Não resta mais
Do que trouxemos
Para a mesa.
Ficaram as migalhas
E as rezas
A que obedecemos.
A fome divide-se
Pela pobreza distribuída
Pelas bocas.
Como fazemos
Para as alimentar?
Para as calar
De tão ôcas
Que vêm de lá do fundo?
Combinámos
Enfrentar juntos o mundo.
Desistimos das ladaínhas
Que nos passaram
Sem fundo
De verdade
Senão aquela
Em que nos devotámos
Cegamente.
Temos fome
E não temos
Mais olhos que barriga.
Mesa de migalhas
De pouca gente amiga.
Ficámos reféns
Do futuro
Pensando que faríamos
Rica
Pelo menos a tentativa.
Temos fome e não sabemos
Como tapar a fome.
Como tapar a boca
Dos impropérios
A que nos devotaram
Os tempos.
Os desejos.
A crença.
É desavença adiada.
Malfadada noite
De ceia sem nada
Para comer do prato
Senão aquelas migalhas.
Ficámos juntos
Chorando esperança.
Amanhã vai ele
Trabalhar.
Ela também
E os filhos esperando-os
Com algo mais
Do que raspas de pão
E esperanças.
VAz Dias
#palavradejorge
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