Tenho memórias.
Ficam-me de cada uma.
Na tristeza são tormentos.
No presente, presentes.
No passado distante,
memórias vivas.
Estórias.
A matrícula da côr do carro.
O lugar onde ela o estacionava.
Onde vivia.
Os ventos se acotovelavam.
Esmurrando-me o peito
enquanto a mirava no passado.
No parapeito.
No cheiro do cabelo
e do casaco.
Do bafo do cigarro
com a bebida que agora tragara.
Era da outra.
Memória ida. Voltara.
O abraço que em cada
um damos
no-la traz. Quedamo-nos.
E outra.
E uma mais.
Por vezes se soma.
Outras vez subtrai-se.
Depende se contamos.
Se vamos no bom caminho.
Ou perdidos.
Vai-se.
Vai-se andando.
Criando novas memórias
com o que nos resta.
Vamos a uma nova festa.
Inventamos outras histórias.
Ouvimos novas canções.
Deitamo-nos noutros colchões.
Ou ficamos por aqui.
Satisfeitos com o que se tem.
Acreditando numa ressurreição.
Numa vida além.
Onde fazemos tudo de novo,
mas melhor.
Eu acredito que não.
Quero aqui. Neste turbilhão
de cores, matrículas e cheiros.
Quero antes de acabar,
ter-vos!
Nem por menos
nem por meios.
Quero momentos cheios!
Memórias vivas.
Estórias.
Vaz Dias
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