Enquanto me sento,
vagarosamente,
como num filme
de época,
a câmara lenta
regista
o efectivo movimento.
Avisto-me de fora.
Tinha-me vestido de pai
natal. Não por mim.
Por elas. Sim.
Pelas crianças. Eu era agora
um "crente".
Dava-lhes as prendas
e as gargalhadas.
Uma sacada enorme
para uma noite de consoada
e outra tarde bem passada.
Dos outros anos, diferente.
Recebo nessa película
o que me podem dar.
Sinto-me dos mais velhos
como esse velho,
cansado e desesperançado.
Olho para a minha sacola
e também lá elas me deixam
como as crianças algo,
a verdade, julgo.
Umas com a infância
a espontaneidade.
As outras com mais idade,
apenas isso, a verdade.
Com o tempo,
o preto e o branco
distinguem as cores
que tantos nos dão
e que nos tiram mais tarde.
Uma sacola cheia de nada
e outro tanto de verdade!
Vaz Dias
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