quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Poeta do Nada

Só te consigo tocar
Sendo poeta.
Se te tentar
Tocar
Sendo homem
Desapareces
E eu desapareço
Desta terra.
Deste momento.
Maldição a que me imponho.
Não consigo
Deixar de te ser estranho.
Só sendo poeta
Com as palavras
Em novelo
Desenrolas com
Anseio.
No homem não sou
Nada para ti
Ou no máximo
Nem meio.
Sou todos os outros
Provavelmente
E assim
Como escrivão...
Sou único.
Maldição de não te poder
Fazer cativar de mim.
A palavra é a ponte
E o abismo
No fim.
De entre ti
E mim
Esta distância que se cava
Por ser
Um homem simples.
Maldição de não poder
Ser menos.
De te apegar em mim
De carne.
De salivarmos
E de nos
Mordermos como cães
Esganados.
Maldição de nada
Fazer como qualquer
Outro gajo.
Reajo
E só sai palavra.
Beleza que me trava
De te ser natural.
Cristalizado
Em papel.
Plural de nada.
Nem singular.
Nem meio.
Homem sem ti.
Poeta do nada!
Boca molhada
Sem beijo de ti!
Poeta do nada...
Só assim.

VAz Dias

#palavradejorge

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