segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Mudo Universo

Deixaram de se falar.
Com tantas palavras
Que lhes faltara.
Com tantos gestos
Que ficaram
Por germinar
Dessas palavras...
Deixaram de se falar.

Tinham tido espasmos
De outras vidas.
Assim se convenceram
Para fazerem jus
Ao facto de se terem
Conhecido.
Espasmos partilhados.
Tretas etéreas
Para se convencerem
Do tempo e do espaço.

Talvez se encontrariam.
Talvez.

Mas não!
Decidiu-se não.
O mais covarde
Aceitou
E o mais bravo
Arrependeu-se.
Esperariam nada.
Jogariam no reflexo
Do espelho
As mil oportunidades
Enjeitadas.
Mil por reflexo
De alguns gestos.
Espasmos
Por simpatia corporal.

Não se foram nada.
O mais que foram
Foi de quando um era
E outro não chegara.
Uma atrapalhação
Desse mesmo universo.
Tão estupidamente
Diferentes
Com a vida pela frente.
Um acidente
Prestes a acontecer
Que não deu em
Nada. Diferendos.

Não chegaram a agitar
As partículas
Por explosão.
Ficaram implodindo
Anseios.
Fracos.
Feios.
Pequenos seres
De receios
E de valentias
Perdidas em horóscopos.
Pobres músculos
Que não deram
Corpo à vontade.

Deixaram de se falar
Esperando o tempo
E o espaço falar
Por eles.
Mudo
Gozou com as suas
Caras.
Eram marionetes
Do tempo passar
Até arranjar espaço.
Universo de um cabresto
Que fez de cada um
Palhaço.

Passo a passo
Um dia aprenderiam
(Talvez)
A falar.
Um com o outro.
Ou nada disso.
Dar-se-iam um
Abraço,
Calado,
Mudo como o universo.

Deixaram de se falar.
Só isso...

VAz Dias
#palavradejorge

Morro feliz e afoito

Choro pelo leite
Derramado
Em teu leito
Por mim tão amado.

Devolvo ao teu peito
Aguardado
Todo o jeito
De me fazer convidado.

Foste tu
Quem me convidou.
Quem me deixou ali
Tão alvoroçado.

Tenho mais
Do que me queres.
Tenho mortes
E fogo
Mais do que me queimes.

Ardo no fogo
Do teu leito
Que é peito
De morrer um ser
Perfeitamento satisfeito.

Morro feliz e afoito
E por ti assim amado.

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 29 de outubro de 2017

Naquela atípica época

Paramos o carro na berma.
Havia calor ademais
De nós.
Da época.
Era a nossa época.
Nunca fôramos
Bem aquilo que se espera.
Também não estávamos
À espera.
Não era premeditado
Apesar de parecermos
Ter sido feitos
Da excepção
Um para o outro.
Como deste tempo.
Ali também não estávamos à espera.
Víamos o tempo
A escoar.
Na telefonia
(Agora rádio)
Tínhamos sido sobreviventes
Às épocas.
Principalmente por já não existirmos.

Eu disse que não éramos
Daquela época
Porque nós também
Não fôramos premeditados.
Nem habituais.
Fôramos embora
Porque aquela era atípica e passou.
E nós só estávamos
Bem
Sendo atípicos.

"Já vos disse que já não existimos?
Fomos felizes."

VAz Dias
#palavradejorge

Carta Aberta ao Erro

Não há felicidade sem perdas.
Sem a consciência
De que, humanos,
Falhamos
E procuramos
Aprender.
Sabendo onde é o erro
Sabemos onde o queremos
Revolver.
Esquadrinhar com paixão
E por oposição
Tragar a lucidez.
Não sei onde posso
Falhar mais
Mas sei que voltará
Até não se fazer mar
De banhar mais as minhas costas.

Desencontramo-nos as vezes
Suficientes.
Fazemos as exéquias
Do que não é para ser.
Pisamos chão firme
E coração nas núvens
Para voar
Para os lugais certos.
Para o que nos foi destinado.
Para os que nos querem.

Querer mais do que isso
É viagem
E tempo
Desperdiçados.
Ah Erro que me acompanhas
Há tanto tempo!
Que Síndrome de Estocolmo
Me fez tanto te querer
E fazer-te resolver?!

Somos o que conhecemos
Melhor.
Mas podemos sempre mudar.
"Erro, cresci!
Vou precisando-te menos
E menos.
Até que sejas ínfimo
E eu íntimo do Amor.
Obrigado por tudo
E por todos aqueles Nadas!"

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 28 de outubro de 2017

A janela de cores fugidias

Eu sei que sabes
Que a minha imaginação
Não te faz única.
A minha imaginação
É a liberdade.
E tu és a liberdade
Mas não a minha imaginação.
Então é verdade!
É verdade
Que não vivo
Na tua.
Que somos reais
E que eu também te sou
Liberdade.
Que sou a realidade
E a crueza.
Sou o teu convidado
Nesta viagem.
Amar-te é sem paragem.
É bilhete tirado sem
Volta
E sem bagagem.
É só imaginação minha
E a nossa verdade.

Escrevo-te um poema
Para que saibas
Que sou teu.
Porque assino
Como quem prometeu.
Na verdade...
Sou eu
E tu és onde a minha viagem
Começa
E não pára.
Olho pela janela
E as cores
Misturam-se e ficam para
Trás.
É por me dares caminho
E por me amares.
És todas as paragens
Em que não nos apeámos.
Imagei seguirmos
E ficámos
Sentados lado a lado
Naquela carruagem.
Seguindo.
Na verdade
E na minha imaginação.

VAz Dias
#palavradejorge

Virtudes nas palavras

Levaste um cigarro
À boca.
Os lábios tomavam-no
Como um pecado
Necessário.
Não eras de vidas fáceis
Mas também
Te deixaras de preocupar
Havia tempo.
Bafuravas
Lentamente o fumo
Que mais parecia
Esconder-se de volta
Nas tuas entranhas.
Eras daquelas pessoas
Que se confortava
Com estórias estranhas.
Cânhamo
E virtudes nas palavras.
Um filme em regresso
E o meu desejo
Em excesso.
Um filme
E um trecho.
Olhavas por aquela tela
Como se fora para mim.
Atiravas-me o fumo
Para as ventas.
Batom dos oitentas.
Carregado em lábios
Marcados no filtro.
Por dentro grito.
Aflição
Como se fora uma lição
De sacanice pura.
Mas não.
Nem te importavas com
A minha presença.
Na realidade eu deste lado
Da tela
Para ti não existia.

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Os miúdos que crescem com roupa lavada.

Em que medida
Pode uma pessoa
Cobrar à outra
O justo e o imensurável?
Pelo gesto contestado
À revelia de ter
Crescido
E à pose dos reflexos
Faz um cúmplice
Paracer-se igual.
Mais do mesmo.

Talvez fosse já um dos
Mesmos,
E expiar o pecado
Do passado
Quiçá do presente
Abrindo a porta
À contestação.

Rebeldia dos tempos
Presentes
E o infortúnio
Dos sentimentos
Ausentes.
O excesso da carência
Habilitada pelo pleonasmo
Do gesto.
De resto,
O que esperar mais
Do que aos
Seguidores
Da nossa passagem?

Responsabilidades
Partilhadas.
Mas punho firme
No que se alvitra
Justo.
A todo custo
Antes que o manifesto
Sem fundo
Se desculpe do mundo
E de tudo o resto.

Os miúdos que crescem
Com roupa lavada.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Levitar Plumas

A sorte de um
Homem é saber
Que quem lhe cai
Melhor
Nunca sobra
Da multidão.
Antes é
A pessoa que enaltece
O seu ser.
Pelo pior
E pelo melhor.
Pela espera
E a busca
Que nunca se esgotou
Em ninguém.
Presente e para além
Do conformismo.
Para quê mais do mesmo
Quando podemos
Nos rever
No melhor de nós?
No sopro ténue
Nas nossas mazelas
E crueza acumuladas?

Nunca nos devemos
Contentar com
Apenas as nossas
Pequenezas.
Com as nossas inferioridades
E desconfiança de mérito.

Alcancei a vista
Vertical
Sem sobranceria.
Não subi às alturas
Da multidão
Para a ver melhor.
Aceitei que se fossem.
Que não fossem.
Subi
Porque emagreci
Em pluma
De todas as frustrações
E intenções.
Levitei
E dali a vislumbrei.
Não que fosse maior.
Não que fosse mais
Elevada.
Porque para lá da multidão
Vivia ela
Sem se pôr em bicos
De pés.
Apenas ela
No seu sorriso
E calma.
Na vida que dela
Me chamava.

É assim que se ama?

VAz Dias

#palavradejorge

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Disforme

Não são as sombras
Que por muito coloridas
Nos pareçam
Que deixam de ser
Negras.
Ou sombras.
Olhei e vi uma junto
Aos pés.
Fiz questão de não pisar.
Afastar-me
E revê-la numa parede.
Ali alongava-se.
Fazia-se maior
Que a sua figura.

Isto já dura ao tempo
Que a luz
Lhe fala pelas costas.
As apostas vão para
A luz que não se apaga
E se propaga
Por quem lhe queira dar
Frente.
Falta isso a muita
Gente.
Desleixam-se
Permanentemente.
E aqui vai
A penitência
De quem faz amor
Com as sombras.
O passado da luz
Que se fez
Perder pelo tempo.
E a minha falta de engenho
Presente.

Venha futuro diferente.
De frente.
De repente
Ou lento.
Sombra colorida
Só se for ingénuo
Ingloriamente!

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Avenida de oportunidades

Deitei-me.
Fechei o pensamento
Que trazia
Ao volante.
A vida que passa lá
Fora.
As oportunidades que perdemos,
As outras que por qualquer razão
Nos escaparam
(E tanto que lutámos por elas),
A sorte e o mérito.
A sorte sem mérito.
O mérito por si.
A serenidade que adveio
Da espera
Que adveio do esforço.

Abri um pisca à direita.

É nesta rua que moro agora.
Uma avenida de oportunidades.
Livre
E as outras terras.
As outras oportunidades
E satisfação que não mora
No mesmo lugar
Sempre.

Inquieto e nervo
De impelir.
Ir de saber ficar.
Voltar
E mudar.
Destemor.

Amor.

Desligo o motor
E a música que abranda
No cérebro
Para dar lugar
À palavra.

Arrefece
E desencosto das trivialidades.
Um "gosto"
E mais outro que diz
O que se disse e se desdiz.

Volto às luzes que vi
Passarem para trás
E as sombras
Que dançavam no carro.
Foi ali que fiquei.
Viajando onde
Nada me segura...
Nem o assento,
Nem a rua.

Só mente.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 22 de outubro de 2017

Asfalto e vidro aberto

És uma surpresa constante
Da minha liberdade.
Arriscaria dizer
Que és a personificação
Dela
E eu o amor
Que se pode ter por ti
Liberdade.
Estrada aberta
Vidro aberto
E crer desperto.
Sou mais eu
Com tudo que
Não é meu
E que me dás
Sem saberes.
Ou saberás?
Como não te amar
Sempre mais
E mais?
E mais Liberdade?
Ou será Amor?

VAz Dias
#palavradejorge

sábado, 21 de outubro de 2017

Mar Canção

E és tu aquela
Que apela
À minha suave
Aterragem.
Sou mar bravo
Que em ti
Se toca de brisa
E vontade férrea.
Acalmas-me
O turbilhão
E a maneira
Que não controlo
Por mim.
Ai mulher terra
Que faz de um homem
Mar
O coração acelerar
E na tua costa
Do nervo
Se despojar!
Há um equilíbrio
Só teu.
Só tu
No teu ser
Que faz do meu,
Ser.
Mar és tu afinal
E eu areia
Que foge
Por entre os dedos
De um mundo se perder.
No teu mar sou salga
E sabor
Pelos oceanos
Se distender.

Balanço
E maré
E canção
Que me és Mulher.
Canção.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Des(Apareci)!

Estás presente
Mas não como prenda.
Ausentas-te
Como se nunca
Tivéssemos tido
Nada.
Teria sido tortura
Se não tivesses sido
A outra
E aquela
E aqueloutra.
Já sobrevivi a pior.
À morte a cada uma
E renasci
Para este outro eu.
Mas o que aconteceu
Se as promessas,
As grandes coincidências
Cósmicas
Que tão arrebatadamente
Defendeste
Agora desaparecem
Contigo?
Sabes tu que desaparecendo
Não te encontras?
Quase me desencontraste.
Quase te arrependeste
De não voltar.
Apareces
E depois desapareces
À conveniência
Das tuas perdas
E eu que as acalme
Não te estando presente.
Pressinto que voltarás
E eu cá não estarei.
Não é por mal
Pois foi com a tua invisibilidade
Que me fizeste
Aparecer.
Ser visível.
Ser percepcionado.
Ser eu.
E como isso
Me entristece
Para a quem
Bastasse ter ficado.

Não desapareci.
Apareci mais ali
Na minha vida.
Ja te agradeci?

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Gente em preto e branco

Seguimos sem saudade.
Talvez seja aquela
Que bate
Com a dor dormente
Pelo tempo.
Que surge em alfinete
Perfurando a pele
À medula... ardente.
O mundo desabava
E íamos
Sufocando
Na sua cinza.
Ardendo vagarosamente
E de repente...!
Nada!
Só um ruído
Mudo a preto e branco.
Todos fazendo a sua
Vida de novo...
Mas a preto e branco.
E um corvo
Sobrevoando atento.
Penas queimadas
E sem pena da gente.
Somos doentes
E o amor também.
Seguimos em frente sem cores.
Seguimos... somente...

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 17 de outubro de 2017

Ardem-me os olhos

Ardem-me os olhos
Ainda.
Ainda choro
A chuva que não chegou
A tempo.
E quanto tempo
Isto vai durar?
Amar é tão pouco
Quando não nos podemos
Salvar da morte.
Amar é algo do futuro
E é sempre melhor amanhã
E hoje já foi.
Mas ontem
E antes não veio
A tempo.
Nem o vento
Da chuva
Nem a semente
Que a terra precisa.
Amei-te
Menos do que amanhã.
Valha-nos
Meu amor
Tão somente
O amanhã
Para fazermos melhor.

Amo-te
O ventre
Do amanhã.
O corpo que ausente
Pretende o vento
Que chame
A chuva
Lentamente.
Semearei em ti
Como terra fértil
Que és!
Como amor
Que és!
Tu és o futuro
E a terra prometida.
O fruto
E a vida.
A chuva que
Dos meus olhos
Caíram.

Faça-se luz verde
Para seguirmos
Em frente.
Prometo!
Ainda ardem
Os olhos do meu
Lamento.
Mas prometo!

VAz Dias
#palavradejorge

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Furacão Carvão

Porque deixaste
O fogo se interpusesse
Entre nós?
Calaste a minha voz
Com o argumento
De sermos esta outra diferença.
Que tínhamos uma cena fixe
Quando o tempo
Era bom.
Bom,
E agora o que me dizes
Deste ardor
Que nos levou
Os campos
E as arribas da alma?
Pediste-me calma
Quando vi o calor
A fazer frente
Ao vento.
Estás contente?
Não sei quem é o mais
Doente
Ou o que tenha mais amor.
Mas afinal não tínhamos
De ser perante esta frente.
Nunca fomos
Porque vieste
E foste.
Foste um furacão
Que transformou
O verde, o ar
E o meu amor
Em carvão.
Cuspo cinza
Do que não foi.
Só da tua passagem
E do meu choro.
Que chorasse eu
A tempo e tu
Nem pouco mais
De vento
Tivesses sido.
Mataste a possibilidade
Mas cá ficamos.
Encostados
Ao dia de amanhã
E à vontade
De tudo de novo refazer.
Não haver furacão
Ou filho da mãe
Que nos fará render.
Temos pulmão para soprar
E ainda mais
Coração semeado
Para árvores crescer.
A flora é nossa.
Agora.
Passa!

VAz Dias

#palavradejorge

Queimasutra!

As pessoas
E as suas vidinhas.
O alheamento
Contra
A especulação.
Pobres
E pobres do coração.
Todos atiram...
Uns, achas para a fogueira
Outros acendem-na
E outros que não.
Que não viram
Viraram a cara
Que não votaram.
Apolíticos
Por ignorância.
Por egoísmo.
Por ganância.
Por ganância
Há políticos,
Há políticas
Para os ganaciosos.
Chamam-lhes lobis
E talvez gente
Sem coração.
Morre tudo
Mas sobram sempre
Mais migalhas
Para esses acumularem.
À conta dos alheados.
Dos fracos.
Dos mestres da (des)comunicação.
Apertam-me o pescoço
E não gosto.
Cortam-me um pulmão
E eu viro-lhes o rosto.
É para os olhar de frente.

Seus pulhas.
Seus filhos de um real
Cabrão.
Mataram o Pinhal do Rei,
Os nossos olhos
E mais um pulmão.
Mas não me calam
Ou adormecem
Com o vosso fogo de artifício.
As canas caem
E o fogo
Do além.
Sabei,
Nós estamos atentos
E não nos matam
Mais nenhum
Pulmão.
Fodei-vos
Em bom português.
Ao contrário
De vós
Somos cada um
Um Bom
Português.
Basta
Deste negócio que se arrasta!
Morram sufocados
Com a nossa sorte
Madrasta!
Filhos duma puta
E sem coração!

VAz Dias
#palavradejorge

domingo, 15 de outubro de 2017

Mata Amizade

Eu e a Mata
Éramos amigos para ser.
Até tínhamos uma energia
Muito nossa.
Acreditava que ela
Seria só minha.
Mas não a tratei
Bem.
Menosprezei-a.
Abandonei o que ela de
Melhor me dava.
Mas nem para amigos
Pudémos ficar.
Deixei-a sempre
Só.
E ela esperava
A cada sopro que voltasse.
Esperava que a cada
Respirar
Me lembrasse de si.
Um pulmão para mim.
Mas não.
Hiperventilei
E deixei-a na mão criminosa.
Em quem a via bela
A arder.
Deixei-a sozinha
E não cuidei dela.
Neste dia podia desculpar-me
Com tudo
Mas não posso.
Perdi uma amiga
Que nem ar pôde
Ser para.
Quem mata a Mata
Senão quem a nunca
Amou
Como o próprio ar
Que respira.

Perdeu-se uma amizade
E um pulmão.
Somos doentes.
Estamos mortos por dentro...

VAz Dias
#palavradejorge

A cidade que amanhece

Os olhares vazios
A manhã que não adormece
E nem sequer se deitou.
Os "afters"
Para chegar lá.
Alargar a experiência
E alongar do bom
Que foi.
Mas bem lá para trás
(Naqueles dias de sol
Em que brincávamos).

Vi o que era
E o que fiz para aqui
Chegar.

As ruas que cheiram
A mijo.
O degredo das conversas
Que se têm
Sem receptor.
Apenas ruído partilhado
Para não se pensar.
O carro que não se lava
E se parece com
Todos os outros
Onde a malta
Se amacia do nervo
Nocturno.

As ruas ainda cheiram
A mijo.
A álcool que destila
Debaixo deste calor
Doentio.

E outros que correm
De pulmão aberto
Bem ao lado...
Mas longe
Tão apressadamente
Para outra maratona.

A cidade amanhece
E o breu
Ainda não adormece.
Vai num risco
E numa ganza que arde
A céu aberto.
E o céu tão perto
E a cidade que não adormece.

Fui...

VAz Dias
#palavradejorge

sexta-feira, 13 de outubro de 2017

Gente de Futuro e Sempre

Cada dia que passa
Penso na pessoa do futuro
Que eras tu.
As pessoas
- poucas -
Como tu.
Excêntricas,
Fora de uma conformidade
E visionárias.
Loucas que eu adoro!
O teu segredo, humano
Carnal
E apaixonada.
Visceral
E para lá da oportunidade
Estagnada.
Penso nas pessoas do
Futuro
No passado
E como o são hoje.
Eu cresci
E vejo-as diferentes.
Novas de agora
Do futuro
Que arribou
Para estas horas
Ainda há as que
Foram futuro
E com o tempo
Se mantêm futuro.
Já não se vêem
Porque se tornaram
Sempre.
Eras tão à frente
Do tempo
Que deixaste de ser carne,
Objecto
Ou vida táctil.
Passaste a ser Sempre
Como os humanos
Intocáveis
Mas que viajam
Em nós
- estes poucos -
Que ficaram por
Cá no tempo
Com olhos de futuro.
Até Sempre!

VAz Dias
#palavradejorge

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

Rodando

Espero que me quebres
O gelo
Que passou a nortear
Um dos meus polos.
Que me dês chão
E sul de manter
Una a centralidade
De mim
E para ti.
Mas é o gelo
Que me mantém rodando
De convicção.
Já me basta o fogo
E a precipitação
Que em voltas anteriores
Me desabaram.
Sou meu
Sem deixar de ser
De quem me quer bem.
Contigo também
Se me quiseres nestes
Tempos.
Translação e veremos
O sol.
Veremos se desgelo
Ou se fico apenas
Rodando em mim só.

VAz Dias
#palavradejorge

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Simples são os teus gestos

Simples são os teus gestos.
A calma de respirar.
O ser no seu
Semelhante ser.
O desconhecimento
Por não ser importante.
Sonhas e sonhas
Com propriedade.
O amor é teu
E tu partilhas.
Como respiras.
Como inspiras a confiança
Dos deuses.
Tens o universo
A teu favor
E eu a poeira que se
Desloca lentamente
Em anos-luz
Ao teu centro.
Só o sei por fora
Até que se faça
Universo em mim
Por dentro.
Prometo
Que não passo disso.
Um universo imenso
Percebendo nada,
Senão o lento deslocar
Dos nossos intentos.
Incenso
E reza-se uma fortuna,
Uma bruma do que fui
E da luz a que me
Atrais.
E não haverá depois
Nada mais.
E se houver,
Partimos daí para
Ser.
Talvez um dia seremos
Tudo
E tudo será começo
Mesmo depois de
Cada um renascer.

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Outono de cores quentes

Bamboleavas-te serena
No verão que chegava
De ti.
A pele dourada
Que deixava um aroma
De calor nas cores
Quentes que caminhavam
Outonais.
Não havia quem mais
Fizesse aquela rua
Com a tua graciosidade.
Com o teu calor
Doutros lugares.
Bossa nova
Dos postais
E leveza no pé.
Fizeste aquela rua
Feliz
Enquanto no meu
Olhar
Se debruçava a fé
De te ver mais.
Um balancé
Da nossa
Beleza em ti.
Da beleza tua
Para que fomos
Convidados.
Bamboleavas-te serena
Em terra quente
Dos nossos
Olhos passeares.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 8 de outubro de 2017

Sou louco por ruas desertas

Sou louco por ruas desertas.
O caminho que dá em
Qualquer lugar.
A aventura de ir.
Pisar chão feito
De máquinas
Para máquinas
Levarem homens a chegar.
Ser homem e pisar
O que é de máquina.
O que é de vida do dia
Que vive de noite
A se fazer vislumbrar.

Sou louco por fazer
Ruas minhas.
Ser irmão das putas
E dos perdidos
Dos outros caminhos.
Correr e ser meu.
Respirar aquele meu ar.
Ser só.
Ser prazer de me perder.
Ser a estrada
De me sentir correr.
Ser chegada
De mais vezes
Que parti.

Sou estrada para ti.
Sou cantos e ruelas
Mas para estrada aberta.
Foi o que sempre preferi.
Como a ti.
Asfalto de partir.
Luzes intermitentes.
Regras adormecidas
E corrermos
Desnudados
De abrigo.
Do que escondido
Ficou por arrancar.

Fazer estrada nua.
Rua tua.
Perigo nosso.

Sou louco por ruas desertas
Como por ti.

VAz Dias

#palavradejorge

Desalmado Apelo

Foi sem apelo
Que a deixei ir.
Ela não era de ninguém.
Nem de si própria
Naquele momento.
Deixei-a ir como
Outras e outros
Que não tinham tempo
Para mim.
Nem para si próprios
Sabiam já o que era
O tempo.
O amor consegue fazer
Isso a uma pessoa.
Tirar-lhe a alma
E deixá-la só em corpo
Presente.
Sem tempo.
Sem noção de tempo.
Só uma lembrança
Do que fora a alma.
Um resquício
De ir em sua demanda
De novo.
Um vislumbre
Do que poderá ser de novo.
Eu sei porque a perdi.

Ficara uma luz ligada
Lá fora.
Aquela porta não se tinha
Fechado inteiramente.
Eu fiquei à espera de saber
O que era luz
Em adulto.

Não era a mesma coisa...

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 6 de outubro de 2017

Indesejados

Saudades e lirismos
acabam com qualquer ímpeto.
A defesa do homem
por de trás do poeta.
Do lírico.
Mas o que falta ao poeta?
Por ser um eunuco falta-lhe
fervor de acometer o pecado.
Fala e não toca.
Não suja as mãos...
Pinta com elas desejos.

- Os desejos são para ser impetuosamente cometidos. Não é crime, é livre-arbítrio!-

Saudades ficam-se
na boca que matou o peixe.
Não é de morte
que a paixão se faz.
É do crime!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Saber Perder para Ser Feliz

Ganhamos muito menos
Porque nos perdemos.
Recorremos aos nossos gastos
E ganhos
E vemos o que sobra.
Um montão de "injustos"
E aquele pequeno "justo".
O verdadeiro
E merecido.
Aceitar é o sentido.
Sentir é ir nesse caminho.
E com o coração.
Nas perdas foi sempre ele
Que nos aguentou
E nos ganhos
A cabeça que o traduziu
Em bom-senso.
Amor é depois desta equação
Toda
A resposta.
Só é novo para quem
Não percebe desta "matemática".
Leva treino
E muito coração.
Aceitarmos o nosso
Simples e modesto coração.

Saber perder
Para ser feliz.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Razão Escondida

Onde escondeste
A razão que me tiraste?
É irónico que brinques
Com os meus destinos
Com esse ar tão sério.
Se eu sou sério?
Era até tu chegares
E me despires
Essa capa.
Mostraste-me o caminho
Além de mais do que um
Destino.
Felino.
Fábula que congemino.
Contigo.

Agora que me escondeste
A razão
O que fazemos com os teus
Sentidos?

VAz Dias
#palavradejorge

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Dobro ou Nada

Onde desapareço de mim?
(Poder tirar umas
Férias da minha pessoa...
Ter saudades dos meus
Melhores dias?)
E ainda assim sinto-me mesmo
Perdido de mim,
Como que esperando
A minha chegada.
Sou uma espera adiada
Do melhor eu.
Já conquistei um dia
Essa ideia.
Devíamos ser mais
A ideia do que nós
Próprios.
Cumprimos destinos
Mínimos
Quando podíamos
Dar ao mundo tanto mais.
Fui sempre metade do que podia
Ser
Contudo nos meus exagerados
Saltos à convicção,
O dobro.
Dobro ou Nada!

Faço o que os outros
Não querem ou receiam.
Sou irascível
Pela necessidade de abrir caminho.
Rasgo demais
Na visão dos outros.
Rasgo-me
Porque tenho sentimentos
Que se entranham
Nos polos gelados duma
Terra.
Só me conheço assim parvo,
O suficiente para fazer acontecer
E mais do que suficiente
Para querer desaparecer
De mim.

Fico-me contigo hoje
Aqui.
Dialogamos
Entre estranhos
Dos outros que nos veriam
Maiores.
A sós
A sermos metades
Para ser normal.
Saltamos ao mesmo tempo
Para parecer
Que somos maiores
Do que os nossos
Mínimos.

Tenho uma depressão
Escondida no meio dos maxilares.
Ranjo os dentes
E prossigo
Fazendo os dias merecedores
Dessas férias.
De nós
Que agora falamos
E saltamos
Nas ideias.
Palavras para quê?
...

VAz Dias

#palavradejorge

segunda-feira, 2 de outubro de 2017

Este leito onde em ti me deito

É este o leito
Que me faz aprazível.
Que me faz
Rendido a ti meu amor
E a teu lado me deite.
Olhei o mundo
E não larguei o teu amor
Nem por um segundo.
És a âncora
Que me mantém
Lá no fundo
Vir à tona.
Respirar de guelra
Perder a guerra
E tentar de novo.
Mergulho para ti
E os nossos sonhos.
Não perco o meu sentido.
O livre-eu.
Tanto que se perdeu
E ainda não sabe encontrar
Tudo.
Devia ser mudo
E o mundo um museu.
Deixar a história
Para trás e fazer contigo
O futuro.
Mas há mais,
Há muito mais!
E eu um simples plebeu
Neste reinado que é de ser
Só teu.
Vou e venho na maré
Do tempo.
Se calhar sempre assim.
Impertinente
Viajante
Do tempo perdido.
Ganhando o que posso
De boa gente
E o tempo
Por ti oferecido.
Sonho agarrado a ti...
Desprendido.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 1 de outubro de 2017

Talvez não VO(L)TE

Vais-te embora
Com o pressuposto
De que estarei aqui.
Estar não é uma permanência
É um regresso
Porque se quer.
Votei em ti tantas vezes
Quantas fui a uma igreja.
Deixei de ir a essa permanência
E fiquei com a fé.
Estar é um acto de fé
E tu Democracia
Tens-te esquecido de Nós!

VAz Dias

#palavradejorge