Chovia lá fora.
Deitados,
abraçava-te por trás.
Defendia-te do cinzento
que escorria
em aguaceiro pela janela.
Os estalidos que
da persiana gemiam
formavam uma cançoneta
que em surdina
se transformavam
e nos embalavam
para a anestesia
dos nossos sentidos.
Escolhêramos assim.
Os dias cinzentos
para sermos felizes
-ou menos tristes-.
Estávamos juntos porque
os anos passavam.
Era um pouco melhor do que estar
só.
Não muito mais.
Mas contigo
a emoção tépida acalmava
os desamores
e terrores
que apoquentavam a nossa humanidade.
Éramos menos humanos
mas mais próximos.
Nem os nossos corpos ralhavam.
Encostavam-se apenas
na berma dos dias cinzentos.
Onde as lágrimas deram lugar
aos aguaceiros em vidro
de inverno.
Éramos quase cinza
mas descoloridamente felizes.
Encostados apenas
nos prometíamos manter mornos.
Paliativamente nos contornos
um do outro.
Enquanto o tempo passava.
Enquanto o cinzento do céu,
por nós chorava...
Vaz Dias
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