sexta-feira, 24 de maio de 2019

Não devo Nada!

É aqui que posso
mandar tudo à merda.
É aqui onde o karma
não entra nem deixa
de entrar.
É como horóscopo
só interessa
se interessar.
É aqui que posso
mandar tudo à merda.
Posso mandar este
poeta de volta para
a sua terra.
Mandá-lo pastar
com as boas maneiras
e as pessoas de bem
e toda essa lenga
lenga do equilíbrio
e das merdas.
É aqui que posso ser
humano e mandar
qualquer um à merda.
Ser poeta mais do que
alcoviteiro.
Ser mais empregado
do que mal empregue.
Ser mais pai
do que filho
da puta.
O que interessa é que
cada um ande na sua
luta e se safe.
Que abafe o próximo
e mande a empatia
à merda.
Mandar a osmose
à merda.
Mandar o carro
contra um muro
porque as vozes
que vêm do céu
querem-me fazer de burro.
Fiquem com tudo!
Fiquem com o bem
e o mal
e tudo o que vos pertence.
Só não ficam comigo.
Nem céu
nem inferno,
nem amor
nem sexo
nem desamor.
Tudo fica comigo
quando eu desaparecer.
Porque mando tudo
à merda antes
de relembrar ao mundo
o que vos quis ser.
É aqui que posso
mandar à merda
toda essa coisa bonita.
Gente bonita e de bem
fazendo
como lhe parece bem.
Melhor.
Nunca pedi para se colocarem
no meu calçado.
Eu é que estou cansado
de o fazer.
Medir e pesar
tudo.
Nem quando me ameaçaram
de morte.
Nem quando me ameaçaram
de se irem.
Nem quando deixaram de
falar.
Nem quando deixaram
de eu vos poder falar.
Deixar cair a chamada.
Não atender a chamada.
Insultar-me.
Fazer-me sentir
nada.
Pois eu desapareço
e ficam sem nada.
Mesmo a merda
para a qual vos
mandei.
Nem essa merda vale
alguma coisa.
Vale exactamende nada.
Posso mandar
até a minha pessoa
à merda.
E aí é que ainda vale
alguma coisa.
De resto
posso mandar tudo
à merda.
Não devo nada!

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