uns pelos outros.
O amor a fugir por
Entre os dedos.
O ódio a fazer-se
Companheiro,
Filho
E amigo do alheio.
Se é para matar
Que se atente
Sobre esse demónio.
Morte ao ódio!
Morte ao ódio!

Morte ao ódio!

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

As Mulheres que sou para Ti

Em quantas mulheres
Posso eu me multiplicar
Para ser o homem certo?
Em todas elas
Eu tinha a consciência
De quem queria ser.
Do que cada uma
- diferente da outra -
Poderia ser.
A (in)compreensão
E infinitude de cada um
Desses universos
E eu neles
Para melhor servir.

[ o segredo reside em melhor
conhecê-las a todas,
em mim
para te espelhares
cosmicamente ]

Sou um lavador
De pés do próximo,
Daquela que existe
Em mim,
E que serve o universo
De quantos lhe
Peçam.
Sou amante
Da solidão da noite
Onde resplandeces
Pelo dia
E da água em que,
Brilhando de ti,
Me revejo.

Estão lá todas.
E a luz que habilitas
Para me fazeres
Encontrar.

Refeição

Não há dor.
Não há murmúrio.
Só um barulho
Que posso ou não desligar.
O orgulho de tomar
Uma refeição nas nossas
Palavras.
E o mundo parece
Desabar
E na outra ponta
Aqueles como tu e eu
Semeiam bondade.
Deixei de querer saber
Tudo.
Apenas vivo as pessoas
E eu nelas.
O que sou em cada uma
Atempadamente.
Um devir
E significados simples.
Sem respostas fechadas.
Abertas vão as nossas
Conversas
Para que nunca acabem.

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Acabrunhado Sorriso

Acabrunhado
Por vezes sorrio.
É nesse meu sem
Jeito.
Nesse meu parapeito
Onde descanso os olhos
Nos braços
E no descanso de ti
E dos teus olhos
Sorrindo-me.

Amor de gaiato
E de senhor.

Um alfaiate
De costuras requintadas
No desenho de ti.
Lembro-me sempre
Do último sorriso
E como pregá-lo.
Melhor que padre
Melhor do que marceneiro
Melhor do que fadista
Ou taberneiro.

Falo em tom de tasca
E de quem pesca
Umas rimas
Na mesa.
Garoto sem modos
E sem modas.

Puro.
Genuíno.
E puto.
Astuto apenas
Para brincar.
Com os olhares
E a falta de jeito
Do saber estar.

Vi um louco
Em cima do banco.
Saltimbanco da caneca
E o meu passado.
Vi um pouco do que não
Quero para lá voltar.

Mas é esse miúdo
Que em mim
Vive
Quando te escuto
E me fazes gargalhar.
Os dois e só tu
Para te saberes enquadrar.
Nem que seja
Por rires sem pensar.
Fazeres-te de desentendida
E um enamorado
Como eu nunca
Se olvidar.

No meio destes
Meus dois
Nós os dois
E dias de invenção.
Dias de brincar ao amor
E dias de o fazer crescer.
Mesmo antes
Da bota bater
E fazermos continência
À incontinência
E à terceira idade.

Que seja já assim
Tão tarde
Como as vezes
Que reencontras em mim
Um desejo que sempre
Arde.

Amar-te de criança
A velho
E pelo meio ver no que dá
Se riso, se gargalhada,
Se preciso,
Se amada,
Semeada
Sem nada
Ou com tudo
Para tentar.
Amanhã
E depois de amanhã.
Talvez vá.
Vamos?
Vá lá?!

És um Homem ou és um Gato?

Um não poema
De versos intercalados
E sentidos despertos.

Interpõe-se o teu olhar
E o argumento do tanto
Que há para fazer.

Tento não ligar ao estratagema
Do gato escaldado
Ou dos factos concretos.

Interpõe-se o teu vagar
E nem o meu espanto
É suficiente para te convencer.

Arrependimento é de vidas
De gato e das vezes
A que se pode dar a esse aparato.

Gato é felino e felino
É a parte que um ser
Se dá ao disparate
De ignorar tal facto.

És um Homem ou és um Gato?

domingo, 7 de outubro de 2018

Verdade ou Consequência

Não e Sim.
Os dilemas da certeza
E a inquietude
De estar do lado errado.
Queimem-se
As bruxas em praça pública.
Invente-se bruxas
Enquanto um homem
Viola ou faz amor.
É consentimento.
Não, é com sentimento.
Mesmo que sim
Mesmo que não.
Dá errado acertar
E só se sabe o resultado
Depois de dar
A opinião.
De forçar a mão.
Um contra um
E ganha a força
Ou a insinuação.
Defesa do ladrão
E a caravana passa
E ladrão o cão ou a cadela.
Mas já se julgou
Quem não tem
O condão
Da deliberação.
Culpa ou Inocência
Será de quem merecer
Sofrê-la
Ou rendição de uma culpa
De quem nem sequer
Querer vê-la.
O silêncio e a verdade
Ficam nas mãos
De quem não tem nada a
Ganhar
E quem tem a perder
Que se defenda
Ou acuse
E deixe o tribunal
Reconhecê-la.

sábado, 6 de outubro de 2018

Morrer Descansado

Sucumbo ao bem.
À harmonia de além-Terra
E pré-Universo.
Por vezes acredito
Nisso tudo
Como substituto de Deus.
Por vezes
Deixo também de acreditar
Nos céus.
E menos nas coincidências.
Nas aparências
E ser apenas meu.
Com todo o erro que daí
Advém.
Tão somente eu
Sem sorte ou acaso.
Nascer da multiplicação
Crescer sem perder
Fazendo pelo melhor.
Acreditar na morte como
Fim
E pelo meio
Não estragar muito.
Sermos todos erro
E a coisa dar de si.
Cortar o ciclo
Do supra entendimento
De que tudo tem uma
Razão de ser.
Não tem!
Somos um erro
Que tenta dar o melhor.
Até acabar.
Pelo meio
Inventamos amor,
Explicação
Fundamento
Para percebermos.
E não percebermos
E evitarmos
Coincidências
Cósmicas
E porque éramos
Para ser?
Suspeito
Que não sou
Antes de ser.
Assim morro menos
Vezes
E sei que quando
Acontecer
É a sério.
E fico descansado.

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Quantos somos?

Quantas horas há num
Dia se sou tantos?
Se desses bastantes
Apenas chegam as
Partes de um todo?
Nunca me acomodo
Senão pelo fim do dia
Onde levo todos
Os
Outros meus a deitar.
E o corpo esfalece.
Carece de energia
Que compete a um corpo.
Mas sou mais do que
Esse corpo amorfo
Que adormece
Enquanto todos
Os outros acontecem.

Agarrei num telefone
E chamei até ao silêncio.
Busquei nele
Um barulho
Diferente
Diferente dos outros.
O mesmo silêncio
Deste todo.

Como?

Como se quer
Que um todo não seja
A soma das partes?
Mesmo que algumas se anulem
Por se tratarem
Dos mesmo polos.
Das mesmas energias.
Das mesmas heresias.
E santificadas companhias.
Um anjo,
Um santo,
Um lutador
E um pecador.
E tantos que ainda não sei.
Faça-se o gosto
Aos outros
E eu morto em pé.
Candomblé
De escravos de mim.
De pretos de mim.
De orixás.
De África e já agora
De cá.
Cá me guardo ao desejo
De unidade
Como a sede de nos reencontrarmos.
Lanço uma magia
E sou nada.
Apareço
E convenço-me
Que mudo. Mas nada.
Tudo na mesma
De tanta gente
Em mim separada.

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Está bem!

"Está bem!"
Acenamos com a cabeça
Concordando
E deixando o apelo
Dos olhos
Ao resguardo dos desatentos.
As pessoas falam na rua
E o ruído é apenas
Uma frequência
Na qual te perdes.
Despertador que toca entre sonos.
Sinos que já não ouves
E o último sono
Ficou por provar.
O último corpo
Por culpar.
A pele envelhece
E a espera não é mais
Do que a consciência
Da morte.
As coisas que se fazem.
As agendas.
Os propósitos e os argumentos.
A ficção que se faz realidade
Dos outros.
As insónias dos outros.
"Insônias" é sotaque de quem
Está acordado quando
Ainda dormimos.
Está bem. Está sempre tudo
Bem!
Aceitar é o mesmo que não.
Espernear ou estancar dá
Para o mesmo.
Gritamos ao dia
De boca molhada.
Cuspimos os olhos
Ao céu inadvertidamente
E acordamos Deus.
Deus às vezes dorme
Se alguém acredita nesse céu.
Se não se acreditar
Também dá.
É uma picardia
Tão usual entre humanos
Que se vêem.
Mas do céu vem água.
A única coisa puramente
Física de quem não dorme
E que se vê.

[Toca o despertador de novo]

Nos sonhos o céu não
Existe e Ele não estava.
"Está bem!"

quarta-feira, 3 de outubro de 2018

Mais do que Nada

É volúpia
É vontade
É a noite em dia
E o dia
Encarnando
Sangue que corre
Para onde não estás.
É a procura de ti
Porque quero estar perdido.
Continuar sem saber
Onde estás
Mesmo que sejas tu.
A aventura de nunca
Sermos
Até nos perdermos
Um no outro.
E a vida ter sido
Reencontros.
E nós mais do que carne.
Mais do que nada.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Manto Branco

Branco.
Vejo tudo branco
E da cor
Que faço ser
Como da vida
De um saltimbanco.
Estanco por enquanto
Porque toda a corrente
Disparou para um flanco.
O externo encheu-se
Em demasia
Do que o desejo
De menino queria.
Foi assim um dia
E agora sou tanto de
Encarnado
Como de transparente.
De repente
Morri e vivo
No sonho de mim mesmo.
Amo-te tanto
E o peito tem um externo
Materno
E outro de um bando
De passados
Com futuros por encontrar.
Pode tudo mudar.
Mas ficar velho é opção...
Só se a Deus
Achar que não.
Mas até isso mudou.
Externo ateu
E crisma em branco
Ajoelhei num banco
E Ele deixou-me ir.
E fui.
E encontrei anjos
E a ti.
Eu reflectido em ti.

Estou vivo
Enrolado num manto.
Sagrada ou não
Foi o que céu
Me mandou de ti
Encomendada.
E eu o que sei
É que não sei nada
Desde que o peito morreu.