sábado, 31 de dezembro de 2016

Bom Amor

Fui bom para ti
Porque me sobra.
Porque chega aquela hora
Em que nos
Escolhe o tempo
Para sermos bons.
Melhores
Do que a beleza
Que a idade
Nos oferecia de borla.
Ser-te bom
É ser amor.
Mesmo que não
Sejamos.
Amor é ser bom.
É deixar-te ir
Ou deixar-te abeirar.
Não senti que quisesses.
Sinto que tenho
De ser bom.
E isso chega-me.
Amo-te porque
É isso que queres.
Mesmo que não seja eu.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XXVII

Não há nada para escrever.
Tu não vens
E eu cansei de ir.
Desisti da matemática
E da justiça.
Ela é-me demasiado
Favorável
E eu só queria não pensar.
Contigo seria sentir,
Viver...
Sem subterfúgios e razõezinhas.
Multipliquei
O passado em ti
Inadvertidamente.
Corto pela raíz
Para seguir em frente.
A prova dos nove
Enquanto eu ainda invento
Sentimentos.
Não vieste e o resultado
Só poderia ser este.
Fazeres de mim
Um lógico.
O amor é irracional
E faz de mim um matemático.
Faço agora contas
Ao tempo que perdi.
Aos anos que andei
A aprender a começar
A contagem de novo.
Obrigado pelo zero
E a esquerda dele.
Desisto mesmo dessa aritmética.
Chega!

sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Apeadeiros

Quando se morreu já tantas vezes que a dor passa a ser assessória, qualquer fim é visto com a serenidade de quem à vida se atrelou e se deixa levar.
Assim me vejo com quem quer que tenha de passar estes ou aqueles dias.
Isso de ser duma pessoa é redução da experiência.

Se soubermos morrer saberemos que um fim não tem de ser a morte e assim todas as pessoas passam a ser especiais. Seja em que patamar ou nível de proximidade. Claro que adorava viver um conto de fadas...outra vez. Mas de que vale se essa ilusão traz a realidade do fim? Vale, porque a vivência capacita-nos de crescimento de alma até essa mudança.

Há pessoas que melhor se ligam connosco e no entanto não foram (por uma razão ou outra) amores da nossa vida. E no entanto amo cada uma dessas pessoas. E as pessoas que depois lhes ofereceu mais daquilo que esperavam ou que simplesmente se ligaram melhor. Também vi algumas a seguir caminho mesmo depois dessas relações "perfeitas".

Onde ficamos? Cada um aceita para si em cada momento o que mais lhe apraz. Mesmo a dor.
Eu desisti de dor. Dou amor a quem está disponível para amar. Às outras dou tempo, porque acho que esse é o melhor amor que tenho para dar e na verdade o único que podem receber. Outras ainda, não sentiram (ou eu) o que a outra parte desejava. Mas se for justo é um tipo de amor. Amor que não dor e marchas fúnebres. Contei as necessárias e penso que cresci e me libertei. Sou um solitário corajoso que acredita no romantismo de ser e não de ler.

A ladaínha do passado faz acreditar noutros dogmas que apenas criam ilusão. Pelo menos para mim. Amar-me tem sido uma bela viagem e por vezes tenho companhia. Às vezes vamos para o mesmo lado. Às vezes. E esse tem de ser um sorriso necessário, seguramente.

Silêncios de mim XXVI

Aborreço-me com a resposta
Silenciosa.
De lhe dar resposta.
De manter o seu silêncio
Vivo.
Quando me for embora
Não volto.
Há silêncios
Que deviam ficar calados.
Responder com nada.
Ser o dono de nada
E tudo me quererem.
Ah aí sim
Veriam o dono
De um mundo
De silêncios!
Um compêndio
De ondas sonoras
Estagnadas!
Um mundo
Cheio de nadas!
Um dia vou-me embora
Com todas as
Palavras.

Vem rápido!

Vem rápido, 
que o tempo não importa. 
Chega a tempo do teu tempo. 
Volta ao teu futuro. 
Espelhos dependuram-se 
para te ver o perfil 
e estalam da vontade que de ti se irrompe. 
Dos estilhaços 
quantas de ti se sobrepõem ao passado? 
Rasgaste o passado e a epiderme é só cicatriz. 
Coração, esse é o teu futuro! 
Fiz uma moldura para reflexos. 
Camadas que a pele fez e 
espelhos que em teu redor 
te imortalizam
desconexos.
Olha em volta
e diz-me,
vês-te do tamanho
que te viste?
Vem rápido
e ao ouvido
diz-me!

Eras tu Amor!

Foi em teu nome
Amor!

Tu que me queres
Mas que não te posso
Ter.
Sou livre...
Como tu.
Tu sabes.

Tenho de te ver de fora
Para te cantar,
Para te despir
Enquanto os medos
Deslizam pelas tuas
Costas nuas.

Dançámos tantas vezes
À noite
Pelas ruas.
Beijámo-nos em locais
Recônditos
E esquinas escuras.
A tua pele que me ardia
Também soltava
A tremura.

Quantas vezes te perdi
Por tanta vontade
De te ter de volta?
Perdi-te
Vezes sem conta
Para te reconhecer livre.
Para me reconhecer
(Em ti)
Livre.

Mas sabes que era para ti
Enquando o encanto
Perdurasse.
Não sei se é para sempre
Porque sabes que eu
Sou perecível.
Mas tu sabes que é possível.
Tu és para sempre
Eu sei disso.

Mas chega-te,
Abeira-te de mim,
Enquanto me enrosco
Naquele arco
Do teu pescoço
Que abraçaste para mim.
Sente o que penso
E isso será fim.
Porque em mim tudo morre.
Tudo passa.
Mas tu perduras.
Crias as molduras desta
Tua vida eterna.

Volto para ti sob pena
De nunca na realidade
Te ter tido.
Se é que a liberdade se tem.
Se ela não nos toma antes
Como água
E nos transpira
Na cama
Com gemidos de quase morte
Desse prazer tão forte
Que se nos dá.

E zás!

Vens à memória
Em meia história
De moldura cheia.
Preto e branco
E tu inteira mesmo
Em metades.
Tarde vens.
E vim.
Mas viemos.

Chegámos para de novo partir.

Amor,
Levas-me naquela carruagem
De silenciosas tardes?
Do trilho que cria
Uma trilha sonora.
Uma canção de nos
Levar embora.

Amor leva-me
Se quiseres

Agora.

Levamos o mundo inteiro
Connosco
E a sós.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

Ainda chama...

Se a calma
Agita
Como se agita
A calma
Em frasco
De sabores
Que guardas,
Imagino o teu traço
Da pele que ainda
Mostras.
Acho-me com a mestria
Sobre essas amostras
De poesias,
Versando
Com linhas
Tuas
Que uso
Desenhando-te em odes.
Linhas sobrepostas
Compostas
Com a complexidade
Da geometria que acerta.
A mão aperta.
A íris desperta.
O verso desaperta
Esse tecido.
Quer que a nudez
Dos meus olhos roubes.
Quero a inocência
Das mãos que pintam.
Da lente
Que te cristaliza vestida
De carne que me inflama.
Sopra a minha chama.
Chama-me!
Porque fiquei
Enleado na linha que caiu
Mas do toque
Que ainda chama.
("Atende!" diz ela em surdina)
E a palavra te proclama.
Estou aqui.
Desnudado
E na tua pele
Que insiste
E ainda me descama.
Ofereço-te cama.
Ofereço-te poema.
Mas não te ofereço alma.
Tens tanta
Nessa pele que pouco esconde.
Deixa cair o pano.
Desnuda-te!
Anda!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Geometria Bastante

Da linha do pescoço
Escorrega uma linha
Perpendicular
Que a alma te sustém.
Guarda no peito
Milhares de anos
De amor por dar.
Olhas para o futuro
E essa imagem
Enquadra-se.
Rectilínea
Toda te rematas
Em geometria
E ângulos precisos.
E o sorriso...
Que perfeito em si
Desvincula-se dessa
Harmonia matemática.
Ele tem vida
Própria
Comandado por ti.
E eu escrevinho
Fotos
Que imagino
Nesses mil futuros
Adiante.
Pode um poeta
Ser da imaginação
Amante?
Pode porque provou
Da perfeição
Bastante.
És bastante!

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XXV

Quantas palavras
Preciso oferecer-te
Para te reter?
Para te derreter
Como o fazes
Comigo?
Como fazes isso,
De me deixar
Perdido
Em teu quadrante?
Divago por aí adiante.
Não que muito
Adiante
Porque nem sequer
Me queres.
Tu é que perdes.
Seria para sempre teu
Amor.
Amante.
A respiração tua...
Ofegante!

De(x)istir

Agora faltas-me.
Sussurro-te
Em poema
A ausência no espaço.
O corpo que padece
Por não se alimentar.
Que não se fornece
Do teu
Para não se lamentar.
Antes fosse este poema
Um lamento.
Nem é orgulho contudo.
É o teu silêncio
E tudo o que perco
Sem ti aqui.
Tudo!
Lento
Vem o tempo
E nada de ti.
Cá me aguento
No entanto.
Não quero ter esse pranto
De casal que tem para
A troca.
Que atira à cara
O bem feito.
O bem gratuito.
Sou solitário para não exigir.
Guardo-me aqui
Em palavras
E talvez este seja o elixir.
Se vieres aos poucos
Também aos poucos
Poderás ir.
Morremos sós
Para deixar de existir.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XXIV

Tenho jeito para perder.
Deixo-me ir...
Grita do estômago
Ao diafragma
A insatisfação.
O medo de não saber como...
Mas vem o tempo
E tudo leva
Nessa água que lava
A putrefacção.
Sujo!
Podre!
Depois vem só
Essa negação.
E depois a aceitação
De não poder mais.
Deixa-se ferida
Tornar-se cicatriz.
Ou desaparecer.
Mas este frio...
Tenho jeito para perder.

Silêncios de mim XXIII

Tenho-te a ti!
Minha mais prezada solidão.
Minha companheira das viagens
mais restritas.
Dói-me por vezes o coração.
Vêm rajadas de incompreensão
ou então
sou eu que nada compreendo.
O dinheiro,
a fome
e a fome do dinheiro.
Compreendo a fome.
Mas a da vontade
tudo o resto é material.
Tu não és
e és o meu amor
ao imaterial.
Se pudesse só viver de ti.
De me alimentar de ti.
De te partilhar
e saciar os que te querem ouvir...
ou ler...
ou ter.
Tens-me neste
amor velado
que nenhuma outra
me dá
Ou que me dou.
Estou morto hoje.
Farto!
Não estou!

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Silêncios de mim XXII

Estaremos próximos
Quanto menos
Nos querermos.
Apenas amor.
Partilha.
Esse será o nosso
Lugar.
O nosso tempo.
E quando morrermos
Nunca estivemos tão vivos
Como no que deixámos em diante.
Os filhos.
A bondade.
A herança disto tudo
Dos nossos antepassados.
Partilha.
Agarramo-nos às sensações
Para nos mantermos vivos
Porque isso é o nosso
Mais primitivo.
Eternidade é deixar de sentir pouco.
É serenar e deixar ir.
O medo que desaparece.
O caminho a que se obedece.
Jogamos ao destino
Mas a vida acontece.
Aceitamento.
Milagre.
Fecho os olhos agora.
E se morrer
Passei.
Sou vosso!
Sou nosso!
Somos
E não temos nada.
Conforto.
Deus.
Adeus
Até ao nosso reencontro!

Romantismo Cego

Romantismo é belo
Nas estórias
De encantar.
Onde princesas
Vivem com a esperança
De um cavalheiro
Chegar em seu
Cavalo branco montado.
Cavaleiro monta
Equídeos.
Cavalheiros prestam
Elegância às senhoras.
Românticos existem
Onde existem princípios.
E há muita falta deles.
E muita falta
Também em ditas senhoras.
Existem românticos sim,
Se reconhecerem neles
Que são cortejadas.
Que a palavra versada
Seja poema em mulher avisada.
Que a bondade
Não tenha cara
E a beleza
Seja no coração guardada.
Existem românticos sim.
É necessário saber
Para onde se olha.

Que a demanda resulte
Do reconhecimento
Antes da escolha.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XXI

Silêncios delas.

A facilidade de atirarmos
Para a sombra
Todo o nosso assombro.
Desvincularmo-nos
Dos outros.
Paródia de vida
Por absurdo de passados.
Tratam-se os bons
Como pesados.
Liberta-se a carga
Com gestos velados.
Heroínas escondidas
Atrás dos telefones.

Para que lado corres?
Tratas mal
Quem mais te move.
Quem te fez esse
Mal todo?
Vale a pena chorar
Onde molhado chove?
É tempo de mudar
E acreditar nos que
À liberdade se dão.
Move-te da inépcia,
Das prerrogativas
Contra os que te dão
A mão.
Não te a pediram
Nem a tua liberdade.
Cruzamo-nos.
Os interesses cruzam.
Há sim um ideal.
E cada um traça
A sua ida.
Move-te!
Sob risco da oportunidade
Perdida!
Move-te!

Alviçaras para os Sonhadores!

Sonhadores
São os que realizam.
São os que transpõe
Para a frieza
Do mundo
O calor que vai faltando.
Falham mais do que
Acertam.
E?
Têm mais energia
Dos que se acotovelam
Na marcha ditadora
Dos números.
Multiplicam a fé
Por saberem que há a
Ínfima probabilidade.
Não têm idade.
Não nasceram
Porque já existiam no sonho
Doutros.
Somos sonhos
Que outros desdenham.
Alviçaras para estes
Audazes.
Perecíveis mas nunca
Derrotados pela vida.
Esta lhes concede
Os prémios.
O grau de mérito
Por crença
Em nome da humanidade.
Eu sou um sonhador!
Quando vos faltar
Crença
Acompanhai-me!
Há mais dos meus
E de vida
E para lá da vontade!
Alviçaras
Para quem tem sonhado!

VAz Dias

#palavradejorge

Cinema Sonho

Cinema.
Película de movimentos.
Os teus.
Um fotograma que fica.
A imagem de um sonho.
És um sonho!
Um filme da realidade.
Beleza.
Olhar e raridade.
Serão os sonhos
Da cor
Que o teu olhar
Espalha pela tela?
E se a realidade
Não é assim tão bela
Posso ver
A cor do coração?
Que bela!
Simplicidade
Do traço
Que pintava já.
Já tinha visto este trecho
Numa sala de cinema,
Onde só,
Sonhava.
És tão bela!

Silêncios de mim XX

Há quem não entenda
Liberdade.
Amor de deixar ir
E voltar se quiser.
Apenas isto
E os restantes dias
Que nos oferece a vida.
Um dia,
Era eu aprisionado
Desse amor que
A sociedade criou,
E me libertaram do fardo.
Era tão afecto ao cárcere
Que supliquei em joelhos
Doloridos
(Quase tanto quanto
O viria a sentir de coração)
Para ela ficar.
Prometi-lhe que mudaria.
Prometi que seria dela
Como quisesse.
Perdi a compostura.
Na altura o desespero
E esse hábito de "amor"
Assim me fizeram
De súplica.

Anos mais tarde,
Cicatrizes mais tarde,
Descobri a liberdade.
A de todos
E o amor por consequência.
A ausência de amarras.
As asas.
De levantar voo
Quando se quiser ficar.
As de planar quando
Os outros planam.
Voar é voltar.
Se quisermos.
Se os outros quiserem.
Nada mais.
Nada menos.

domingo, 25 de dezembro de 2016

Em breve

Por vezes sinto
Que isto que tenho
Na cabeça
E nos membros
(Que me auxiliam
A executar
Estes desabafos)
Nada mais são
Senão
Uma maldição.
Um lamento amador
De escrita
Desaperaltada de intelectualidade
Ou qualquer respeito
(Por ignorância dos
Grandes autores).
Sou simples.
Desapegado.
E pequeno tentando
Chegar a ti.
Tentantando parecer grande
Do tamanho que tenho.
Uns que me vêem assim
E outros que nem por isso.
E não falamos ainda
Do que tenha escrito.
Desabafo.
Cartas de amor
Lançadas com endereço
Variado.
Destino de a mim volver.
Desperceber o amor.
Reconstruir.
Talvez não seja escrita
Para vender.
Se calhar é de oferecer
De não ter valor.
Ou por se lhe pôr etiqueta
Ou por materializar
Sentimento noutrém.
Não sei.
Por vezes é praga.
Por vezes virtude
De calceteiro
Construíndo estradas
Para o céu.
Desenho pedras em forma de
Coração.
Algumas de ti notaram.
Outras também.
Não tinham coração para
Isto.
E eu por vezes
No lugar uma pedra.
Outras não souberam.
Liam a sério
E eu passei ao lado do tempo.
Brinquei com ele
Como me permitiu.
Ouvi canções diferentes.
Filmes diferentes.
Escritas poucas
Como tão poucas
Destas antecedentes.
Ainda acredito que possa
Viver para ser melhor.
Se calhar este é o meu
Melhor
E o meu melhor
Não te serve.
Aceito
Enquanto este trilho
Para um céu se escreve.
Desculpa ser-te sempre
Tão breve
E parecer melhor
Do que suporíamos.
Se calhar a palavra é melhor
Do que eu
E eu apenas ser
O que uma calçada descreve.
Uma caminhada.
Para ti quase sempre
Breve.
Eu sou breve
No caminho que se alonga.
Por isso ninguém me teve.
Nem a escrita.
Nem esta vontade maldita
Que não se desprende.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XIX

Que fazes
Cobrando-me o tempo
Que partilhaste?
Eu descobri
Que não era nosso
E que passa
E cada um é de si.
Se algum dia fomos,
Foi porque o tempo
Assim o quis.
Mais do que isso
É sermos egoístas
E amor também
Não é nada disto.
Amor é não te querer.
É deixar o tempo
Nos acontecer.
Vou dar tempo.
Vou ficar aqui.

sábado, 24 de dezembro de 2016

Erro!

Imaginar que um erro
É uma tentativa espontânea
E espontanemante
Construída
E desconstruída
Por infinidade de vezes
Até se acertar.
Seja pela insistência
Ou a permuta para novos
Erros.
Nervo
E querer.
Fecundo
É o pecador.
Novo.

VAz Dias

#palavradejorge

sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Presépio

Inventámos uma época.
Nasceu um menino.
Era sinal de concórdia
E chegavam
Reis de toda a parte.
Estrela que brilhava
Mais forte.
Ali se encontrava
Uma razão para pintar
Um quadro.
Um retrato exemplificado
Do que seria
A sociedade mais tarde.
Oferece-se regalos
Como se fôssemos reis.
Mais do que à pureza
E inocência das crianças
Tambem aos demais.
Ninguém acredita
Nesse milagre
Mas paramos
Entre uma e outra compra
Convencendo-nos
Que assim somos mais felizes.
E porventura
Algum bem
E sentimento
De pureza nos assalta
Aquando desse
Assalto desenfreado ao gasto.
Damos uma e outra prenda
E mais outras.
Essas da companhia
E amor casto
Que temos por todas
As pessoas que nos são
Próximas.
Se pudéssemos só oferecer
Tempo...
Se de todo o tempo
Pudéssemos oferecer
Um pouco dele
Dividido e depois
Multiplicado pelo mesmo dia.
Nasceria uma criança
Em nós
E seríamos realeza
Dos nossos.
Acender-se-ia uma estrela
Por cada um de nós.
Imagine-se!
Um céu infinito de estrelas
E um dia,
Como prenda,
Iríamos para lá brilhar.
Porque a quem amámos
Nos veria lá,
Como uma estrela
Que deve no seu firmamento
Com as outras todas
Eternamente presentear!

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Apareces!

E mais sobram
De todas as outras odes
Onde estás.
Onde te espalhas
De ar em todo o meu
Fogo de te querer.
Onde a palavra
É de te segredar
Sem de mim saberes.
Se sabes
Encontras-me.
Apareces!
E eu desapareço
Porque ainda não podes.
Mas são tantas
Que ainda me absorbes.
Um livro inteiro.
Uma só vida
Que página a página
Desfolhes.
E se um dia fomos
Pelo menos
Ficámos contados
Para outros.
Para histórias de amor
Começarmos
Nas vidas alheias.
Serás a primeira.
A musa
De uma só história.
De um só livro.
Podemos começar uma
Uma autêntica odisseia.
Podemos
Porque tu assim possas
Querer.
Porque para começar
Uma estória de tantos
(Mesmo sem nós dois)
Só tu podes!

VAz Dias

#palavradejorge

Sem convicção

Surges-me como a alternativa
Ao absurdo que é a minha vida.
O absoluto oposto
E que acredito ser impossível.
E depois é o desafio.
De ser surpreendido.
De ser apresentado
Ao possível
Do meu oposto.
Ponho as mãos no rosto.
Coço a cabeça.
Rei deposto
E alguém que me convença
Que tu és um erro.
Ou eu a ti.
Ou o desafio de me ver oposto.
Vem tu passar-me a mão pelo rosto
Enquanto te seguro
A cabeça.
Guardamos um coração
Para lá do sol posto
Com menos conversa
E mais acção.
Convençamo-nos que não
E depois sim.
Ou então deixemo-nos
Às nossas conformidades
E à apologia da razão.
O teu signo
É suspeito
De quebrar-me
Com contradição.
Vem.
Vamos.
Voltemos.
Sem convicção...
Mas tentemos
Só porque sim
E depois
Talvez
Não!

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XVII

Nestes momentos de mim
Em local ôco e obscuro
Procuro
Fugir ao "verbotório".
Há facilidade com que
Se pode debitar
Tristeza ou ódio.
Venho reciclar,
E deste modo,
Apreender algo de bem
Neste diálogo/monólogo.
Há embates que nos tramam.
Que nos fazem pequenos
De tão pequena genteza
No seu comportamento.
É um lamento
De não saber fazer melhor.
De agarrar com mãos
De aço
Um princípio
E os valores como se pode.
Podia apenas gritar.
Ou agir na medida
Desse desafortunado
Momento.
Venho versar num apontamento.
Nunca temos tempo
Para explicar
Quem tem outra visão.
O trabalho.
O tempo.
A falta dele.
Vem um corpo
Para nos alimentar
Na fragilidade.
Fica tudo igual.
Espalhada a semente
Em terra árida.
Grito ao vento
De como na vida as coisas
Vão mal.
Um orgasmo é um lamento
E a sua impossibilidade
Ainda mais lamentável.
É o poema
Que faz isto tudo
Menos execrável.
Perco a cada dia a pele
Que em mim
Cobria a vontade.
Se cobria de suores frios
E quentes
Com a vontade dos outros.
Sexo de luta
Dos corpos
Para sublimar a luta
Da maldade entre homens.
Vou-me rendendo à palavra
Que faz disto tudo
Menos lamentável.
Meno detestável.
Menos tudo.
A poesia em mim
É menos tudo!

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Música no Três

As coisas definharam.
Na razão pura de ser
Tinha assim de acontecer.
Não é culpa de ninguém.
É da vontade
Ou da falta dela.
Do amor que lhe faltou
A distracção alheia.
Veio o tempo
Mostrar outro tempo
E mostrar que a razão é bela.
E velha de sabedoria.
E nova de metarmofose.
A mudança
É o fim dos criadores
E mudou-se
Para um lugar melhor
Antes que a velhice fosse.
Fomos o que sempre seremos,
Amigos de um tempo
De um fim indeterminado.
Fomos juntos para o mesmo lado
Enquanto o tempo durou.
E agora mudou.
Somos para sempre
Em qualquer lado,
Ou assim se escutou.

VAz Dias

Silêncios de mim (Amor à prova de bala)

Tu sabes desse olhar
Que quando apertas o peito
Junto ao meu
Que o coração desata
A disparar.
Beijos são tiros
E tu as balas
Que ali se vão crivar.
Vem e fica
Para te alojares.
Gosto de beijos
Como te imaginar.
Uma rosa na ponta da arma
De quem esta guerra
Quer pacificar.
Beija-me enquanto
A culatra se prende
E nos deixe
Para amar!

Bela Vista

Há beleza que vejo
Perder beleza aos meus olhos.
Estou velho
Para olhos de novos.
Vejo beleza perdida
Na boca das meninas.
Vejo beleza pedida
Na boca dos outros velhos.
Beleza vendida.
Vejo a beleza agora.
Porque me precipito
Pelos olhos
De quem engole vida.
Eu sou vida
E olhos
Para quem
Nos meus também se precipita.
Acho que tenho
A beleza de quem ama
A vida.
Perdi a beleza
Que vinha à vista.

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 18 de dezembro de 2016

Serenamente ser

Estamos perto.
Sinto o lento
Desaperto das tuas amarras.
Serenaste!
Esperava a tua libertação.
Não para mim.
Por ti.
Passei por aí
E sei o que são esses amargos
De boca.
Passei a ser doce
Na boca pela palavra escrita.
Serenei!
Havemos de nos cruzar
Se for ou não para ser.
Serenamente ser.
Serenámos
Depois de perder.
Seremos o que
Tiver de ser.
Serenamente mulher...
Serenamente!

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XVI

Venho a descobrir
Que o silêncio era teu.
Todas aquelas palavras
Amadas em boca fechada
Entupiam o coração.
Era pragmatismo fatal.
Um estigmatismo
De quem vê bem.
Ironias para tentar ser feliz.
Foste feliz?
O silêncio superou
Todas as palavras que poderiam
Ter sido partilhadas?
E agora amor
É comboio que passou.
Tão barulhento
Como lento
E que te deixou apeada
Esperando de novo o tempo.

Resolvi caminhar só,
Sendo a locomotiva
Que leva na carruagem tempo.
O meu maior feito.
Deixar de te amar
E encarrilar noutro destino.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Escrivão de silêncios

Começa tudo por uma comichão.
Por um formigueiro
Que transborda
Da vontade de ti.
De te chegar mas sem
O facilitismo que impera
Neste mundo.
Se perceberes
Fui eu poeta
E talvez o homem de ti.
Se te chegar
Talvez sejas tu
A quem devo tudo
O que imaginei dar
E que fui espalhando
Pelo tempo
A esses seres todos.
É a vontade de me calar
Com palavras tuas
Que me inquieta.
E é tudo que escrevo.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Silêncios de mim XV

É um piano de jazz
Que entra por mim adentro
Querendo demarcar-te
Das minhas prioridades.
Das minhas vontades.
Sou um solitário
E tu sabes.
Não te desejo mais
Do que a ninguém,
Mais do que o próprio desejo
A se querer bem.
Eu quero-me bem.
E deixo esta melodia
Confortar-me.
Enganar-me dessa velhice
Que tanto me orgulha.
Estimular-me de juventude
Até à medula.
Um dia saberás
Que foste tão desejada
Como um sax
Que geme.
Como um contrabaixo
Que treme.
Mas estremeço
Se de ti me lembro.
E ainda assim
O silêncio a que me devoto,
Quere-me!
Leva-me!
Toca-me
E eu ser-te-ei jazz
E tudo o que treme
E do que fôr capaz.

Poema rima em ti

Não te ponho nome.
Sabes que é para ti.
Vivemos isto antes.
Passámos isto
No meio dos outros
Que a meio
Nos acostumámos.
Depois largámos.
Ou nos largaram.
Somos história
Recente desses.
Somos outra vida antes.
Acredito que já fomos
Um.
Lembras-te de eu terminar
As tuas frases?
De me falares
Apenas com um olhar?
Agora rimas estes poemas.
Mesmo que não rimem
Na palavra
Tu fá-los ser canção.
Tu sabes que o olhar
Para onde me norteio
É o teu.
Tu sabes
Que eu não sei nada
Mas que sem palavra
Somos ainda um
Em ponto de reencontro.
Renascimento.
Amor.
Um.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XIV

É no teu olhar que me perco.
Nesse amor todo
Que esperas
E nos olhos
Que guardas no silêncio,
Aguados.
Perdidos num tempo
Desejado,
E desejado à frente,
Terminado.
É esse olhar de engolir um mundo.
De ir ao fundo
E lá encontrar
Os dias de luz
E um silêncio mudo
Que produz
A vontade de saltar à superfície.
São os teus olhos âncora
Do batel que pelos mares
Se faz viagem.
O mar as lágrimas
E os olhos a margem
Onde a vida continua.
Terra segura e abrigo
De amor.
São os teus olhos amor.
São os teus olhos.

Lábios

Lábios de falar.
De calado ficar.
Vendo-os a baloiçar
De ocidente a oriente.
Lábios desses de beijar.
Tão perto e tão longe
De quem beija o que mais sente.
Lábios,
China girl,
São palavras que o poeta oriente.
Tão longe!
Tão perto desse teu sol nascente
E de numa volta ao mundo
Da imaginação,
A tua boca degustar.
Lábios são viagem
Que volto ao tempo
Em que me detinha
Como tempo que demora
A ir daqui à China.
Seres caminho de volta
Ao ocidental presente
E redescobrir que beijo
É lábio teu
Que em mim combina.
Beijo.
Lábios teus.
E seres meu presente.

VAz Dias

#palavradejorge

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Silêncios de mim XIII

Tenho de chorar
Estas esperanças vãs
Para dentro deste vazio
Escuro.
Aqui sai dor
E o fim prematuro
De tudo revolver.
Tudo acontece como deve
Acontecer.
O passado de lá atrás
Igual ao futuro de frente
E o poema resolver.
Amar é escolha de um dia
Ter querido uma vida normal.
Ter tido uma vida diferente,
De querer o convencional.
E veio o mundo escondido
Do que me é mais natural.
Amar não é para mim.
Tenho de ser amado
Para me convencer
Que devo deixar entrar
Toda a gente,
Para deixar tudo acontecer.
Mas tenho de chorar
Aqui escondido
Em quarto escuro
Enquanto tiver de ser.
Chegarei ao mundo
Com o a porta aberta
E uma casa luzidia
Para que todo aquele que ame
Por aqui entre.
O amor é da minha gente.

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Só posso dar-te poemas

Só posso dar-te poemas.
Só posso entrar nesse
Coração
Para servir de cuidador.
Escolhi ser poeta
Para aliviar a dor.
Agora a poesia faz de mim
Teu cuidador.
A ética de me subtrair
À vontade.
À minha íntima vontade.
Como posso ser egoísta
E ser teu?
Como largo este fardo
E me entrego a ti?
Faz-me egoísta e teu.
Faz-me poeta de ti apenas.
Leva-me as palavras,
Os desejos,
O amor e sobretudo,
Os poemas,
Sob risco de ser de todos
Sem ser este
Que pode ser só teu.
Ser aquele que amas.

VAz Dias

#palavradejorge

O tempo que se perdeu

Fico nesta espera
De não ir à luta.
Estás farta de guerra
E de quem ajuda.
És tua
E farta deste e daquele
E do que te deixou nua.
Despida no meio duma rua
Ou avenida,
Concorrida e fria.
Desumana e dura
Vida
De te deixar perdida
No meio de tudo.
Sou calçada de pisares
De pé descalço
E de correres nua.
Um amplo mundo
De me seres se quiseres.
Corre!
E volta que o mundo foge.
O tempo urge
E a guerra morreu.
Corre e pára.
Que há tempo
Que se perdeu.

VAz Dias

#palavradejorge

Alegria

A moça dos olhos amarelos.
De luz e dourados.
Das cores quentes
Vindas do verão
Emprestadas.
Espelho dos tempos passados
E dos encantamentos meus.
Passou de repente
Como o sol ausente
Dos invernos
E o que agora surge
Consequente!
Encantados olhos meus
E acalentadas tardes
Pelo inverno que se avizinha.
Coração quente
E olhos dourados.
Olhos molhados
De tanto contentamento.
A alegria é do mundo!
A alegria é do mundo
E também minha!
Alegria

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim XI

Este universo
Imenso
Que me deixa tenso.
Ignorante penso
Como a provocação
Súbtil
Dos corpos
E do íntimo feminino
Me desbaratinam.
Devo apostar?
Devo recuar?
Inerte me quedar?
Vou uma vez mais
Aceitar a perda antecipada
Como ganho.
Remeter-me a este silêncio
Corajoso
E de fraco empenho.
Não faz mal.
Fico com o que tenho.
As palavras
E o desabafo
E a estima que por ti
Tenho.
(Agora por um pouco...
Calo-me.)

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Silêncios de mim X

Aqui me encontrei.
Comigo me encontrei
Enquanto contigo
Me fui encontrando.
Foi acontecendo.
É um tipo de amor
Que também podemos
Ir inventando.
Passou tanto tempo
E aqui nos encontramos.
Tu fazendo o que tens
E eu fazendo o que tenho.
Mas tenho-te.
De alguma forma
Também me tens.
Assim
Com tempo
E poemas
Contando.
Contigo
Com tanto!

VAz Dias

domingo, 11 de dezembro de 2016

Por estas ruas

De que importam as palavras
Se tu não as queres?
Se elas não te encontram
Porque tu tão pouco
As recebes?
É o corpo
Que queres
E revoltada
Recusas.
Foges
Para o tempo
E o teu lugar.
E para ele.
Recuas.
E vou avançando
Para onde estou bem.
Mas reencontro-te
De tempos a tempos
Não sei bem...
Nem porquê.
Se são as palavras
Que te mantêm aqui
E mais adiante
Ate se perderem.
Talvez...
Talvez um dia...
Por este lugar,
Por estas ruas.

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim IX

Toca o piano.
Perco-me no tempo
E nos pensamentos
Neste meu canto.
É o canto do outro
Que me dá voz
De tempo amadurecido
E da calma adquirida.
Ela desce a escada,
Desvio o olhar em sua direcção
E revolvo a este meu
Enquadramento.
Este meu "esquecimento"
Da vontade que por vezes assalta.
E a outra beleza
Que é minha.
Que cresce sua.
Que brota toda esta paz em mim.
Bela menina de mim.
E um piano que toca
Em surdina.
Silêncios de mim.

VAz Dias

Silêncios de mim VIII

Ficas-me tão longe!
O exercício de aceitar o tempo
E a impossibilidade.
Tão acopolados,
Na realidade.
O tempo e a possibilidade.
E nós inexistentes
Enquanto existimos
Em conjunto
Numa parte.
Apartados em todo o tempo.
Um erro de destino?
Uma martirização?
Ou só isso.
Tempo e a paciência como seu
Exercício.
Impossível como sua concretização.
E o coração
E fé
E a nossa parte?
Que plasticidade
Me vi devotado.
Parece nunca ter acreditado.
Estou velho
Se não tenho amado.
Ficas longe e eu parado.
Vou dizer que te amo na mesma
Porque não chega a nenhum lado
E eu tenho de treinar
Para não esperar calado.
Amo-te na distância
E na cada vez maior inexistência
De estares a meu lado.

VAz Dias

sábado, 10 de dezembro de 2016

Silêncios de mim VII

Desequilibrei-me.
Rendi-me à impertinência
Dos movimentos
Que não controlo.
Canso-me
E revolto-me.
Mas sou pedra.
E rolo
Mas não quebro.
Desequilibrei-me
Para gritar agora em silêncio.
Morreu um dos meus
Mesmo não conhecendo.
E mantive-me sólido.
Somos um dos outros
Mesmo não sendo seus.
Desequilibrei-me
Por ter ponto de equilíbrio.
Por conhecê-lo.
Voltarei.
Amanhã.
Hoje sou humano.
Amanhã serei pedra de novo.
Rolo neste silêncio
Para o outro lado.
A sós.
Solo.

VAz Dias

Dignidade é barriga cheia de respeito

O respeito
E o respeito a que nos damos.
Merece-se dos que falam
Na mesma língua.
Outros são estrangeiros.
Fica como nos comportamos
E a fome
Que não nos tira chão.
Nem dignidade.
Nem respeito.
Podemos morrer de fome
E sobreviver
À ganância
Desses alarves.
Luzes e barulho
Que os ouvidos lhes tape
E feche os olhos
Ao compromisso
De se darem ao respeito.
Senão,
Seguimos caminho.
Andando.
Verticais
E com respeitinho.
É saber porque se é pequenino.
Encher o peito
Mais que estômago.
Alimentar o passo
E o perdão
A quem tem fome
De barriga cheia.
Viver a preceito,
Se a barriga esvazia
Enche-se o peito!

VAz Dias

#palavradejorge

Silêncios de mim VI

Não me calei amor.
Apenas
Quis que fosses tu
A beneficiada de todo
Este canto.
Tu teres sido
O tanto que quis
E agora o meu fado.
Fizemos este caminho
Ou assim o destino quis,
E aqui nos encontramos
Neste amor
De papel,
Nesta torre de Babel
Que é chegarmos
As nossas línguas
Ao céu.
Se caírmos, tivemos sempre
As palavras
E Deus queira
Que a palavra seja a que perdure
Mesmo que nos leve.
E se nos levar
Teremos sido amor
De se ler
E a nossa história promover
Estórias lindas
De se escrever.
Escrevo-te este poema
Como carta registada,
Para que nunca se perca
E que saibas
Que foste amada,
Escrita...e cantada
Meu amor!

VAz Dias

Minha gente e o futuro

Queria antes viajar no futuro.
Render-me à vida
Que nelas se inflamava
E caminhar nas suas formas.
Elas faziam-me palpitar
O corpo.
Aguçar o engenho
Do encanto lhes devolver
Em vontade e tamanho.
Era, achando eu,
Um único caminho,
E de olhos fechados tomava
Esse rumo.
Deixei-o para trás,
(Deixei-as para trás)
Porque em última instância
Eram as formas
Que me moviam
E eu viajava sim ao passado.
O futuro sou eu
E o tempo que prezo para mim.
Levar a forma que espero
Definhar lentamente
E quem me conhecer
Ser-me o mais conveniente.
Os que me acompanhavam
E os que ainda o fazem
Actualmente.
Essa maravilhosa gente
Que sempre viveu no meu futuro
E que me trazem
A este meu estado maduro.
Venham essas novas
Juntar-se aos de sempre
E que verdadeiramente procuro!

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Silêncios de mim V

É em ti,
Estranha que por aqui
Se fez surgir
De tão súbtil estrondo,
Que se faz este silêncio
Sepulcral.
Penso em ti
Como se tíveramos
Uma vida em conjunto,
Porém,
Eu ser o outro
É-te natural.
Seres de outros.
E não dele.
Aquele que odeias nos
Teus silêncios
Por tanto o quereres.
Não o amas.
É posse!
E a mim condenas
As mãos ao momento.
O toque para o futuro.
O beijo no olhar.
E fico aqui ciente
Que nada será nosso.
Porque não te quero
Como tu o queres.
Tenho-te mesmo que não queiras.
Tenho-te porque há um campo
De energia concentrada.
É nossa
E eu posso
Acreditar no que quiser.
Mas foi o teu beijo
Que deixou o querer.
O mesmo que lhe tens
E que espero que tenhas
Para trazer.
Não estou à tua espera
Mas sei que nos encontraremos.
Orbitamos um para o outro,
Como tudo o que tem
De ser.
É o que existe.
Devir.
Dever.

VAz Dias

Silêncios de mim IV

Há praga na vontade
De expressar tudo o que
Lá dentro não me larga.
Antítese de paz
E na volta a serenidade.
Somos contrários
Ao que desejamos
E repelimos o que não queremos.
Desarmado
E desamado.
Não por falta de querer
Das que nos querem bem
Mas por falta de querer
Contrários.
Serenidade e tempestade
Nos silêncios
Que por ti guardo!

VAz Dias

Silêncios de mim III

Para mim amor não tem corpo. É outra coisa. Amar o sexo é matar o tempo e provocar o corpo a não morrer. E se morrer há o amor que um ser perdura no imaterial e na memória de quem se tocou (e não necessariamente no físico).
Amamos os corpos porque não cremos nessa ideia tão distante de imaterial. De amor que não toca.
Amamos os nossos entes idos, mas muitos "agarram-se" às fotos e objectos tocados por eles em vivos.
Precisamos do corpo por sermos limitados. Dos orgasmos para sentir se já perdemos a sensação de estar feliz. Sabe melhor, quem abdica naturalmente deles, ou pelo menos desce na prioridade de necessidades existênciais, e vive desprendidamente. Começa a tocar a brisa. A imaterialidade.

VAz Dias

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Silêncios de mim II

Aqui neste canto
Calado,
Espero a tua atenção.
Não porque sou frágil
Mas porque sei
Que és atenta.
Se há uma só pessoa,
Um só mundo,
Ou só um reflexo de nós,
Que sejas tu que estavas
A ouvir este silêncio.
Não por seres
A mais inteligente,
Ou a mais eloquente
Ou a mais atenta,
É porque serias surda
Ao que os outros
Ouvem em gritos.
Paradoxo de perfeição.
Beleza do nosso erro.
Desejo errar
Ao mesmo tempo contigo.
E tudo o mais
Seria tempo
Que inventaríamos juntos.
Se estiveres escutando...

VAz Dias

Cisnes

É a inconstância do ser
Que tanto quer
Como desmanda.
Que se deixa levar pela beleza
Ou suposta perfeição
Do nada.
Amar o interior
É perfeição da palavra
E raro gesto
Ofertado.
Somos inconstantes
Quando essa beleza
Nos atira fogo pelos olhos
E nos derrete por dentro.
Somos belos
Quando queimamos
Por dentro.
A maior verdade.
O menor cinismo.
A nossa beldade aguardada.

VAz Dias

terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Silêncios de mim I

Pedi ao silêncio
Para apalavrar-me.
Deixo por hora a publicidade.
O íntimo intento
Da vaidade...do reconhecimento.
Preciso de escrever
Para mim.
Para me treinar.
Para parar ou seguir.
Por mim.
E assim,
Um dia pedir ao mundo
Uma segunda opinião.
Tenho de me reservar.
Diz-me agora o tempo
E o instinto
Ser a melhor ocasião.
Se for para ser
Descobrimo-nos no bater
De asa
Duma borboleta
E o seu efeito
Na volta duma rotação.
Senão,
Fica comigo...
E no coração.

VAz Dias

Amaldiçoados Amantes como D'antes

"Entrei,
E o desejo era passear-me
Diante dele.
De dançar e espantá-lo
Dos meus males.
Ele era um mal
Que me queria.
Queria tanto.
Ele sabia o que era
Um cataclismo interior.
Um desabamento
Emocional
Cada vez que dançávamos
Um olhar (abraçados)
No outro.
Ele era tão bem
Mas éramos tão mal!
Ele sabia porque via dos meus.
Via como os meus olhos.
Os nossos olhos.
Os nossos olhos
Espelhavam
Toda a luta dos corpos...
Todo o suor
Espremido pelos poros.
Mas calei-o em mim
Com poemas.
Com estratagemas
De silêncios
E de gritos
De o querer
Mais do que fazê-lo desaparecer.
Ele aparecia-me
Como eu me fazia apresentar.
Fugidia!
Ele não me pertencia
E eu era de outra vida.
Nós teríamos sido outra vida.
Mas devemos ter morrido
De costas voltadas
E o universo nos castigou,
Não com amor,
Mas com o ardor
De quem deseja tanto
A morte
Como o próprio desejo.
Ele sabia disto tudo
E no entanto culpei-o
Por eu ser tão culpada.
Tão arrebatada.
Não por ele
Mas pela intemporalidade
Da energia com que fomos
Amaldiçoados.
E eu amaldiçoada
Por ter sido por ele
Tão amada.
Ele sabia disto tudo
Porque ele era eu
Amaldiçoado pelas palavras
Que um dia me escreveu."

VAz Dias

#palavradejorge

domingo, 4 de dezembro de 2016

Colapso e Orgasmo Cósmico

Não te quero.
Não te quero e nem desejo
Que te desesperes.
Desejo-te nas mil
De todas as que me
Colapsaram.
Mas não sou o mesmo
E nem me vendo
Pelas mil.
És única e não existes.
Por isso deixa-me ser único
E o universo que assiste.
Ele que intervenha
Como aprouver.
Não é só o homem
Que quer.
Não é só a mulher.
É esse cosmos
Armadilhado de jocker.
De folião destino
De quem ele quiser.
Somos um joguete
E tu és tão importante
Como eu
Para ele.
Recebemos um convite
Pelos olhos um do outro
E no final ele goza connosco...
Uma noite inteira
Transformada em nossos dias.
Um orgasmo cósmico
Ao sabor das suas avarias.
Estou farto mas sou o único.
Mas por aqui me fico.
Ele que decida que eu
Corro.
Ou fique.
Se também fores de ficar
E ele nem te evite.
E te espevite!

VAz Dias

#palavradejorge

Ínfima perda

Há algo mais gutural
Do que esse sentimento
Que nos move
Até à ínfima pilosidade
Corporal?
Aquele baque
Que desaba do peito
Um buraco no mundo
E que nos perfura
Até àquela pessoa
Do outro lado?
Ah incongruência fatal!
Ah todo esse mal
Que nos desbasta
As copas de árvore
Que nos descansam!
Ah paixão arrebatadora
De saber que vamos
Morrer se aceitarmos
Essa corrida!
Não posso aceitar
Ficar uma vez mais
De alma partida.
Por nada!
Por ínfima pilosidade estremecida!
Há corpos que num universo
Se encontram e se destroem
E eu quero viver.
Rendo-me a ter um mundo
Em órbita
E com fundo
Para me conter.
Não quero amar
Mas também não quero perder.
Mas colapsei
Um ínfimo
Só por te ver...

VAz Dias

#palavradejorge

sábado, 3 de dezembro de 2016

Vou matar-te sonho

O universo como complexo
Da nossa perdição.
Chegas e tudo o que
Possuímos
(Mesmo que de tão pequeno)
Se transforma
Em destruíção.
Penso e apareces.
Quero-te...desapareces.
Queres-me e eu fujo.
Finjo querer-te menos.
E preciso.
É jogo sujo
E tudo é mau
Do quanto poderia ser bom.
E acabou-se o meu dom
De aceitar a aventura
De engolir o universo
E destruir o reverso.
Somos um acidente
Fatal
E tudo o que os corpos buscam.
O que a energia manda
Mas que eu tão fraco
Agora recuso.
Somos um abuso
E explosões no céu.
O amor num inferno
De fazer o prazer
Tomar lugar do mal.
Le petit mort.
Le petit mal.
Vou ficar por aqui
Com a paz que me isole
E longe de ti
Porquanto mais te queira.
É a vida tornar-se derradeira
Da morte
E que a um simples homem
Console.
Vou à morte dos sonhos
E matar o que já fomos.
Nunca fomos...
E como?

VAz Dias

#palavradejorge

Absurdo Amor

Não somos sempre
Uma parte
Da carne, fracos?
De desejar beleza
Como se da perfeição
Se tocasse?
Ou então sou eu
Que me refugio nesse
Encantamento
E ao absurdo contestar.
Sim, um único absurdo
De moeda de troca
Ao absurdo mundo embelezar.
Contudo, sei que é plasticidade.
Amar as formas
Em deterimento de amar
O horrível lado das gentes.
Ser canonizado
Por ter amado o absurdo.
Fico-me apenas pelo traço
E o pouco espaço
Que isso ocupa
No meu mundo.
Peco por menos ter
E de ainda menos perder.
Se perdemos beleza
Desenha-se nova.
Evitamos colocar-nos à prova
Da avaliação
Num traço de personalidade.
Para os que nos ficaram para amar,
Somos eternamente responsáveis.
O único absurdo importante
Para depois se amar
A beleza e a sua eternidade.

VAz Dias

#palavradejorge

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Última chamada

É pulsão.
Impulso
De coração.
Cansaço
Que os outros
Entregam
De mão beijada
À inércia.
É impressão,
Que uso da minha
Mão
Ainda escrever
Enquanto esses
Descansam.
Descansem!
Também os que trabalham
O cansaço
Descansarão.
Imprimo
O orgulho
Em verso
Da sua inversão.
Versão trabalhada
De quem ainda se inquieta
De tanto pensamento
E linha de comunicação.
Fecho de emissão.
Tela desliga
Esta última ligação.

VAz Dias

#palavradejorge

Fotografia da Melancolia

É essa melancolia que nos assiste
Que também padece
Para a felicidade
Dar lugar.
Temos de ser gratos
Aos momentos de felicidade
Pois são menos
Em convívio com
Os dias cinzentos.
São fotografias de perdurar pelo
Tempo.
Viver de cinzento
E florescer de dentro.
Amar é casar o desvanecido
E pintar no vento.
Vamos ser felizes
Neste momento.
Este perdurado tempo
Em que nos pintamos
Por cima desse cinzento.
Melancolia é um invento
E a felicidade
A que aparece por vezes
Para à alma ser alimento.

VAz Dias

#palavradejorge

Elevada humanidade

Somos um mundo
De contradições.
De eleger e ser tomados
Por monstros.
Mas o mundo também
Dos que se afiliam
À morte dos desconhecidos.
Gritamos contra a injustiça
Dos vivos.
Damos salvas fazendo
Justiça aos idos.
De engolir o veneno
Dos poderosos
E de o cuspir
E beijar os que são nossos.
Mesmo que não os conhecendo.
Mesmo que do outro lado
Jogando.
É apenas um jogo
E a vida e a morte
Um tempo que reservamos
Para percebermos
Que precisamos
Uns dos outros.
Cai um lágrima
Pelos nunca caídos!

VAz Dias

#palavradejorge