Na mesma esquina
do resguardo do desafortunado
lá me cruzaria
com o homem de novo.
Olhar perdido
num passado,
provavelmente melhor,
que o presente,
talvez pior. Quem sabe?
Talvez diferente.
Uma vez mais passaria
sem lhe abonar
o barrete,
estendido em riste.
(Para quê gastar
dinheiro em mais um triste?)
Enfiar o barrete
com mais um artista.
Já viste?
Lentamente me aproximava
duma repetitiva estória.
Mais um momento
sem glória.
Nem dele, nem minha
para guardar memória.
-E a esperança eclodiu!-
Dois putos que antes
de mim
por ele se cruzariam,
estendiam o braço.
Apenas um deixaria
um afago no regaço
do velho dobrado
duma vida de cansaço.
A esperança de acreditar
na miséria do alheio
poder ser confortada
e a crença restituída
por premeio.
Porque afastamos os
azarados, perdidos
ou condenados?
Receio da nossa história
ser o nosso pecado,
para num futuro essa esquina
ser o nosso infortúnio? Receio.
Por isso talvez nem olhe
e de fuga para a sorte
escolha.
Mas desta vez
não podia.
Não tinha escolha.
O que a esperança
por vezes nos atraiçoa?
Sim a tentativa de ser
melhor pessoa com
a hipocrisia que se lhe opõe.
Um Tomé como convém!
No entanto,
absorto fiquei, quando tão
bondosa bonificação
da juventude sem
maliciosa intenção,
ser pretexto
de tão vil instrumentalização
como cobarde humilhação
da chacota ao miserável
contexto!
Uma chapada
irrompeu dos tempos!
Dor que nem o velho
se apercebeu
de tão fatigado torpor.
Acertou-me em cheio
no desamor.
Um baque no meu orgulho
se deu.
Cedeu!
"Que raiva!" me assaltava
perante tão aflitiva
situação.
"Que vergonha de geração!"
conduzia eu interiormente
a minha opinião.
Mas não!
A culpa não é da desgraça.
Nem dos velhos
nem desta nova geração.
É das vezes que tipos,
que como eu,
olham e
não querem ver.
Não pagam os infortúnios
e o melindre,
de um velho,
um novo ou qualquer
um naquela condição.
A moeda dada,
não foi a paga
como ajuda.
Foi a justa culpa
de quem olha e não vê
que é tempo de inverter
esta indigna participação.
Hoje olhei e vi.
v.d.
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