domingo, 28 de abril de 2019

Menina Pétala

Apesar do mundo ir desabando nos nossos olhos, nos nossos temores e na profusão das nossas críticas sempre há lugar ainda para um dia de sol enquanto uma criança desajeitada procurando o ritmo dança. Apanha uma flor e rouba-lhe as pétalas. Não é maldade, é sopro de artifício que cai em câmera lenta no nosso sorriso e na memória de quem já fomos em pequenos. A mesma menina que dança evitando a sombra de quem enebriado pelas torturas da vida já não encontra em si essa criança.
Convivem no mesmo espaço enquanto a banda toca. Soul e os dois seres reagem. Ela com tudo para aprender e ele com muito do que desaprendeu. Mas ainda ébrio, parece manter um balanço e um carinho humano para com a criança que ali dança evitando a sombra que de si se alonga pelo chão. Tenta ensinar-lhe a dançar no ritmo. Pega-a sem que outros vejam nisso mal. Eu porque tenho noite e vejo a desesperança como parte dos dias contenho-me, mantenho-me focado à paz da banda, o sol e a esperança que existe no futuro das crianças que deixam entrar luz e atiram pétalas aos males. Sentou-se à minha beira. Senti-me desassombrado e feliz com aquela menina, que como um anjo se sentou ao lado da noite. Éramos dia e paz enquanto a banda tocava e os males, o ébrio que também fui com a sua dança, tentava espantar.
Talvez é só encontrarmos a infância em nós e parar. Deixar o tempo andando para a frente e relembrar o que já foi paz. Deixar o tempo ser as pétalas que nos caem em câmera lenta e a música a frequência para balançarmos em diante. Talvez isso nos vá bastando para que a criança em nós se sente de novo ao nosso lado e nos faça sorrir simplesmente.

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