segunda-feira, 8 de maio de 2017

Fermentada

Não posso ler.
Não posso passar
Por esse compromisso
Com mais mundo
De cores e a paleta
Inteira
Que me preenche
De alegrias e
Horrores.
Vacilo a cada vez.
Tento não responder
E ficar calado.
Como que em paz
Depois da missa.
Como velho
Que aceita a premissa
De que vai morrer...
Mais cedo ou mais tarde.
Nós vamos morrer
Mais tarde.
Não aceitamos isso
Da paz por compromisso
Com o tempo que escoa.
E lá volto ao dilema
Que percorra
A minha vontade
E o respeito
Pelo o outro poeta
Ou autor.
Ou um criador
Tão mais vasto do que eu.
Não posso deixar
Mais lume
Arder-me do consumo
Que já tenho.
Morro entretanto.
E não quero.
Quero ser mediano
E comer tudo
O que vejo.
Ser pequeno homem
Apenas animal.
Não está mal.
Viver só da paixão
E deixar o amor
Para quem não tem tempo
Para estas coisas.
Artistas.
Semi-artistas.
Semi-deuses de nada
Ter senão uns aos outros
Em levedura.
Bebida criada para tragar
Depois da morte.
Infinitos ninguéns
Para se ler de enfiada.
Sucumbir à vida
E engolir tudo e não deixar
Quase nada.
Apenas palavras
De morrer por mais.
Não posso ler
Que escrevo
À parva!

VAz Dias

#palavradejorge

Sem comentários:

Enviar um comentário