Senti a paz
que buscava.
Alguém que para além
de si
não se tomava
tão a sério assim.
Que morrer era real
e onde tudo acaba
como foi
- com o propósito
de ser -.
Acaba tudo e começa
algo novo.
E isso é o maravilhoso
da vida e a libertação final.
Deixarmos de existir
quando acabarmos
de ser.
Passar a ser outra
coisa
para que a vida
continue em si.
Deixo a cada ano
de me levar tanto
a sério.
As dores diminuem.
Os horrores desaparecem.
E no entanto
estão lá
mas vão deixando
de se aproximar.
Sou livre e vou morrer.
E já estou feliz
por isso.
Porque sei que vou
viver até lá pelas melhores
razões.
Quero e desejo
ser cada vez mais
humano e desprendido
de tudo o quanto
me reduza
o amor de dar.
Como sei
se é só assim
que sei amar.
quinta-feira, 25 de julho de 2019
Viva!
domingo, 21 de julho de 2019
ventanias suculentas
desconcertante
e fugidia.
devolve à
noite o nosso dia
de novo a noite
pelo dia adentro.
penso como
denso é o teu
vento quando
sais para fora
de ti.
mas há em mim
cata-vento
com pozinhos
de perlimpimpim.
vim aqui só
para te ver
mas não vi.
o vento não
se vê assim.
sopra-se um poema
assobia-se
uma canção, pequena,
que lhe chegue
ao coração
e como num telefonema
lhe abrace a atenção.
se vieres,
vem por ti,
para dentro de novo.
agarro-te
com o corpo todo
e uma ode.
nem janela nem
porta pode fazer de ti
corrente de ar
pois sou um cata-vento
com pozinhos de
perlimpimpim
com a alma de
um mundo inteiro
onde também lhe cabe
o ar todo.
vem para dentro
e sê nas minhas
palavras
uma ode.
terra molhada
já senti nas malhas
do prazer alheio
o prazer que sem
me tocares, tocas.
provocas um tremor
que sinto como se
fosse o teu corpo
num balanço
que danço
nu e que alcanço
nas tuas respirações.
há olhares
e indagações
que tremem
os nossos tremores
e pronunciam
os nossos odores.
eu sou a terra quente
e tu a molhada.
profunda e desarmada
perfumada
das plantas pela aurora.
eu perfumado
com a fauna toda.
fauna e flora
terra quente
e tu molhada
temida a toda hora.
tremida vibratória.
causas-me sismos
e desfalque na história.
geografia
e memória.
futuro de coisas boas.
mas da carne
à tua profundidade
toda.
tanto.
o quanto
coma e te trague.
terra molhada.
terra tomada.
carne ardente.
carne empalada.
não deixes que sobre.
não deixes nada
sobre nada.
não deixes nada.
quinta-feira, 18 de julho de 2019
És a Casa
és a casa
de onde me revejo.
lá dentro tu
escondida atrás
das cortinas
és o meu próprio
desejo.
és mulher em
mim.
és um espelho
de prazer
que vai abrindo com
a luz rarificada.
só preciso da
quantidade
de luz suficiente
para te beijar
lentamente
antes que a noite
caia.
e para isso
gosto de cair
em tua tentação.
terça-feira, 16 de julho de 2019
Amanhã há sempre outra pista
Menina da pele
que se quer
perto dele
porque o amor
dança nessa harmonia.
Há uma luz
que se pensa iluminar
a pista como
se fosse dia,
há uma luz deles
que de lá dista
o mesmo comprimento.
É da dança
e do envolvimento
para quem repara.
Quem deixou
de ter pernas
para dançar
mas ganhou olhos
na luz.
Pus os olhos na menina
e na menina dos
olhos dele.
Enebriado
movimentavam-se
coreografados
pelo mesmo tempo.
O mesmo sentimento
que nunca morreu.
Uma dança que
nunca morrerá.
Uma dança de um até
já.
Uma dança que jamais
fará
um deles deixar de amar.
Pode alguém deixar
de amar mesmo
que o parceiro
seja outro?
Jamais!
Porque quem dança
assim mereceu
ser o foco
que à luz
iluminou.
Quem assim dançou
é luz de qualquer
pista
e de qualquer amante
que um dia dançou.
Menina do quadrante
optimista.
Menina do amor
que "para sempre"
conquista
mesmo que seja só esta
dança
a luz da manhã
que a noite avista.
Menina, meu amor,
Amanhã há sempre
outra pista!
segunda-feira, 15 de julho de 2019
Pele da tua Pele
encerro-me aqui para além
da minha pele.
quero que fujas.
que fujas para bem longe
daí com o receio
de aqui chegares.
da explosão cardíaca
que é amante
da adrenalina.
insuspeição
de chegar e embater
para além da pele.
mas vires como
se eu corresse
para ti. se soubesses
como corro.
como morro antes
de cada sentença
de morte
e de repente estou
vivo.
estou vivo porque sei
que vamos acelarando
o devagar tempo
que nos resta para embater.
para sobreviver
a esse acontecimento
e sermos
essa coisa nova
sem sentença.
sem pertença.
só tempo
que se esqueceu
de nós
a nascer dentro
um do outro.
faz da tua pele
minha.
acaricia-te
na nuca e no pescoço
como se fora eu.
de novo.
sábado, 13 de julho de 2019
IRRELEVANTE
não há nada para entender.
deixo o oposto
acontecer... ser.
não vou mover uma palha.
não vou perder nada
que nunca teria
ganho.
sou grão-mestre
da perda. é-me igual.
perfeitamente igual.
viro-me para mim
para esta quietude
que me faz amar o silêncio.
que me faz amar o silêncio
dos outros.
anda tudo a silenciar-se
e o meu é de algodão.
é prova de vida
antes de nos terminarmos
nesse último momento
de surdina.
sabes o que mais?
não tenho medo
de perder
porque não tenho
medo de morrer.
mas mata-me não poder
amar os silêncios
justos dos outros.
mata-me daquilo
que ainda não morri.
e volto tão feliz
ou descontente como dantes.
é irrelevante.
sexta-feira, 12 de julho de 2019
Com a Carne m'enganas.
Sim. Enganei-te com
o amor de um dia.
Despedi-te das
minhas suspeitas
românticas.
Mostrei-te pecado
e amor num só.
Prematuro?
Claro! Sempre!
Nunca!
Vendi-te a ideia
de carne
e e eternidade
no mesmo pacote.
Queria a carne.
Sempre foi a carne.
Sou eu que desejo
que ninguém me ame.
Somos melhores
a sós
e após as noites
não quero os teus
dias
como tu não desejares
mais as minhas
noites.
Se foste, foste bem.
Se ficasses
ficarias melhor
talvez. Mas só por
hoje também.
Amanhã?
Hoje já é amanhã.
Enganámo-nos.
E ainda bem.
quinta-feira, 11 de julho de 2019
Latente
sei que és terra fértil
de onde o fruto
se toma pela mão.
que o suco
é água na boca
e brisa rouca
por antecipação.
o corpo comove-se
em lágrimas de alegria
como a flora
se abre molhada ao dia.
és carne
e vontade entregue
à lei da natureza.
mais depressa ardo
eu do que a fome
à mesa.
estou carnívoro
e arranhado por dentro.
engoli-te ao vivo
e ao litro
e à tonelada.
preenches-me as medidas
assimétricas
entre o silêncio
e um teu gemido.
a tua terra
deixou de ser fronteira
para ser destino.
e eu corro
por ti
e contigo até ao mar.
amar o próximo
amor, por quem não
te encontrei.
cometi o erro
de responder à
minha lei.
libertei o nosso
amor que em si
era já liberdade
mas não toda como
antes foi.
antes de nós
e agora após.
vou me dissuadindo
de ti
como se foras um
erro,
e não nego que
tambem estou bem
assim.
mas não me amo
tanto quanto tu
me amavas a mim.
só posso tentar
voltar a amar
como te amei
a ti
e aí sim
lembrar-me-ei
de amar-me grandiosamente
de novo...
de amar assim.
quarta-feira, 10 de julho de 2019
poeminha
este é um pequeno
poema, pequenino
e sem problemas.
um tão pequenino
poema, franzino
que sob pena
de não ser maior,
ficou num cantinho
com o teu sorriso
para ser amor.
soube ele logo
que pequeno
é maior se for
igual a si próprio
por mais complicado
que o tamanho
da mostra for,
porquanto ser pequeno
grandioso for.
foi sempre um grande
poema
este pequeno clamor.
segunda-feira, 8 de julho de 2019
pequena, rima.
espero que acordes
com sonhos
ao som dos acordes
com que me brindaste
o desejo.
hoje podes ser outra
e aqui estou na mesma
um pouco diferente.
somos todos transformação.
eu e tu
com alguma convicção
que hoje
podemos ser tudo
para nós.
por outros.
por sentirmos
gente ligada
pela liberdade.
pela fidelidade
às nossas
convicções.
és bela sem te
conhecer bem
o rosto.
se és perecível?
de trato
irascível por vezes?
e se melhorares?
e se não?
há natureza em ti.
faz-te à transformação
se quiseres.
faz-te ao coração
se vieres.
fazes-me mais ao poema.
fazes-me mais ao problema
da solução.
soluço em cada canção.
não canto
senão neste poema.
fica a rima pequena.
fica a rima, pequena.
fica, pequena.
fica.
fica com este poema
pelo menos, então.
rapariga da manhã
és fruto colhido
com pingos de orvalho.
um ligeiro trabalho
de dar mão
à natureza
e ela te suavizar
os sopros de coração.
és fruto
e a mão
porque um e outro
são também
mão e fruto
e doçura
de composição.
pintaste um quadro
com sumo
na boca
e na palma
o fruto ainda inteiro
lança a confusão.
mas não.
és o fruto
que assenta na mão
e sumo que busca
o futuro
na boca de quem
tem o poema para
declamação.
sê fruto
sê mão
mas não deixes
de ser a manhã
o amanhã
e um sopro
no meu coração.
domingo, 7 de julho de 2019
talismã do amanhã
um dia
e depois em tantos
outros subsequentes
passei a ter o dom
de ser talismã.
chorei
e senti apertos no
peito
por não ser de alguém
no "amanhã".
morri aos poucos
para nascer alguém
que aos poucos
aceitou trocar a sua
felicidade
para dar lugar aos outros
essa realidade.
perder um amor
para dar a outro.
a generosidade de
não lutar por alguém
ou a ingenuidade
de perceber a prioridade
em ter chegado.
se não percebi o jogo
se não fui a jogo
julgo que tinha de ser
assim.
e o amor por vezes
visita-me.
mas não pode ficar
porque tem outras vidas
para tratar.
deixa-me só
porque sabe
que ele voltará.
amanhã ou um dia
mais tarde.
O nascimento do poeta Jardineiro
faço-me rodear dos meus
mais desejados afectos.
vejo a confusão que normalmente
se instala à minha volta.
eu sei...
a minha energia provoca
e a minha observação
conduz para que tudo
se desequilibre assim
tão harmoniosamente
daí me retirar para eliminar
o ruído.
sentir que a confusão
fica hermeticamente
almofadada
nos meus mais íntimos
desejos.
a fantasia é minha
e repudio
quem não seja tão elevada
nesse meu reino.
um reino de um coração
com mil caras.
cada traz algo novo
para aprender
e se tiverem de ir que seja
por bem.
por não lhes ser um estorvo.
permito-me na fantasia
que partam também
e sempre com mais altivez
do que o hábito.
a realidade.
a sumptuosa confusão
que dança em meu redor.
danço vagarosamente
para a minha solidão
que planta fantasias
e brota esquizofrenia salubre
não tenho medo
de ficar sozinho...
receio não poder dar
algo
de ser útil
de lhes ter sido
no mínimo amor.
serei eu um jardineiro
do futuro?
será que mundo
terá terra e água
para que se faça poesia?
para que não se morra
sem a presunção da transformação?
quinta-feira, 4 de julho de 2019
sopro
não sei quem
és
mas sei que não
preciso de te conhecer
a face.
faz-te primeira
estrofe
e eu segundo-te.
não preciso de te rimar
e tu tão pouco
presumir podes
mas
um sombreado
e o vento
encontram-se
mesmo não se tocando.
e há lá toque
que assente melhor
na memória?
há lá melhor sorte
para a invisibilidade?
há lá melhores ventos
do que os sombreados?
quarta-feira, 3 de julho de 2019
cheguei antes da hora
cheguei antes da
hora
(nunca consigo ser
pontual).
seria provavelmente
destinado a ser assim.
eu que pouco acredito
em destino.
e se for para acreditar
que fosse
pela razão de chegar
na tua hora.
(na nossa.)
são balelas para acreditarmos
num "amanhã".
não é falta de fé.
é mesmo resignação
com braços
para lutar
e abraçar
na hora certa.
que hora é essa?
aquela em que tomamos
a decisão
mais impensada depois
de muito termos
reflectido.
de tanta coisa perdida
e no final
sobrarmos
nós.
os heróis do
"fora do mundo
inteiro"
e dos que restaram
no mesmo ponto.
sem encantamentos
somos
os únicos
no atraso da hora marcada.
os perdedores
da agenda
e do "feito para ser".
cheguei antes da hora
porque não tinha mais nada
para fazer.
e tu, qual é a tua desculpa?
segunda-feira, 1 de julho de 2019
Amor ao Amanhecer
não sei o que é amar-me
como as pessoas
que o souberam fazer
no passado.
sempre fui meio
de muito
e outro meio
de completa ignorância.
vi em poucos olhos
- como a luz do dia -
a clareza do amor.
vi também a negritude
com que se tenta amar
a minha noite.
luz que martela
quase tanto
como a dor disfarçada
no copo.
conversas torpes
e argumentos mais
deslavados
e sem nexo
para ajudar ao ruído.
fiquei possuído
de insignificância
e desamor a mim
próprio.
saí.
fui tomando poesia
como cura a conta
gotas.
meia gota de álcool
meia gota de poesia.
idiossincrasia
metastizada e dobrada
para chegar ainda menos
nada.
tomei poesia de noite
a conta gotas
da mais pura
esperança do amanhã.
das minhas manhãs
tardes.
mas em boa altura.
agruras de quem
sofre doutras agruras
e perde pé para tanta altura.
às vezes rasteja
às vezes encontra-se à altura.
tudo muda
quando queremos.
quando não queremos
mas temos de...
mas tenho de te
responder em poesia
porque somos
tão pouco.
tão pouco compreendidos
e perdidos no meio
da multidão
com certidões de óbito
em versos.
(ler no verso
o que não se vê na cara).
pagamos caro
o amor-próprio.
fuca na cara do outro
poeta
e no verso
do nosso entendimento.
fica o desprendimento
e o amor ao amanhecer.