Sinto-me gordo. Redondamente incapaz de gostar de mim. Forço a mão para que gostem de mim por outras vias. Desculpo-me. Desculpo-me com esta visão social do perfeito ser saudável. Do saudável ser argumento para a vaidade. De ter beleza interior capaz de embelezar os olhos de quem sabe ver "saudavelmente". Para lá dessa plasticidade embrulhada em blogue de "wellness".
Culpo-me por estar sempre próximo desse epíteto e depois deixar-me levar pelas condicionantes da vida. Das escolhas. Dos erros e das virtudes de fazer por mim... ou pelo melhor... não sei. Amar e desamar devia emagrecer-me e tornar-me esbelto aos olhos desses e dos meus. Mas engorda-me. De açúcares e de algumas corridas para a serotonina que se revelam ineficazes dada a fome que tenho de vida e de comida em seguida.
Das conversas lúbricas para me provarem vivo e a outros a loucura a se evitar. Engordo com a culpa de não saber amar quem me quer. Engordo com a paz de me deixarem em paz. Sou gordo aos olhos dos perfeitos e magro aos olhos das avós. Sou um achado de pecado, como o melhor roteiro para o turismo do sexo de slogan apropriado "o segredo mais bem guardado desta visita!".
Não consigo ser o peso ideal de mais este verão. Não sei se quero. Já fui tão amado por ser só isto tudo por dentro. De me parecer e a essas a pessoas mais bela do mundo. Porque vinha sempre de dentro e se notava por fora. Mas porque porra temos de parecer bonitos até a nós próprios? Cada vez mais inútil e castrador. Como se separássemos esses novos personagens "os esbeltos" dos "coitados" em hierarquia social. Onde teremos Berardos que injectam prota para manter poder e onde os outros nem sabem o que é isso da prota.
Venha uma marca de merdas para alimentar a indústria dos fortes e fazer acreditar alguns fracos que um dia podem. Ou que nunca poderão. Tudo a alimentar uma ideia saloia de beleza revestida de marketing saudável.
Sinto-me gordo por isso. Parece que nem posso respirar bem só para estas roupas de agora me aceitarem. Se calhar não sou tão gordo quanto isso Se calhar os outros gordos estão como eu e já se aceitaram. Ou desistiram. Ou desistiram de ser gordos. Ou desistiram de alguma vez serem magros. Ou esbeltos. Ou felizes. Ou ficarem com aquele(a) tipo(a) que é o(a) mesmo(a) das várias salas de chat porno.
Não era o sexo o objectivo final dos corpos? Para quê amor se temos sexo e corpos esbeltos, certo? Se podemos rolar os corpos "tindermente" e sair a compatibilidade do "n" de vezes dessa rifa "amorosa"?
Descobrimos como ser das cavernas de novo porque a preguiça e o sedentarismo nos fez gordos. E amorosos. E os fracos na luta do mais forte.
Sem comentários:
Enviar um comentário